91
Apresentando a morte como sendo
A sorte que procuro a cada dia,
Apenas neste olhar, melancolia,
A vida não trouxesse um dividendo
Do tanto quanto fora em estupendo
Cenário o que meu mundo buscaria,
Amenizasse ao menos o que havia
E nisto outro temor já se perdendo,
Porém ao resumir o meu anseio
No quanto sem sentido devaneio
Apresentando os pêsames, prossigo,
E bebo da cicuta que me deste
Ousando acreditar mesmo que a peste
Deveras seja enfim o meu abrigo.
92
Não quero nem talvez mesmo tu queiras
Acrescentar um passo ao infinito,
E vendo o quanto tento e necessito,
Deixando no canteiro estas roseiras,
Marcando com ternura as verdadeiras
Palavras que mostrassem novo rito
Ou mesmo o que deveras acredito,
Subindo dentro da alma as vãs ladeiras.
O prazo se extinguira há tantos anos,
Os dias somam novos desenganos
E os passos sem certeza se perderam,
Ainda que vencesse a noite escusa
A vida se mostrara tão confusa
E os dias entre tantos esqueceram...
93
Ao menos o meu mundo não seria
Destarte o que deveras mais proclamas
E tanto quanto possa em rudes dramas
Vagasse pelos tons da poesia,
O verso noutro encanto se faria
E nele novamente velhas tramas,
Marcantes ilusões que enfim reclamas
Deixando para trás a estrela guia,
O prazo se traduz na tempestade
E sei do quanto a vida desagrade
Quem vence sem sentido o quanto traz
O mundo noutro passo seja mais
Do que pudera ver entre os venais
Caminhos onde a vida nega a paz.
94
Não quero e não pudera ser assim,
Meu mundo em sortilégio não transcende
Ao tanto quanto queira e não depende
Do marco desenhado dentro em mim,
Apenas configuras o meu fim
E o vento noutro instante não desprende
Sequer o quanto anseio e se me rende
Grassasse o mar imenso de onde eu vim.
O cântico em louvor ao Deus que um dia
Marcasse com amor a fantasia
Que tanto se fizera mais sutil,
O peso de uma vida em inconstância
Gerasse na verdade esta distância
Que o medo noutro passo não previu.
95
Apenas abandono este cenário
E sei do meu caminho entre vulcões
E na verdade quanto mais me expões
Eu sinto ser o sonho necessário,
Ainda quando tento o temerário
Momento entre sutis divagações
Os olhos noutro rumo, em dimensões,
Pudessem num instante outro fadário.
Acordo e nada vendo sigo assim,
Matando o que inda resta vivo em mim
Ou mesmo acreditando no que há tanto
Gerasse a turbulência de uma vida,
Sonoramente rude em despedida
Gerada pelo duro e triste pranto.
96
Não quero acreditar no que trouxeste,
Senão a mesma rude e vã versão,
O tempo se moldando deste não,
E nele outro cenário mais agreste
Ainda que emoção ao todo empreste
O rumo no que possa em direção
Diversa ao que se fez e desde então
Ousasse na expressão deste cipreste,
Imensidão não trague melhor sorte
E quando na verdade mal suporte
O tempo se anuncia mais voraz,
Acreditando apenas no passado,
O verso se moldara embolorado
E sei que sou de fato um incapaz.
97
Não quero e nem pergunte por que veio
O tempo tão brumoso em minha vida,
A luta se mostrara dividida
No todo que proclamo e já receio,
O medo noutro tom eu incendeio
E bebo em tua boca esta bebida
Sanguineamente agora em dor servida
E sinto a tempestade que ora anseio.
Repare tantos erros quanto possa
Viver a solidão que enfim se trame
E nisto a solução traz por ditame
A lúdica expressão que fosse nossa,
O mundo se perfaz e sei do engano
E nele com certeza ora me dano.
98
Não quero ter no olhar a mesma sorte
Que gere este horizonte em discrepância,
A luta se prepara na inconstância
De um mundo sem saber do que conforte,
O medo se desenha em rito e morte
E nada mais se mostre em tal distância
Apenas o que fora militância
E no final apenas me transporte.
Ocasionando a queda que se faz
Aonde o que vivesse deixo atrás
E bebo do vazio que me deste,
No tempo mais sutil, tempestuoso,
O canto se mostrara majestoso,
Porém o que me resta- um solo agreste...
99
Não quero acreditar no que talvez
Pudesse ser apenas o resumo
De um tempo que deveras se me esfumo
Traduz o quanto a vida me desfez,
No pouco resumindo a insensatez
De um tétrico momento onde consumo
O verso sem saber de qualquer rumo,
Aonde a minha história não mais vês,
Reparo cada passo noutro instante
E sei da solidão que não me espante
Marcando com terror o dia a dia,
Ao menos no final se reparasse
O todo que deveras demonstrasse
A sorte que se quer e não veria.
100
Termino neste instante o velho sonho
De um canto em harmonia feito em paz,
O que deveras sei e agora jaz
Presume este futuro mais medonho,
A morte me rondando e decomponho,
O passo com a luta mais mordaz
Vencendo o que se possa e sempre traz
O meu caminho rude onde me ponho.
Meu mundo se demonstra previsível
Atinjo o que pudesse e noutro nível
A luta continua sem sentido,
Bebendo cada gota do passado
O verso na verdade mais ousado
Traduz o meu caminho, desvalido...
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