quarta-feira, 6 de abril de 2011

41

A “nova poesia” me venceu,
Confesso ter vergonha dos meus versos
Ultrapassados, mortos e dispersos.
Agora num mergulho ao perigeu.

A métrica, o rimar; tudo morreu.
Deveras são atrozes e perversos;
Jogando esta toalha, vão submersos
Ao céu inutilmente exposto ao breu.

E faço do meu canto, ensimesmado,
Bem escondido e mesmo envergonhado
Uma eremita apenas, onde eu possa

Traçar sem ser exposto ao riso irônico,
E sigo neste passo catatônico,
Rumando sem defesas para a fossa.

42



Nas esperanças plenas de uma sorte
Diversa da que vejo ora desnuda,
A vida se transcorre e segue muda,
Sem nada que deveras a suporte,

Apenas o caminho sem aporte,
A luta na verdade tanto iluda
Quem sabe no final já sem ajuda
O mundo se anuncia em triste norte.

Dos ermos que caminho, nada levo
Somente o mesmo tempo onde o que cevo
Jamais frutificasse em tom gentil,

Errático cometa sobre a Terra,
Meu verso se anuncia enquanto encerra
O ciclo aonde, eu sei, ninguém o viu.

43

Teus cantos, minha amada companheira,
Encantos que jamais pude conter,
A luta se desenha em desprazer
E traz a solidão feita em bandeira,

Ainda quando o tempo em paz se queira,
O dia sem saber do amanhecer
Gerasse o tempo inteiro onde o querer
Não traça nem sequer a derradeira

Vontade aonde a sorte desenhasse
Além do que se trama em rude impasse,
Na face carcomida da esperança.

Restando muito pouco para o fim,
Liberto do fantasma que há em mim,
Meu mundo em paz suprema agora avança.

44


Palavra mais amiga? Vejo a morte
E nela não mais meço a dimensão
Dos dias que pudera e desde então
Sem nada quanto tente e me conforte,

Apenas o vazio me comporte
E bebo as tardes frágeis da ilusão,
E sei dos tantos erros que virão
Marcando o que restara deste norte.

Escusa-me dizer do meu vazio
E nada do que possa eu desafio,
Pousando lentamente sobre o fim

Cadáveres que tanto pude ver
Cerzindo o mais diverso apodrecer
Marcando o quanto resta vivo em mim.

45

Mudando a direção do vendaval
Encontro no marasmo um cais seguro
E o tempo desenhado atroz e escuro
Desenha a mesma face desigual.

O canto que se fez rude e banal
Trazendo o quanto vejo atrás do muro
Que hipócrita, decerto configuro
Negando o que inda traga ledo final,

O verso de quem tente acreditar
No ocaso sem proveito em tentação
A sorte se traduz em dimensão

Diversa da que pude imaginar,
E sinto na mais dura face amarga
O quanto do passado a voz embarga.


46


Guinando num momento para frente,
Depois da queda em rústico detalhe
A vida a cada ponto mais retalhe
O tempo que anuncie e se desmente,

Meu passo possa ser impertinente
E o verso na verdade não atalhe
Propondo muito além do que batalhe
O mundo aonde o nada se apresente.

Meu verso sem proveito e sem sentido,
O canto tantas vezes desvalido
E o passo resumindo este vazio,

Deveras nada mais pudesse ver
Senão a vida em rude amanhecer
E nisto sinto o tempo amargo e frio.

47

Não tendo qualquer sorte mais diversa
Daquela que jamais eu pude um dia
O tempo noutro tempo me traria
O quanto na incerteza desconversa

O preço que se paga e não dispersa
Sequer algum sentido em fantasia
Trouxesse o quanto quero em poesia
Embora a vida seja mais perversa

Não tendo mais o quanto pude então
Eu vivo o que tentara em dimensão
Diversa da que a vida se perdera.

Negando o quanto faz e não vencera
A vida se espalhando sobre o solo
Não deixa que se veja nisso um dolo.

48


Anárquico poema em tom sutil,
O meu anseio dita o que viria
E sei do quanto possa em utopia
Embora seja aquém do que se viu.


Meu mundo que desejo mais gentil,
A rota se perdendo não veria
Sequer o renascer de um claro dia
Aonde o que se queira não previu.

Reparo cada noite em suas cores
E quando muito além ainda fores
Terás esta lembrança de um passado,

Sem tempo de viver felicidade
E o quanto na verdade se degrade
Expressa o quanto fora abandonado.

49


Não quero outra vida
Diversa e sombria
Aonde se via
A sorte cumprida,
Na trama sentida
Enquanto vazia
A luta se adia,
Mas cessa a ferida.
Vencer o temor
E como compor
O tempo que em paz
Pudesse somente
Trazer a semente
Que em chão, vida traz.

50

Não temo o passado
Tampouco o futuro
O mundo asseguro
Num dia sonhado
E o tempo onde invado
Meu passo procuro
E salto no escuro
Em sol desenhado,
A luta se esboça
Na sorte que é nossa
Em raios sutis,
E vendo o que pude
Viver a atitude
Aonde amor quis.

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