ALVOROÇO
Quero te falar seu moço
Como pode esse alvoroço
Em troca desse colosso
Que pendura no pescoço
Suga portanto até o osso
E traz de novo esse preço
Que custa minha cabeça
Que me traga assim, à beça,
Que me pega e nem confessa
Deixando-me pelo avesso
Pelo medo dessa lida
Sangrada e sempre curtida
Numa espécie de malgrado
Meu coração safado
Perdido nessa loucura
Que morde tampouco cura
E transforma essa bravura
Em bravata loroteira
Que na vida por inteira
Goles bebe mais sedenta
Que prende, mata, arrebenta
Que nem fosse água das benta
Das beatas que arremete
A vida na bola sete
Que não luta quem compete
Nem jogando mais confete
Nem alenta nem repete
Apenas me traduzia
A cota da valentia
Das setas com que feria
Os tentos dessas Maria
Que tanto foram poesia
Jazendo num canto novo
Criado feito esse povo
Costume de embriagar
A noite inteira tragar
Nas fronteiras desse bar
Na sombra desse luar
Nas matas do meu sertão
Arremete toda luta
Vencendo, sem força bruta,
Quem teima em relutar.
Trago no peito, cativo,
Meio morto, meio vivo,
Num somar bem mais ativo
Que permite, sobrevivo,
Resistir à ventania
Que transforma meio dia
Em noite escura de breu
Que foi e que fora meu
Modo mais silencioso
De dizer ao Poderoso
Quanto me causa alvoroço
O ter que ser mais fogoso
Num modo mais salutar
De converter minha guia
De saber viver serventia
Sem ter medo do viria
Nem do vindo perceber
O que foi já esquecer
Nesse nunca mais ter sido
Que me traz o ter perdido
O que jamais conquistei
Se perdi ou se ganhei
Ficaram sombras no chão
Do que mais temo ou venero
De tudo quanto eu mais quero
Doce veneno singelo
Do valor que mais espero
Dos goles o mais bitelo
Na ponta do meu cutelo
No corte dessa saudade
Que me traz a novidade
De saber que não há de
Nem perdão peço direito
O sabor desse confeito
Desmancha na minha boca
Vivendo de muita ou pouca
Nessa voz muito mais rouca
Que bobagem seja então
A rima dessa canção
Por tanta vadiação
Das cordas do violão
Que repetem sem parar
Falando que vai voltar
A sensação de friagem
Voltando dessas paragem
Feitas dessa forte aragem
Que entra pela garagem
Das portas do coração
Trancando toda bestagem
Que me fez fazer bobagem
E nunca me disse o não
Nesse sentido comporto
As luzes desse meu porto
Nas vezes em que me importo
Retirando meu conforto
Revirando minha cama
Ardendo na tua chama
Que queima tão devagar
Permitindo minha lenta
Sensação de quem não tenta
De quem perde o que se inventa
Nessa tarde que se aumenta
A vida que se lamenta
Ardendo feito pimenta
Estourando toda farsa
Naquele velho comparsa
Que tenaz, sempre disfarça,
O bote dado na praça
E matando mais amassa
O sentido dessa massa
A que vai, tenta e não passa,
Manipulando essa massa
Transformando na cachaça
Gosto de rebelião
De tremer o nosso chão
Meu peito vai ao contrário
Sendo revolucionário
Não pode ser funcionário
Nem pode bater cartão
Tem amanhã por divisa
Sabe tudo que precisa
Sabe da hora precisa
De espalhar nesse chão
A luta sempre altaneira
Sempre em busca verdadeira
Do que seja liberdade
Do que quer dizer verdade
Sem ter pingo de saudade
Sem ter frases de perdão
Quero molhar meu sertão
Com certezas e paixão
Das lágrimas sem maldade
Paridas do coração!
MARCOS LOURES
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