50641
Nada nos torna tão grandes como uma grande dor.
Alfred de Musset
O quanto que se aprende
Com todo o sofrimento
E nisto eu me acalento
E trago e já me emende
Depois do alheamento
A luz de um pensamento
No tanto que desvende,
O passo sem sentido
O canto dividido
O rumo sem caminho,
Ainda se pudera
A vida sendo fera
Expressa onde me alinho.
2
Saboreiem do amor tudo o que um homem sóbrio saboreia do vinho, mas não se embebedem.
Alfred de Musset
O amor já nos transforma
E traz tanto prazer,
Porém no entorpecer
Tomando esta atroz forma
Supera qualquer norma
Permite o esvaecer
E gerando o sofrer
Aos poucos nos deforma,
Em ébria fantasia
A luta se faria
Diversa da verdade
Arroubos da paixão
Imenso turbilhão
Sem freios, tempestade.
3
Os grandes artistas não têm pátria.
Alfred de Musset
O ser universal
Transcende ao próprio fato
E nisto o que constato
Traduz num ritual
O passo sem igual
E além do algum retrato
Do arroio e do regato
Um mar fenomenal,
Assim atemporais
Momentos eternais
Gerando a cada passo,
O nada enfim desfaz
O traço mais audaz
Ultrapassando o espaço.
4
Na falta de perdão, abre-te ao esquecimento.
Alfred de Musset
Perdão traduz além
De mera providência
Domina esta ciência
Que o mundo fará bem,
O todo quando vem
E toma a consciência
Gerando esta potência
Imensa e sem desdém,
Assim a cada traço
O novo tempo eu faço
Em mim ao perdoar,
Deixando a velha pele
Ao novo se compele
No amor, gestando altar.
5
O homem sem paciência é como uma lamparina sem óleo.
Alfred de Musset
A luz só se apresenta
A quem procura a paz,
E o quanto for mordaz
Do nada faz tormenta,
A luta onde acrescenta
O rústico e tenaz
Caminho se desfaz
Em sorte turbulenta,
A falta de esperança
A luz onde a mudança
Pudesse ser além
Do quanto ainda tenho
E nisto se me empenho
Encontro a mim também.
6
Vive mal quem só vive para si.
Alfred de Musset
Olhar a própria face
Narcísica loucura
Gerando esta amargura
Aonde se mostrasse
A vida onde se trace
A sorte que insegura
Gerasse e não perdura
O todo que ora embace,
Vencer este delírio
Superar tal martírio
E crer noutro momento,
Ainda após a queda
A sorte assim se enreda
No canto onde me invento.
7
As coisas mais desagradáveis que os nossos piores inimigos nos dizem pela frente, não se comparam com as que os nossos amigos dizem de nós pelas costas.
Alfred de Musset
É dura a falsidade
E nisto se apresenta
A vida virulenta
Que tanto nos degrade,
Aquém da claridade
A noite turbulenta
Aos poucos se acrescenta
Matando a liberdade,
Melhor a verdadeira
Palavra que se queira
Até tanto ferir,
Do que a falsa luz
Que quando nos seduz
Negasse algum porvir.
8
Uma boa recordação talvez seja cá na Terra mais autêntica do que a felicidade.
Alfred de Musset
Momentos tão felizes
Transcorrem levemente
E a vida tanto mente
Enquanto contradizes
E gesta em cicatrizes
O corpo a sorte e a mente
Produz leda semente
Em céus deveras grises,
Aprendo com enganos
E sei dos soberanos
Caminhos da tristeza,
E quanto se degrada
A tal felicidade,
Em frágil correnteza.
9
O mal existe, mas nunca sem o bem, tal como a sombra existe, mas jamais sem luz.
Alfred de Musset
A vida em tal contraste
Permite novo dia
E gera o que traria
Ainda se notaste
A sorte deste traste
A luta em agonia,
Também a fantasia
E nela outro desgaste,
O tom proeminente
Gerindo o que se sente
Naquele mero instante,
A vida se renova
E quando posta à prova
Um novo se garante.
50650
Chanson
Tradução de Castro Alves.
Disse a meu peito, a meu pobre peito:
- Não te contentas com um só amante?
Pois tu não vês que este mudar constante
Gasta em desejos o prazer do amor?
Ele respondeu: - Não! não me contento;
Não me contento com um só amante.
Pois tu não vês que este mudar constante
Empresta aos gozos um melhor sabor?
Disse a meu peito, a me pobre peito:
- Não te contentas desta dor errante?
Pois tu não vês que este mudar constante
A cada passo só nos traz a dor?
Ele respondeu: - Não! não me contento,
Não me contento desta dor errante...
Pois tu não vês que este mudar constante
Empresta às mágoas um melhor sabor?
Alfred du Musset
A vida se permite além do quanto
Pudesse noutro rumo desenhar
A luz imensa e clara de um luar
E gesta este caminho aonde encanto
E bebo em profusão e me adianto
Ao tempo que inda resta a caminhar
E nada do talvez a se mostrar
Gerasse dentro da alma um novo canto,
A dor ensina o passo e me conduz
Traçando neste escuro a imensa luz
Embora tantas vezes sou falena,
E a claridade quando me entorpece
Negando algum futuro, mata a messe
E à dura solidão já me condena.
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