terça-feira, 28 de junho de 2011

41

Não mais me caberia uma surpresa
Tampouco a sorte traz outro momento
A vida que deveras sempre tento
Expressa a solidão da frágil presa,

Expondo as cartas todas sobre a mesa,
No fim o que pudesse desalento,
E vago sem saber quanto sangrento
O mundo se desnuda em tal vileza.

Arcando com meus erros costumeiros,
Jogado pelos cantos, sigo em frente,
E mesmo quando possa ou não enfrente,

Os olhos buscam flores e canteiros,
No fim o que se encontra nos desdiz
E a face se transborda; uma infeliz.

42

Não quero que se faça de tal forma
A vida como fosse um mar de rosa,
A luta noutro tempo é pegajosa
E o medo nos derrama e nos transforma,

A sorte se desnuda e não conforma
Enquanto a solidão já se antegoza
Na fúria que pudera majestosa
E nisto qualquer passo dita a norma.

Sem norte, sem suporte sem que note,
Quilates tão diversos, vida e morte,
O preço se transforma e se denote

A frágil sensação do fino pote
Que nada mais deveras o comporte
Enquanto a solidão amor aborte.

43

Escusas pediria a quem se ofende
E tente acreditar num pueril
Momento aonde o quanto se pediu
Transforma no que agora se desprende.

Atrelo o meu caminho ao teu caminho
E sigo o velho rabo do cometa,
Ainda que deveras se prometa
No fim o passo segue mais mesquinho,

Vacante coração deste idiota,
Há tanto desejara algum alento,
E quando na verdade mesmo tento,
A solidão decerto isto denote.

No verso sem firmeza em lento fluxo,
Amor se traduzira em tal refluxo.


44

Ocasionando a queda de quem busca
Vencer a solidão tão costumeira
A sorte não seria o que se queira
Nem mesmo esta emoção viesse brusca,

Artífice do sonho em agonia,
A luta na verdade não se traz
Somente o que pudera ser capaz
Agora noutro tom não viveria.

No fato que consome cada passo,
No passo que desanda sem sentido,
O todo noutro espaço agora olvido
E vivo tão somente o quanto traço,

Emparelhando a vida de tal sorte
Que nem a poesia me conforte.


45

Jamais imaginasse a mesma cena
Ousada entre cenários mais diversos
E os olhos que vagassem universos
Na sorte quando a quis serena e plena,

O tanto que se traz e me envenena
Nos sonhos entre sonhos tais, dispersos,
Tateio e busco além dos já submersos
Caminhos o que possa e a vida acena.

Mantras que ainda escuto, a voz suave
De quem tanto pudera e não se entrave
Vencendo os mais diversos desencantos,

Erguendo o meu olhar noutro horizonte,
Ainda que esta lua não desponte,
Valesse até por tantos belos cantos.

46

Xamãs de vários mundos que trouxeste,
Num rito que anuncia a liberdade,
O verso se transcende e quando invade
Expressa a maravilha em ser celeste,

O quanto deste todo agora empreste
À vida este momento em claridade,
Na tântrica expressão, felicidade,
Mais firme que qualquer forte cipreste.

Assim o meu anseio se completa,
Na face mais suave e mais dileta
De quem já me ensinara o ser liberto,

E quando em poesia o mal deserto,
Adentro este infinito feito em paz,
E o mundo se transforma além, capaz...


47

Escuto a voz do vento me chamando
E bebo a cristalina água da fonte
E sei do quanto possa e já desponte
O mundo sem querer saber nem quando,

Este universo agora desvendando
E nele todo o sonho ora se aponte
Marcando com ternura este horizonte,
E um sol novo e sutil se revelando,

No prisma iridescente dos teus olhos,
Deixara para trás medos e abrolhos,
Neste cevar da imensa liberdade,

Amando e sem sentir qualquer temor,
Trazendo dentro da alma a fina flor
Que exala por si só felicidade.

48

Um cântico em louvor à deusa Terra,
Que possa nos trazer sempre o caminho
Aonde se desenhe o nosso ninho,
Beleza sem igual que ela descerra,

A sábia mesmo rude jamais erra,
O ser que se mostrara mais daninho,
Erguendo o seu olhar turvo e mesquinho,
Uma esperança mata, e o sonho encerra.

Porém quando tratada em mansidão,
Reflete toda enorme dimensão
Da nave que nos guia e nos carrega,

A sorte se prolongue imensamente,
Por isso cada sonho se sustente
No espaço enquanto a mãe Terra navega.

49

Não quero o desafeto dos antigos
Tampouco do presente este vazio,
O quanto a cada instante desafio
Expressa o quanto possam bons amigos,

E neles entendendo tais abrigos
No desfilar suave de algum rio,
Invisto cada passo que recrio
Sabendo do caminho e seus perigos.

Assola-me o terror de quem se fez
Na frágil e mais rude insensatez
Gerado pelo ocaso de alguma era

Que agora se abandona pouco a pouco,
E mesmo que pareça mais um louco,
O sonho noutro mundo a paz espera.

50

Resisto ao quanto venhas; desafeto,
Trazendo em sua face esta desdita,
A luta que deveras se acredita
Proclama o seu caminho predileto,

E quando na verdade eu me completo,
Deixando para trás esta alma aflita
Lapido com ternura uma pepita
E sei que desta luz eu me repleto.

O vento traz suave mansidão,
A brisa anunciando esta emoção
Que vença qualquer medo, doravante.

Meu tempo se apresenta em sincronia,
E vivo o quanto possa e mais queria,
No todo que deveras me agigante.

Nenhum comentário: