sexta-feira, 26 de novembro de 2010

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51121

Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.
António Vieira

Palavras? Vento leva
E nada mais se faz
Além do mais audaz
Mordaz caminho em treva,
Mas quando a sorte ceva
E gera em nós a paz,
O todo nos compraz
E a sorte é mais longeva,
Ao coração tocando
As obras demonstrando
O quanto poderia
Tornando a vida assim
Intensa dentro em mim,
Em glória e em alegria.

2

O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive.
António Vieira

Ao ler olhos abrindo
Ouvidos se despertam
Os nadas nos desertam
E o mundo agora infindo
O passo se sentindo
Aonde nos alertam
Palavras que consertam
Um erro e além deslindo,
O tempo se ultrapassa
E a vida sem trapaça
Gerando novo tempo
Vencendo o quanto outrora
Ainda nos devora
Em dor e contratempo.

3

Não basta que as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os ditos que alegamos se chamam autoridade, por que o autor é o que lhe dá o crédito e lhe concilia o respeito.
António Vieira

O quanto não bastasse
E muito além do fato
O todo onde constato
Em variada face
Aos poucos se mostrasse
Bem mais do que um retrato,
E o dia onde resgato
Ultrapassando o impasse,
O dito quando é feito
Por quem se faz aceito
Presume outro caminho,
Mas quando em tola voz
Perdendo logo após
Transforma-se daninho.

4

Três mais há neste mundo pelos quais anelam, pelos quais morrem e pelos quais matam os homens: mais fazenda; mais honra; mais vida.
António Vieira

Poder, honra e prazer
Ditames de uma vida
Aonde esta ferida
Consigo perceber
Dominam cada ser
E nisto não duvida
Quem sabe a despedida
E o todo a se perder,
Gerando após o canto
Apenas eu garanto
Momento em tom diverso,
E quando mergulhara
Na luta em tal seara
Vivesse este universo.

5

A nossa alma rende-se muito mais pelos olhos, do que pelos ouvidos.
António Vieira

O quanto se ouve dita
A sorte, porém quando
O tempo se mostrando
No olhar onde palpita
O todo se acredita
E nisto nos tocando
O quanto fora brando
Agora nos excita
É ver para poder
Acreditar no fato,
Assim então constato
Razão em cada ser
E o passo com firmeza
Atinge esta certeza.

6

Pouco fez, ou baixamente avalia as suas ações, quem cuida que lhas podiam pagar os homens.
António Vieira

Ao homem poderia
Saber bem muito além
Do quanto já contém
A vida em luz sombria
O todo se avalia
Na face onde o desdém
Trouxesse muito aquém
Do que se poderia,
Ousar noutro momento
Enquanto o sonho eu tento
Vencendo o meu temor,
Presumo cada ocaso
E sei que quanto aprazo
Gerasse apenas dor.

7

Amor e ódio são os dois mais poderosos afectos da vontade humana.
António Vieira

Amor/ódio/poder
São sentimentos tais
Que mostram desiguais
Caminhos a perder,
E o todo a se prever
Marcando muito mais
Dos ermos em fatais
Momentos desprazer
O tanto que pudera
Ousar além da fera
E mergulhar no escuro,
Expresso em voz dispersa
O quanto desconversa
O porto antes seguro.

8

A admiração é filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das coisas que ignora, principalmente se são grandes; e mãe da ciência, porque admirados os homens das coisas que ignoram, inquirem e investigam as causas delas até as alcançar, e isto é o que se chama ciência.
António Vieira

Acreditar no quanto
Pudesse e não mais sei
Ousando noutra lei
Apenas eu garanto
A sorte em desencanto
E nisto não terei
Sequer o que busquei
Em ledo e raro canto,
Agora se apresenta
A lida mais sangrenta
E nada mais veria
Senão cada momento
Que em vão eu alimento
Teimando em fantasia.


9

Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência.
António Vieira

O parecer se faz
Diverso do que rege
A vida de um herege
Deveras mais audaz,
No quanto feita em paz
Traçando o que se inveje
No fundo nos protege
E nunca satisfaz,
O fato de se ser
Bem mais que parecer
É coisa sem valia,
Vendemos na verdade
Invés da realidade
Apenas fantasia.

51130

A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte tem valor.
António Vieira

O quanto se apresenta
Em rara educação
Traduz a dimensão
Da vida onde se tenta
A luz que me apascenta
E mesmo se verão
Momentos onde o não,
Explode em vã tormenta,
Mas quando se aproxima
A vida noutro clima
Expressa outro caminho,
E assim ao me mostrar
Inteiro sem negar
Em paz sempre me alinho.

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