segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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1

Duvidemos até mesmo da própria dúvida.
Anatole France

A dúvida gerando
Uma incerteza além
Do quanto ainda vem
Num tempo atroz ou brando
A sorte em ledo bando
O mundo em tal desdém
E quando sigo aquém
Do todo, o devorando
Esqueço o que viria
E mato a fantasia
Gestada em plenitude,
E sei que depois disto
O ser no qual existo
Também se desilude.

2

Com que direito os deuses imortais rebaixariam um homem virtuoso ao ponto de o recompensar?
Anatole France

Virtude não precisa
Nem busca recompensa
Além do quanto vença
A sorte mais concisa,
E nisto em fúria ou brisa
O mundo se convença
Do todo em que esta crença
Deveras não avisa,
E o prazo determina
O quanto dita a mina
Vagando noutro senso,
E o coração liberto
Bem mais do que eu desperto
Transcende ao quanto eu penso.

3

Mais vale compreender pouco do que compreender mal.
Anatole France

Deturpações ousando
Num ato mais cruel
Traçar novo papel
E tudo transmudando,
Seguir em contrabando
No fato além do véu
Um dia em farto fel
Invés de outro mais brando,
O quanto se complica
Enquanto não se explica
Gerasse tão somente
Um mundo mais diverso
E neste me disperso
Matando uma semente.


4

O mal é necessário. Da mesma forma que o bem, tem a sua nascente profunda na natureza, e um não poderia exaurir-se sem o outro.
Anatole France

Contraste dita a glória
E trama em variado
Desenho o nosso fado
Mostrando o cume e a escória
A noite na memória
Num tempo demarcado,
Enquanto além invado,
A sorte merencória.
O prazo determina
O fim e nossa sina
Expõe diversa face,
E nisto se pudera
Viver em primavera,
Ou neve nos tocasse.

5

A justiça é a sanção das injustiças estabelecidas.
Anatole France

O ser ou não mais justo
A cada dia traça
Espaço enquanto escassa
A sorte em tom robusto,
E assim a qualquer custo
A vida se esfumaça
E o todo não mais passa
Num ato ora vetusto.
Astuto enquanto luta
A lida em força bruta
Supera algum bom senso,
E nesta face escusa
O tempo ousando abusa
E em nada mais compenso.


6

Considero a piedade do rico para com o pobre injuriosa e contrária à fraternidade humana.
Anatole France

Enquanto a piedade
Ater-se a mera ajuda
A quem se quer e acuda
Sem solidariedade,
Mata a fraternidade
E o todo se amiúda,
Vagando onde transmuda
Findando a liberdade,
Destarte outra partilha
Pudesse ser deveras
Além do que hoje geras
E nisto em vão se trilha,
Aflora uma injustiça
E a flor jamais se viça.

7

É acreditando nas rosas que as fazemos desabrochar.
Anatole France

Acreditar no sonho
E trazer noutro tom
Momento sempre bom
E nisto eu recomponho
Meu passo enquanto o ponho
E tento um novo som
Ousando neste dom
Um tempo mais risonho.
Podendo de tal forma
Gerar o que transforma
Moldando o eterno passo
E nisto me aproximo
Da vida em raro cimo,
E o mundo em paz eu traço.

8


As coisas, em si mesmas, não são grandes nem pequenas, e quando nós consideramos que o universo é vasto, trata-se de uma ideia meramente humana.
Anatole France

Das tantas variantes
Que a vida nos permite
Até o sem limite
Deveras não garantes
E sabes por instantes
Ainda que palpite
O sonho necessite
E dele os mais brilhantes
Caminhos onde tento
Vencer o sofrimento
Gestando a plenitude,
Visíveis ou palpáveis
Ou mesmo imagináveis
O todo nos ilude.

9

O trabalho convém ao homem, (...) evita que ele olhe para esse outro que é ele e que lhe torna a solidão horrível.
Anatole France

Olhando para si
Um lobo solitário,
Num vago itinerário
Aonde me perdi,
O quanto eu percebi
Do mundo temporário
Ousando sem ser vário
Viver o meu em ti,
E assim em divisões
Diversas tu me expões
Compondo o todo enquanto
Além deste vazio
O muito eu desafio
E o tanto ora garanto.

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O homem não crê no que é, crê no que ele deseja que seja.
Anatole France

Diversa face eu vejo
No especular desenho
E quando aquém eu venho
Reinando num lampejo
Traduzo o meu desejo
E quanto disto eu tenho
Ou mesmo ainda empenho
Num ato mais sobejo,
O mundo que eu queria
É mera fantasia
E disto ora me afasto
A cada novo engano
E quando ao fim me dano,
O tempo é mais nefasto.

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