terça-feira, 28 de junho de 2011

61

A vida não traria a velha sensação
Do quanto poderia e mesmo que viesse
Traçando a solidão em rude e dura messe
Moldar com mais carinho a clara solução.

O passo no sentido inverso da emoção
A luta no caminho enquanto não se esquece
O todo que se quer na imensidão da prece
Querendo alguma luz ou sonho desde então,

Aporto no teu sonho e bebo deste absinto
O quanto mais te quero, ainda mais eu sinto,
E vejo a sorte imensa enquanto te procuro

Errático momento ainda quando escuro
O tempo se anuncia em raro amanhecer
Marcando nossa vida inteira em teu prazer.

62

Pudesse ter teus olhos junto aos meus,
E nesta caminhada descobrir
O quanto em maravilhas o porvir
Traria se não fosse o teu adeus,

Os dias emergindo em rudes breus
A sorte sem saber onde existir
O fardo tão temido a resumir
A vida se distou dos apogeus,

E o sonho que pudera noutro instante
Apenas o vazio ora garante
E bebe da expressão suave e clara,

Somente cada encanto em sua célula
Mostrasse o voo tão manso da libélula
E o quanto a poesia ora escancara.

63

Ocasionando a queda de quem tanto
Pudesse traduzir noutro momento,
Além do que deveras eu fomento
O verso me provoca enquanto canto,

O teto desabando e sei do pranto
Regendo cada dia onde atormento
O prazo sem saber do sentimento
Que nada neste infausto negue encanto,

Restara muito pouco de quem visse
A luta se travando sem mesmice
Nos passos mais diversos e sutis,


O caos gerado em nós não mais traria
Sequer o que se fez em fantasia,
Trazendo o quanto quero e se desdiz.


64

Não mais se apresentasse de tal forma
O mundo que se fez escatológico,
O amor que não pudera ser ilógico
A luta noutro tom já se transforma,

O sonho se desenha quase mágico
E o rito repetindo o velho tom,
Ainda quando fora mesmo bom,
No fundo se mostrara bem mais trágico,

Adentra o grande amor qual fora séptico
E toma todo o corpo sem defesas,
Metástase da qual nós somos presas
Ainda que isto fosse quase cético,

No prazo que este encanto determina,
Ao longe vejo apenas a neblina.


65

Jamais imaginasse nova farsa
E sei que na verdade a vida traz
O mesmo sedimento que desfaz
O sonho e com certeza não disfarça.

A velha solidão, rude comparsa,
O prazo se traduz e segue audaz,
No quanto poderia ser mordaz
Na leve sutileza de uma garça.

O vento traça o quanto se perdendo
A luta noutro tom gera este horrendo
Caminho que procuro trafegar,

Mas quando se anuncia a solidão
Encontro noutros braços solução
E aprendo novamente a reamar.

66

A falta de esperança já traduz
O velho emaranhado, vida e morte,
E nada do que possa me conforte
Sequer anunciasse a plena luz,

O mundo se transforma e se me pus
Ao todo noutro canto que suporte
Apenas solidão agora aborte
E mesmo outro cenário em paz transpus.

Jorrando dentro da alma a lama e o mangue,
Seguindo sem sentido quase exangue
O prêmio que console traz o fim,

O parto não disfarça o desencanto
E quando na verdade busco e canto,
O mundo desabasse dentro em mim.

67

Perdendo qualquer rumo que sacie
A noite não traria alguma fonte
Sequer que na verdade sempre aponte
Aonde este cenário me agracie.

Ainda que pudesse e me amacie
O dia noutro tanto não desponte
Gerando sem saber neste horizonte
Expressa esta emoção que acaricie

Vestindo a solidão que tu me deste
O tanto deste encanto mais agreste
Restaura cada engano e me profana,

Ainda quando a vida poderia
Trazer em manso olhar a fantasia
A sorte se traduz mais desumana.


68

Sonetos e sonetos, nada mais,
Que meras expressões em rudimento,
O tanto quanto possa e me alimento
Dos dias entre enganos colossais,

Dos versos somos todos comensais
E bebo tanto quanto mais sedento,
Sabendo na verdade ser sangrento
O tempo entre os enredos desiguais,

A lúdica expressão da simples trova
O sonho que deveras se comprova
No fato mais suave e mais gentil,

Apresentando errático cenário,
O verso com certeza é necessário
E dele cada encanto ora emergiu...

69

A vida se descreve e forma um arco
E deste pendular caminho vejo
O sonho que pudesse noutro ensejo
Enquanto este vazio, enfim, o abarco.

Ainda quando o passo – em paz – demarco,
Expresso o que tentara e sempre almejo,
A vida se desenha em azulejo
E sigo a fantasia, um calmo barco,

Descendo as mais diversas corredeiras,
Vivendo da maneira que tu queiras
Erguendo o meu olhar além do quanto,

Pudesse acreditar e ser sincero,
Trazendo tudo aquilo que ora quero,
Viceja o que deveras eu garanto.

70

Olhando para trás o que se vê
Não deixa qualquer dúvida: atropela,
E sei da solidão de cada cela,
Da vida sem razão e sem por que,

As flores que ora trago num buquê,
O manto que beleza já revela,
Vencendo a tempestade, uma procela,
O amor já desvendasse o quanto crê.

E brindo com ternura ao quanto quis
Viver em tuas mãos o ser feliz,
E traço dias mansos no futuro,

O quanto se perdera noutro tom,
A vida se demonstra em raro dom,
Da luz que a cada instante configuro.

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