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Enquanto neste inferno feito em vida
A sorte se perdendo a cada passo
Atraso o caminhar e quando o traço
Alimentando a chaga, a vã ferida,
A voz em termos vagos proferida
Apodrecendo assim o tênue laço
Apenas me restando o ser escasso
E nada mais trouxera em despedida.
O cálice que a vida não permuta
Trazendo para os lábios tal cicuta
Jamais me impediria de tentar
A senda sem blindagem, trago em mim
Imagem mais constante em ermo fim,
Morrendo sempre aos poucos, devagar.
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No quarto recolhido após o tanto
Aonde me imergira em noite escusa
A sorte noutro passo se entrecruza
E o todo se garante e assim me espanto,
O carma desenhado em tal quebranto
A lida se por vezes é confusa
A imagem refletida no fim não usa
Do pouco aonde o passo eu adianto,
No cerne do problema, a podridão
Os dias mais espúrios que verão
Ocaso de quem tanto quis bem mais,
E aquém do quanto pude ou mesmo vira,
Apenas no caminho esta mentira
Enquanto sem destino ora te esvais.
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A espúria procelária dita a sorte
De quem pudesse crer em novo instante,
Mas quando a própria vida se adiante
E trace o que tampouco nos conforte,
Apenas redimindo o velho corte,
A luta tantas vezes degradante
O marco noutro rumo não espante
Quem sabe conviver sempre co’a morte.
Ousasse ter no olhar outro cenário
E sei do quanto o tempo é sempre vário
E vejo retratada esta expressão
Somando o que não veio e nem teria
Mergulho nos anseios de outro dia
E morro sem sentido ou provisão.
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Brincar é condição fundamental para ser sério.
Arquimedes
A vida que traduz além do tédio
Um ato mais jocoso poderia
Trazer ao fim de tudo em alegria
A solução etérea de um remédio
E quando a morte adentra ou num assédio
Expressa a face escusa da agonia
E nisto nos salvasse a fantasia,
Erguendo no vazio imenso prédio,
Preconizando o passo noutro enredo
Aos poucos o meu todo em paz concedo
E vibro em consonância com meu tempo,
Vestindo o quanto resta de esperança
Meu passo sem sentido algum se lança
E tenta ultrapassar tal contratempo.
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Na ardência sem sentido e sem proveito
Minha alma perde o prumo e segue aquém
Do quanto poderia e nada vem
Somente este vazio onde me deito,
O prazo terminando e contrafeito
O risco me transforma em vão refém
O passo sem sentido nunca tem
Motivo pelo qual quero e me aceito,
Esgoto minha força em tal anseio
E o tempo noutra face; se o rodeio
Expressa tão somente o mesmo não,
Ainda que pudesse ser diverso
O todo sem sentido aonde eu verso
Extrai cada momento em negação.
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Nefasta realidade dita o quanto
Pudera desenhar noutro cenário
Além do mesmo corte temerário
O medo já puindo o velho manto,
Navego sem saber do raro encanto
Marcado pelo tosco itinerário
E o canto noutro engodo é meu fadário
Gestando tão somente o mesmo pranto,
Escasseando a sorte aonde outrora
A poesia intensa ainda aflora
E marca com ternura ou mesmo fúria
O prazo se encerrando num momento
E quantas vezes; busco enquanto tento
Vencer a minha sorte em tal penúria.
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Um monstro tão somente e neste ponto
A sorte renegasse alguma luz
E o fato na verdade me conduz
Ao quanto noutro rumo jamais conto,
Presumo no final o ledo e tonto
Cenário aonde à morte eu faço jus,
E o manto se cobrindo reproduz
O prazo desde cedo nunca pronto,
E tento caminhar entre as daninhas
As horas sem remédio sendo minhas
As tramas entrelaçam erros vários
E após a queda atroz; já nada vindo
Apresentando o tempo quase infindo
Moldando dias vagos, temerários.
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Na gênese do sonho a podridão
Expressa o que melhor reside na alma
De quem se vendo em ledo e vago trauma
Errático não sabe a direção,
E o preço a se pagar, decerto em vão
Apenas a mortalha ainda acalma
E nisto conhecendo inteira a palma
A morte se anuncia em profusão,
Da rapineira sorte nada levo
E o quanto na verdade sendo sevo
Escarro sobre o corpo que se estende,
Deitando sobre mim todo o fulgor
Da vida desdenhada em desamor,
O sórdido recôndito me atende.
69
Uma influência tosca de quem tanto
Pudera me trazer novo caminho
E quando no meu mundo desalinho
Apenas no final nada garanto,
E o corte se anuncia e me agiganto
No tanto quanto pude ser mesquinho
O roto desejar onde me aninho
Espalha a podridão por todo canto,
Assíduo sonhador, mero poeta
A sorte na verdade não completa
Sequer o que pudesse ser diverso
E entranho neste vago desenhar
Morrendo pouco a pouco, devagar
Traçando sem sentido este universo.
70
Aprofundando os passos nesta lama
Dos charcos que carrego dentro em mim
Descrevo calmamente ora meu fim
E o tanto quanto pude não reclama
E a sorte na verdade em leda trama
Matando o que restara do jardim,
Explode num vazio e traz assim
O corte mais audaz e a vida clama.
Ao endeusar quem tanto poderia
Viver somente errática agonia
O mundo se aproxima do final,
O prazo derradeiro se estendesse
Aonde o meu caminho concebesse
O frágil delirar de um ser venal.
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