quinta-feira, 30 de junho de 2011

Seguindo o carrossel que a vida trama
A cada engodo vejo outro final
Cerzindo dentro da alma o lamaçal
E nisto se resume medo e drama,
Ainda quando a luta nos reclama
No prelo esta emoção quase banal,
O vértice traduz o desigual
Caminho que deveras não se clama,
O pendular momento em dor e riso,
O tanto que se queira e se matizo
Não faço de minha alma alguma escora,
A queda se aproxima e sei do quanto
Apenas noutro enredo desencanto
O tempo quando a vida se demora.

42

Um cidadão somente e nada mais
Acrescentando o sonho, eis desnudo,
O passo noutro instante quando o mudo
Expressa o que deveras demonstrais,
Os olhos entre tantos desiguais,
Os cantos, preferia estar já mudo,
E sei do meu anseio tartamudo
Marcando com verdades tão banais.
Ousasse acreditar numa igualdade
E sinto que deveras já se evade
Dos olhos o horizonte que não veio,
Recolho meus pedaços e vagando
Nos ermos deste tempo mais infando,
Tramando muito além de algum receio.

43

Reparo cada farsa que se faz
E nisto o que pudera ser além
Do manto quando a sorte sempre vem
Gerando o quanto pude ser mordaz,
O tempo noutro instante contumaz,
A luta sem saber do manso bem
E nisto o quanto sinto traz e tem
A sorte que deveras nada traz,
O verso sem enredo, o medo e o tempo,
Se eu sou em tua vida passatempo,
Aguento esta verdade, mas prossigo,
E tento pelo menos salvação
Ousando noutros dias que virão
Tentando finalmente algum abrigo.

44

Não quero nem saber do que fizeste
Tampouco se me resta alguma luz
Ao nada cada passo me conduz
Gerando este momento em medo e peste,
O vento sem sentido que se geste
Na tétrica ilusão, o amor faz jus
Ao vento que deveras reproduz
O medo pelo qual a vida empeste.
O sonho sem sentido e sem razão
A vida noutro tom e dimensão
Apenas apresenta o sortilégio
De ser o que deveras mais me fira,
Embora se perceba nesta mira
O olhar que traduzisse sacrilégio.

45

Espero qualquer dia que não veio,
Espreito esta alegria, mas cadê?
O mundo na verdade sem por que
Exprime tão somente este receio,
O passo num sentido quase alheio
A sensação do quanto não se vê
E a melodia ousando onde se crê
Na velha tempestade sem recreio.
O carma, o tempo, o rumo, o vento frio,
Aonde poderia e me esvazio
Dos erros que carrego em alma atroz,
No fundo esta verdade me consola,
E a sensação do medo aperta a gola,
Deixando o coração quase sem voz.

46

Recebo nos ensejos mais diversos
As tramas que deveras tu fizeste,
E o tanto que pudera noutro teste
Adentra esta emoção em raros versos,
Não quero acreditar nos tão dispersos
Caminhos que me levem ao agreste
Cenário enquanto o todo já se empreste
Ao turbilhão dos sonhos tão submersos.
E tento acreditar no ser possível
Viver o mundo além e mesmo incrível
Galgando uma esperança mais sutil,
O tempo se desvenda a cada instante
E o mundo noutro rumo se garante
Marcando o quanto o coração previu.

47

Seria apenas turbilhão e medo
Não quero acreditar no que não venha
E quando a vida seja mais ferrenha
Louvando esta emoção que ora concedo,
O passo noutro caminhar procedo
E acendo da esperança a rude lenha,
Vestígios do que tanto me detenha
Ou mesmo deste sonho amargo e ledo.
Repare os meus temores, comuns, sei.
O tempo denegrindo qualquer lei
Encontra a resistência na equidade,
O pensamento ronda cada farsa
E mesmo quando a sorte mal disfarça
Procura no final, a liberdade.

48

Embora te pareça uma mentira
O todo se desvenda num segundo,
E o beijo mais audaz, onde aprofundo,
O sonho que refaz o que eu prefira,
Não meço mais a vida tira a tira
Nem tento este cenário vagabundo,
Meu tempo de outro instante ora oriundo,
Estende para além a velha pira.
Suspiro quando vejo o teu olhar
Noutro caminho e mesmo no horizonte
Ainda que deveras já desponte
Vontade sem igual de tanto amar,
Não peço mais licença e adentro a casa,
Viagem rumo ao todo, agora atrasa.

49

Não mais se permitisse novamente
As normas de uma sorte sem pavio,
E tanto quanto possa ser sombrio,
O verso noutro tom tudo desmente,
O manto mais audaz resplandecente
A luta sem saber do desafio,
E sigo margeando o velho rio,
Buscando no final, o que contente.
Mas nada se apresenta e mesmo assim,
Realço cada passo e chego ao fim,
Ultrapassando matas arredias,
E sei das minhas lutas desde quando
O tempo noutro instante se nublando
Negasse o que deveras me dizias.

50

Não quero ser apenas um bufão
Nem mesmo em tuas mãos, mero brinquedo,
E quando de tal forma, assim procedo,
Protejo o dolorido coração,
Vivendo o quanto possa em tal senão,
Ainda que pudesse em teu segredo
Vibrar a sintonia deste enredo
A sorte traduzisse uma emoção,
Não quero e nem pudera ser aquém
Do tanto que se espalha e me convém,
Convenço-me do fato e me apresento,
Um mero sonhador já tão cansado,
Do tempo noutro instante anunciado,
Jogado sem sentido ao forte vento...

Nenhum comentário: