sexta-feira, 1 de julho de 2011

11

Há tanto que pudera simplesmente
Vagar entre as diversas ilusões
E sei que na verdade corações
Procuram o que a vida tanto mente,
Reparo cada passo onde inclemente
As horas que deveras recompões
Traduzem com certeza meus porões
E neles esta queda imprevidente.
Marcasse com temor a fantasia
E o pouco que pudesse e não viria
Matasse em ilusão tudo o que fiz,
O vento noutro rumo em prumo vário,
O manto se fizesse necessário,
Amor se resumisse em cicatriz.

12

Não perguntando mais sequer o quanto
Seria meu caminho ou desafeto,
Apenas me vislumbro onde completo
O temporal que eu busque – desencanto,
Somente o que se faz a cada canto,
Ousando no meu verso predileto,
Ou mesmo nesta sombra onde deleto
Meu tempo sem saber o que eu garanto.
Amortalhada sorte sem sentido,
O todo noutro tom agora olvido
E resta muito pouco ou quase nada,
Da vida que pudesse ser assim,
Viçosamente viva dentro em min
Na história há tanto tempo demarcada.

13

Não vejo qualquer sonho como um porto,
Apenas um alento e nada mais,
O verso que pudesse sem jamais
Viver o quanto resta em rude aborto,
E sei que na verdade desconforto
Traduz o que deveras demonstrais,
Nos erros quando tanto são venais,
Deixando a sensação do encanto morto.
Não quero outro cenário, já me basta,
A vida num momento que desgasta
O prazo mais sutil em prima espera,
O temporal que a vida me trouxesse
O canto sem sentido, a rude messe,
E a morte a cada nova primavera.

14

Apresentando sempre tais escusas
As tantas vidas morrem em segundos
E nisto os velhos passos vagabundos
Gerassem tão somente as mais obtusas
E sei que na expressão enquanto abusas
Vicejas em abismos mais profundos,
Gestando com temor os oriundos
Caminhos entre curvas, deusas, Musas.
Não pude e nem sentisse o que se faz,
A boca escancarada pede paz
E o conto noutro encanto não se expressa
Assim como a verdade se resume
Na farsa mais suave e em teu perfume,
Apenas o vazio teve pressa.

15

Não temo o que viria e de tal forma
O medo não se faz coincidência,
Apenas a verdade em inclemência
Apenas o sentido que a deforma,
O gesto intempestivo, a velha norma,
O corte no passado, impertinência,
O peso de uma velha saliência
E obesa sensação que me transforma,
No caos, no cais, no chão e em vão profano,
Aonde no final me desengano,
Encontro a solidão já sem sentido,
E bebo cada gole do passado,
Vivendo o que pudera quando invado
O tempo noutro instante repartido.

16

Embelezando as ruas, eleições,
Os temporais distantes refletindo
O quanto na verdade fora infindo
E agora num segundo tu me expões,
As horas em sutis composições
E o rito noutro tanto se iludindo
Gerando o que pudera e já traindo,
As sortes em diversas profusões.
Reparo o que se faz e nada vejo,
Somente o quanto tente num ensejo
Diverso do cenário costumeiro,
Os olhos no passado, sem futuro,
O quanto poderia eu asseguro,
Grassando sobre todo este canteiro.

17

Amar a liberdade e prosseguir
Sem ter nada que impeça a caminhada,
Olhando para frente, e da alvorada,
Saber o quanto possa em teu porvir,
Assim enquanto o tempo a resumir
O vento noutra sorte desejada,
A luta se fizera anunciada,
Trazendo o que pudera redimir.
O cântico dos deuses, a verdade,
A luta que se faz em liberdade,
E o medo do que possa nos conter,
Assim somente em tal libertação
Que aprendo a cada dia no perdão
Eu possa desfrutar maior prazer.

18

Jamais abdicaria desta imensa
Vontade que ninguém mais conteria,
E sei quando se mostra noutro dia
A vida como fosse recompensa,
Minha alma na verdade segue intensa,
E cabe dentro dela esta agonia,
Mas sei que no final não haveria
Sequer uma emoção decerto extensa.
Comprovo cada fato noutro fato
E sei do que pudera e se constato
Expresso o meu caminho mais afoito,
A deusa que se entrega, mansa, ao coito,
O vento nos tocando e esta nudez,
Marcando com loucura, a lucidez.

19

Não sinto esta presença e nada diz
O tanto que se perde e não se bebe,
A luta noutro tempo toma a plebe
E tem em si a força geratriz.
O quanto poderia ser feliz,
Sem paradeiro algum em qualquer sebe
O tanto que desejo se recebe
Nas tramas que desenho por um triz,
Nos erros costumeiros do poeta
A vida noutro tom já se completa
E gera o que pudesse ser diverso,
Matando mansamente o dia a dia,
A luta noutro tom não mais traria
Senão a insensatez de um puro verso.

20

Vivendo por saber que no final
O tempo não seria mais aquele
E o todo se mostrasse já sem ele
Vibrando em ressonância desigual,

O medo não traria nova sorte
Tampouco se viera noutro rumo,
O bêbado cenário toma prumo
E o canto noutro tom já me conforte,

Não vejo outro momento desde quando,
O rumo se perdera sem saber
O tanto que pudera mesmo crer,
No quanto se fizera desabando,

O mundo na verdade não sustenta
Em sorte tão amarga e virulenta.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marcos, meu amigo, é sempre um prazer ler teus belíssimos sonetos. Parabéns pelas inspirações. meu abraço, meu carinho, helena