61
Não mais se vendo após a tempestade
Alguma luz que possa nos guiar
Faróis já se perdendo além do mar
Matando com certeza a liberdade,
Ousasse acreditar: felicidade
Ou mesmo noutro tempo a se moldar,
Gerando o quanto pude divagar,
Ainda que se tente a claridade,
Apresentando enfim o que destróis
Deixando no passado meus faróis
Os olhos envolvidos na penumbra,
E quando se imagina já perdido,
O todo num instante é revolvido,
E a claridade enfim já se vislumbra.
62
Não deixe que este mundo te arrastando
Levasse para o fim sem mais defesas,
Seguindo plenamente as correntezas
Talvez veja um momento bem mais brando,
O todo se traduz no como e quando
A luta se moldara em tantas presas
E as cartas espalhadas sobre as mesas
No fato que pudesse desvendando,
Respiro o mesmo anseio que trouxesse
A vida noutro encanto, numa prece,
Ao resumir o quanto sou e um dia,
Franzidas testas, rugas, minhas cãs,
E sei que sem saber dos amanhãs
Restasse tão somente a poesia.
63
Negar o que se tente após o fato
E nisto ser assim o mais sutil
Cenário que se possa e se previu
Tramando o quanto possa e enfim constato,
No cântico diverso ora resgato
Vagando sem sentido algum no hostil,
Momento que traduza este covil,
Trazendo no meu passo o teu retrato,
Apenas poderia ter diverso
O rumo que se fez duro e perverso,
Tramando com firmeza o dia a dia,
Vestindo a mesma farsa que demora
E gera o que pudesse sem ter hora
No rito transformado em agonia.
64
A cantilena segue em noite escura
E nada mais refaça o meu caminho,
Ainda que se possa mais daninho
O mundo não sonegue esta procura,
E sei quando a verdade não perdura
E gera outro momento e me avizinho
Da queda sem sentido, flor e espinho,
A sorte no final nada assegura,
Repare cada estrela e veja bem
O quanto do passado ela contém,
Distante, tão distante da verdade,
Assim também mutável o meu verso
E o que se fez há tempos, desconverso,
Numa expressão de falsa realidade.
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Não quero e nem tentasse mais um passo,
A sorte se mostrara em rumo falso
E trago dentro da alma o cadafalso,
Gerando o que teimara e não mais traço,
Vestígios do caminho onde desfaço
O tempo e na verdade sem percalço,
O canto noutro instante já realço
Vagando sem saber o ser escasso,
Ao programar meu tempo nada vejo
Senão esta expressão de algum desejo
Distante do que pode em firme voz
Nos ermos de meu sonho, a solidão,
O tempo se moldando em sim e não,
Não deixa que se sinta nada após.
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Depois de tantos anos, num estilo
Que possa me trazer a própria face,
Ainda que no fato se moldasse
A vida na incerteza de um vacilo,
Aonde me fizeste algum bacilo
O tempo noutro todo me tocasse
E tendo o descaminho em desenlace,
Apenas o vazio ora desfilo.
Falar de amor e crer no que se fala.
Enquanto alma persiste na senzala
Parece e representa hipocrisia,
Nos cálices a farsa se completa,
Ainda que tentasse ser poeta,
O passo em vão lirismo, eu não daria.
66
Somáticas loucuras, nada além,
Nas práticas diversas, sanidade?
Erráticas manhãs e o que me invade,
Tentáculos enormes já contêm,
Não sinto a liberdade e... Tudo bem,
A vida se trancando atrás da grade
E o tempo em podridão já não me agrade,
Apenas o que resta é ser ninguém.
Ocasos entre quedas presumíveis
Os olhos entre tantos vis desníveis
E as velhas e temidas ilusões,
Navego contra tudo o que vier,
Somente desejando esta mulher
Que esconde-se deveras nos porões.
67
Não mais se vendo o quanto deveria
Tramar o meu mergulho noutro mar
Apenas o que pude desejar,
Expressa a sensação de um novo dia,
O corte na verdade me traria
A sorte que eu tentasse divisar
Nas ânsias quando o mundo quis tramar
Além desta diversa fantasia,
O tempo noutro instante, noutro enredo,
Tramando de tal forma o que concedo,
Encontra em solidão a ressonância,
O mundo se fizera de tal forma,
Crisalidando o sonho que transforma
O medo na sofrível elegância.
68
Os passos nesta escada, a vida trama,
E vejo o quanto a sorte não traria
Sequer a mesma face tão sombria,
Enquanto a solidão tanto reclama,
Vagando sem sentido, sorte e drama,
O vento noutro instante resumia
O quanto se procura a cada dia,
Vestindo esta ilusão que se proclama.
Repare bem meus erros; são comuns,
Dos tantos elementos sei que alguns
Resistiriam mesmo quando em nada
A sorte se pudera ser diversa
E tudo noutro instante desconversa
Marcando com terror a velha estrada.
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Somente o que pudesse ser alheio
Aos tantos variados elementos
E sei do quanto deva em fortes ventos
Ousando na verdade onde receio,
O prazo se traduz aonde veio
Os olhos sem sentido, nos tormentos,
Gerados pelos erros desatentos
De quem se faz atroz em devaneio,
O mundo não coubera em minhas mãos
Nem mesmo os mais constantes sins e nãos
Tramassem novo tempo sem demora,
A vida não espera e sempre traz
O passo que pudera mais audaz,
E nisto cada sonho nos devora.
70
Aos passos mais constantes ou velozes
Os dias entre tantos que tentara,
Na lua imensidão sobeja e clara,
Nos sonhos meus caminhos, nossas vozes,
E dias que pudessem, mesmo atrozes
Ditarem os cenários da seara
Que tanto com prazeres se escancara
E tenta até chegar às minhas fozes,
Não pude resumir em verso e prosa
A sorte que eu quisera majestosa,
Tampouco o que tivesse em tal clarão
E redimensiono o meu caminho,
Sabendo do delírio mais mesquinho
Que traga ao meu tormento, a direção.
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