quarta-feira, 29 de junho de 2011

81

Amargamente a vida não traria
Sequer algum cenário em paz, mas sei
Que tanta aleivosia nesta grei
Gerasse a face dura e tão sombria,

Não quero e não pudera dia a dia,
Marcar com mais ternura o que sonhei
Vagando sem sentido procurei
Ainda sem saber o que viria.

O quanto deixa a vida e segue aquém
Do todo que deveras não mais vem
E traz consigo o quanto desejaste,

No fim a solidão trama o sentido
Do tanto que eu quisera, resumido,
Apenas no que possa ser tal traste.


82

Braseiros entre fúrias e tormentas
Acenos sem sentido em vã promessa
O quanto o dia a dia recomeça
E nele a fantasia que ora ostentas,

Vestindo as mais diversas e sangrentas
Vontades do que possa e já tropeça
Na marca mais sutil que vi sem pressa
Gestando as ilusões tão virulentas

E quando te orientas pelo sonho,
O passo se tornara mais bisonho,
Galgando simplesmente o mesmo nada,

Depois de tanto tempo sem apoio,
A vida traz em ti como um comboio
Tentando finalmente uma alvorada.

83

Promessas tão somente e nada mais
Os erros que acometem são diversos
E sei dos meus anseios tão perversos
Enquanto vejo em ti meus temporais,

As tramas quando delas tu te esvais
Gerando sem sentido os universos
Que possam traduzir quando submersos
Os olhos entre cenas e cristais,

Astuciosamente a queda vem
E dela não se vendo mais ninguém
Somente o que talvez inda se faça

Traçando para além o mesmo impasse
No todo que deveras encontrasse
Brindando com ternura em rude taça.


84

Não quero que se veja após o fato
Momentos mais sublimes ou temidos
A noite se desenha entre gemidos
E o grande e belo amor em ti constato,

Não quero a mansidão deste regato,
Porém também não quero os presumidos
Anseios noutros tantos concebidos
Marcando com terror o que retrato,

Não beba da esperança, mera luz,
Tampouco esta verdade reproduz
Qualquer momento além do meu anseio,

E sinto tão somente o mesmo afeto
Enquanto nos teus braços me repleto
Do todo que pudera enquanto veio.

85

Não aprendesse ainda com os erros
Comuns de quem se fez um sonhador,
Ainda quando falo deste amor,
Conformo-me deveras nos desterros,

Seguindo para além do que pudesse
E tanto merecesse nova sorte,
E mesmo que em verdade não suporte
A luta noutra face em vão se tece.

Jamais valorizaste o quanto fiz
E sinto bem mais viva a cicatriz
Que trago num momento em desarranjo,

O sonho prometera algum arcanjo,
Porém o meu caminho se desfaz
E nele não se vê sequer a paz.

86

Não possa traduzir em novo dia
O todo sem juízo e sem razão,
A sorte se transforma em dimensão
Diversa da que tanto poderia,

O mundo noutro tom não me traria
Sequer o que buscasse em solução
Apenas represente o mesmo não
Que a vida não se faz em alegria.

O canto se perdendo noutra sorte
E a luta não traria o quanto aporte
Meu pendular anseio em tom diverso,

Ainda que se veja a mesma face,
Satânica figura se expressasse
Toando com terror em cada verso.

87

Não sei se acreditasse ou não viera
Apenas represento o que não tenta
Vestir a solidão e me atormenta
Mortalha sonegando a primavera,

O verso sem caminho sem vontade,
A luta noutro tom em discrepância,
A marca da temível militância
E o vento noutro tom já se degrade,

Apesar de viver sem ter no olhar
Sequer o que pudesse desvendar
Gerando novamente o que tentei,

O mundo se aproxima do final,
E vejo noutro rumo o desigual
Cenário que proclama a turva lei.

88

Jamais imaginasse qualquer passo
Marcando com ternura a poesia
E nela noutra sorte moldaria,
O quanto na verdade sempre traço,

O preço a se pagar, decerto escasso,
O canto sem certeza em agonia,
E a luta quando volta dia a dia,
Não deixa para a trova algum espaço,

O velho violeiro busca a lua
E vendo esta beldade imensa e nua,
Já não consegue mais senão tal fato

Do beijo enamorado e delicado,
Gravando cada cena do passado,
E nisto tudo quanto em paz constato.


89

O passo se fizera bem mais lépido
O tempo noutro tanto não se quis
E o vento deixa além a cicatriz,
Enquanto o coração persiste tépido,

Alada sensação de um coleóptero
Alçando noutro instante o cimo e o sonho,
E quando na expressão eu me proponho,
Levado para além neste helicóptero,

Apaziguando a vida em tom mais lúdico
Não quero desvendar qualquer segredo
E sei que na verdade me concedo
Ainda quando fosse bem mais lúbrico,

Tangenciando a dor, prossigo em paz,
Sabendo que tão pouco satisfaz.

90

A vida deve ser tão colorida
Que possa nos trazer na íris tal sonho
Iridescente encanto que proponho,
Em todo desalento é a saída,

O tanto que pudera e não divida
Gerando um ser mordaz, duro e bisonho,
No fundo outro cenário mais tristonho,
Enquanto a sorte possa ser vivida.

O prazo derradeiro determina
A senda mais suave e cristalina
Embora as crises sejam tão iguais,

No verso me espalhando reconheço
Que vença em mansidão qualquer tropeço,
Diverso dos que dizem ser normais.

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