quarta-feira, 6 de abril de 2011

31


Às vezes bem distante; indiferença
Transcende ao muito pouco que inda trago,
E sei do meu caminho atroz e vago
Ao espelhar somente esta descrença

Sem nada que decerto inda convença
No quanto em passo incauto inda divago,
O quanto resumisse e sei que estrago
Ousando numa espúria dor imensa.

A vida em suas várias faces traça
A sordidez espúria de quem tenta
Vencer o que se mostre em tez sangrenta

E sabe que ao final, leda fumaça,
A sorte se aproxima do que rege
A farsa de uma vida mais herege.


32


Um laço de união que fora apenas
O traço mais agudo entre dois pontos
E neles outros tantos, em descontos
Traduzem o que agora me condenas,

Profanas heresias, noites plenas,
As sortes entre fúrias, ledos contos,
Os dias para a morte seguem prontos,
E sei das tempestades e envenenas.

Navego tão somente e nada mais
Do quanto pude outrora ver em cais
Expressa alguma luz após o nada,

A sordidez humana sobressai
E o quanto a cada engano ora me trai
Fugindo do que fora em minha alçada.

33


Noutro caminho ou mesmo noutra parte
Diversa da que um dia fora minha,
A sorte sem sentido ou mais daninha
Expressa o que decerto ora comparte.

E ao ter ou desenhar com qualquer arte
A senda que pudesse e onde se alinha
Uma alma amortalhada e tão mesquinha,
Sem ser sentido algum vira descarte.

Ouvisse o que pudesse em mar imenso
Deixando para trás o quanto penso
E não me convencesse do contrário.

O prazo determina o fim do jogo
E sei do que aproxima em fúria e fogo
Tornando o sonho apenas temporário.

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A vida, porém traz um outro abrigo,
E nada mais se vendo aonde um dia
O quanto do meu sonho poderia
Trazer qualquer momento ora consigo,

O verso se traduz e não mais ligo
A verdade deveras não se adia,
O corte aprofundando esta agonia
Da poesia morta, algum castigo?

Quisera manter viva a forma escusa
E quando a solidão volta e entrecruza
Cenários onde o tempo se perdendo,

Não deixa mais sequer algum resquício
E salto neste imenso precipício
Aonde o que se faz se traça horrendo.


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No irmão que ela nos deu, vida se enreda
E mata tenramente uma esperança
E quando o que inda tenho mal avança
O tempo noutro engano dita a queda,

A luta sem proveito mal segreda
O quanto poderia em confiança
E o mundo se desenha sem pujança,
Lembrança do meu mundo a sorte seda.

Esqueço o que pudera e não mais cedo
O tempo sem saída, meu segredo,
O canto em dor e tédio, eu abandono,

Negar o que pudesse ser e crer
Ainda quando pude conceber
Traduz a solidão que desabono.

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A vida se perdendo em desengano,
O tempo sem ter mais qualquer caminho,
O verso se moldando aonde alinho
O tempo onde enfim decerto dano,

Lutasse contra o medo mais profano
Vencendo o que se mostra mais mesquinho
E o passo se perdendo onde sozinho
Mal vejo o que pudesse noutro plano.

Errático, não tendo onde aportar
O barco sem sentido nem razão
Ao menos vejo longe a dimensão

Por onde cada passo a se mostrar
Transcende ao meu anseio e dita o fim
Do quanto alimentara dentro em mim.

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Depois dos dias loucos que vivi
Sem nexo ou sem saber, porquanto a vida
Trouxera o que deveras não divida
O tempo neste imenso frenesi.

Só sei que em descaminhos me perdi,
E bebo o quanto sobra da ferida
Deveras bem cuidada e bem curtida
Matando o quanto tenho e não aqui.

Esqueço o que se fez em tom diverso
E quando para o nada tento e verso,
Disperso cada passo rumo ao fim,

Reparo cada engano e sigo adiante
Sem nada que decerto inda garante
Sequer o quanto trago, mesmo assim.


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Mudando de repente qualquer meta
Dos erros costumeiros, nada veio,
Apenas o caminho onde receio
A sorte aonde o nada se completa,

A vida se moldara predileta
E o tempo aonde em nada e em vão rodeio
Meu passo segue tolo e mesmo alheio,
A mesma dimensão que é tão abjeta;

Num erro contumaz, a mais não pude
Trazer no meu olhar o tempo rude
Aonde o que se fez já não traria.

Errôneo desenhar em tom sutil
Meu mundo sem destino se traiu
Na noite tantas vezes mais sombria.

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Os sonhos mais antigos não são nada?
A velha e carcomida noite segue
E quanto mais o tempo atroz sonegue
A lua se desenha desnudada.

A senda sem tal tom anunciada,
O manto sem ter nada que o carregue
O verso sem sentido não renegue
A turva persistência desta estrada.

Da lápide esperada a cada instante
O quanto se retrata e se emoldura
Expressa a mesma noite amarga e dura,

E o tempo se moldara onde garante
Apenas a mortalha mais temida,
Levando o quanto resta desta vida.


40



Meu passo em direção ao que inda vejo
Da caricata imagem de um passado,
Aonde o que em certeza ora degrado
Traduz este cenário malfazejo.

O quanto deste céu fora azulejo
O verso noutro tom já desolado,
O preço a ser decerto enfim cobrado
Demonstra o desandar deste desejo.

A velha hipocrisia: sociedade,
O tempo na mais pura realidade
O canto sem sentido não ecoa,

A vida se transcorre e sigo à toa
Tentando pelo menos descansar.
Na ausência de onde possa ora aportar.

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