11
Por entre estes caminhos mais senis
Adentrei sem saber que valem nada,
E tendo sem sentido a velha estrada
Aos poucos o que resta ora desfiz,
O quanto sobraria em cicatriz
A sorte noutra face amarrotada
Palavra sem sentido algum, jogada
Num éter desvalido e tanto gris.
Falar do que passou e sonegar
Os olhos ao que venham no horizonte,
Desisto quando vejo e desaponte
Figura de uma vida a transmudar.
Não caberia mais falar de verso
Num tempo tão feroz quanto disperso.
13
Não tenho nada contra o modernismo,
Tampouco me fechando às novidades
E quando com teus versos ora invades
Enfio meu caminho neste abismo,
E tanto sem proveito algum eu cismo,
Sabendo o tempo morto em veleidades.
Batalhas por diversas liberdades
Enquanto vejo nisto o cataclismo.
Searas tão diversas que pontuas,
E vejo as mesmas belas, nuas luas
Cobrindo desde sempre o que foi nosso.
Faça o soneto como tu quiseres
Usando para tão mãos ou talheres
Qualquer besteira agora, amiga endosso.
14
Não vou mais divulgar os meus já mortos
E encarquilhados versos sem proveito,
O que vier, deveras sempre aceito,
Embora aos meus ouvidos soem tortos.
Diversos são deveras nossos portos
Não vejo no teu cais algum defeito
Apenas para o barco não foi feito
E os versos que eu queria; são abortos.
Negar o que virá e mesmo veio
Demonstra a teimosia do imbecil,
Seguindo sem os ver, adentro alheio
Aos mares mais distantes e naufrago.
Do todo que deveras não se viu
Não quero nem sequer beber um trago.
15
Temer o quanto ocorre ou não viera
Vencer os preconceitos que alimento
Deixando o dia a dia exposto ao vento
O sonho sem ter pouso destempera.
A vida alimentando a doce fera
Que traz a cada passo o desalento,
Meu verso fugidio, num momento
Apenas morre em sorte mais austera.
Incauto passageiro do passado
O vento não tocara minha face,
E mesmo que talvez isso mostrasse
Presumo todo o sonho devastado
Num ermo caminhar em noite rude,
O quanto resta agora não me ilude.
16
Somando o quanto tenho e não teria
A vida não traduz lucro sequer,
Ainda quando sei do que vier
A sorte se desenha em tez sombria
O sonho se perdendo a cada dia
Divisa o quanto quero e não se quer,
Marcando o que decerto diz qualquer
Cenário aonde o corte não se adia.
Espalho a minha voz sem direção
E bebo desta dura solidão
Pousando no vazio sem proveito.
O cáustico momento se aproxima
O quanto de desenha não redima
Sequer o quanto quero e mesmo aceito.
17
Não mais terei o quanto ainda veja
Depois da tempestade mais atroz,
A vida renegando qualquer voz
Não traz o quanto possa e até deseja.
A sorte desenhada em tal peleja
O vento se anuncia e traz feroz
O olhar de quem tentara mesmo após
O quanto deste pouco nada seja.
O verso em cataclisma, a noite vã.
A ausência incompreendida da manhã
E o vértice levando à grande queda.
Meu mundo sem sentido e sem razão
Apenas desdenhando o solo e o grão,
Somente no deserto se envereda.
18
Nos termos mais diversos da batalha,
O fim já não trouxera qualquer brilho
E quando no final em dor palmilho
Apenas o vazio ora se espalha.
Promessa se anuncia em leda falha
E o quanto possa um peito de andarilho
Aperta com terror este gatilho
E a solidão resume a velha tralha…
Meu mundo se anuncia do seu fim,
O tempo desenhando o quanto em mim
Pudera desejar novo momento
Após o que não veio nem viria
Não resta nem sequer a fantasia
Aonde o quanto reste eu alimento.
19
Jamais acreditei num novo instante
Nem mesmo no que outrora concebi
A sórdida presença vivo em ti
E o fim a cada passo se garante;
Um dia que pensara radiante
Traduz o quanto quis e já perdi.
O mundo se anuncia onde o senti
Diverso o que tento doravante.
Jamais aproximando sol e lua,
A vida em tais contrastes continua
Configurando a sorte sem sentido.
O medo de seguir e o tempo hermético
Matando qualquer tom do ser poético
Já tanto pelos cantos, desvalido.
20
Ao menos pude um dia acreditar
Nos tantos caminhares noite afora,
E quando a poesia me apavora
O mundo toma as rédeas e o lugar;
Aonde cada passo foi parar
O tempo sem ter tempo desancora
E marca o que pudesse desde agora,
Vivendo o quanto tente, sem notar.
O verso se entranhando dentro da alma,
Nem mesmo a realidade ainda acalma
Os sonhos mais espúrios de um poeta.
A porta se fechando eternamente,
O quanto do meu mundo não se sente,
A vida no vazio, não completa.
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