terça-feira, 28 de junho de 2011

31

Não mais comportaria esta “verdade”
Cerzida pela espúria burguesia
Vendendo a cada instante a putaria
Qual fosse, no final, a liberdade,
Ousando acreditar no quanto agrade
A vaga sensação da luz sombria
Que gere noutro instante e mostraria
Resquício da fatal prosperidade,
Não quero e nem pedisse mais arrego,
Vislumbro tão somente este morcego
Hematófaga face burocrata,
E que se foda o mundo simplesmente
Ainda que deveras se apresente
A mesma velha face escravocrata.

32

Verdade se mostrasse feito a bunda
Da velha macilenta e sem pudor,
Ainda quando tento em desamor
A solidão profana me aprofunda,

E sei do quanto a farsa é mais imunda,
O mundo se presume sem calor
E seja da maneira como for
A sorte se desenha vagabunda.

As putas na calçada, a noite passa,
A farsa se demonstra mais devassa
Assim caminha a velha humanidade,

No transitar de carros e piranhas,
Travecos e vadias que tu ganhas
Trazendo qualquer luz nesta cidade.

33

O esgoto que frequentas – social-
Políticos e novos vagabundos
Os olhos entre ritos mais fecundos
Traduzem o que fosse mais venal,

E manda para inferno o ser igual,
E nestes tantos versos oriundos
Dos cálices que embora os sinta imundos
São ricas velharias de cristal.

Num brinde ao despudor e ao mau caráter
A faca penetrasse a dura-mater,
Deixando sempre exposta esta medula,

A vaca de presépio, o voto em branco,
O tempo se mostrando e se desanco
O verso quem puder que tente e engula.

34

Os préstimos cobrados com tais juros
E os dias mais sutis em teu puteiro,
Trazendo o sonho rude e verdadeiro
Envolto nos remendos mais escuros,

Anseio por saber aonde os furos
Levassem ao naufrágio derradeiro
Da besta que despenca do poleiro
E vive tão somente em tais apuros.

Recebo sem sentido esta facada
E vomitando além da demarcada
Noção que se apresente em rudimento,

A cada nova cena outro jumento
Na farsa muitas vezes desenhada
A luta se transforma; uma cagada.

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Que foda-se a ventura que não veio,
Que foda-se o país que me vendeste,
O caso na verdade não sei deste
E o peso traça o torque em puro anseio.

Que foda-se o momento onde incendeio
O tanto que decerto percebeste
Na vaga solidão quando venceste,
O próprio desafeto em vil receio.

Que foda-se decerto a poesia,
A puta solitária esta vadia
Formando dentro da alma uma inocência,

E foda-se deveras todo mundo,
Se eu já não me chamasse mais Raimundo
A morte não seria coincidência.

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A sorte desfilando sem pudores
Abrindo as suas pernas, vagabunda,
Gerando o que pudera e se aprofunda
Aonde quer que comes se tu fores,

Não quero suportar mais os horrores
Da solidão nem mesmo desta imunda
Visão que se permite e ora fecunda
A luta sem saber de alguns pendores.

A dama que resguarda uma xereca
No fundo quando o pau adentra, peca,
E espera pelo orgasmo que não vem,

Assim fodendo a minha paciência
Expressa com pudor e dá ciência
Que o quanto mais deseja, traz ninguém...

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Moça cocainômana, sutil,
Vagando pelos bares, fungadora,
Espera na verdade o quanto fora
E a mando para a puta que pariu,

Não sei se possa ser bem mais hostil,
E a vaca se mostrara sonhadora,
Até que tendo a bunda tentadora,
Merece alguma chance. Isso se viu.

Nas tramas destas camas e motéis
Diversas emoções, mesmos bordéis,
E sei quanto valesse uma trepada,

O pó que a porra funga sem parar,
O gozo que só faz dissimular,
No fim já não merece mesmo nada.

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Sarrando qualquer uma, tanto faz,
A vida segue em frente e me fodi,
O tanto que esperava estava aqui,
Levando para sempre o que foi paz.

Romântico palhaço já não traz
Sequer o que deseja em frenesi,
Imensa babaquice eu descobri,
Enquanto quis ser sempre mais capaz.

Que vá tomar no cu esta piranha,
E quando num puteiro se arreganha
Espera algo melhor, com mais dinheiro,

Fumando um baseado no banheiro,
Topando qualquer porra noite afora,
Vagaba num momento te devora.

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Somando o que se fez e repartisse
Em glúteas emoções, bela donzela,
No quanto tão vadia se revela
O resto não passasse de tolice,

A vida noutro tom se refletisse
Marcando com ternura a velha cela,
O prazo terminando e esta cadela
É o que melhor traduz porralouquice.

Eu sei que posso até ser orgulhoso,
Mas não achei no lixo e não encaro,
Além do seu miché ser muito caro,

A porra não garante nem um gozo,
No mínimo se vê que esta mocreia,
Dará como presente gonorreia...

40

Beatifica a dama do boteco,
E coma mais um pouco desta xana,
A moça com certeza é mais sacana
E sei que com santinha nunca peco,

Apenas noutra entrada já sapeco,
E faço desta puta a soberana,
Vagaba sem igual, quenga profana,
Eu quero como brinde um repeteco.

Depois vai para a Igreja, culto ou missa,
Livrar-se dos pecados, mas, omissa,
De noite volta sempre à putaria,

Amanhã encontrando algum irmão,
Garante com certeza a salvação,
E fode na primeira sacristia...

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