terça-feira, 28 de junho de 2011

21

Espírito ocupado em ledo fardo
Caminho pelas sendas que deixaste,
A solidão expressa este contraste
Enquanto o passo enfim, mesmo retardo,

A sórdida noção deste petardo
Marcando o que pudera e não notaste,
Vencido navegante; naufragaste,
E nisto novo tempo em vão aguardo.

Resguardo algum alento que não veio,
E sigo sem sentido e mesmo alheio
Ao quanto ora incendeias, falsa luz.

O verso veiculado no vazio,
À sombra do que tanto desafio,
A vida noutra face não seduz.


22

Remordendo-me penso no que um dia
Pousasse noutro tema mais sutil
E o quanto na verdade não se viu
Gerasse novamente esta agonia,

Ao ver quanto se traça em rebeldia
O céu jamais se fez de novo anil,
O prazo se mostrasse mais hostil,
E o todo noutro instante se perdia.

Reparo cada espaço e vejo aquém
Do tanto que lutara e nada tem
Somente esta faceta vã, satânica,

A vida obedecendo tal mecânica,
Nascer, lutar, morrer acreditando,
No eterno após o fim se revelando.

23

Mendigo algum carinho, mas sei quanto
O tempo não presume alguma sorte,
E quando a realidade se comporte
Expressa tão somente o desencanto,

No fim apenas isso basta e o pranto
Revela a dor que sei audaz e forte,
No pânico gerado não se aporte
A luta que desenho e não garanto.
Amar e ter nas mãos a redenção?
Olhando para trás nada viceja
E sei do quanto pude enquanto é vão,

O prato sobre a mesa, a farsa e o tédio,
Aprendendo diversa esta peleja,
E o tanto que se faz em louco assédio.

24

Amar e ser feliz, um sonho ausente
Dos olhos que procuram pelo olhar
De quem pudesse ao menos navegar
Lutando contra a fúria da corrente.

O todo no final não apresente
Sequer o quanto pude imaginar,
Vagando a cada instante sem pensar
Ousando acreditar ser a semente.

Negar o quanto rege em tom atroz,
E o manto se recobre e sobre nós
Apenas expressasse esta vontade,

Mas quando se presume o fim de tudo,
O passo sem cansaço eu tento e mudo,
Enquanto esta ilusão avança e invade.


25

Não guardaria mesmo algum rancor,
Nem mesmo relembrasse qualquer fato
Traçando o que deveras mal constato
Gerado pelo tosco desamor,

Apenas noutro tom o refletor
Gestasse o que deveras não retrato,
E quando fosse a sorte o que maltrato,
O tempo não seria o condutor.

Acolho os velhos trajes de quem sonha
E bebo em cada noite outro cenário,
O sonho se fizera necessário,

E mesmo quando a vida além se enfronha,
Blindando com a farsa mais constante,
O mundo noutro vão não se garante.

26

Acrescentar o pouco que inda resta
De toda esta fartura quando a quis,
Navego contra o tempo, este infeliz,
E a sorte se apresenta mais funesta.

Resumo o meu caminho nesta orquestra
Que possa em noite clara dar o tom
Do amor que se moldara no neon,
Porém a vida segue tão canhestra.

O rumo se perdera há tantos anos,
E o vértice se fez em mero ocaso,
E quando noutro passo sempre atraso,
Acumulando apenas desenganos,

Esqueço simplesmente desta luz
Que agora noutro espaço se conduz.

27

Quisera acreditar no que não veio
Nem mesmo até pudesse adivinhar
O prazo quando a vida dá lugar
Ao tanto que se queira sem receio,

Olhando para trás, sonho eu grampeio,
E bebo da esperança em cada bar,
Na sorte que pudera divisar
Embora seja mero devaneio.

O caos se aproximando de quem dita
As tramas entre chamas e temores,
Ainda que puderes e te fores,

A luta na verdade é mais aflita
O rumo se perdendo neste instante
Sorriso já se molda provocante.


28

Não quero que se veja após a queda
As marcas mais atrozes, doloridas,
E sei das minhas lendas resumidas
Nas tramas onde o tempo me envereda.

Aproximando o caos, nada me seda,
Sementes sobre o solo, despedidas,
Versões das mesmas rotas e avenidas,
A sorte me domina e me empareda.

No féretro dos sonhos, abandono,
O quanto me pergunto e desabono
Atravessando as ruas sem olhar,

Assino o que pudera sem dissídio
E tento sem sucesso o suicídio,
Quem sabe noutro instante, outro lugar...

29

Apenas um momento aonde eu possa
Deixar o que inda trago sendo exposto,
O vento toca em fúria cada rosto,
Presença da esperança fosse nossa.

A gélida expressão agora apossa
Do quanto se fizera em tal desgosto,
Resumo o meu caminho e sigo oposto
Ao todo que não trame extensa fossa.

Esgoto o meu anseio neste bar,
E brindo ao que pudera desenhar
Artífice poeta, um tolo a mais.

Arquétipos de vidas tão diversas
E sei quando deveras além versas
Mesmo que inda se vejam temporais.

30

Findando o que me resta em tal momento
O lúdico presume o farto gozo,
Mas sei do quanto pude majestoso
Viver o mais completo desalento,

Até que acreditar, quem sabe, eu tento,
E nisto o meu tormento pedregoso
Gerasse outro cenário caprichoso,
Exposto sem defesa a qualquer vento.

Acolho entre os pecados e inocências
As tramas em diversas penitências
Marcadas pelo engodo costumeiro.

Não quero acreditar no que não vira,
A vida se prepara em tal mentira,
Adubo com meus sonhos tal canteiro...

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