quarta-feira, 29 de junho de 2011

41


O quanto se apresenta nos teus passos
Traduz o que em verdade não escondes,
Os olhos procurando velhos bondes,
Os dias entre tantos erros, lassos.

Os cantos transformados em espaços
Aonde muitas vezes tu respondes
Às tantas agressões e destas frondes
Um arvoredo dita os rudes traços.

Não quero a perfeição de algum sorriso
Que não seja espontâneo, simplesmente.
O tanto que deveras se apresente

Diversamente possa ser preciso,
E o cântico que tanto te inebria,
Não seja simplesmente poesia...

2

Vivendo entre torturas, medos, preces,
Restando dos teus sonhos quase nada
A sorte noutro tempo anunciada
Deveras no final já não mais teces,

E quando sem sentido algum esqueces
O quanto poderia em alvorada
Traçar esta certeza desejada,
E nela outros sentidos que obedeces,

Vasculhas dentro da alma e nada vês
Somente a mesma face: estupidez
Marcando com angústia o que te sobra,

A vida não teria melhor sorte
Senão a que deveras te comporte,
Adentrando tua alma em cada dobra.

43

Ardente coração de quem se ilude
Vagando em tais caminhos mais além,
O vento na verdade não provém
Sequer outro momento em plenitude,

Ainda que procure a juventude,
O prazo determina como e quem
A vida noutro tom gera o desdém,
E o manto não refaz, nada se mude.

O peso de uma torpe consciência,
A luta sem sentido em indigência
O corte na esperança que transcende

Ao perecível passo sobre a Terra,
Que a cada novo dia mais se encerra
E nisto a tal vazio ora recende...

44

O mundo como fosse um oceano
Aonde as ondas formam turbulências
Diversas das que possas; penitências,
Tramando com certeza o desengano,

Ainda que pudesse e disto ufano,
Ousando na verdade em inclemências,
As sortes não seriam coincidências
Nem mesmo a sensação de novo dano.

Acreditando mesmo no que possa
A senda se tentasse ser mais nossa
Qual fora com certeza o livramento.

A queda se anuncia a cada instante
E sem saber sequer quem me acalante,
Inutilmente o sonho ainda tento.

45

O quanto se padece a cada dia,
E trazes nos teus olhos a esperança
Que a cada novo tempo mais avança
Marcando com ternura o que viria,

Vencendo a solidão em harmonia
O prazo determina o quanto lança
A sorte sem saber da temperança
Pungente caminhar em alegria.

O manto se resume por inteiro
No quanto poderia o derradeiro
Momento nos tramar nova verdade.

O resto se perdera num anseio,
Sabendo com firmeza o quanto veio,
O tanto que inda reste nos degrade.

46

Num vórtice temível me perdendo,
Ousando acreditar numa bonança
Meu passo sem sentido algum se lança
Gerando a solidão por dividendo.

Presumo noutro tempo o que ora vendo
Traçasse no final o que se alcança,
A luta sem sentido jamais mansa,
E o pranto noutro tom dita o remendo.

Não restaria mais qualquer alento
Nem mesmo uma alegria que tramasse
A vida seduzida noutra face,

O velho coração exposto ao vento,
E sei que na verdade o que inda tento
Traduz tanta rudeza em desenlace.

47

O desengano dita a velha crença
Na qual mergulharia sem defesas
E mesmo que prepare tais surpresas,
A vida se produz em desavença,

E nada com certeza me convença
Sequer das solidões em tais empresas,
Calcando cada passo em tais torpezas
Amar já não seria uma doença?

Eu quero recolher cada momento
E neste desejar o que ora tento
Expressaria apenas solidão,

O vento me levasse para além
E o quanto na verdade me retém
Eclode sem sentido e dimensão.

48

Desinteresse apenas o que trazes
E nada mais se veja em teu olhar,
O quanto poderia imaginar
Exclui a poesia em suas bases,

O verso mais audaz em rudes frases
O tempo que teimara em desenhar,
Na sutileza imensa deste amar,
O todo se refaz e me desfazes.

O passo sem sentido segue aquém
Do quanto tentaria e nunca vem
Somente traduzindo em medo e dor,

Porfias contra tudo e em nada crês
A vida noutro tom, insensatez,
Das mortes que carrego, refletor...

49

Pudesse acreditar no que talvez
Viesse nos tramar a paz perfeita,
E nada do que possa e já se aceita
Exprime com certeza o que tu vês,

O todo num vazio se desfez
Ousando o que deveras aproveita
Marcando com ternura o que deleita
Uma alma mais sincera em lucidez,

Mas quando se aproxima o fim do jogo,
Não adiantaria mais o rogo
Tampouco o que se vê frequentemente,

O passo noutro prazo se deslinda
E mesmo quando quero a paz, ainda,
A guerra se semeia e a fúria sente.

50

Ainda que se faça mais humano
O olhar quando é feroz não sonegasse
O tanto que se busca noutra face,
Gerando o que deveras desengano,

Meu prazo determina novo dano,
E o canto noutro instante se mostrasse
Apenas no que possa e não se trace,
Mergulho quando enfim do nada ufano,

O presumível passo se perdendo,
O dispensável sonho, este remendo,
Adentra cada canto desta casa,

E o velho pensamento que regesse
O prazo na verdade obedecesse
E a própria natureza segue em brasa.

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