A danada da paixão
Seu moço me dê licença
Deu lhe contar uma história
Essa eu já sei de memória,
Embora não lhe convença
É um caso de doença
Que se espalhou no sertão,
É preciso de atenção,
Senão num vai entender,
Como posso me esquecer
A doença da paixão?
Conheci moça bonita,
Nas estradas que passei,
Nos caminhos já fui rei...
É coisa que muito agita,
Com um lacinho de fita
A moça era bem faceira...
Eu gostei foi de primeira
Parecia uma princesa,
Me envolvi nesta beleza
Era paixão verdadeira...
Acontece que essa moça
É filha dum inimigo
Que já me trouxe perigo
De sangrar já formou poça
A mocinha era de louça
Uma bela namorada,
Eta vidinha azarada
O quê que posso fazer?
Era melhor nem saber
E parar a caminhada...
Mas o coração da gente
Não quer saber desse troço,
Bem cedo é que me alvoroço,
Não posso viver contente
Se não matar a serpente
Não posso comer esse ovo,
Já me dizia meu povo
Eu não tenho mais saída,
O que fazer desta vida
Vou encarar esse corvo...
Tantas vezes vi saudade
Voando qual passarinho
A procurar o seu ninho
Vida parece maldade
Preciso tranqüilidade
Eu não aceito conselho
Vivo nesse sol vermelho
Nessa terra meu deserto
Não tenho medo do incerto
Pode guardar seu bedelho...
Filho de cabra marcado
Pra morrer em emboscada
Minha viola é tocada
Não tenho medo de fado,
Nem destemido e safado
Vão poder me segurar
A bala que vai matar
No meu revólver se esconde,
Eu não vou perder o bonde
Não precisa preocupar...
Mas ao ver a moça linda
Um coração não tem jeito,
Arrebentando no peito
Essa saudade não finda
Pois tanta tristeza ainda
Nessa vida vou viver,
Mas é matar ou morrer
Essa dúvida tortura
Passear na noite escura
Esperar amanhecer...
Depois de muita fofoca
Amor que fora mimoso,
Agora é bem perigoso,
Eu não vou sair da toca
Não vou pra terra, minhoca
Eu preciso solução
Como viver no sertão
Essa terrível doença
Não me deixa recompensa
A danada da paixão!
MARCOS LOURES
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