sábado, 9 de abril de 2011

51

Tanto pude merecer
Desafetos e temores
E onde quer e mesmo fores
Mergulhando em desprazer,
Na verdade eu pude ver
Entre tantos dissabores
Os momentos em fulgores
Onde a sorte a vi perder.
O resumo de uma vida
Sem saber da serventia
Que tampouco poderia
Traduz a despedida
Noutra fonte mais sutil,
Quando o verso a redimiu.


52


Nada mais vejo senão
As estradas mais cumpridas
Onde vejo já compridas
As entranhas da estação
E meus dias me trarão
Em diversas avenidas
As estranhas vãs saídas
Noutra rara dimensão,
Entranhando o que se possa
Já não vejo a vida nossa
Nessa senda mais audaz,
O meu mundo se desenha
Onde quer que não se venha
Nem moldar quanto é capaz.

53


Brava noite em tempestade
Neste mar que nos transporta
E gerando o que conforta
Traz em si a realidade,
Outro tempo quando invade
Trama além da velha porta
O que possa e me comporta
No momento em claridade,
Esquecendo o que pudera
Venço a sorte e nesta espera
O meu tempo traz o caos,
Onde outrora fora manso
Nada mais sequer alcanço
Senão dias ermos; maus.

54


Na palavra que redime
Na tormenta que me tolhe
O que possa já desfolhe
Expressão que nos reprime,
O momento mais sublime,
A verdade não recolhe
Nem sequer o quanto escolhe
Nas visões de um velho crime.
O meu passo sem sustento
O meu canto em harmonia
A palavra não traria
O que agora busco e tento
Na insolência do vazio,
Outra sorte diz do estio.


55


Nas encostas de um passado
Tanto pude me entranhar
E percebo o vão lugar
Onde o verso desolado
Fala sempre deste enfado
E se tenho algum luar
Bebo até já me fartar
Do caminho desenhado,
Entre velhas garatujas
As palavras mesmo sujas
São deveras mais discretas,
E se possam com certeza
Transformar cada surpresa
Onde em nada me completas.

56


Não vestisse a velha farsa
Nem tampouco a valentia
Do que fora este comparsa
Hoje em rude companhia
Na verdade a sorte esparsa
Noutro tom não se veria,
Resta apenas tal carcaça
Na diversa hipocrisia.
Vendo o fim que se aproxima
Vendo o tempo que não veio,
Ouso até no mesmo clima
Procurar em devaneio
O que tanto me restara
Nesta sórdida seara.

57


Dos jargões que tu me dizes
Dos temores mais discretos
Os meus dias em deslizes
Os meus velhos desafetos
Onde possam cicatrizes
Ou caminhos, ledos, retos,
As verdades; contradizes,
Em desejos incompletos,
Entronizo esta verdade
E procuro dentro em mim
O que seja a claridade
Ou talvez menos ruim
O caminho aonde brade
Todo o sonho vivo, enfim.


58


Não pudesse de tal jeito
Transformar o caos em medo,
Onde quer e ora arremedo
O cenário já desfeito,
Procurando ser aceito
Sei que sou mero segredo
E se possa e me concedo
Não termina em vão direito.
Ouso até noutro caminho
E se possa mais daninho
Outro verso em dimensão
Bem diversa do que tenho,
Onde veja em duro empenho
A temível solidão.

59

Marco com palavras rudes
O que tanto quis um dia
Ter no olhar quanto tu mudes
Em diversa sintonia,
O meu passo em atitudes
Onde a sorte não teria
O que queiras, desiludes
Marcas toscas da agonia.
Versejando em tom suave
Nada mais se possa e agrave
O meu tempo de viver.
Onde vejo tal momento
Ao contrário me alimento
Tão somente do sofrer.

60


Nego o passo onde atrevido
Poderia caminhar,
O que possa e até duvido
Não divide céu e mar,
Meu momento o dilapido
Onde pude desenhar
O cenário a ser sentido
Neste rude delirar.
O meu verso se vertendo
Num caminho tosco e horrendo
E sem nexo e sem razão,
Vendo o fim se aproximando,
O meu mundo desabando
Sem ter prazo e dimensão.

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