sexta-feira, 1 de julho de 2011

71


Enquanto a realidade; ainda a trazes,
Não posso e nem devesse acreditar
Nas tramas que se fazem ao luar
E nelas outros passos mais audazes,
Além dos meus anseios contumazes,
A senda que se possa desvendar,
A noite desfilando e o delirar,
Encontra no teu corpo, m’as tenazes.
Nas perlas que irradias, quando miras,
Acendes nesta noite belas piras
E o templo das loucuras incendeias,
Trazendo sem temor e sem pudores,
Ainda que eu pudesse aonde fores
Enveredado enfim em tuas teias.


72


Meu mundo se transcorre em devaneio
E nada do que posso ainda trago
Além do velho sonho onde divago
E tento atravessar já sem receio,
O mundo noutro tom quando incendeio,
O corpo que pudera algum afago,
Resumo a solidão em tal estrago
Enquanto a solução tento e rodeio,
No fundo não seria de tal forma
O quanto na verdade se transforma
Gerando o que grassasse em novo canto,
Apenas o meu passo se perdera
E sei da imensidão que ora esquecera
Tramando no final outro quebranto.

73


E quando novos sonhos eu tentasse
Depois de tantos erros vida afora,
A solidão deveras me devora
E o mundo mostra a rude e turva face,
Ainda que pudesse num impasse
Gerando a solidão, a sorte ancora,
No caos que se apresenta sem demora,
O todo noutro instante renegasse,
A luta não se cansa e até por isto,
Deveras, cada dia eu não desisto,
E tento apenas crer no ser possível,
Vencer as mais diversas ironias
E tanto quanto possa e tu querias,
Meu mundo se moldara noutro nível.


74


Porquanto na verdade o mundo gira
E trace a cada ponto outra partida,
Na sorte mesmo quando consumida
A luta se desenha, uma mentira,
O tanto que pudera e se prefira,
O corte anunciando a despedida
Amar talvez me trague uma saída
Ou mesmo noutro instante isto interfira.
Ocasionando a queda logo após,
O quanto se tentara e já sem voz
Eu bebo a imensidão da noite escusa,
E sinto finalmente o que pudera
Gerar a tempestade, esta quimera,
Na face mais diversa e mais confusa.

75

Os dias são deveras tão ferinos
E sei quando pudesse ter além
Do quanto na verdade sempre vem,
Bebendo da sangria em desatinos,
Assim se imaginassem os destinos
De quem se aproximasse e no desdém,
A luta noutro rumo não convém
E sinto ausência em dias cristalinos.
Matando sem defesas o que há tanto
Pudesse adivinhar e quando canto,
Expresso a solidão e nada mais,
Enquanto na verdade o que apresento
Traria esta emoção e o forte vento
Eclode nos diversos temporais.

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E o passo continua vida afora,
Tentando pelo menos algum cais,
E sei que na verdade são banais
Os ermos quando a sorte em vão se aflora,
Não temo a tempestade que vigora
Nem mesmo os tempos rudes e venais,
Os olhos da morena, sensuais,
A fome do prazer já me devora,
Mas sei que esta ilusão não me pertence,
E quando a solidão trama o non sense
Imensidão expressa este vazio,
Esqueço o quanto pude numa noite
Vestida pela angústia que inda açoite
O sonho que deveras, tento e crio.

77

Nefasta realidade de quem sonha
Em meio aos turbilhões e tempestades.
Ainda que deveras me degrades
A sorte se mostrara tão medonha,
E o quanto deste modo se proponha
Gerasse no vazio o que inda brades
Tentando anunciar felicidades
Aonde a dita fora mais bisonha,
Não quero tão somente mais um gole
Do mundo que deveras quando bole
Eclode em temporal e nada deixa
Senão a mesma face feita em queixa
E o mesmo caminhar ora sem rumo,
Que tanto quanto o medo agora assumo.


78

O cântico diverso que se tente
Vencendo os mais complexos caminhares
E sendo a vida feita em tais lugares
Aonde o mesmo passo é mais frequente
O cadafalso expressa o quanto alente
O verso noutros dias e sonhares,
Enquanto cada rumo tu sondares,
O vento se fizera permanente,
E bebo dos teus lábios, sedução,
Tramando a melodia desde então,
Ousando acreditar no que se faça
Ainda quando a vida se desnuda,
A sorte com certeza tudo muda,
E traz o caçador, uma arma e a caça;

79

Vivenciando acasos entre tantos
Que a vida não transforma em corriqueiro
Caminho, enquanto adentro este espinheiro,
Trazendo dentro da alma meus espantos,
E sei que na verdade velhos cantos
Tramassem o que possa ser inteiro
E bebo deste sonho, o derradeiro,
Vivendo dias claros, calmos, santos.
Não tento acreditar no que talvez,
O tempo noutro instante contrafez
E geste o risco apenas sem defesas,
E tanto quanto pude noutra fase
Agora a solidão que nos atrase
Deixando se antever rudes surpresas.


80

E assim enveredada em tuas teias,
Nessa paixão tão louca e desmedida,
Nessa entrega nua e consentida
Da forma como queres, como anseias.

E o sangue fervilhando em nossas veias,
Co’a força da energia desta vida,
Explode d’uma forma descabida
Rompendo nossos pejos, nossas peias.

E a chama da paixão que s’irradia
A iluminar a noite, seus mil véus,
Asperge pelos céus as chamas suas.

Na força da paixão, dessa magia,
No auge do prazervamos aos céus
E estrelas beijam as nossas carnes nuas.

Edir Pina de Barros

Ao adentrar teu quarto, mansamente,
Tocando com prazer inigualável
O corpo sensual, sublime, amável,
No quanto em tal loucura amor se sente,
Assim quando decerto se apresente
O tanto quanto pude em tão notável
Momento se tramasse o mais louvável
Caminho aonde o sonho ora frequente,
Na fúria das paixões que nos devoram,
Meus barcos em teus cais agora ancoram,
E sigo esta viagem rumo aos Céus,
Retiro com ternura últimos véus,
E a deusa ora desnuda me conclama
Ao todo que traduza anseio e chama.

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