sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Porta Aberta

A Porta Aberta

Acordara tarde. A noite que prometera muitas alegrias tinha acabado sem nenhuma surpresa.
Não viera, ela nunca vinha...
Esperara por mais uma noite. Mais uma desilusão.
A porta adormecera escancarada, totalmente escancarados porta e coração. Mas nada, nada...
Muitas vezes pensara que a culpa era sua, sempre fora meio estúpido, meio tímido e teimoso. Muito teimoso.
A conhecera menino ainda. Amor da adolescência marcado por espinhas e noites acordadas. Sempre a via nos seus sonhos, mas nunca pudera dizer o quanto era importante para ele, a timidez o impedira e deixara-o sofrer.
Quando a viu nos braços de seu melhor amigo, o mundo parecia que ia desabar.
Mundo cruel, mas o tempo passa e não deixa senão as pequenas cicatrizes que teimam em não desaparecer totalmente.
Nesse meio tempo conhecera Maria de Fátima, bela morena de olhos verdes e esperanças bronzeadas.
Foram colegas de faculdade. Faculdades diversas, sonhos unidos.
Casamento foi rápido, rápido e raquítico.
Menos de quatro meses depois, a mesma noite que trouxe Fátima a levou.
Uma carta denunciara a trama.
Uma trama que o deixara assustado e pálido.
Quem diria, Fátima partira, jamais poderia acreditar que isso aconteceria um dia.
Da morena bonita, somente os olhos verdes sorridentes sobre a escrivaninha, no quarto, nada mais.
O porta retrato ainda estava lá, com aquela foto tradicional de um casamento terminado, abortado, antes que se pudesse sequer imaginar no que iria dar.
Carinhos e carícias foram poucos, mas marcantes...
A porta escancarada esperava por Lucia.
Menina Lucia que prometera voltar, um dia.
Agora, solitário lobo uivando por toda a noite, nada mais poderia esperar a não ser, em Lucia, a juventude morta, abandonada e esquecida.
Lucia tinha se casado com aquele velho amigo da adolescência e tinha tido dois meninos.
O tempo demonstrara o quanto eles eram parecidos com o pai, morto num acidente de trânsito. Álcool, muito álcool e as farras comuns dos finais de semana.
Lucia tinha ficado só e revoltada. Muito revoltada.
O corpo encontrado junto ao do marido tinha, várias vezes, dormido na mesma casa que ela, velhas amigas...
Ao reencontrá-la pensou que poderiam recuperar o tempo perdido e reiniciarem a velha história de amor...
Mas aquela noite fora incisiva. Lucia não viria, nunca mais...
O que fazer?
O sábado aproximava-se e com ele as noites e bares. Os bares podem trazer novas luas e novos sonhos...
Aquele seria o seu dia!
Não pensara duas vezes. Soube que, na cidade mais próxima, haveria um baile.
Um baile é sempre uma boa oportunidade de conhecer gente nova. Principalmente outras mulheres!
Uma roupa nova, um sapato novo, tudo novo para um velho lobo.
Solitário lobo...
Arrumou-se, perfumou-se...
A noite estava muito bonita e ele também, com certeza teria uma noite inesquecível
E teve!


O clube estava lotado, cheio de jovens felizes e ansiosos.
A música convidativa trazia o sonho...
Sonho e desejos....
De repente, uma sombra familiar passa do outro lado do clube.
Os olhos verdes da morena irradiavam!
O que fazer?
As noites maravilhosas que passaram junto, o uísque fazendo o efeito esperado...
Mas, ao se aproximar um pouco, reparou que os olhos verdes estavam ansiosos, esperando alguma coisa ou alguém...
Alguém!
Neste instante, saindo do banheiro feminino, uma surpresa...
A passageira noturna que nunca viera, aproximava-se sorridente...
Lucia e Fátima.
A noite escureceu-se de vez...
O efeito do uísque se esvaiu...
A porta nunca mais dormiu aberta

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