sexta-feira, 1 de julho de 2011

41

Apenas represento o que passaste
Em tempos mais bicudos, vida dura,
Ainda que deveras se assegura
A vida como fosse o velho traste,
E sinto que deveras mal notaste,
A senda mesmo ausente ou rude e escura,
No quanto tolamente configura,
Expressa com meu sonho este contraste,
E bebo em tua boca a majestade
De um sonho sem juízo, em liberdade,
Na vastidão do ser quase infinito,
Mas quando acordo e vejo o fim de tudo,
Apenas noutro toque me amiúdo,
Porém de renascer, eu necessito.

42

Navego contra todas as marés
E sei quanto é difícil nestas ondas,
Viver o que deveras correspondas
Sabendo no final quem mais tu és,
E sinto este caminho de viés,
E quando noutra cena tu respondas
Ousando mesmo até quando te escondas,
Marcar os meus caminhos com teus pés,
Apresentando ao fim o sonho em rumo
Diverso ao que pudera e já resumo
Nas tramas mais diversas da esperança,
E sei do meu momento mais cruel,
Vagando sem sentido sempre ao léu
Enquanto o meu olhar, não mais alcança.

43

Amor que se fizera pertinaz
Ao tanto quanto espero e sei que vem,
Deixando nesta farsa o teu desdém
Marcando com ternura o que se faz,
O beijo noutro instante não me traz
Sequer o que esperança inda contém
No tempo traduzido por ninguém
O canto se fizera mais mordaz,
Ao menos pude ver a face exposta
De quem já na verdade se desgosta
E tenta acreditar noutro momento,
A luta se fizera sem descanso,
Procuro em calmaria algum remanso,
E se jamais encontro, eu mesmo invento.

44

O quanto deste todo diz da festa
Que um dia preparasse para o fim
O mundo mais diverso dentro em mim,
Do todo que procuro já se atesta
Quem vive uma emoção à qual se empresta
Traduz o quanto brota em seu jardim,
Chegando mansamente vejo enfim
O mundo quando a sorte enfim se empresta,
Na vida se anuncia amanheceres
Diversos e talvez ao perceberes
O quanto é necessário ser feliz,
Restando muito pouco do passado,
Vivendo o quanto fora anunciado,
Espero tudo aquilo que mais quis.

45

Enquanto tantas vezes fui omisso
Negando o quanto fosse meu somente,
Matando da esperança uma semente,
Um solo sempre inútil, movediço,
O quanto necessito e mesmo viço
Tentando desvendar o que se sente
Trazendo em minhas mãos mais plenamente
O sonho noutro rumo ora cobiço,
Espero o que pudera após a curva,
A vida se transforma e sei que é turva
Esta esperança outra esmeraldina,
No fundo, nada mais se poderia
Ousar além da mera fantasia
Que tanto nos destrói quanto fascina.

46

Não queira acreditar em mais um fato
Diverso do que possa nos trazer
Ao fim de toda a vida algum prazer,
Aonde solidão, sempre a constato,
O mundo sem sentido, mesmo ingrato,
O passo traduzindo o que irei ver,
Nos termos mais diversos, ao conter,
A velha sensação do vão retrato,
Nos templos de um passado mais diverso
Contemplo o que pudesse e me disperso
Tentando acreditar no que se veja,
Ainda tomo um gole de cerveja
E bebo da esperança em conta-gotas
Sabendo das estrelas, semirrotas.

47

Um fétido caminho é o que me espera,
Não mais pudesse a vida nos trazer
Alguma sensação que possa haver
Senão a que deveras degenera,
O olhar desta emoção quase sincera,
O prazo noutro tom a perceber
O quanto poderia padecer
Quem sente a solidão e desespera.
Um erro é consentir no desencanto,
O velho caminheiro noutro canto
Expressaria assim o seu cansaço,
O mundo que renovas e transformas
Agora em mais diversas novas formas,
Não traz do meu passado qualquer traço.

48

Um erro ou mesmo até a solidão,
Escusas de quem ama e não se faz
Ousado no que possa contumaz
Traçar as velhas formas, negação.
Os dias com certeza me trarão
O templo que se fez onde a mordaz
Vontade se pudesse pertinaz,
Gerando novamente esta estação,
Reparo cada anseio e vejo a queda
E nisto o dia a dia se envereda
Matando o quanto tenha de um passado,
Vestígios de um momento que se fora,
Uma alma tantas vezes sonhadora,
Num tempo sem sentido, degradado.

49

Um medo sem sentido e sem por que
A luta se presume desta forma,
E o quanto se tentasse e me deforma,
Traduz o meu caminho e nada vê,
Procuro alguma paz, porém, cadê?
Não tento mais o todo que transforma
Ou mesmo dominando o quanto informa
Matando mansamente o que se crê.
Não peço nem devesse te impedir,
Seguindo cada passo por seguir
Bebendo mais um gole de conhaque,
A vida noutro tom provoca um baque
E quando esta expressão, deveras saque,
Impeças com ternura o que há de vir.

50

A culpa é da balança, avanço o dia,
E bebo mais um gole da esperança,
Ainda que se tente nada alcança
Senão a mesma rota que teria,
A lua se mostrasse mais vadia,
E o gosto do que possa não descansa,
Trazendo no final em contradança
Apenas o retrato em agonia.
Morresse numa esquina ou num motel,
De um tempo mais audaz, mesmo cruel,
Restando em minhas mãos a velha adaga,
A cimitarra traça o teu futuro
E quando na verdade configuro
A vida como fosse imensa praga.

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