quarta-feira, 29 de junho de 2011

51

O momento supremo em tal grandeza
Permite que se veja com clareza
O quanto desta vida desejara
Quem sabe da expressão sublime e rara,

Marcando com ternura e sem surpresa
Deixando-se levar em correnteza
Que ao tanto mais suave se prepara
Vibrando em consonância e nos ampara.

A farsa feita em fera e intolerância
A morte se moldando em vã ganância
Apresentando assim o ato final,

A cena em pleno palco da esperança
Enquanto o meu caminho além se cansa,
Enveredasse o imenso pantanal.

52

Não quero acreditar no que me trazes
Embora tantas vezes, mais audazes,
Os passos ultrapassam qualquer plano
Gerando dentro da alma o desengano,

Vasculho cada ponto e se me dano,
Procuro desenhar em roto pano
As tramas mais sutis, velhas tenazes,
E nelas os sorrisos tão mordazes.

Não quero a sutileza do depois
Nem mesmo esta agonia que em nós dois
Gerasse ora somente o fim do sonho,

Ainda que deveras me proponha
A face em rudimento tão medonha
Supera qualquer luz que inda componho.

53

Não quero ser apenas o que um dia
Vivesse sem sentido a fantasia
De um tempo mais suave que não veio,
Olhando para trás em devaneio
Tentando acreditar que inda viria
O canto noutro tom, desarmonia,
Pisando bem mais forte neste freio,
Acreditando em nada, o não rodeio.
E bebo cada gota deste fel
Jogado com certeza sempre ao léu
Marcante indecisão de vida rude
E nisto o quanto possa e mesmo pude
Gerasse o que se veja em carrossel
Matando o quanto a vida nos ilude.

54

Não quero mais pedir qualquer apoio
Sabendo distinguir trigo do joio,
Seguindo sem sentir mais tal temor
Que impeça com certeza algum amor,
O vento na verdade em manso arroio,
Gerasse um maremoto e do comboio
Traçasse um novo espaço redentor
Gerando com certeza o dissabor.
Acolho entre meus braços o vazio
E sei do quanto possa e desafio,
Matando uma esperança a cada verso,
O tanto que pudera já disperso
E bebo o quanto queira noutro rio
Vagando sem sentido, este universo.

55

Não quero a sorte atroz e nem sutil
De um tempo aonde o quanto ora se viu
Já não mais desejasse algum alento,
E nisto com certeza me contento.

O pranto noutro fato mais hostil,
Lembranças recendendo ao meu vinil
Jogado nalgum canto, pensamento,
Vivendo o que pudera estar atento.

Não quero mais a sorte em tal fastio,
Vagando sem sentido no sombrio
Momento aonde o todo se perdesse,

O velho caminhar não merecesse
Sequer alguma sorte mais feliz
Matando o quanto outrora bem mais quis.

56

Meu tempo sem ter tempo de ser meu
O vento noutro tanto se perdeu
E o corte me ameaça a cada instante
Trazendo o ser decerto angustiante.

Ainda quando quis meu apogeu,
Meu canto sem sentido converteu
A vaga tempestade mais constante
Num dia feito em paz, tão fascinante.

O rumo se apresenta e vejo apenas
Ao quanto sem defesas me condenas,
Urgindo sobre tantas ironias,

Vestígios do que tanto mais querias,
Marcando com ternura em fantasias
As mesmo dolorosas toscas cenas.

57

A lua tão formosa e purpurina
Banhando o vosso corpo escultural,
Assim desnudo, exposto, sensual,
Desperta em mim encanto e me fascina.

Do vosso olhar, o brilho, me ilumina,
Tal como a lua todo o espaço astral,
Desperta em mim desejo viceral,
Que viça no meu corpo e me domina.

Mais belo que os sonhos do poeta,
E abrilhantado pela luz da lua,
O vosso corpo é fonte de poesia.

E causa dentro em mim tal alegria,
Quando tocando a minha pele nua,
Enlaça-me de vez e me completa.


Edir Pina de Barros

Pudesse a lua plena nos tocar
Gerando com certeza outro luar
No corpo fascinante da deidade
Que deitada ao meu lado é claridade.

O sonho mais sutil que possa ousar
Ascende ao mais sublime desejar
Tramando com certeza a liberdade
Já superando agora qualquer grade.

O coração de um velho seresteiro
Batendo neste instante mais ligeiro
Expressa a dimensão de um farto amor,

E faz iridescente este cenário
Da lua se eclodindo um planetário
Moldando este vislumbre multicor.



58

Ainda quando vejo esta nudez
Desfilando sublime o amor se fez
Gerando novo amor que se produz
No facho mais suave desta luz

E nisto o quanto quero e mesmo vês
Marcante este cenário em lucidez
Vibrando quando o tempo me conduz
Ao tanto que deveras não me opus.

Realces entre farsas e falácias
As horas traduzindo tais audácias
De quem se tenta além de meramente,

Meu verso no teu corpo se apresente
Ousando numa rima mais sutil,
No tanto que deseja e no que viu.

59

Não mais apresentasse alguma sorte
Diversa da que tento e que me corte,
Vagando sem sentido e sem saber
Do quanto poderia perceber.

O vento se traduz em velho norte,
E quando esta agonia o tempo aborte,
Não deixe quase nada por se ver
Prevendo um deslumbrante amanhecer.

O pouso se apresenta noutro encanto
E quando meu momento em paz garanto
Encontro tão somente quem procuro,

Meu prazo se extermina paulatino,
E o todo que pudera e não domino
Deixando este cenário mais obscuro.

60

O medo de seguir e não tentar
Vestígios de uma vida que ao buscar
As sombras noutro rumo se venceu,
E nisto teve o seu raro apogeu,

O manto que pudera se traçar
Nas tramas de quem tanto quis amar,
Senão a sorte inerte percebeu
A dura sensação do imenso breu.

E deste mesmo andar, andores vejo,
Sabendo no final que a cada ensejo
Meu prazo determina o fim do sonho,

Não quero que se faça deste traste
Apenas o que tanto sonegaste
Nem mesmo o meu caminho mais bisonho...

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