terça-feira, 28 de junho de 2011

Pudesse desvendar alguns mistérios
Que amor nos apresenta a cada instante,
Quem sabe no final o que garante
Expresse a frialdade dos minérios.

Ainda quando ousasse em tais critérios
Diversos do caminho doravante,
Pousando noutro encanto delirante
Gerando no vazio meus impérios.

Resulto deste ocaso e nada trago
Senão a mesma face aonde o estrago
Traduz a valentia de um palhaço,

Matilhas esboçando reações
E as hordas que deveras tu me expões
Deixando o sonho, agora, mais escasso.


12

Na parte que me cabe, o quanto tenho,
O vento dissipando o que restasse,
No fundo o meu caminho a cada impasse
Traduz a luta em vão desenho,

Caminho pela vida sem empenho,
Tentando apenas manso desenlace,
Porém o quanto em sonho se moldasse,
Não traz o que decerto ora retenho.

Amar é consagrar ao sonho a voz,
E ter esta impressão do quanto após
A vida se refaz e nos renasça,

O medo de viver sonega a sorte,
Inevitavelmente vem a morte,
Mas não se entregue vivo ao mofo e à traça.

13

Um gole de otimismo e bom humor,
Não deixa que se beba tão somente
Da rude e delirante decadente
Noção de meramente desamor.

Sem prazo ou validade, e sem temor,
Ousando neste solo outra semente,
A vida muitas vezes nos desmente,
E traz no olhar um brilho redentor.

É claro que isto passa. Assim também
A dor deveras volta e quando vem
Derruba este castelo que é de areia,

Porém ao refazê-lo se procura
Vencer a mesma face da amargura
Que tanto me angustia e me rodeia.


14

Inconstante horizonte; é necessário,
A vida não seria diferente
Tampouco noutro instante, este afluente,
Seria tão venal se solitário...

No encanto deste canto algum canário
Traria o quanto quero e, pertinente,
Meu mundo de tal forma se apresente,
Ainda que isto seja temporário.

Sobrepujando à dor tão costumeira,
Minha alma na verdade tanto queira
Apenas um momento feito em paz,

Porém no balançar de tantas ondas,
Ainda que te veja, ora te escondas,
Mas sei que tudo após volve e refaz.


15

A queda não traduz somente o fim,
Realça o que virá, tenho a certeza,
Não vejo tal momento com vileza,
Nem mesmo estio eterno no jardim,

O passo se renasce dentro em mim,
E sigo com ardor a correnteza,
Atento ao que puder com sutileza
Viver o quanto reste, sempre assim.

Não mato esta esperança embora seja
Apenas enganosa muitas vezes,
Não tendo a vocação de tantas reses,

A cada desafio, outra peleja,
Olhando para trás é que eu aprendo,
Ou mesmo noutro passo em paz remendo.

16

Não és melhor, apenas diferente,
Tampouco tu demonstras pequenez
A vida se apresenta como vês
Não adianta olhar tão imponente,

E mesmo que decerto o que apresente
Divirja como fosse insensatez,
A queda anunciando estupidez
O olhar não se permite ser potente.

Diversos e irmanados os destinos,
Nas sombras, no abandono, noutro rumo,
O quanto do meu ser em ser consumo?

No fim, mesmo dobrar dos velhos sinos...
Ao lapidar deveras cada gema,
Um tesouro rompendo a tola algema.

17

Amar não é somente o se entregar,
É mais que a base, é toda a construção,
De um mundo aonde possa em solução
Outro cenário raro se moldar.

Aprendendo decerto o libertar,
Ousando acreditar noutra estação
Antecipando os dias que virão,
Tocados pelos raios de um luar.

Um velho que se ilude? Não sei bem,
Só sinto ser possível e quando vem
A vida não pergunta, invade e pronto.

E quando com tal cena ora confronto
Esbarro nos enganos, sei bem disto,
Porém – um sonhador? – tento e persisto.


18

Atentamente busco alguma fonte
Que possa me trazer em manso passo,
O tanto quanto quero e mesmo traço,
Ainda que o futuro mal desponte,

Não tendo outro caminho que se aponte,
O olhar se demonstrando sempre lasso,
O velho caminhar em turvo espaço,
Ainda acreditando em horizonte.

Talvez seja reflexo destas cãs
Que teimam crer nos sóis em amanhãs
Diversos do que tanto concebi

Mas sei que acreditar é necessário,
A vida segue noutro itinerário
Divergindo do quanto eu vira aqui.


19

Não quero acreditar que o velho corte
Expresse tão somente a realidade,
O mundo se transforma e na verdade,
O barco procurando sempre o norte,

Não vejo outro caminho que suporte
E rompa do vazio a dura grade,
No fim de cada luz, tranquilidade,
Que a própria solidão, a vida aborte.

Não sendo de tal forma o que seria?
A eternidade dura um mero dia?
As tramas entrelaçam novas luzes,

Andando sobre o solo do passado,
Encontro o mesmo pão embolorado,
Invés do brilho farto, ledas cruzes.

20

Jamais acreditei que o tempo fosse
Somente alguma luz a se perder
Nem mesmo concebera algum prazer
No fato do viver tão agridoce.

Acolho os meus receios e sei bem
O tanto que isto pesa em meu costado,
E quando no final de tudo evado,
O mundo com certeza sempre vem.

E sigo, mesmo contra estas marés,
Ousando acreditar na raça humana,
E sei que na verdade tanto engana,
Matando uma esperança de viés.

Mas logo se renasce outra vertente,
Ainda que somente nos alente...

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