quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Natura se recria em minha vida
Esgotando a terrível mocidade
Enquanto bebo agora a insanidade
Percebo a minha força em despedida

A cada passo a sorte sendo urdida
Vencido pela incúria que me invade
Degrado-me em temível falsidade
Falências que carrego em voz perdida.

Agarro-me aos escombros, vãos destroços
E neles recompostas ilusões
Enquanto reproduzem aversões

Expondo apodrecidos, frágeis ossos
Na carcomida imagem me retrato
Um ser medonho e tênue quase abstrato...

MARCOS LOURES
Um feto que tão fátuo fui fugaz
Das fráguas freqüentara farsas fartas
Fuligem, farpa féretro e me enfartas
Com falsas e falazes, fútil paz

Feneço num falsete ou tanto faz
Se enfados ou fagulhas já descartas
Assisto à derrocada enquanto partas
E atento ao tempo tramo e entranho o antraz.

Noite aterrorizante antes do intento
E quando um brando andor ainda invento
Aceito teus conselhos velhos vãos

Espelho dentro da alma alça o vazio
E quando a vaga eu venço ou desafio
Desfio a fantasia em novos grãos...

MARCOS LOURES
A ÁRVORE DE NATAL DE CRISTO Adaptação de Marcos Coutinho Loures
Apresentamos hoje, uma compilação que fizemos de um belo conto de Dostoiewsky, intitulado “A árvore de Natal de Cristo”. Vamos a ele:

“Era véspera de Natal e uma criança de seis anos de idade acabara de acordar, naquele porão imundo de uma cidade imensa, onde o frio era tão intenso quanto a fome que sentia...

A mãe parecia dormir e a criança tocou-lhe o rosto gelado, duro como uma rocha, antes de sair para a rua. Ali na calçada, ficou surpreso com a quantidade de gente, de carros que passavam, de neve e de frio!

Um guarda passou por ele e o menino pôs-se a caminhar, até encontrar uma vidraça por onde viu uma árvore de Natal, cercada de crianças brincando, ao lado de uma mesa repleta de brinquedos, enfeites e doces.

O garotinho sorriu mas ao se lembrar da dor que sentia nos dedos da mão, começa a chorar e a correr. Mais à frente, avista novas vidraças através das quais vê outras árvores de Natal, com crianças em volta.

Belas e ricas senhoras abrem as portas de suas casas para que entrem os convidados para a ceia.

Lentamente, o menino se aproxima de uma das casas e entra também .

Mas, ao vê-lo ali, homens e mulheres começam a expulsá-lo para a rua.

Uma gorda senhora tenta oferecer-lhe uma moeda, mas o dinheiro rola pela escada pois os dedinhos endurecidos não conseguem segurá-la...

Ele volta a correr pela noite, até encontrar, diante de uma porta imensa, um grupo de pessoas que se divertem, vendo três enormes bonecos, vestidos de vermelho, com longas barbas, que pareciam vivos! Os bonecos riam, jogavam beijinhos e eram tão engraçados que fizeram o menino sorrir...

De repente, do meio da multidão, sai um garoto maior que puxa a criança pelos cabelos, dá-lhe socos e pontapés e a joga no chão! Sem nada entender, o menino corre, entra num porão escuro e vai se esconder atrás de um monte de lenha, tremendo de medo ... e de frio!

Daí a pouco, foi ele invadido por uma sensação de bem estar! Seus pezinhos e suas mãos não doíam mais e ele começou a sentir calor, muito calor, como se tivessem acendido o fogão de lenha. E foi assim que dormiu!

Foi despertado pela voz da mãe que lhe cantava uma cantiga de ninar e, logo a seguir, por alguém que lhe disse, com extrema doçura:

-“Vem comigo! Vamos ver a Árvore de Natal!”

Quem o estaria chamando , com tanta doçura?

Sem nada enxergar, o menino abriu os bracinhos e alguém o pegou no colo. Ao mesmo tempo, tudo em volta ficou luminoso, resplandecente! E assim, ele viu muitas árvores de Natal e, em volta delas, muitos bonecos.

Bonecos não! Eram crianças luminosas, meninos e meninas que o abraçavam, beijavam seu rostinho e que o levavam, voando, de um lado para o outro!

Mais além, ele vê sua mãe, que lhe sorri.

_ “Mamãe, mamãe! Como é bom estar aqui!”–exclama o garotinho.

E ele abraça seus novos companheiros, conta-lhes a história dos bonecos vermelhos de longas barbas e, finalmente, pergunta onde está.

-“Não sabes? – respondem os novos companheiros – “Esta é a Arvore de Natal de Cristo”. Todos os anos, há uma áravore que Jesus dá às criancinhas que não tiveram Natal, lá na Terra...”

E, lá na Terra, na manhã seguinte, os lixeiros encontraram o corpo congelado de um menino, num pátio vazio, perto de um monte de lenha.

Procuraram por sua mãe e descobriram que ela também havida morrido, um pouco antes dele.

-Com certeza, os dois foram se encontrar lá no Céu – todos disseram, com indizível ternura...
Sistematicamente a mente, mente
Ou omite emitindo falsos guizos
Em vandalismos cismo se imprecisos
Vários versos versando insanamente

E quando tanto ou mais sigo descrente
Atento aos violentos Paraísos
Em virulências feitas ânsias sisos
Conciso ou preciso se envolvente

Venéreas maravilhas vencem sismos
Em viscerais vitórias cataclismos
Abismos, precipícios ócios, vícios

E pendulares âncoras do tempo
Estampam no meu peito o contratempo
Volvendo aos versos frágeis: meus inícios...

marcos loures
Regalos de uma lúgubre bacante
Enlanguescidamente dita normas
E quanto mais voraz tu me deformas
E tomas minha vida a cada instante

Aonde se pensara deslumbrante
Demônio em que decerto te transformas
E quando do teu âmago me informas
És serpe disfarçada em diamante.

Imagem tão sutil, paradisíaca
Hedônica figura que é satânica
Paralisia causas, pois tetânica

Vulcânica explosão que, demoníaca
Vendendo uma emoção quase que orgástica,
Depois se gargalhando vil sarcástica...

marcos loures
Revéis já transmudando os meus anseios
Esgoto vãs audácias, passos firmes
E quanto mais deveras reafirmes
Rebeldes caminhares ditam veios

Diversos dos meus vagos vãos rodeios
E neles mesmo quando tu me afirmes
E traces novas bases em que firmes
Os passos se perdendo em devaneios

Revelo-me volúvel, mas velado
As vastidões vasculho e em meu passado
Ventanilhas abertas não mais vejo

Vogara entre naufrágios e procelas
Borrascas entre farsas me revelas
E as velas enfronhando tempestades

À custa do viver incêndio e rosas
Esvaio-me em volúpias vaporosas
Enquanto em tanto encanto tu me invades...

marcos loures
Delicado e suave sentimento
Já não comporta um peito que se deu
Ao mais terrível medo e bebe o breu
No qual com mui prazer eu me atormento.

E sendo tão volúvel quanto o vento
O mundo que deveras concebeu
Quem morto em plena vida sabe o seu
Caminho em tempestade e me arrebento.

Nas pedras e falésias, cais distante,
Aonde se entregara um navegante
Se tudo não passou de falso sol.

E tendo inebriado o timoneiro,
O encanto em podridão é derradeiro
E nega a quem veleja algum farol.

marcos loures
E a curta vida assim, fica longeva,
O que é pequeno torna-se infinito.
E de minha garganta já se eleva
No silêncio da noite, este meu grito!

E num momento só de lucidez,
Dos meus fantasmas vou logo à procura
E cada coisa tendo sua vez,
Descubro em mim, as marcas da loucura

Marcos Osilia

e sigo cada passo rumo ao todo
sabendo desta vida, imenso lodo
que tento e mal consigo, quando primo

por todos os meus sonhos mais audazes
ditar com a beleza que me trazes
a velha insegurança deste limo...

Marcos Loures

ALLENDES E BUARQUES

ALLENDE

Para matar al hombre de la paz
para golpear su frente limpia de pesadillas
tuvieron que convertirse en pesadilla
para vencer al hombre de la paz
tuvieron que congregar todos los odios
y ademas los aviones y los tanques
para batir al hombre de la paz
tuvieron que bombardearlo hacerlo llama

porque el hombre de la paz era una fortaleza
para matar al hombre de la paz
tuvieron que desatar la guerra turbia
para vencer al hombre de la paz
y acallar su voz modesta y taladrante
tuvieron que empujar el terror hasta el abismo
y matar más para seguir matando
para batir al hombre de la paz

tuvieron que asesinarlo muchas veces
porque el hombre de la paz era una fortaleza
para matar al hombre de la paz
tuvieron que imaginar que era una tropa
una armada una hueste una brigada
tuvieron que creer que era otro ejército
pero el hombre de la paz era tan sólo un pueblo
y tenía en sus manos un fusil y un mandato

y eran necesarios más tanques más rencores
más bombas más aviones más oprobios
porque el hombre del paz era una fortaleza
para matar al hombre de la paz
para golpear su frente limpia de pesadillas
tuvieron que convertirse en pesadilla
para vencer al hombre de la paz
tuvieron que afiliarse para siempre a la muerte
matar y matar más para seguir matando
y condenarse a la blindada soledad
para matar al hombre que era un pueblo
tuvieron que quedarse sin el pueblo


Mario Benedetti


As mãos que esfacelaram liberdade,
trazendo invés do encanto a vil tortura,
a multidão de acéfalos, que a agrura
aos poucos, dita a turva mortandade.

O vômito metralha e assim invade
quem tanto por amor ou por ternura
querendo amenizar esta amargura
que reina sobre o verme-humanidade.

Os cães que agridem sábios sonhadores,
pintando em tom grisalho nossas cores
Matando mil Allendes e Buarques

em nome da "moral" que não conhecem,
toda a nossa história ora apodrecem
soltando os toscos corvos sobre os parques...

Marcos Loures.
Iridescências, nega esta manhã
Que tanto desejara em outra face
Esgarço o meu caminho em tal impasse
E a vida preconiza a fria cã

Agrisalhado olhar, espúria e vã
Farsante que meu dia ainda embace
Estraçalhado sonho em que passe
A vida sempre atroz, cruel, malsã...

E vingo-me das hordas que me deste
E bebo mesmo pútrido ou agreste
Em fartos goles, todo o desatino,

E quando me percebes muito além
Sorrir com ironia é o que convém
E vendo o teu esgar, eu me alucino...

marcos loures
Análogos caminhos percorridos
Pelos viventes seres desta Terra
E quando a morte chega e o ciclo encerra
Distantes dias morrem nos olvidos.

E os sons que outrora em vozes já perdidos
A porta com firmeza agora cerra,
Sobrando algum sinal da torpe guerra
Travada contra os sonhos e as libidos.

Assim hereditárias ilusões
Idênticas às tantas que me expões
Mutantes emoções proferem vagas

E quando devorada pelos vermes
Os restos destroçados, pois inermes
Serão do que desejas, tuas pagas...

marcos loures
LOS SONETOS DE LA MUERTE

I

Del nicho helado en que los hombres te pusieron,
te bajaré a la tierra humilde y soleada.
Que he de dormirme en ella los hombres no supieron,
y que hemos de soñar sobre la misma almohada.

Te acostaré en la tierra soleada con una
dulcedumbre de madre para el hijo dormido,
y la tierra ha de hacerse suavidades de cuna
al recibir tu cuerpo de niño dolorido.

Luego iré espolvoreando tierra y polvo de rosas,
y en la azulada y leve polvareda de luna,
los despojos livianos irán quedando presos.

Me alejaré cantando mis venganzas hermosas,
¡porque a ese hondor recóndito la mano de ninguna
bajará a disputarme tu puñado de huesos!

Gabriela Mistral.

Na solidão do solo amigo que terei
eterno companheiro, herança de uma vida
que vejo sem sentido, há muito já perdida,
suave leito manso, a pacífica grei,

o quanto do passado, em glória esquecerei,
bebendo com prazer a chaga, uma ferida
imagem decomposta, a sorte presumida,
e neste mar em lama, ao fim, mergulharei.

envolto no silêncio, um mundo mais suave
sem dores sem temor e nada que inda agrave
da lida sem sentido, a eterna madrugada...

terei, pois, finalmente, a mais suprema sorte
de ter enfim a vida, aos olhos d'outros, morte
até já não restar sequer a minha ossada...

Marcos Loures​.
Noturno (Antero de Quental)

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento-
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!

ANTERO DE QUENTAL...


Imerso em noite imensa, vai brumosa
uma alma de quem tenta e em vão batalha,
o vento uivando a nuvem que se espalha
tornando a lua plena, melindrosa,

espinhos aflorando em cada rosa
o passo audaz e trôpego então falha
e resta a imensidão, sobeja malha
criada pela noite majestosa.

somente a solidão entende a voz
de quem se fez calado e, sei, feroz,
brindando com a luz bruxuleante,

o mocho que procura sua caça,
a vida turbilhões, silente passa
restando prosseguir, seguir adiante...


Marcos Loures.
Os captivos

por Antero de Quental

Encostados ás grades da prisão,
Olham o céo os palidos captivos.
Já com raios obliquos, fugitivos,
Despede o sol um ultimo clarão.

Entre sombras, no longe, vagamente,
Morrem as vozes na extensão saudosa.
Cae do espaço, pesada, silenciosa,
A tristeza das cousas, lentamente.

E os captivos suspiram. Bandos de aves
Passam velozes, passam apressados,
Como absortos em intimos cuidados,
Como absortos em pensamentos graves.

E dizem os captivos: Na amplidão
Jamais se extingue a eterna claridade...
A ave tem o vôo e a liberdade...
O homem tem os muros da prisão!

Aonde ides? qual é vossa jornada?
Á luz? á aurora? á immensidade? aonde?
— Porém o bando passa e mal responde:
Á noite, á escuridão, ao abysmo, ao nada! —

E os captivos suspiram. Surge o vento,
Surge e perpassa esquivo e inquieto,
Como quem traz algum pezar secreto,
Como quem soffre e cala algum tormento.

E dizem os captivos: Que tristezas,
Que segredos antigos, que desditas,
Caminheiro de estradas infinitas,
Te levam a gemer pelas devezas?

Tu que procuras? que visão sagrada
Te acena da soidão onde se esconde?
— Porém o vento passa e só responde:
A noite, a escuridão, o abysmo, o nada! —

E os captivos suspiram novamente.
Como antigos pezares mal extinctos,
Como vagos desejos indistinctos,
Surgem do escuro os astros, lentamente.

E fitam-se, em silencio indecifravel,
Contemplam-se de longe, mysteriosos,
Como quem tem segredos dolorosos,
Como quem ama e vive inconsolavel...

E dizem os captivos: Que problemas
Eternos, primitivos vos attrahem?
Que luz fitaes no centro d'onde saem
A flux, em jorro, as intuições supremas?

Por que esperaes? n'essa amplidão sagrada
Que soluções esplendidas se escondem?
— Porém os astros tristes só respondem:
A noite, a escuridão, o abysmo, o nada! —

Assim a noite passa. Rumorosos
Susurram os pinhaes meditativos,
Encostados ás grades, os captivos
Olham o céo e choram silenciosos.

Antero de Quental,


Eterno prisioneiro de mim mesmo,
vagando sem destino, em curto espaço,
o quanto poderia além, desfaço
e ao fim de cada dia eu me ensimesmo.

Lá fora a vida segue impunemente
e pago pelo quanto em tal loucura
avinagrada luz que me tortura
tomando sem defesas, minha mente...

Jamais esperaria outra saída,
as grades que criei, intransponíveis
apenas os gemidos inaudíveis
que exalo em tal ermida vã, perdida


e abismos que cultivo, a minha ceva
enquanto a paz sonhada, o tempo leva...

Marcos Loures.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Porquanto quis o Fado algum momento
aonde houvesse o Amor que tanto busco,
cenário tantas vezes visto fusco
gravasse dentro da alma algum tormento,

Navego neste mar e me alimento
do turvo navegar, atroz e brusco,
e, quando na verdade o sonho ofusco
a fúria da esperança é meu sustento.

no vórtice dos erros, navegante,
mergulho no vazio e se garante
a fúria desta vida em tempestade,

Em vós concebo o quanto eu poderia
traçar ao fim de tudo em poesia,
porém somente o mar atroz me invade...

Marcos Loures
Nascendo a primavera aonde outono
Vivera com terror e frialdade
Pensara tão somente na saudade
Que a cada amanhecer mais desabono,

Do tempo inacessível não me adono
Tampouco vejo em ti a liberdade
Que tanto procurara e não me invade,
Deixando para trás o sonho e o sono.

Explícitos momentos de alegria
Uma alma solitária fantasia
Aonde solidária quis a festa,

Mas quando nada vindo, desespero,
Nas ânsias deste encanto me tempero
E a sorte se esvaindo em cada fresta.

marcos loures
Um alquebrado sonho diz amor
E tudo se deriva deste vão
Aonde muitas dores mostrarão
Apenas esta angústia se compor,

Vencido pelos medos, meu andor
É feito de total ingratidão
Negando em gelidez todo o verão
Destroços do que outrora fosse flor,

Desembainho atroz e fria lança,
Mas quando a tempestade enfim avança
Recolhe-me ao vazio de onde vim,

Seguramente nada me sustenta,
Somente esta ilusão ainda alenta
Regando vez por outra o meu jardim.

marcos loures
Palpitas entre beijos, fogaréus
E tramas as venturas mais audazes
Enquanto novamente tu refazes
Dos erros cometidos, velhos léus

Antanho percebera falsos céus
E neles recriaras torpes fases
Aonde mal percebes incapazes
Delírios encobertos, mausoléus

Ocultas nas entranhas sortilégios
Vendendo as ilusões de privilégios
Ou régios caminhares entre luas,

Mas quando me aproximo e te desvendo,
O todo resta apenas como adendo,
E mesmo em falsos palcos inda atuas.

marcos loures
Amor que agora sei, somente meu,
Marcos Osilia
por ser Amor o Fado de quem possa
traçar neste horizonte o quanto é vossa
a sorte que se sinta em apogeu.

Vestindo de ilusões a treva, o breu
de todo o próprio ser, amor se apossa
e faz do quanto minha, a vida nossa,
indo além do encanto que viveu.

Pois Amor, quando vedes no horizonte
a rara e soberana luz de algum farol,
decerto refletindo o próprio Sol,

de tudo que viverdes, bela fonte,
é Fogo ditando a própria eternidade
por isso então, negá-lo,ao fim, quem há de?

Marcos Loures
Dichter

So gib mir auch die Zeiten wieder,
Da ich noch selbst im Werden war,
Da sich ein Quell gedrängter Lieder
Ununterbrochen neu gebar,
Da Nebel mir die Welt verhüllten,
Die Knospe Wunder noch versprach,
Da ich die tausend Blumen brach,
Die alle Täler reichlich füllten.
Ich hatte nichts und doch genug:
Den Drang nach Wahrheit und die Lust am Trug.
Gib ungebändigt jene Triebe,
Das tiefe, schmerzenvolle Glück,
Des Hasses Kraft, die Macht der Liebe,
Gib meine Jugend mir zurück!


- Johann Wolfgang von Goethe


Trazer a minha morta juventude
enquanto decomponho em meu outono,
o tempo me ditando este abandono,
porquanto tantas vezes nada pude.

o olhar que me procura, agora rude,
a boca quando beija em tosco abono
desnuda quem sou eu e vou sem dono,
um cão ladrando aquém, sem atitude...

olhando para trás, quintais e flores,
a vida se mostrando em seus albores,
por onde quer que eu siga, nada resta,

senão a gargalhada de quem passa,
o livro segue entregue ao tempo, à traça
e o que se fez tão forte, a morte gesta...

Marcos Loures
À rosa se recende a maravilha
Que tanto procurei e não sabia
Aonde talvez fosse fantasia
A poesia ainda vaga trilha

Enquanto um novo rumo se engatilha
Audácia mesmo às vezes sendo fria
Mergulha noutras sendas e porfia
Momentos de prazer; e a estrela brilha.

Alçar cometas tantos, vários céus
E neles me perder, sonhos ilhéus
Vencendo os mais complexos desalentos

Aonde não pudesse ver a luz
Imagem neste espelho reproduz
Além de meras cruzes e tormentos.

MARCOS LOURES
Enquanto dos fantasmas inda corres
Fugindo destas sombras mais estranhas
Vagando sem destino por montanhas
Ausente da ilusão onde socorres

Percebendo então São Martin de Porres
Que possa te ajudar nas várias sanhas
Ainda mesmo amiga se não ganhas
Ou mesmo quando em lágrimas escorres

Não creia na derrota, pois é fato
Na força insuperável me arrebato
E faço desta crença a minha luz,

Não deixe a dor tornar-se soberana
Nossa Senhora de Copacabana
A um bom caminho logo te conduz.

marcos loures
Aonde houvera pássaros e aurora
Eu poderia crer ser mais possível
Que a vida se mostrasse noutro nível
Aonde a luz que agora nos decora

A cada novo dia mais se aflora,
Mutável fantasia sendo crível
Felicidade então viva e plausível
Decerto voltará e não demora.

Mas vendo esta aridez feita em asfalto,
Em plena solidão fria me assalto
E vejo que a penumbra é uma constante,

E sendo sonhador por natureza
Talvez ainda saiba a correnteza
Na límpida beleza noutro instante.

marcos loures
Une Saison en enfer par
Arthur Rimbaud
« Jadis, si je me souviens bien, ma vie était un festin où s'ouvraient tous les cœurs,
où tous les vins coulaient.

Un soir, j'ai assis la Beauté sur mes genoux. -Et je l'ai trouvée amère. -Et je l'ai
injuriée.

Je me suis armé contre la justice.

Je me suis enfui. Ô sorcières, ô misère, ô haine, c'est à vous que mon trésor a été
confié!

Je parvins à faire s'évanouir dans mon esprit toute l'espérance humaine. Sur toute
joie pour l'étrangler j'ai fait le bond sourd de la bête féroce.

J'ai appelé les bourreaux pour, en périssant, mordre la crosse de leurs fusils. J'ai
appelé les fléaux, pour m'étouffer avec le sable, le sang. Le malheur a été mon dieu. Je me
suis allongé dans la boue. Je me suis séché à l'air du crime. Et j'ai joué de bons tours à la
folie.

Et le printemps m'a apporté l'affreux rire de l'idiot.

Or, tout dernièrement, m'étant trouvé sur le point de faire le dernier couac, j'ai
songé à rechercher la clef du festin ancien, où je reprendrais peut-être appétit.
La charité est cette clef. - Cette inspiration prouve que j'ai rêvé !

2

« Tu resteras hyène, etc... », se récrie le démon qui me couronna de si aimables
pavots. «Gagne la mort avec tous tes appétits, et ton égoïsme et tous les péchés capitaux. »

Ah ! j'en ai trop pris : -Mais, cher Satan, je vous en conjure, une prunelle moins
irritée! et en attendant les quelques petites lâchetés en retard, vous qui aimez dans
l'écrivain l'absence des facultés descriptives ou instructives, je vous détache ces quelques
hideux feuillets de mon carnet de damné.


ARTHUR RIMBAUD


Durante a minha espera, apenas vendo
satânico delírio que me açoda,
a vida sem sentido em louca roda,
sem medo e sem pudor, ora desvendo.

A falsa caridade, mero adendo,
enquanto uma alma pútrida já poda
orgástico banquete em fogo e soda
o gozo passa a ser seu dividendo...

E quando no Divino Inferno vejo
a boca mais sedenta do desejo
enfurno-me nas súcias mais imundas,

e ris dos meus delírios em fornalhas
que alimentando em missas e batalhas
a cada novo dia, este antro inundas...


Marcos Loures.
Alma desnuda.


Alma desnuda, Alfonsina Storni (1892-1932)

Soy un alma desnuda en estos versos,
Alma desnuda que angustiada y sola
Va dejando sus pétalos dispersos.

Alma que puede ser una amapola,
Que puede ser un lirio, una violeta,
Un peñasco, una selva y una ola.

Alma que como el viento vaga inquieta
Y ruge cuando está sobre los mares,
Y duerme dulcemente en una grieta.

Alma que adora sobre sus altares,
Dioses que no se bajan a cegarla;
Alma que no conoce valladares.

Alma que fuera fácil dominarla
Con sólo un corazón que se partiera
Para en su sangre cálida regarla.

Alma que cuando está en la primavera
Dice al invierno que demora: vuelve,
Caiga tu nieve sobre la pradera.

Alma que cuando nieva se disuelve
En tristezas, clamando por las rosas
Con que la primavera nos envuelve.

Alma que a ratos suelta mariposas
A campo abierto, sin fijar distancia,
Y les dice libad sobre las cosas.

Alma que ha de morir de una fragancia,
De un suspiro, de un verso en que se ruega,
Sin perder, a poderlo, su elegancia.

Alma que nada sabe y todo niega
Y negando lo bueno el bien propicia
Porque es negando como más se entrega,

Alma que suele haber como delicia
Palpar las almas, despreciar la huella,
Y sentir en la mano una caricia.

Alma que siempre disconforme de ella,
Como los vientos vaga, corre y gira;
Alma que sangra y sin cesar delira
Por ser el buque en marcha de la estrella.

Alfonsina Storni (1892-1932)


Uma alma que se mostra plenamente
bebendo desta angústia que, diária
eclode numa senda temerária
tomando sem sentido corpo e mente,

uma alma que procura e apenas sente
a sorte mais atroz, audaz e vária,
vagando sem sentido, uma alma pária
que morre pouco a pouco, inutilmente.

na fúria dos imensos oceanos
descanso para quem tanto buscasse
vencer a solidão em duro impasse,

tramando, toscamente novos planos,
uma alma e nada além deste vazio,
que, tolo, em meus anseios sempre crio...

Marcos Loures
Quem dera se pudesse ter ainda
O gosto desta boca junto à minha,
Suprema maravilha feita em vinha
Que a vida num segundo já deslinda

E traz esta emoção sobeja e linda
Numa insânia constante onde se alinha
O corpo seduzido que ora vinha
Beber da poesia rara e infinda.

Vencido pelas ânsias desde quando
Eu pude perceber já me tocando
Os lábios sensuais desta mulher,

E agora que sou dela e só por isto
Do sonho mais audaz nunca desisto,
E nele todo o bem que uma alma quer.

marcos loures
Com o desabrochar da flor que tanto
Desejei ver enfeitando o meu canteiro
Depois de ter cevado o tempo inteiro,
Alvissareira rosa à qual eu canto

E neste puro encanto sei o quanto
O amor se fez real e verdadeiro
Dos sonhos o mais nobre mensageiro
Deixando no passado a dor e o pranto,

Eu sinto ser possível novamente
Um dia mais feliz. Por isso bem
Conheço quando a sorte me contém

E nada mais sequer teima ou desmente
A glória insofismável de ser teu
Vivendo o que o amor nos concedeu.

marcos loures
Assenta-se em canteiros magistrais
A rosa que cevara com carinho
Deixando no passado o ser sozinho
Mostrando o que desejo e quero mais,

E quando em entrelinhas demonstrais
O vosso encanto e nele eis o caminho
Que tanto eu procurara e me avizinho
Bebendo em belas taças de cristais,

Diamantinas noites em vós tendo
Aos mais sublimes ápices, ascendo
E nada me impedindo posso ver

O dia em luzes fartas que ora vedes
E nele saciando antigas sedes
Dourando em vossas mãos, o amanhecer.

marcos loures
Outrora em vossas noites se adonando
Das minhas emoções, senhora e diva,
E quando a própria vida já nos priva
De um tempo mais suave, ou mesmo brando

As flores novamente ver brotando
Cevadas pelas mãos de uma alma altiva
Enquanto desta forma outra cativa
E o amor no pleno amor se eternizando.

Vestindo-vos de glória mais sobeja
O quanto meu desejo vos deseja
Permite-me sonhar com novos dias,

Aonde poderia ter nas mãos
Além do roseiral, diversos grãos
E deles vos servir em fantasias.

MARCOS LOURES
No seu alexandrino, um verso dadivoso,
Mostrar que ser mulher é o mais supremo gozo.
Anseio angelical que aos homens é negado.
Nunca me fez mais triste ou mesmo desolado,

Pois ser mulher é mais que ser simples humano!
Marcos Osilia
É ter sagacidade e nisso ser capaz
de transformar o mundo em guerra ou mansa paz
De Helena ou de Maria a salvação e o dano.

A força da mulher é fogo inextinguível
sem que ninguém perceba e tanto fere ou cura,
domando com astúcia a fúria da loucura
reinando em sedução, inda que imperceptível;

imagem que se mostra além da concebida,
pois GEROU E EDUCOU, O PAI DA PRÓPRIA VIDA...

MARCOS LOURES.
Desalento

Quando o meu pensamento se transporta
A’s praias de além-mar,
Sinto no peito uma tristeza imensa
Que manda-me chorar.

É que vejo morrerem, uma a uma,
Santas aspirações,
E voarem com os pássaros saudosos
As minhas ilusões...

Nunca julguei que a terra fosse um túmulo
De sonhos juvenis,
Sorrindo acreditei que aqui, no mundo,
Podia ser feliz...

Enganei-me: - a tristeza, que me oprime
O coração sem luz...
Como o Sol o derradeiro raio
Nos braços de uma cruz...

A trêmula saudade que entristece
E faz desfalecer;
Essa agonia lenta que me inspira
Desejos de morrer... –

Tudo me diz que a vida é o desengano,
A morte da Ilusão,
E o mundo um grande manto de tristezas
Que enluta o coração.
- Auta de Souza [Jardim, 1893], in “Horto”, 1900.

Meu mundo desabando a cada engodo
presume o que teria se assim fora
a vida mais audaz e sonhadora,
porém restando apenas sombra e lodo.

em cada instante sinto que no todo
a sombra tão brumosa e tentadora
fascina e me dardeja, encantadora,
até que sem saída ao fim me explodo

e gero entre meus erros, o maior,
caminho que percorro e sei de cor,
a imagem tantas vezes repetida.

reflito e sem temor algum repito,
Foi ter nalgum momento o dom aflito
que trago e me corrói. A PRÓPRIA VIDA...

Marcos Loures.
Ser-vos-ia deveras mais fiel
Não fossem vossas luzes tão dispersas
Enquanto ao perceber nossas conversas
Em laços discordantes, sigo incréu

E temo perceber que assim ao léu
Em novas maravilhas vão imersas
As ânsias pelas quais sendo perversas
As noites onde o amor procura o véu

E se amortalha em turvas nuvens foscas,
Tornando nossas vidas quase toscas
Invariavelmente dispersando

As raras maravilhas desfraldadas,
Agora com certeza malfadadas
Alegrias fugindo em turvo bando.

marcos loures
Ser Mulher ...

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada
para os gozos da vida; a liberdade e o amor;
tentar da glória a etérea e altívola escalada,
na eterna aspiração de um sonho superior...

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada
para poder, com ela, o infinito transpor;
sentir a vida triste, insípida, isolada,
buscar um companheiro e encontrar um senhor...

Ser mulher, calcular todo o infinito curto
para a larga expansão do desejado surto,
no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...

Ser mulher, e, oh! atroz, tantálica tristeza!
ficar na vida qual uma águia inerte, presa
nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

- Gilka Machado, in “Cristais Partidos” 1915.


A humanidade dita em normas pútridas
imagens que permitem me dizer
da farsa quando molda algum prazer
em cenas sem poesias, ditas lúdicas.

e quando vejo exposta as mais estúpidas
riquezas onde a vida possa ter
a nobre qualidade do saber
vendida em cenas torpes, toscas, múltiplas

não quero a mulher santa, nem tampouco
aquela que é vendida em estatísticas
desnuda em poses sórdidas e "artísticas",

o muito a se fazer parece pouco,
na troca entre prazeres, o segredo,
que faz do amor imenso o fácil enredo...

Marcos Loures.
O Quê ?


Em que cismas, poeta? Que saudades
Te adormecem na mágica fragrância
Das rosas do passado já pendidas?
Nos sonhos d’alma que te lembras?
- A infância!
Que sombra, que fantasma vem banhado
No doce aflúvio dessa quadra linda?
E a mente a folhar os dias idos
Que nome te recorda agora?
- Arinda!
Mas se passa essa quadra, fugitiva,
Qual no horizonte solitária vela,
Por que cismar na vida e no passado?
E de quem são essas saudades?
- Dela!
E se a virgem viesse agora mesmo
Surgindo bela qual visão de amores,
Tu, p’ra saudá-la bem do imo d’alma,
Diz-me, poeta - o que escolhias?
- Flores.
E se ela, farta dos aromas doces
Que tem achado nos jardins divinos,
Tão caprichosa machucasse as rosas...
Diz-me, meu louco, o que mais tinhas?
- Hinos!
E se, teimosa, rejeitando a lira,
a fronte virgem para ti pendida,
Dum beijo a paga te pedisse altiva...
O que lhe davas, meu poeta?
- A vida!

- Casimiro de Abreu (Rio, 1858), em “As primaveras”, 1859.

Ainda quando sinto esta fragrância
dos sonhos invadindo o velho quarto,
a mente atordoada, o corpo farto,
espera que algum verso um dia alcance-a;

ainda quando imerso em tal distância
o pouco que me sobra ao fim reparto
e faço da quimera um novo parto
um pária se traveste em elegância...

porquanto tantas vezes quis além,
e sei que no final o nada vem
o beijo no vazio estampa a sorte,

ao menos se viesse quem desejo,
num ato mais audaz, um doce beijo,
talvez já não quisesse a paz da morte...

Marcos Loures.
Livre

Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.

Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.

Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.

Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.

- Cruz e Sousa, do livro Últimos Sonetos, 1905.


Romper com os grilhões da hipocrisia,
algema que nos ata, humanidade,
o passo quando enfim da grade evade
encontra a paz que tanto almejaria,

do néctar soberano e da ambrosia
fartar-se e com certeza em liberdade
vivenciar a imensa claridade
da etérea noite imersa em tal magia,

não ser sequer machado, faca ou sândalo,
fugir da sociedade e deste vândalo
grilhão atado ao cérebro burguês

beijar na boca podre do leproso
e crer neste momento em raro gozo,
Naquele que proclamas e não crês...

Marcos Loures.
Ich, der ich nichts mehr liebe
Ich, der ich nichts mehr liebe
Als die Unzufriedenheit mit dem Änderbaren
Hasse auch nichts mehr als
Die tiefe Unzufriedenheit mit dem Unveränderlichen.


- Bertolt Brecht: Gesammelte Werke in 20 Bänden (8-10), Suhrkamp Verlag, Frankfurt am Main, 1967.

O quanto deve ser mudado a cada dia,
permite aos loucos sábios sonhadores
traçar entre desertos novas cores
e flores onde inverno outrora havia,

o quanto possa haver em fantasia
que grasse em mãos doridas, quando fores
tentar imaginar belos albores
vivendo a mais perfeita poesia.

o quanto existe e possa ser diverso
gerando do passado outro universo
diverso do que agora é intragável.

porém o que me cala e me maltrata
e ver a humanidade esta insensata,
a torpe criação, tola e imutável...

Marcos Loures.
O AMOR

Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (1923)


Um dia, quem sabe,
Ela que também gostava de bichos,
apareça numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela, que por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo século ultrapassará o exame de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então, de todo amor não terminado
seremos pagos em enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo cotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravos de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o universo;
a mãe,
pelo menos a terra.

não consegui encontrar quem fez a versão.

quem sabe um dia, numa rara sintonia
tenhamos mais que zoos ou cidades,
e nelas as sublimes variedades
de cães humanos, vã soberania...

e possamos sentir que o quanto havia
perdido nos espaços que ora invades
expressa o que em verdade tu degrades
gerando a fome, a sede a hipocrisia...

quem sabe poderemos neste instante
ter a noção real do quanto é vida,
e toda humanidade em luz unida,

cerzindo a clara teia irradiante,
aonde herdeiros dessa tal riqueza
possamos desfrutar da mesma mesa...

Marcos Loures.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Surcando a velha estrada, aonde eu possa
tramar outro momento e nada venha,
a vida lentamente, queima e a lenha
do quanto inda restasse, toma, apossa.

aguardo tão somente a imensa fossa
e nela toda a sorte que convenha,
a face da miséria desempenha
a peça que jamais seria nossa.

inválido cometa busca um rumo,
e todo engodo, honestamente assumo,
sabendo do que espera atrás da porta.

a imagem do que fui, mal refletida,
farsante dominando a podre vida
aplaude a minha história ausente e morta...

Marcos Loures.
Meu espírito vagando entre os caminhos
diversos que pudessem num vacante
cenário demonstrar o duro instante
distante do que fossem doces ninhos,

meus dias são deveras tão sozinhos
e bebo da aguardente delirante
poética figura massacrante
bebendo do meu sangue, podres vinhos.

inexoravelmente busco o acaso
e nisto a cada verso onde este ocaso
proclama a mais sincera realidade,

amortalhando aos poucos cada sonho,
reflexo de meu mundo vão, medonho
na solidão do quarto, em ironia, invade.,..

Marcos Loures.
Palavra quando acida traz em si
Potenciais diversos e complexos
E quando se procuram novos nexos
Respostas encontradas lá e aqui

Desnudam o que outrora já perdi,
E sei que mesmo quando estão anexos
Resíduos na verdade são reflexos
Do todo que deveras concebi.

Versões que o mesmo tema contrapõe
Enquanto várias vezes, traz e opõe
Diversidade é sempre necessária,

Assim ao perceber uma entrelinha
Desvenda o inaparente que continha
Numa faceta esparsa ou mesmo vária.

marcos loures
Em márcios brados; vejo este passado
Aonde com soturnas mãos pesadas
As forças poderosas mal amadas
Tornaram o país, sanguíneo prado,

E quando em podridão condecorado
Reinando sobre as massas desarmadas
Em faces muitas vezes torturadas,
O libertário sonho condenado,

O fogo autoritário contradiz
O sonho de igualdade e de respeito,
Na fúria e pela fúria, faz seu pleito

Deixando tatuada a cicatriz
Que gera outros fantasmas no futuro,
O mocho só se expõe em pleno escuro.

marcos loures
Fumo

Florbela Espanca


Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos!

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...
Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!

Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...


Estar longe e tão perto e nem percebes
do quanto existe em nós e nada vês
do amor que imenso sinto e nunca crês,
ainda que eu caminhe imensas sebes...

da fonte radiante que um dia bebes
nesta alameda plena em que os ipês
dominam o cenário, a cupidez
dos sonhos onde intensa sei que embebes

meus olhos te procuram, num relance
e quanto mais a ti, meu mundo avance
jamais me afastarei, pois eis-me aqui,

embora muitas vezes não aceites,
a vida se permite a tais deleites
onde estarei, amor, DENTRO DE TI...

Marcos Loures.
Os versos que te fiz

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder ...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda ...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !

Amo-te tanto ! E nunca te beijei ...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca.

Poder falar da boca que ora sinto,
distante de meus lábios, viva em mim,
delírio feito em belo carmesim
vulcão que sei, jamais se veja extinto.

Sentir o teu perfume e em raro instinto
viver além do quanto e de onde eu vim,
a cada novo encanto, este estopim
inebriante boca o meu absinto,

e mesmo que jamais te toque. um dia,
vicejas na mais doce poesia
que o coração humano possa ver,

teu corpo que se dista, me enlouquece
o amor que me domina mais que prece,
um hino em clara luz, feito ao prazer...

Marcos Loures.
Ousada boca escarra nos meus lábios,
e penso na loucura que isto dita,
a sorte muitas vezes tão bendita
explica os olhos mortos, astrolábios...

milhares de dizeres, raros sábios,
a luta se desenha na desdita
e a cusparada expressa o que ora grita
ousando percorrer os alfarrábios

e ver que na verdade é merecida,
o cerne do senão grassando a vida
e a trava que me cravas com doçura...

viceja a primavera, manso inferno,
e nele com terror, quando me interno
minha alma,a tua essência em vão, procura...

Marcos Loures.
Assim vencendo todas as batalhas!
Marcos Osilia
imaginei, um dia, inútil fardo,
que crava em minha pele feito cardo
e traz a mansidão destas navalhas

um passo mais além, cedo retardo,
e quantas vezes ris, e velhas gralhas
invadem sem temor aonde espalhas
com risos de ironia, algum petardo...

Sou nada e disso sei, porém presumo
que o tanto imaginado num resumo
mal caberia sequer numa palavra,

a larva que me espera, companheira,
amada e desejada a vida inteira,
será minha perfeita e doce lavra...

Marcos Loures.
Helmintos dentro da alma e nada além,
carcomida carcaça deambula
e quanto mais o tempo tudo engula
apenas o vazio me contém...

seguir e perseguir um novo bem,
mal posso perceber a velha bula,
por vezes ilusão, sorrindo adula
e quero que se foda ela também.

não mais me restaria nada e disto
percebo e quando aquém, teimo e resisto
me disto do que sou, velho bufão.

a corda no pescoço, o tiro dado,
o beijo do demônio, enamorado,
retratos mais fiéis que surgirão...

Marcos Loures.
A velha prostituta, uma esperança,
rondando pelas ruas, madrugadas,
bebendo dos esgotos, nas calçadas
convida para alguma contradança.

e o tempo, sem pudor algum, avança
as garras rapineiras, afiadas
e vejo nessas loucas caminhadas
a boca desdentada, a faca e a lança;

e sigo, sem temer usar qualquer defesa,
sabendo e desejando ser a presa
desta infeliz, satânica figura,

e o beijo sem temor, malicioso,
traduz em gargalhada o raro gozo
enquanto me sorvendo, me depura...

Marcos Loures.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

FELIZ NATAL PRA TODOS

Um pária que procura na sarjeta
o descanso e o repouso merecidos,
os olhos perfurados e esquecidos
buscando dos natais algum cometa,

um velho alcoviteiro que prometa
momentos mais felizes e queridos
meus beijos nestes pés apodrecidos
na lúcida expressão quando acometa.

a cruz que pesa e beija em doces chagas
o riso quando em luzes sempre alagas
as ruas da cidade dos canalhas,

cangalhas que carregas e não vês
na tua mais temida estupidez
ao pobre sonhador, ditam navalhas...

Marcos Loures
Mesclando o doce mel com o ferrão,
apenas percebendo o que eu mereça
a vida noutra peça sempre teça
a farpa que penetra sem perdão,

o velho marinheiro, o seu arpão,
enferrujado, tocado na cabeça
presume que esta vida sempre o esqueça
e diga de outros dias que virão

distantes dos que apenas sobreviva
encontra a voz atroz, porém altiva
de quem esbofeteia com carinhos,

meus pés atados sempre por grilhões
pisando em mais sutis escorpiões
fazendo dos covis seus doces ninhos.

Marcos Loures.
Não quero ter além do nojo e do asco
que tanto se estampara no teu rosto,
o verme pelas ruas, sigo exposto,
a vida por si só é meu carrasco,

venenos, quero todos, cada frasco
apenas o sorriso amargo imposto,
transcende ao mais sutil e fino gosto,
não deixo que me veja além do casco,

respaldo de um momento aonde seja
a falsa imagem tola que poreja
enquanto me apedreja quem me beija.

um réptil caminhando sem destino,
o esgoto onde me escondo é nobre e fino,
perdendo sem lutar, qualquer peleja.

Marcos Loures.
-Pois ser feliz é anseio de minh' alma !
Marcos Osilia
Assim pensava outrora e agora vejo
que a morte paulatina do desejo,
aos poucos, me tortura, mas acalma,

conheço minha vida e sei que a calma
produz o quanto quero e mais almejo,
a fúria no silêncio ora dardejo
invés do beijo estampo a mão, a palma.

e corto cada parte, dilacero,
o doce coração do ser mais fero
presume a minha força mais sutil,

se todos conhecessem quem sou eu,
o mundo me daria o amargo breu,
me acorrentando então nalgum canil...

Marcos Loures.
Maldito este prazer que tanto ilude
das falsas teorias de um amor
que apodrecendo a vida sem pudor,
oculta a mão feroz, atroz e rude.

meu corpo em chagas vivas, sempre pude
tramar com ironia em turva cor
a marca que te entranha e com horror
percebes, quando só, a alma desnude.

Satânico? Um elogio que eu mereço
e sei do meu inferno este endereço
num adereço tosco que ora visto,

e mato lentamente quem me ouvindo
pensara ser o mundo um lugar lindo,
no fundo dominado por Mefisto....

Marcos Loures.
o poeta nascido em meio às trevas,
gerado pela fúria, fome e guerra
vagando sem descanso pela Terra,
expressa o teu anseio enquanto nevas

e bebes destas dores mais longevas,
e quando calas, tantas vezes berras
nos sonhos que revelas quando enterras
as lavras quando em vida, cego, cevas,

o poeta abrindo os turvos olhos
lambendo estas feridas, nos abrolhos
espalha estas sementes que cultivas,

e quando foges louco, da verdade,
ofusca-te sabendo a humanidade
nas carnes que devoras inda vivas,,,,

Marcos Loures.
Exóticas visões em contraluz
São fatos corriqueiros e banais,
Mas quando nestas farsas demonstrais
Caminho que deveras nos seduz

Espúrias emoções expondo a cruz
Que tanto, sem saberes desejais
E nela se anuncia o ledo cais
Marcado a ferro e a fogo, peste e pus.

Estéticas diversas vos dominam
E nelas vossos sonhos determinam
Arcaicas fantasias de beleza.

Após a podridão vos conhecer,
E nada do que vedes irei ver
Não há como enfrentar tal correnteza...

marcos loures
Hominais delírios, Paraísos,
Infestam os meus olhos e não creio
Que apenas tendo enfim qualquer receio
Os dias poderão ser mais precisos.

A sorte em morte trama seus avisos
E goza do final, cruel anseio,
Enquanto do vazio sigo alheio
Vou contabilizando os prejuízos.

Juízos se finais ou nada tendo,
O mundo se desnuda em estupendo
Momento quando estás e nada além.

Após a podridão deste teu cerne
Uma alma em negação, ao fim se hiberne
Enquanto novas levas sempre vêm.

marcos loures
Se lúgubres parecem paisagens
Os antros que freqüentas dentro em ti
Extraem o que há tanto apodreci
Eternizando assim em toscos gens.

E vândalos porfiam tais miragens
Escandalosamente eu percebi
O quão se faz do nada mesmo aqui
Distante das benditas vãs paragens.

E quando as engrenagens se emperrando
As águias e os demônios revoando
Percebem teu olor adocicado

E o fardo se tornando bem mais leve,
Tua alma em lama feita, já se atreve
Aos prazeres ausentes no passado...

marcos loures
Decorrem dos meus vários pesadelos
Metáforas que traçam morte e dor
E quando me percebo em vão andor
Momentos terminais eu posso vê-los

E bebo da ansiedade seus apelos
Sentindo a minha face a decompor,
E nela se adivinha este sol-pôr
Envolto pelos medos e desvelos.

Incréu vasculho restos do que fora
E a morte mesmo sendo sedutora
Propaga dentro em mim lamas diversas

E pantanoso dia se anuncia
Matizando em gris minha agonia
Inebriantes féis que em mim tu versas...

marcos loures
Revelas entre velas e velórios
Mordazes emoções em rito falso
E quando bebo em ti meu cadafalso
Momentos que vivera tão simplórios

Atando com denodo em tons mais vários
A cada caminhada outro percalço
E sigo em pregos, brasas, me descalço
Compartilhando tantos adversários.

Um execrável ar empesteando
Aonde se pensara bem mais brando
Fenecendo a ilusão que não sustento.

Ao deus-dará seguindo em prontidão
Vencido pelas trevas que verão
O derrotar de um sonho, violento...

marcos loures
Vetustos caminheiros fragilmente
Estendem seus cadáveres em sonho
E quando num conjunto decomponho
A sorte se tornando mais ausente

Em cândidos momentos que se tente
Viver além de um ar tosco e bisonho,
Reconstituo a senda e assim me oponho
Ao que seria inútil penitente.

Azedam-se as vontades e esperanças
Articulando em vão as fortalezas,
E quando em voz sonante tais defesas

Ainda que tão frágil vês e alcanças
Gerando pandemônios entre risos
Legando ao nada ser, cruéis avisos...

marcos loures
Qual fora um tempestade um porto além
Do que pensara outrora ancoradouro,
Nas ânsias mais vulgares, nascedouro
Do pântano que uma alma vil contém.

E sendo que deveras sou ninguém
E disto faço a glória de um tesouro,
O sonho que pensara imorredouro
Desnudo se transforma e nada vem.

Adentro a fantasia, vil senzala
E a voz que se inebria já se cala
E escalando paredes a alpinista

Vontade transcorrendo em vagas ondas
E mesmo quando fútil me respondas
Nenhum sinal de paz aqui se avista...

marcos loures
Horrivelmente imerso em trevas sigo
E tanto quanto posso ainda creio
Que enquanto houver um sonho ou mesmo um veio
Ainda se verá quem sabe, abrigo.

Empesteando a vida não consigo
Vencer a fantasia que rodeio
E dela muitas vezes mesmo alheio
Percebo bem sutil, medo e perigo.

Enveredando sendas mais profanas
Proféticos oráculos; predizes

E tentas discernir gozo de dor,
E quando vejo o encanto decompor
Chagásicas imagens: cicatrizes...

marcos loures
Nitido il cielo come in adamante
D'un lume del di là trasfuso fosse,
Scintillan le nevate alpi in sembiante
D'anime umane da l'amor percosse.
Sale da i casolari il fumo ondante
Bianco e turchino fra le piante mosse
Da lieve aura: il Madesimo cascante
Passa tra gli smeraldi. In vesti rosse
Traggono le alpigiane, Abbondio santo,
A la tua festa: ed è mite e giocondo
Di lor, del fiume e de gli abeti il canto.
Laggiù che ride de la valle in fondo?
Pace, mio cuor; pace, mio cuore. Oh tanto
Breve la vita ed è sì bello il mondo!

Giosuè Carducci.

Num fulguroso céu, estrelas tantas
cintilam e traduzem raras festas,
e quando à tal beleza tu emprestas
imagens sem igual, de fato encantas,

Esmeraldina sorte em doces mantas,
uma alma tão sublime e nisto gestas
em plena bruma raras, belas frestas
e mal percebes quanto agora imantas.

na aurora transbordando iridescência
aos poucos me turvando consciência
inebriado eu bebo e ao me inundo...

Embora concebendo, ao fim de tudo,
que após tal maravilha eu me trasmudo
e a brevidade dita um tão sublime mundo....

Marcos Loures.
HELENA

Filha de Zeus e Leda, a magistral
Irmã de Clitemnestra de Micenas
E de Castor e Pólux, noites amenas
Ao lado do marido, Menelau.

Porém, Páris, troiano enamorado
Seqüestra-a e deveras propicia
A guerra numa insânia em agonia,
Num tempo mais atroz e desolado,

Assim ao se mostrar em tais momentos
A fúria se espalhando sobre a Terra
Até que após dez anos já se encerra
E nisto se aproximam os alentos,

Porém Polixo mostra em falsidade
Matando-a atocaiada e a sorte evade.



PÁRIS

De Príamo deveras rei de Tróia
Ainda adolescente se abordara
Por Afrodite Atena e Hera em rara
Em soberana escolha; qual a jóia

Mais bela que haveria além no Olimpo
E quando em Afrodite a garantia
De ter dentre as mulheres primazia
Da mais bela traçando em prato limpo

O quanto se desenha e desde então,
Ousando em seqüestrar sublime Helena,
E nisto em guerra atroz, tanto condena
Os povos na feroz rebelião,

Com Helena tivera quatro filhos,
Até que a morte muda os velhos trilhos...

164

MENELAU

Irmão de Agamenon tivera a sorte
Ao ser dentre diversos escolhido
E assim no seu caminho divido
Com Helena a mulher que em raro aporte

Trazia esta beleza incomparável,
E ali se houvera luz e perdição,
Em Páris desenhando a tentação
Num ato mais feroz e deplorável,

Seqüestro que gerando logo após
A guerra tão terrível que em dez anos
Marcando com mortalhas, desenganos
Regendo o que pudesse mais atroz,

Depois de tantos anos, tem de volta
Aquela que causara tal revolta.



ODISSEU

O rei que convocado para a guerra,
Um guerreiro exemplar, astucioso
No porte mais audaz e majestoso
Soberania imensa em si encerra,

Usando de total sabedoria
Depois de longos anos de batalha,
Ousando num cavalo, assim detalha
A sorte noutro porte se veria.

Troianos se julgando vencedores,
Ao adentrarem além das fortalezas,
Tornando-se deveras frágeis presas
Na mortandade imensa, tantas dores.

Porém dez anos mais em dura senda
Na Ilíada o temor já se desvenda...

Marcos Loures
Das noites que brumosas eu enfrento
Após as tão sonhadas calmarias
Diversas das que em sonho fantasias
Tocadas pela mão de intenso vento.

E quando em luzes frágeis inda tento
Vencer os meus terrores tu me guias
E levas aos demônios que recrias
Tomando este arrebol medo e lamento.

Angústias tão comuns de quem procura
Um tempo aonde possa ser feliz,
E quando mais distante ou por um triz

No olhar ensimesmado, tal loucura
Abisma com seu vário ingrediente
Por mais que a solução audaz se tente...

marcos loures
MITOLOGIA GRECO ROMANA
MITOLOGIA GRECO-ROMANA
1

Um filho de Teseu, enquanto a sorte medra
Enquanto este invadira e seqüestrando Helena
Ao grande desafio aonde se condena
Deixando para trás o Amor que lhe deu Fedra,

Porém quando Teseu, no Inferno aprisionado
Para Ácamas legara o seu reino; os irmãos
De Helena num instante em meio aos tantos vãos
Invadem o reinado e tomam o roubado,

Expulsam para Creta o Rei com os seus filhos
Teseu morto depois, sem ter a bela Jóia
Helena que domina a Menelau e a Troia
Até que Páris trama em dias novos trilhos,

Raptando-o novamente e Ácamas ao ser
Chamado a se interpor, do Amor sente o poder.


2

Téias que pela filha um dia ao se enganar
Entrega-se ao destino e em Mirra se envolvendo,
Num ato incestuoso, audaz, voraz e horrendo,
E quando descoberta em mirra a transmudar;
Na proteção divina, esta árvore germina
Na casca um belo ser, menino fabuloso,
Levando num instante ao mago e raro gozo
E assim deusa Afrodite aos poucos se alucina,
Perséfone o criando, até que num momento
Adônis se ferindo, um javali selvagem
Termina sobre a Terra, a curta e vã viagem
Gerando em Afrodite, o imenso desalento,
Reinando nos jardim, em raras, belas flores
Adônis relembrado em tantos esplendores.

3

Das espumas nascida, a deusa da beleza,
Ao ser castrado; Urano em semens sobre o mar
Das ondas vê se erguer aquela que sem par
Espalha sobre tudo a rara e nobre Alteza,
E Zéfiro levando a suprema deidade
Além do mar imenso e nisto se moldando
Superna maravilha em mundo nobre, quando
A sorte divinal aos pouco tudo invade,
Ao se casar co’Efesto, embora tanto o amasse
Traindo-o decerto, e disto vários filhos,
E desta rara deusa, a vida em novos trilhos,
Trouxesse a fantasia e nisto a rara face
Do Amor e, sensual a deusa se eterniza,
Domando as sensações dos temporais à brisa.

4

Agamenon o irmão do infeliz Menelau
Que ao ter já raptada a sua bela Helena
Numa guerra tão longa aonde a vida encena
E durante um decênio a luta sem igual,

Até que num momento, um cavalo de pau,
Em Odisseu firmado, ao fim da guerra acena
E nisto outra faceta atroz, jamais serena,
Tramando este retorno ao seu torrão natal.

Voltando para a casa, ao ser assassinado
Pela mulher amada, e seu amásio Egisto,
O quanto se pudera e nisto inda persisto,

Ousar falar sem medo algum do ledo Fado
E nisto o que se viu, mordaz ora se deu
A sorte mais maldita envolve então Atreu.


5

Após Aquiles morto, as armas disputadas
Espólio de um guerreiro e nisto o que se deu,
Ájax neste momento, enfrentando Odisseu
Ao perder a batalha em sortes malfadadas,

Pensando que atacava os seus superiores
Num ato de loucura investe sobre o gado,
E tendo o seu sentido enfim recuperado
Matando-se ao ver os ermos, vãos horrores,

Enquanto Menelau; quisera-o insepulto
Sem ter um funeral qual fosse um mero pária
Em nobreza Odisseu, em atitude vária
Rendendo o merecido e incontestável culto,

Convence que se deve enfim, em dignidade
Sepultamento em paz com toda majestade.



6

Admeto ao se entranhar na guerra de dez anos,
Deixando para trás a Grécia tão querida,
Também deixara além, razão da própria vida
Na luta insana e atroz contra os bravos troianos,

Alceste nesta espera em tempo mais cruel
Em holocausto segue e Tânatos a leva,
Ao mais profundo abismo; imersa em leda treva
Na Morte se perdendo, eterno e escuso véu.

Ao ver tanta beleza em um amor sublime
Os deuses num instante à vida novamente
Trazendo aquela à que em honra se apresente
No amor que mais que amor supremo bem estime;

Destarte ao ter assim a rara primazia
Ressuscitando quem, por amor já morria.

7

Cronos devorava assim que mal nasciam
Os filhos com temor da perda do poder,
E nisto a própria história expressa o que há de ser
Em ato tão atroz, os sonhos morreriam,

Porém nascido Zeus, de Rhéa noutro instante,
E levado dali, ao tempo em que viera,
Ao escapar assim, do pai, terrível fera
O mundo se apresente ao deus-maior; gigante.

Levado para Creta; aonde o guarda Rhéa
Alimentado estava e ninfas cuidadosas
Num átimo crescera, em fases majestosas
Criado com o amor e o leite de Amaltéia,

E voltando, de fato em luta além se esvai,
O poder sem igual de Cronus, velho pai...

8

Em Ártemis o rito ao qual já se entregavam
Guerreiras do passado, as belas Amazonas,
No espírito que audaz, dos arcos, flechas, donas
Em fúria e em tal destreza; em guerras que adentravam,

Matando quem nascesse em masculino sexo,
Somente então a filha assim sobrevivia,
E nesta seleção, atroz, audaz, sombria
Um vão procriador, um homem sem reflexo,

Na guerra Grécia e Tróia unidas aos troianos
Bela Pentessiléia, Aquiles enfrentara
E a luta mais sobeja invade esta seara
Até que no final a Morte dita os planos,

Porém o vencedor, por Amor foi tocado,
E Aquiles, pois se viu, ganhando; derrotado...

9


Em Anfion se revela a história da princesa
Antíope que Zeus um dia seduzira
Usando de artimanha, e mesmo da mentira
Tomando para si, sublime e bela presa.

Ao se ver atacada ela foge e depois
Sendo já capturada embora destronada,
E tanto de tal forma, atroz e maltratada,
A mãe; Anfion e Zeto ( os filhos eram dois),

Vingando após, a mãe; assumem o poder
Ao se casar com Níobe, inumerável prole,
Até que num momento, a vaga sorte assole
À mãe de Anfíon, pois Níobe audaz quis ofender

Este matando em fúria os filhos a enlouquece
Até que em mãos de Apolo a vingança oferece.

10

Filho de Zeus; um deus que em seu poder trazia
Além de toda a força, a beleza sem par,
E nisto a todo instante o quanto se entregar
Ousando no equilíbrio e mesmo na harmonia,

O deus da proteção, da cura, mas da morte
Temido neste Olimpo; aonde o pai reinava,
E nisto em majestade, aos tantos se espalhava,
Apolo magistral em todo o seu aporte;

Da imensidão do sol, a força da verdade
Nas mãos em valentia; audaz e caprichoso
O quanto poderia um deus tão fabuloso
Que toda a fantasia, aos poucos quando invade

Traduz o ser além de toda força e fúria,
Ao mesmo tempo em paz, feroz em vasta incúria.

11

Filho de Zeus com Hera, Ares, o deus da guerra
E da carnificina, em atos mais atrozes
Nos olhos deste deus, deveras quase algozes,
A fúria sem descanso, ali jamais se encerra.

Em sua violência assusta a traz a morte,
Atrocidade tanta expressando este Marte
Toando avermelhado, em toda e leda porte
Trazendo em suas mãos, a dor em turva sorte,

Abutres, cães, chacais, em rapineiras sendas,
Deveras feras vis, irmanam-se no deus
E nisto se anuncia o mundo em farto adeus
E nele outro terror aos poucos tu desvendas,

Domina além do medo e gera a tempestade,
Dos campos de batalha, a espúria divindade.

12

Em Ártemis, magia, em vida mais selvagem,
A deusa quando em caça insuperável dama,
Vencendo em artimanha, o quanto em si se aclama
Domina esta Diana, além de uma miragem,

Por Orion num instante a deusa enamorada,
Apolo seu irmão, em atroz vilania
No mar a pontaria da irmã já desafia
E nisto se mostrou, precisa e desolada,

Ao acertar neste alvo, em praia, bela areia
Matando num instante o sonho de um futuro,
O tempo que era claro ao se tornar escuro,
A leda sensação aos poucos incendeia,

A flecha ao atingir quem tanto desejara,
Orion não resistira e em morte, a sorte amara.


13

Palas Atena traz em tal sabedoria
A mágica beleza em arte, sonho e luz
Ao auge da emoção enquanto nos seduz
Com toda a sensação maior, feito magia,

Trazendo em suas mãos, a própria poesia
Processo divinal que ao êxtase conduz
Moldando a divindade além do que supus,
E nisto esta suprema além já se veria,

Assim numa estratégia a deusa conquistava
E tendo tal poder bem mais se demonstrava
Dominando a cultura, o saber e o pensar,

Imagem desenhada a mais que o próprio sonho,
Minerva se aproxima ao auge quando ponho
O coração liberto imenso a se entregar.

14

Surgindo do aborto em fogo, o deus festivo,
Das coxas de seu pai, assim nascera quem
Ao dominar o encanto enquanto o sonho vem,
Trazendo este caminho aberto e sempre vivo,
Dionísio em vinho e festa, além de qualquer trava
Esplendorosa noite em raras fantasias
Quando se comemora o mundo em que embebias
Além da própria chama, além da própria lava,
Dos belos rituais, teatro se apresenta
E vendo sempre mais, o quanto ostenta a vida
A sorte desenhada e assim sendo cumprida,
Aplaca em tal loucura, a dor de uma tormenta,
Orgias, bacanais em atos tresloucados
Os tempos mais sutis sendo comemorados.

15

Plutão reinando sobre o subterrâneo mundo
Aonde a morte vive e a vida se perdendo,
O tempo em tanto ardil, atroz, audaz e horrendo
E desta imensa treva, aos poucos eu me inundo,

Em Hades se percebe o fim de todo ser,
E quando se revela, aos poucos se concebe
Além do que se queira eterna e turva sebe,
E nela não se vendo o tempo amanhecer,

Reinando sobre o fim, o deus em medo e tramas
Vencendo sempre em morte, o quanto poderia
Humana criatura esboça em agonia
E neste desencanto ao apagar das chamas,

No reino de Plutão, este último remanso
Que enfim e pouco a pouco, a cada dia avanço.


16

Vulcano com sua arte, ao fazer proteção
Que Zeus contra os Titãs deveras usaria,
Demonstra o seu poder, pai da siderurgia
E assim se transformando o ferro em precisão,

Gerando em sua forja a bela criatura
Pandora; que se fez a primeira mortal
Do palácio que erguera em bronze; magistral
Hefesto se tornara um deus em arte pura.

Com Afrodite um dia, após o casamento
Em tantas traições, diversas infindáveis
Mostrando sempre o fato em terras insondáveis
Do fogo e do metal, apenas seu alento.

Jogado sobre a Terra, em face caricata
Por Juno sua mãe, um manco deus retrata.

17

Esposa de deus Zeus, ciumenta Juno traça
A cada novo tempo uma vingança além
Enquanto em traição, jamais algo o detém
O deus mais poderoso em vida audaz, devassa,

A deusa renovando a força em tal poder
Não mais se permitia ao tanto que se via
Em vaga sensação, atroz hipocrisia
Em busca tão somente, apenas do prazer.

Irmã de seu esposo, Hera se apresentava
Qual fosse a mais cruel, também apaixonada
A soberana reina e enquanto a sorte evada
Expressa o seu furor, feito em ardume e lava.

Uma exceção somente em Hermes, na excelência
Em Maia, ela encontrava a rara inteligência.

18

Mercúrio, o mensageiro, o deus filho de Maia,
Trazendo em si magia e adivinhações
Enquanto noutra face expressava lições
Do comércio e também pai da diplomacia,

Levando ao deus Plutão, as almas dos mortais,
Um guia se mostrando além do próprio deus,
O filho mais audaz, talvez que tenha Zeus
E nisto se desenha além dos seus iguais,

Hermes trazendo em si, a força da esperteza
Sapiência e picardia, e nisto os seus poderes
Dominam no ar sutil, diversos tantos seres
Mostrando em artimanha o todo da grandeza

Gerado pelo tempo aonde deus e espúrio
Traçara o seu retrato astúcia diz Mercúrio...

19

A deusa da família em Vesta se vestindo
A filha de Saturno em reinos conjugais
Trazendo este destino, os dias entre os tais
Vivesse magistral momento em paz, e lindo,

Héstia, na verdade a deusa que admirada
Pela constância traz esta harmonia rara
E nisto a própria vida aos poucos se prepara
E molda a redenção deveras desejada;

A deusa protetora, em claridade feita
Traçando dia a dia; harmônica beleza
E tendo este caminho e nele esta certeza
Do momento que acorda ao fim quando se deita,

Admirada decerto a deusa em plenitude,
Tramando este equilíbrio aonde nada ilude.

20


Poseidon ou Netuno, o deus de tantos mares
Mais velho do que Zeus; filho também de Cronos
Que ao ser, pois derrotado à vida trouxe os donos
Da herdade feita em terra, em todos os lugares,

Cercado por Tritão, sereias, no tridente
A força deste deus, olímpico gigante
Demonstra o quanto possa a vida num instante
Traçar outro futuro e nisto sempre atente.

Comandando a procela além da calmaria,
O reino em suas mãos, das águas e do sal,
Tramando imensidade e nela o ritual
Ajudando ou destroça a quem no mar iria,

Seus filhos na verdade, entidades vorazes
Em fúria e violência, a vida em tantas fases...

21

Em Zeus o soberano, o deus além de deus
Trazendo no trovão, nas águias, seu poder
Da fúria sem limite; ardiloso saber
Assim se desenhava o superno Pai, Zeus.

Do Olimpo ao infinito, as rédeas sob as mãos,
Domina sem descanso, o quanto poderia
E nisto a cada instante um novo moldaria
Reinando sobre os céus, as terras, águas, chãos.

A cada traição, um novo ser surgindo,
Com deusas e mortais diversos casos, filhos,
E assim se percebendo os vários tantos trilhos
Marcando esta presença aonde é mais infindo,

Em Juno, sua irmã e esposa a companheira
Domínio se estendendo, além da Terra inteira.


21

Na Ilíada se vendo a guerra de dez anos
Um lutador se erguendo além dos combatentes,
E nisto se aproxima os dias onde sentes
O mundo em tal sentido, os dias soberanos,

Nas mãos; raro poder. O herói se desenhando
Além do que se fez imagem de uma vida
Já tanto anunciada e nisto não duvida
Sem ter sequer nem onde, e nem talvez o quando,

Aquiles, o guerreiro, um ser quase invencível
Por Páris atingido em pleno calcanhar,
A morte se mostrando ao guerreiro invulgar,
E assim se vendo o fim, de quem fora imbatível.

Contando então enfim a história que ficara
Eternizada; e está em luta inglória e cara.


22

Uma nereida, o amor de Netuno marinho
A filha de uma ninfa esta bela Anfritite
Traçando em suas mãos o quanto se acredite
No amor enquanto além supera o ser sozinho,
Reinando sobre o mar, o símbolo, um tridente
Em tempo magistral, além do quanto houvera
Domina uma procela, o tempo feito em fera
Deveras quando queira, o todo se apascente,
E sendo a companheira eterna deste deus,
Marcando em oceano os limites do trono,
Gerando outro momento em claro e raro abono,
Jamais se permitindo ao ledo e duro adeus,
Anfritite se mostra, enfim a soberana
Da qual enamorado o deus ora se ufana.


23

Pastor e apicultor, em Aristeu eu vejo
De Apolo, sendo filho, e nisto poderoso
O dom da cura tendo, o ser tão majestoso
Traçando a cada dia, um tempo benfazejo,
Protege o caçador, pastores e rebanho
Pelas ninfas criado, e assim se moldaria
O tanto quanto possa em rara sintonia,
Marcando com prazer a vida em todo ganho,
Porém em Acteon, seu filho transformado
Em cervo e de tal forma, o caçador e a caça
Matando-o com seus cães em sorte tão escassa,
Por Ártemis decerto em dia atroz, nublado,
A agricultura ensina e após o que se deu,
Um dia sem voltar, evade-se Aristeu.

24

O deus da medicina em Esculápio expressa
O dom da cura e traz o quanto poderia
Gerar após o todo em cada cirurgia
A vida noutra face e assim se recomeça.

Dos templos-hospitais, a divindade traça
Um mavioso intento e nisto se propaga
Enquanto a morte assola, imensa e dura praga
Tomando toda a plaga em cena atroz, devassa,

Porém Zeus irritado, em relâmpago traz
O fim, a morte, e assim aquém do que pudesse
A vida sonegando ao deus uma benesse
Tramando a sua morte, em ato tão mordaz,

A imagem desde então permanecendo viva
Expressa a medicina enquanto sobreviva.



25

A deusa da Justiça, Astréia, de Zeus filha
Sabedoria imensa e nisto combatia
Pregando a humanidade então turva e sombria
Gerando este cenário aonde o justo trilha,

Ao ensinar também a caça, a agricultura
Ao ver quão tenebroso o futuro da Terra
Em estrela se dá e além no Céu se encerra
Aquela que se fez imaculada e pura,

Levando a sua libra outra constelação
Habitando o infinito e nisto se mostrando
O mundo mais suave, e mesmo bem mais brando,
Porém da realidade apenas negação,

Enquanto estando além, a deusa da justiça
A Terra se entregando enfim à vã cobiça.

26

Quando em fatalidade a vida se anuncia
Atea se demonstra e rege este universo
Criando irreflexivo um ar duro e perverso
E nisto a realidade expressa-se sombria,

Ao ver em tal figura a deusa temerária
O todo se transforma e nada se apresenta
E gera tão somente o caos, rude tormenta,
Na face mais atroz, a ausente luminária;

Dominando os mortais e deuses; sempre vem
Trazendo esta desdita e nela se aproxima
Deixando para trás o quanto em bem se estima
Gerando tão somente a fúria de um desdém,

Levando à perdição e mesmo à própria morte,
Traçando em ar atroz a dura e leda sorte.

27

A filha da Oceânide e de Estige
Demonstra a força física e num dia
Ao se expressar assim a deusa Bia
Unindo-se com Zeus além erige

Na luta que se deu contra os Titãs
E junto com Niké, partindo além
Transforma o que deveras sempre vem
E nisto trama assim novas manhãs,

E na Titanomaquia, vencedora
Do séquito de Zeus, ambas tramando
Futuro mais tranquilo desde quando
A vida de tal forma sempre fora,

Irmã de Cratos, Zelo e de Niké
Na força alentadora imensa fé.


28

Em Bóreas vento norte se vislumbra
E a fúria deste ser tão magistral
Gerando a gelidez setentrional
E nisto outro cenário que deslumbra
Na aurora boreal, beleza rara,
Porém em violência se anuncia
E molda em noite amarga, dura e fria
O quanto deste deus já se escancara.
Titã irmão de Zéfiro difere
Do mesmo, mera brisa mais suave,
E Bóreas com terror a vida agrave
E nisto com certeza marca e fere,
Ao raptar seu amor, princesa Orídia
Desenha-se decerto atroz perfídia.

29

Calipso, a bela ninfa feita ao mar
Tendo o poder de vida e também morte
Reinando sobre a vaga e leda sorte,
Um dia noutro rumo a desenhar,
Ao conhecer Ulisses se apaixona
E quando se desenha a mais voraz
Depois de sete anos vida traz
A liberdade então voltando à tona
Consegue para além ir Odisseu,
Obedecendo a Zeus em contragosto
Num tempo mais suave ao mar foi posto
E até uma jangada concebeu,
Deixando que partisse aquele a quem
Amara e contrafeita segue aquém.

30

Filha de Gaia e de Pontos, Ceto
A deusa este cetáceo imenso e atroz,
E tendo este oceano como foz
O reino se mostrara ali completo,
Assustadoramente bela a deusa rara
Por todos odiada, pois venal,
A perigosa senda, no final,
Aos poucos nova face se escancara,
Personifica horrores e magias
Supremas divindades, entre medos,
E nisto se deslumbram seus segredos,
Imersos entre tantas heresias,
A deusa que em baleias se avizinha,
Suprema criatura, tão daninha.

31

Barqueiro que levava para o inferno
As almas dos mortais, eis que Caronte
Filho da Noite traz onde se aponte
Temor em medo imenso e assim eterno,
Do Aqueronte ao Hades na barcaça
Atravessando as almas recém-mortas
Abrindo deste inferno suas portas
Caronte na verdade assim se traça
Verdades mais diversas, plenitude
Do tempo após o tempo que se existe,
Cenário que dantesco, amargo e triste
Ao todo com certeza desilude,
E tendo este barqueiro, em seu fascínio
Trazendo neste rio o seu domínio.

32

A feiticeira Circe transformando
Os homens em diversos animais,
E nisto se rodeia por chacais,
Ou lobos em atroz e ledo bando,
Envenenando enfim o seu marido,
Dos sármatas o rei; fora exilada
Na Ilíada ao ver já transformada
Parte da frota e sendo prevenido
Por Hermes, Odisseu se protegendo,
Deveras sobre a deusa espada em punho,
Obriga-a em novo testemunho
A desfazer feitiço atroz e horrendo,
E nisto em hospedagem mais sobeja
A sorte se tornando benfazeja.

33

Deusa em fertilidade se revele
E trace a natureza simplesmente
Assim decerto eu vejo e se apresente
Divina criatura, a mãe Cibele,
Em Átis o seu filho e seu amante,
O renascer depois da morta traça
O refazer da vida mesmo escassa
A luta se moldando a cada instante,
E nisto a desventura se apossando
Da mãe suprema em toda esta certeza
Lutando contra toda a correnteza
A natureza aos poucos se mostrando,
À divindade um templo em Palatino,
Desnuda este ar sobejo e cristalino.


34

Diké trazendo em sua mão direita
A espada da justiça, vingadora,
Senhora do que possa e sempre fora
Verdade com certeza em bem aceita.
Na mão esquerda traz uma balança
Com o fiel jamais bem regulado,
Assim demonstra o quanto é variado
O rumo onde a justiça ora se lança,
Uma das Horas, trama no Direito
O justo transformado em igualdade,
E mesmo quando em vil adversidade
Somente em liberdade tem seu pleito,
E nestes vários dons, claros momentos
Marcados pelos tons dos julgamentos.

35

Embora fossem gêmeos, os castores
De pais diversos, tinham no final
Destino com certeza desigual
E nisto outros caminhos e pendores,
E Pólux sendo então filho de Zeus
Numa imortalidade se traria,
Direito que Castor em voz sombria,
Jamais pudera ter, não sendo um deus.
E Júpiter traçando num alento
Constelação de Gêmeos garantindo
O quanto já pudera ser infindo
Aos irmãos num audaz, raro momento,
Assim compartilhando a eternidade
Mantendo geminal tal irmandade.

36

Dóris com Nereu em matrimônio
Trazendo nas nereidas, divindades
E nisto em tais belezas igualdades
Cinqüenta num sobejo patrimônio,
Além do único fruto masculino,
Nérites que se fez tão desejado
Por Afrodite, e sendo castigado,
Em concha transformado, vão destino.
Restando junto à mãe, no imenso mar,
E nisto o que se possa ter em mente
Ao ver quanto a beleza, num repente
Deveras tudo possa transformar,
A filha de Oceanus, um Titã
Desenha a história audaz, rude e malsã

37

O deus dos ventos, Éolo domina
Os outros tantos ventos que se vê
O filho de Netuno, em seu por que
O tanto quanto possa desatina
E ao mesmo tempo traça ameno clima,
Do Zéfiro à borrasca mais atroz,
E nisto comandando em viva voz,
Diverso do que tanto além se estima,
Assim ao demonstrar o seu poder
Ao ajudar deveras Odisseu,
A fúria de alguns ventos, pois prendeu,
Curiosidade pôs tudo a perder,
Quando ali se viu tripulação
Libertam sem querer, ledo tufão.

38


A bela divindade feita aurora
Abrindo ao Hélio deus, este portal
No quanto mostra ser tão magistral
O mundo aonde o sonho além se ancora,
Eos, ao tingir o céu em róseos dedos
Alada criatura em carruagem
Divina e soberana, qual miragem,
Trazendo ao universo seus segredos,
Amante que voraz não sossegava
Ao ver Titono um dia, em alto brado
Ao querer tê-lo sempre eternizado,
Porém a juventude se negava,
E o envelhecido amargo se desgarra
Enquanto ela o transforma na cigarra.

39

Em Fósforo esta clara divindade
Estrela d’alva toma o céu imenso
E neste belo instante me compenso
Embora seja tênue a claridade,
Um cavaleiro traz este luzeiro,
Na tocha feita em fogo, amanhecer,
Surgindo com beleza posso o ver
Caminha pelos céus, qual mensageiro,
E tendo esta diversa fantasia
Ao vê-lo ou seu irmão Hésperos traço
O quanto se soubera ser depois
A deusa da beleza e entre eles dois
Vênus domina agora todo o espaço,
E tendo esta faceta mais sutil,
Eósforo decerto além se viu.

40

As Fúrias dominando cada passo,
Tisifone, Megera e além Alecto
Erínias no seu fogo em todo aspecto
Trazendo ao que viesse o descompasso,
Vivendo em venal profundidade,
Torturam almas vãs e pecadoras,
E nisto tanta vez assustadoras
Enquanto a própria vida assim degrade,
No submundo se escondem; num castigo
Traçando o desconforto em tal tortura,
E nisto o quanto a vida se amargura,
Gerando eternamente o desabrigo,
E vendo tão somente tais incúrias
Expressam violentas, duras Fúrias...


41

Discórdia, a divindade em ermo laço,
Gerando os mais diversos desencantos
Em Éris vejo enfim tantos quebrantos
E nisto o mundo segue em lento passo,
E quando outro caminho tento ou traço,
Vagando sem saber de novos cantos,
O tempo noutro Fado trama os prantos
E qualquer sonho além, hoje eu desfaço.
A mãe do Esquecimento, Dor e Fome
Também parindo os Ódios e Disputas
Figuras tão atrozes quanto astutas
Num torpe caminhar que nos consome,
Discórdia traz em si tantas matanças
Enquanto para o nada ora te lanças.

42

O filho de Afrodite, Eros, Cupido,
Trazendo em suas setas o poder
Que tanto faz ganhar quanto perder
Destino em puro acaso decidido,
E quando num ataque se é sentido
O quanto poderia mesmo crer
Deveras noutro passo a se tecer,
Mudando a direção, já dilapido,
Mas quando deste deus, flecha certeira
Em ambos atingindo, a verdadeira
Noção do que se faz felicidade,
Porém, quando diverso o seu destino,
Cada estocada além deste menino
Gerando a mais temida tempestade.

43

Eurínome que é filha de Oceano
Com Zeus trouxera à vida as belas Graças
E mesmo sendo as sortes mais escassas
Gerara um mais sobejo e raro plano,
Aglália, Tália além de outra: Eufrosina,
As Graças entre tantas criaturas
Traçando com mãos leves, mansas puras
Ao quanto cada passo se destina,
Da deusa em culto vário e multiforme
Diversos os sinais, tantas versões
E nisto se moldando as direções
De um tempo noutro tempo, onde conforme
Numa expressão sem tanta claridade,
Se desenhando assim tal divindade.


44

O vento que do Leste já viera
Trazendo então calor e chuva farta,
Enquanto a melhor sorte assim reparta
Permite o renascer da primavera,
O filho de Eos, também filho de Astreu
Eurus que num momento se faz forte,
Bem menos do que o vento lá do Norte,
Porém tanto cuidado se estendeu,
E traça com diversa e soberana
Riqueza transformando a natureza
Tramando o renascer que com certeza
Refaz enquanto o estio desengana
Destarte redentor e em chuva e no calor,
Fazendo reviver o fruto e a flor.


45


Em Abeona a deusa das viagens
Daqueles que partindo para além
Enquanto protegendo os que inda vem
Voltando de outras tantas estalagens

Em Adeona tendo a majestade
Deidades tão diversas, mas tão unas,
E quando em realidade assim reúnas
Encontro e despida, volta e evade.

O tempo se mostrando em tais faces
Tramando em tais sentidos o universo
Ressurge no vigor de cada verso
O quanto com certeza tentes, traces,

Destarte o renascer traduz a morte,
Assim como o que vem recende aporte.

46

Em homenagem feita a Dionísio
Abácias ou diversas bacanais,
E nisto se desenha muito mais,
Aonde em tais loucuras, já divise-o
E o mundo se mostrando sem um freio
Em vinho, e nos banquetes sem limites
No quanto tanto queiras e permites
O tempo se traduz enquanto veio,
Moldando de tal forma o que pudera
Numa expressão audaz da festa audácia
E quando se proclama numa abácia
O sonho se anuncia em noite fera,
Destarte dominando o que viria,
Deitando tão superna e insana orgia.

47

Numa abadir deveras enganado
Enquanto Zeus a deusa já parira,
E ao escondê-lo assim da fúria e da ira
De Cronos contra o filho indesejado,
Destarte a se fazer o deus supremo,
Deserda o próprio pai que assim tentara
Marcar no infanticídio tal seara,
E disto outro caminho, noutro extremo,
Disfarça-se em abadir o recém-nato,
E o mundo mais diverso ora percebo
E quando em tal cenário hoje me embebo,
A astúcia feminina ali constato,
E o deus tão furioso e temerário,
Ludibriado além do imaginário.

48

Glauco, divindade que, marinha
Apaixonado pela ninfa Cila,
Porém a vida nega e descarrila
Paixão se demonstrando mais daninha
Destarte a cada passo noutro vinha
E Circe a transformando em medonha,
E quando ao se sentir, enquanto ponha
A imagem desolada e vã; mesquinha,
Assim quando voltara então a Glauco
Horrível criatura em torpe palco,
Deveras foi dali já deportada,
Mas este quando soube da verdade
A Circe desprezou e na igualdade
De tantos infortúnios, restou nada.

49

Das Górgonas aspecto tenebroso
Entrelaçadas serpes, como cinto,
E quando esta presença amarga sinto
O mundo se transforma, caprichoso.

Na fúria de decerto tanto medra
O simples perceber e olhar a fera
Mudando se afigura esta quimera,
Moldando do ex-humano, a leda pedra,

Assim se desenhando em descaminhos
As Górgonas atrozes divindades,
E nisto mais horrendas tempestades
Deixando dias turvos e mesquinhos,

Medusa, Esteno, Euríale, terríveis
Figuras tão atrozes quanto horríveis.

50

Das Górgonas somente a vil Medusa
Não tinha como dom capacidade
Desta imortalidade e quando evade
A vida noutro passo a sorte cruza
Mas em Perseu encontra a sorte obtusa
E dura e tanto amarga realidade,
E sendo decepada, na verdade
A morte se anuncia atroz confusa,
Reflexo da Medusa em seu escudo,
Não transformando o herói em pedra
Destarte sem ter nada que inda o medra
O corte lacerante foi agudo,
Decapitando-a então no mesmo instante,
E a sorte mais tranquila se garante.

51

Trazendo o raro dom da juventude
Eternizada, o quanto se percebe
Na deusa tão sublime, esta deusa Hebe
Que o tempo tão atroz nunca transmude,

Ao desposar do hercúleo novo deus
A bela divindade se mostrando
Na força e num perene sonho brando
Sem medo de uma ausência em ledo adeus,

Com Hera, dançava com as Musas
E com as Horas; lírico caminho
Aonde Apolo tocando de mansinho
Traçando o quanto em sonhos tanto cruzas

Espaços sem descanso e muito além
Da própria juventude, a vida vem...


52


Hécate uma noturna divindade
Que com sua matilha; cães nefandos
Aparecendo em toscos, ledos bandos
Enquanto a noite vem e tudo invade,

Avessa ao que trouxesse claridade
Os dias em seus passos, sempre infandos
Ártemis trazia em tempos brandos
A lua com suprema liberdade,

E Hécate desvendando esta outra face
Da noite, que temível se mostrasse
E nisto se desenha o rude infausto,

Em rituais macabros se abatiam
Negros cães e cordeiros, já se viam
Usados para a deusa em holocausto…



53

Em Hélio a divindade feita em Sol;
Domina todo e Céu com brilho intenso,
Percorrendo um percurso aonde penso
No fogo se espraiando em arrebol,

No carro todo em fogo, transcorrendo
Além deste infinito, toma o espaço,
E quando o pensamento além eu faço,
Eu vejo o mundo em raios se tecendo.

Observa com cuidado este universo
E traz este poder, fertilidade,
E assim ao desenhar tal divindade,
Rebrilha neste espaço mais diverso,

Destarte o deus-Sol em seus fascínios
Trazendo a própria vida aos seus domínios.

54


Hércules o forte semideus
Em seus doze trabalhos, ser heróico
Que também sendo às vezes mais estóico
Trouxera este caminho sem adeus,

Foram tantas batalhas e conquistas
Este filho de Acmena eternizado
Após em Hera ser amamentado
E nisto se desenham quando avistas

Das gotas deste lácteo néctar vêm
O céu a Via Láctea e a flor de lis
Além do que deveras mais se quis,
Sobrepujando e sempre sem desdém,

Hera ao saber que o amamentara
No sono; as vãs vinganças, pois prepara.

55

As Horas dominando as estações
Além da paz, justiça e disciplina,
Enquanto cada tempo determina
Os tempos dos invernos aos verões,

Trazendo a mansidão enquanto o instinto
Domina ferozmente o ser mortal,
Assim neste momento capital,
Meu mundo mais tranquilo agora o sinto,

E sendo de tal forma; variáveis
Poderes destas Horas, deusas tantas
Nos ciclos do viver, quando garantas
Vencendo os dissabores mais instáveis,

De Zeus são nobres filhas e decerto
Expressam o renovar de um tempo incerto.

56

A filha de Esculápio, Hígia domina
Limpeza e sanidade; deusa aonde
A própria medicina se responde
E nisto esta visão mais cristalina

Que tanto nos demonstra e já fascina
O quanto em maravilha corresponde
Sabedoria grega onde se esconde
O todo que decerto a determina.

Unida com seu pai, o deus da cura,
Representando a própria a prevenção,
E sendo a mais perfeita comunhão,

Demonstra o quanto pode e assim perdura
Nesta união suprema onde se vê
A sorte traduzindo o seu por que.


57

Himeneu o deus do casamento
Regendo uma união em paz ou guerra,
A sorte deste caso já se encerra
No quanto poder traz consentimento,

E quando outro caminho eu mesmo tento,
O santuário desenhado se descerra,
Porém sem proteção tudo se enterra
E o próprio desejar se perde ao vento.

Um filho de Afrodite com Apolo
Gerando este cenário aonde assolo
Com sonho ou ilusão, e assim me vejo

Cercado pelo brilho deste encanto
Podendo na verdade o que adianto
Formatos mais diversos do desejo.

58


Hipnos, divindade que desenha
Na força do descanso, o sono enquanto
Refaz a juventude e neste tanto
O mundo se anuncia em nova ordenha,

Grassando este infinito, o todo venha
Gerando o que deveras eu garanto
Vencendo o mais terrível, vão quebranto
Mantendo da ilusão, a acesa lenha.

Irmão de Tânato, mortal figura
Diverso, na verdade configura
Apenas um momento e nada mais,

E traça quando o dia ressurgira
O quanto imaginara em luz, em pira
Grassando tais caminhos desiguais.

59

Iridescente deusa comunica
Os deuses com a Terra em tal beleza
Íris se anuncia com destreza
Imagem tão sobeja imensa e rica;

A virgem de asas d’ouro em movimento
Suave como fosse mansidão
Gerando a mais suave sensação
Remete-nos decerto ao doce vento,

Avança em abissais nos oceanos
No próprio subterrâneo, até no Hades
Trazendo mais diversas realidades
Dos deuses aos mortais, traduz os planos

Mensageira de Hera; a deusa bela
Transporta o tanto quanto ora revela.


60

As Parcas dominando o meu destino
Irmãs em lúgubre visão ditando
A morte em turbilhão, tanto nefando
Aonde se tentara cristalino,

Da Roda da Fortuna, este tear
Usado no tecer do frágil fio,
E nisto a própria vida, desafio
Sem ter onde puder sequer parar.

Determinando a sorte, boa ou má
O quanto se aproxima tanto instável
Por vezes num momento que intragável
O tempo noutro tanto mudará,

Das Moiras, o destino se tecendo,
E a morte pouco a pouco me envolvendo.


61

Loucura se desenha na Mania
A deusa que regendo o turbilhão
Aonde em desespero se verão
Os dias entre tantos, a heresia,

Tocando os desairosos, rebeldia
Negando um equilíbrio desde então
Momentos mais diversos se verão
Traçando o que pudera em agonia

Assim o que se mostra em tal cenário,
Um tempo muitas vezes temerário
Transfigurando o sonho e mesmo o sono
Moldando este cenário de abandono,

Mania se desvenda mais atroz
Gerando então insano e duro algoz.


62

Sendo Métis primeiro amor de Zeus,
A deusa da prudência se esquivando
Do deus tão poderoso quanto infando,
Até que engravidara antes do adeus.

Sabendo que viria deste parto
A divindade sábia e poderosa,
E assim tão caprichosa e perigosa,
Do encanto mais atroz que aqui reparto

Zeus ao engolir a filha viva
Repete o que pai, Cronos, fizera,
Mas muito além do quando inda se espera
Crescendo no seu cérebro, esta altiva

Já adulta num momento quando acena,
Nascera do deus Zeus a deusa Atena.

63

Morfeu, o deus dos sonhos multiforme
Transforma-se deveras no cenário
No quanto poderia imaginário
Ou mesmo noutra face atroz, e enorme,

E quando se aproxima e se conforme
Regendo todo o vasto itinerário,
Marcando como fosse algum corsário
Saqueia o que puder enquanto dorme,

De Hipnos, o deus do sono, sendo filho,
Trazendo nos seus pés o longo trilho
Que tanto nos seduz, encanta e assusta,

Nos braços de Morfeu, serenidade,
E quando dominante divindade
O sonho em harmonia assim se ajusta.

64

A Musa da Epopéia, e da eloqüência
Calíope em voz sublime se apresenta
E traz no quanto possa sem tormenta
Gerasse dentro em si também ciência,

A Musa com certeza nos trazia
Além desta beleza que se vê
O quanto deste mundo em seu por que
Ousando na total sabedoria,

A mãe de Orfeu trazendo em suas mãos
A pena e um pergaminho traduzira
Beleza da palavra feita em lira,
Tramando além dos dias, meros, vãos.

A majestosa deusa em tal beleza
Demonstra com poder toda a grandeza.

65

Dominando decerto toda a História
Trazendo como dom criatividade
Eu vejo em Clio a rara divindade
A Musa que se faz em plena glória,
Na sorte tantas vezes merencória
Tramando o quanto possa a liberdade
No encontro onde a vida rompe a grade
Trazendo da esperança esta memória,
E vendo em tal sobejo desafio
A sina mais concreta trago em sonho
O quanto em claridade ora componho,
E nisto me aproximo, pois de Clio,
Ditando do passado ao que virá,
Regendo este caminho desde já.

66

Érato que das Musas diz lirismo
Na poesia traz o raro brilho
Aonde com certeza tento e trilho
Vibrando em lira doce, romantismo,
E quando noutro rumo às vezes cismo,
Qual fosse; na verdade um andarilho
Percebo o quanto tento e compartilho
Ousando reviver este otimismo,
Trazendo rosas mostra em sua lira
Beleza tão sutil onde se atira
Superna maravilha feita em sonho.
Dos hinos ao amor, dos versos mansos
Procura com ternura tais remansos
Enquanto a plena luz ora proponho.

67

Euterpe, que das Musas dita os sons
Divinos de uma Música superna
E quando esta beleza agora externa
Mostrando a raridade de seus dons,

Tramando este momento onde se ouvindo
Os sonhos vagam longe, ditam sorte
E quantas vezes mostra e nos conforte
Trazendo este cenário bem mais lindo,

Eternizando em sonhos a alegria
E mesmo quando diz diverso rumo,
Abrindo o coração tanto resumo
O quanto se mostrara em agonia.

Regendo este caminho em porto manso,
A plena fantasia agora alcanço.

68

Melpomene regendo uma Tragédia,
A Musa traduzida em cada passo
Cenário mais atroz, enquanto eu traço
A sorte que buscara além da média,

Nas mãos trazendo máscara e bastão
Expressa de tal forma o quanto a sorte
Transcende em descaminho e rege a morte
Moldando noutro traço a direção

E deste desencanto ou mesmo a fúria
O pálido momento se anuncia,
E a vida se aproxima leda e fria,
Gerada pela dor atroz e espúria,

Assim ao se mostrar em plenitude
Melpomene invade em pranto. Rude...


69

Da sacra poesia, a Musa traça
Além da geometria outro momento
Meditação regendo enquanto eu tento
Vencer a minha sorte mesmo escassa.

Polímnia transcendendo em mansidão
E mesmo se mostrando mais discreta
O quanto noutro passo a Musa asceta
Traduz de uma esperança a redenção,

Nos versos que inspirasse em divindade
Segredos e sagrados dias vendo
E nisto presumindo o raro adendo
Da sorte sem igual que agora brade,

Marcando o dia a dia em sóbria face,
Divino caminhar sempre moldasse.


70

Terpsícore reinando sobre a dança
A Musa feita em grácil caminhar,
Na lira quando a vejo acompanhar
Tramando outro caminho enquanto avança

Regendo com delírio esta mudança
Trazendo o mais diverso suspirar
No sonho sem igual a se moldar,
Ao quanto poderia além se lança,

Sereias, suas filhas, magistrais
Deidade em raros tons, farta beleza
E trama a cada passo esta leveza
Da Terra ocupa espaços siderais,

E vejo-a claramente encantadora,
Às vezes mesmo até mais sonhadora.



71

A Musa da Comédia, que trazia
Nas mãos a máscara diversa em riso,
E nisto quanto posso me matizo
Nos mágicos caminhos de Thalia,

Assim ao adentrar na poesia,
Lembrando do teatro onde diviso
A lúdica beleza do sorriso,
E nisto se desnuda a fantasia,

Uma sobeja fonte de emoção,
Trazendo os dias tantos que virão
Marcando em consonância cada espaço,

Tramando muito além do que pudesse,
E nisto se desenha a rara messe
De um tempo mais alegre que ora eu traço.

72

Urânia tem nas mãos a astronomia
Regendo todo espaço sideral,
A Musa em tom diverso e magistral
Reinando no infinito, noite e dia,

Marcando com beleza e maestria
O dom que se fizera universal
Neste incomensurável visual,
A senda mais sublime se anuncia.

No diadema traz tantas estrelas,
E quando desde aqui eu posso vê-las
Da Terra num azul o seu vestido,

O quanto constelar se apresentando
E nisto se anuncia desde quando
Ao mundo muito além, sou envolvido.

73

Da origem que se mostre em raro gênesis
Desvendo entre diversos deuses, cenas tais
Aonde noutro tempo em tons ousais
Trazer ao Monte Olimpo a deusa Nêmesis

Moldando esta divina e atroz vingança
Os ermos deste encanto em tom disperso
Enquanto noutro rumo busco e verso
Meu verso tal sentido teima e alcança.

A força que se abate sobre todos
Depois da tempestade em tom contrário
Marcando em dor temido itinerário
Caminha e se desenha em vários lodos,

A deusa vingativa e mais sombria,
Decerto traz a noite em pleno dia.

74

Vitória em asas traça a deusa Nice
E nisto se desenha a liberdade,
Ousando muito além do que degrade,
Revela o quanto a sorte contradisse,
E quando com certeza inda se ouvisse
O tanto que pudera e sempre brade
Marcando este cenário em claridade
Deixando para trás qualquer mesmice,
Das alas desta deusa, eu vejo o quanto
A vida noutro passo inda garanto
Vibrando além da terra, em ar celeste
Vitória se anuncia no horizonte
Assim que esta certeza além desponte
O todo em maravilhas se reveste.

75

O vento sul deveras se mostrando
Trazendo em suas mãos todo o calor,
Gerando o que pudesse em sonho e dor,
Marcando este momento nunca brando,

O quanto Nótus rege em céu azul
Deixando para trás o frio e a neve
E assim noutro momento já se atreve
Reinando sobre tudo o vento sul,

E o verso se procura claramente
Aonde o seu caminho poderia
Traçar o que deveras dita o dia
Regando com delírio cada mente,

E do verão a vida traz no vento,
Às vezes desespero ou raro alento.


76

O deus dos bosques, campos e pastores
Dançando com as ninfas, vida lauta
Tramando no tocar suave flauta
Gerando um mundo além em frutos, flores,
E quando à noite rege com horrores
A vida modifica a sua pauta,
E a luta se transborda e sendo incauta
Transcende ao que pudesse aonde fores.
No pânico gerado, inconsistente
Pan se desenhando se apresente
Com seu caminho feito em som e dança
Ao quanto ou muito além se trama e dita
A sorte que se faça o mais bonita
Ou mesmo num nefasto ocaso a lança.

77

E Phoebe demonstrando em clara prata
Beleza que noturna dita o rumo,
Brilhante maravilha onde resumo
O quanto deste sonho se constata,

A vida em tal caminho se retrata
E bebo da esperança ali seu sumo,
E vago sem perder enquanto esfumo
O mundo em magnitude se resgata.

Deusa da profecia, Phoebe, a lua
Traduz a divindade e se cultua
Nas noites, soberana em sono e sonho,

Reinando no lirismo do poeta,
Ao quanto na magia se completa
Gestando e partilhando o que proponho.

78

Perséfone superna divindade
Reinando sobre a vida em seu caminho
Vibrante e delirante quando aninho
O mundo neste dom: fertilidade,

De Zeus e de Demeter, bela filha,
Da agricultura herdeira, em seu poder,
Em Hades despertando o bem querer
Raptada em tão diversa e rara trilha.

No mundo subterrâneo, pois rainha
De Adônis fora amante, mas amava
Aquele que decerto assim reinava
Nas entranhas da terra onde se alinha,

Vivendo ora no Olimpo ora no chão,
Transporta dentro em si, a geração.

79

Das Plêiades restando em estelar
Cenário em virtual constelação
Após a mais atroz perseguição
De Órion, caçador a procurar

De Electra, de Taigete, de Celeno
Em Mérope, Asterópe também Maia
Em Dríope, Alcyone hoje se espraia
Diadema feito em luz, cenário pleno

Reinando toda a noite em céu mais claro,
As Plêiades trazendo nos clarões
O quanto em fantasias tanto expões
E mesmo noutra cena já declaras,

Marcantes os caminhos feito em luz,
E neste encanto além, sonho conduz.

80

Psiquê, a deusa feita em alma
Reinando sobre todo ser mortal
Desenha num instante sem igual
A vida que decerto agita e acalma,

A bela que desperta em Afrodite
Ciúmes; atingida por Cupido
No quanto em tanto amor, um desvalido
Caminho onde deveras se permite,

Viver o atroz cenário monstruoso
Do amor. Porém Eros se apaixona
Trazendo o imenso Amor, em volta e à tona
Traçando outro momento majestoso,

Trabalhos mais diversos, Vênus dita
Àquela que se fez além, bonita.

81


Pastor destes rebanhos do oceano
Proteu tinha em poder as profecias
E nisto desenhando aonde vias
O mundo mais diverso em novo plano,

E quando neste tanto eu desengano
O corte anunciando em mais sombrias
E rudes caminhares, agonias,
Puindo da esperança em ledo dano,

Evitando os mortais, se transformando
Num ser tanto diverso e mais infando,
Porém nunca resiste à persistência,

E assim quando se insiste já se obtém
Notícias do que certo ainda vem,
E do futuro passa a ter ciência...


82

De Dionísio e Vênus este filho
Que traduzindo em si virilidade
Transborda em total sensualidade
Gerando o quanto possa em rumo e trilho,

E quando noutro instante em ereção
Constante se apresenta em priapismo,
A sorte se anuncia em otimismo
Marcando da vontade a dimensão,

E Príapo reinando sobre o fértil
Caminho aonde tanto se pudesse
Vencer qualquer denodo tendo a messe
Do fálico cenário sempre erétil,

Um libertino deus um ser repulso
De Lampasaco sendo então expulso.

83

Selene traz à terra esta beleza
Da lua reinando prateada sobre o céu,
E quando o tempo gira, o carrossel,
Depois de Hélio prepara esta leveza,
Solene divindade em fortaleza
Marcante e decisivo o seu papel,
Domina o quanto a vida dita ao léu
E nisto se entranhando na incerteza
Das fases onde tanto se anuncia
Diversidade imensa em sintonia
Semana após semana, muda as vestes
E tanto se transforma quanto traz
Reinando nas marés, e mais audaz
Transmite o quando plantas ou investes.

84

Tânato domina a morte e traz
Nos dedos a certeza que difere
O deus deste mortal quando interfere
Num ato tão atroz quanto mordaz,
Deixando toda a vida para trás
O tempo noutro tempo já digere
O quanto na verdade desespere
Tramando o mesmo caos, negando a paz,
Plutão reinando sempre nas profundas
E nelas outras tantas sempre inundas
Com sonhos e temores, dia a dia,
E traz no veredicto incontestável
Caminho com certeza inadiável
Trazendo a sorte leda e mais sombria...

85

Um filho de Poseidon, o Tritão,
A mutação diversa, peixe, humano,
Enquanto se transporta a cada plano,
Moldando com certeza a dimensão

Um mensageiro traz a mansidão
E nisto a cada instante no Oceano,
Marcando muito além do desengano
Cerzindo a paz em toda a precisão,

Num búzio ao entoar a melodia
Que a todos no final em harmonia
Abrindo este caminho onde Netuno

Passando com seu carro em segurança,
Ao quanto noutro passo já se lança
E neste desejar em paz, eu me uno.

86

Vento do Oeste traz serena brisa
E Zéfiro traduz caminho em paz,
O quanto deste deus nos satisfaz
E nisto a sorte em mansidão matiza,

Certeza de fortuna mais precisa
Sem fúria ou ventania enquanto traz
Neste suave sonho se é capaz
De crer nesta harmonia onde a divisa.

Tecendo em plenitude a primavera,
No quanto em tal cenário agora impera
Transporta sobre as ondas cada barco,

E neste desenhar se permite
Viagem mais tranquila e sem limite,
Mudando este cenário outrora parco.


87

Hyperion, que em punhal se simboliza
Titã que se expressava em força e fúria
Gerando a cada instante a mais espúria
Loucura e na incerteza se matiza,
Espada poderosa, não avisa
E traz a morte feita em tal lamúria
Marcante sensação de imensa incúria
Aonde o ser finito se divisa.
Tentando destruir o Santuário,
Batalhas no seu rude itinerário
Desenhos vingativos e vorazes,
Assim ao se mostrar outro cenário,
O mundo em tal momento temerário
Tramando ritos rudes e mordazes.

88

Jápeto, filho de Gaia com Urano
Um dos doze Titãs em emboscada
Traindo o próprio pai, e da cilada
Com três irmãos, temível plano,
Gerando então pilares que separam
A terra deste céu imenso além,
E quando uma tocaia traça e vem,
Urano; neste instante ali castraram.
O pai de Atlas reinando sobre a vida
Tão limitada de todos os mortais
E nisto outros caminhos desiguais
Marcando a mesma história desprovida
De esperança e tendo sonegada
A sorte tantas vezes desejada.

89

O Titã da inteligência, Céos casando
Com Phoebe deusa-lua magistral,
Traçando este cenário sem igual
Num mundo tão diverso, o canto brando,
Titânica vontade se moldando
Num ato desenhando este lual,
E o canto se mostrando sensual,
No todo um novo dia anunciando.
Astéria, que se fez deusa estelar
E Leto num suave anoitecer
As filhas deste deus, e num luar
Transita em noite imensa, libertária,
A sorte desenhando o bem querer,
Aonde a dimensão se fez tão vária.


90

Crio que ao dominar os abissais
Trazendo o seu poder tão destrutivo
Enquanto noutro engodo enfim me privo
Do quanto ora queria ou muito mais,
Destarte em descaminhos vastos, tais
E neles onde eu possa; já não vivo,
Marcando com terror sem lenitivo
Os atos entre enganos, vãos, mortais.
No Tártaro afinal aprisionado
Na Titanomaquia se perdendo,
E deste seu caminho destroçado
Unindo-se com Cronos, derrotado,
Do quanto o mais atroz, sendo um remendo
Restando muito aquém do seu passado.

91

Saturno o pai de todos, criador,
Gerando dentro em si tanto poder
E nisto o que pudera já trazer
Tramando com audácia e com furor,
Permite-se tramar em tentador
Caminho desvendado e passo a crer
No todo onde se possa resolver
Ou mesmo se tramar a imensa dor,
Ao engolir os filhos e temendo
O quanto poderia num adendo
Perder o seu reinado sobre tudo,
Porém quando por Zeus foi derrotado
Soturna realidade, noutro lado,
E o tempo se desenha onde o transmudo.

92

A deusa da memória, Mnemosine
Titânide que é mãe das nove Musas
Enquanto noutra face entrecruzas
Com todo este cenário onde domine,
Sobeja criatura traz de volta
O quanto esquecimento enfim levara
E tendo esta faceta nobre e rara
Embora a alma consiga e além se solta
Retorna com certeza ao seu caminho,
E Mneumosine dita o quanto possa
Além de algum caminho, o prosseguir
E nisto o que deveras há de vir,
Traduz realidade imensa e nossa,
Assim este cenário se moldando
Gerando um novo tempo, claro e brando.

93

Oceano, Titã rodeia a Terra
E configura em forma mais diversa
Da serpe por caudal, além se versa
O torso de um humano assim descerra

Em aspas a cabeça, as garras são
Crustaceiformes, barba vasta,
De Tétis sua irmã e esposa a casta
Das ninfas noutra face em geração,

Não se aliando em luta contra Zeus,
Oceano traduz com tal certeza
A sorte em tão superna fortaleza
Do reino que domina, nem adeus.

Viceja ora em procela ou calmaria,
Porém do trono em paz, não sairia...

94

Tétis uma ninfa magistral
A filha de Nereus e Dóris tem
Diversa geração e ali contém
Aquiles, poderoso e sem igual,

Uma Nereida aonde a sorte sendo tanta
Criada por Hera a quem servia
Em amizade intensa em harmonia
Enquanto Zeus deveras já se encanta

Temendo no final a profecia
Que tanto quanto possa destarte
O ser que o destronando, o mataria,

Fugindo de Peleu que Zeus queria
Marcar com o himeneu e assim comparte
O todo noutra face em harmonia.

95

Téia ao desposar o seu irmão
Hipérion, o gigante, este Titã
A Titânide gerando no amanhã
Helio, Selene e Eos em dimensão
Diversa traduzindo a direção
Da sorte que podendo ser malsã
Expressa em claridade um raro afã
Da aurora, lua e sol, com precisão
Assim se aproximando eternidade
O quanto se desenha intensidade
Marcando a divindade com nobreza
E disto se vislumbra em rara idéia
Sublime caminhar da deusa Téia
Vencendo em esplendor rara clareza.

96

Têmis ao guardar os juramentos
Dos homens a Titânide em justiça
Vencendo com brandura uma cobiça
Trazendo com firmeza calmos ventos,
E nisto se traduz os elementos
Na sorte muitas vezes movediça
E o tempo noutro instante sempre viça
Cerzindo este caminho em tais proventos
Gerando o quanto possa ou mesmo até
Transcende ao que ilude a rude fé
E gesta com perfeita sintonia,
Deixando para trás o quanto a vida
Deveras tantas vezes destruída
Não trama com firmeza o dia a dia.



97

Com cem braços, cabeças são cinqüenta
Um Hecatônquiro figura atroz,
Porém unindo a Zeus mudando a foz
Que fora sempre diversa e violenta
Filhos de Urano e Gaia, aprisionados
Pelo próprio temível, rude pai,
O quanto deste todo ora se esvai
Mudando este cenário em novos fados,
Briareu, Giges e Coto, os três irmãos,
Dos ciclopes também em irmandade
Assumem com audaz diversidade
Os dias entre tantos, mesmo os vãos,
Assim ao se mostrar face sombria,
O quanto em novo tom se percebia.

98

Ciclopes os gigantes num olhar
Monocular caminho se desenha
A face mais espúria que inda venha
Traçando outro cenário a se mostrar,
Polifemo ferido por Ulisses
Um filho de Netuno, se cegando,
Arges, com seus raios já forjando
De Urano um filho além do que já visses
Brontes que dos trovões a majestade,
Odiando seus irmãos, e os pais deveras,
Estéropes, relâmpago, que em feras
Ciclope rumo a própria eternidade,
Da Titanomaquia em apogeus
Unidos fortemente com deus Zeus.


99

Aqueloo sendo um deus já feito em rio
O pai destas sirenes, magas belas,
E nisto quando a sorte; além atrelas
O tanto quanto existe desafio,
Desfio este cenário e assim recrio
Ousando na beleza em raras telas
E nisto a vida cerzi sem as celas
O todo que pudera e assim desfio,
De Orestes e Hipodamas, pai também
Um filho de Oceano um ser marinho
E neste caminhar quando me aninho
O tanto mais sobejo sempre vem,
De Tétis este herdeiro, em plenitude
Moldando em pleno rio, o que transmude.

100

Aqueronte este rio infortunado
Caronte atravessando para além
Levando esta mortalha quando alguém
Perdendo o seu caminho, e malfadado,
Desenha nos infernos, o traçado
E rege o que pudera em seu desdém,
Marcando o que deveras nunca vem
Tortura se anuncia em rude Fado,
Cenário de dantesca poesia,
Em epopéia imensa se veria
O quanto deste quadro nos traduz
Sem esperança alguma; o que viria
Na senda mais amarga e mais sombria
Distante do que fora mera luz.


101

Alfeu que num momento desvairado
Seguindo a ninfa bela, esta Aretusa
Aonde a sua vida tão confusa
Presume outro caminho desenhado,
O amor de tal maneira foi traçado
E mesmo quando a sorte leda abusa,
Gerando esta esperança se entrecruza
Caminho noutro passo em raro Fado,
O rio soberano, em alfa traça
O início e a primazia sobre todos
Das gregas águas sem tantos engodos
A sorte se encaminha e não escassa,
Marcando com beleza e fortaleza
A vigorosa fonte em correnteza.

102

Um filho de Oceano, o rio Asopo
Ao ter a sua filha seqüestrada,
Ousando contra Zeus, no quanto enfada
Tortura se aproxima do seu topo,

O deus mais poderoso nesta fúria
Trazendo ao rio o velho leito brando,
E assim deveras quando mergulhando
No infausto desenhado em cada incúria,

E Sísifo que enfim denunciara
A Zeus como este audaz, e vil raptor,
Na insânia sem perdão e em tal pavor
Ao próprio inferno fora em sorte amara,

Égina levada para uma ilha,
Oenone, neste rumo inda palmilha.

103

Eurotas, pai de Esparta, a divindade
Gerada deste rio-deus supremo,
Aonde se desenha o quanto extremo
Caminho se permite em liberdade,
Criando em homenagem a cidade,
Esparta dominando e nada temo
Trazendo neste olhar além do remo,
A sorte mais ditosa, imensidade,
Assim ao se encontrar em fartas rotas
Futuro se transcende ao próprio Eurotas
E desta que se fez a soberana,
Sobrepujando Atenas nas batalhas
E nisto outro caminho agora espalhas
Tramando a fúria intensa e quase insana.

104

Argonautas

Na busca pelo Velo que dourado
Encontrava-se em Cólquida, Argonautas
Sob o comando impávido, estes nautas
Regidos por Jasão num duro Fado,

Heróis que convocados por arauto
Expressam com firmeza e lealdade
E nisto se apresente a divindade
Num tempo mais suave e mesmo lauto

Ajudam a chegar nesta epopéia
Ao quanto poderiam, sendo assim
Traçando soberano e raro fim,
E em heroísmo raro a clara idéia

Da qual em soberana maravilha,
O mundo mais sublime a sorte trilha.

105

Jasão

Desalojado fora pelo tio
Do reino que em direito era só seu,
Ao quanto em heroísmo ele se deu,
E nisto cada passo um desafio,

Da Tessália deveras exilado
Pelo centauro Quíron acolhido
E desta forma segue o decidido
Caminho aonde fora já traçado,

E assim ao comandar os Argonautas
Em Argos construindo Argo esta nau
E nela este cenário magistral
Vencendo as sortes duras, mesmo incautas

Trazendo no final o Tosão de Ouro
E tendo o seu reinado por tesouro.

106



Acasto

Filho de Pélias, rei de Iolco trama
O assassinato de Peleu por quem
Astidamia; a sua esposa tem
Paixão que rejeitada, escusa, chama,

Inventara um estupro e de tal forma,
Enquanto que o exilara em ermo monte,
Porém Quíron deveras já se aponte
E nisto toda a história se transforma,

Peleu, que fora então, auxiliado
Por Jasão, retornando à sua Terra
Ao saquear Iolco em rude guerra
Teve seu território desmembrado,

Tessalo; de Jasão então um filho
Assume este reinado em novo brilho.

107

Idmon

Um dos argonautas, Idmon tem
O dom de adivinhar todo o futuro
E assim num passo além bem mais seguro
O quanto transmudara em raro bem

A história que deveras já contém
O tempo mesmo opaco, rude e escuro
E assim o quanto possa configuro
No passo sem temor; no qual se vêm

Os rumos desta senda que intrigante
Presume o que viria doravante,
De Apolo sendo filho, em tal poder

Gerado pela força em divindade
Tramando muito além do quanto invade
E a sorte generosa passa a ter.

108

Calais

Filho de Bóreas traz nas mãos o vento
E pode ter domínio sobre o quanto
A direção dos ares, sem quebranto
Ou mesmo num completo desalento

E quando imaginá-lo em pensamento
O mundo mais sutil; quero e garanto
Vencendo o que pudesse em desencanto
Um novo caminhar além; eu tento.

Um argonauta traça em direção
A ajuda necessária onde Jasão
Consegue o intento e se faz rei,

Destarte a vida trama em tantas glórias
Marcando para sempre com vitórias
Cenário onde em sonhos mergulhei.

109

Zetes

Sendo irmão de Calais, este argonauta
Ajuda na difícil travessia
E nisto em heroísmo mostraria
A vida sendo além diversa e lauta,

E quando se mostrando mais incauta
A sorte noutro passo se veria,
E o quanto se traduz a cada dia,
A imagem deste raro e nobre nauta,

A senda mais audaz e mais perfeita
Enquanto em epopéia sendo aceita
Expressa o quanto possa o ser humano,

Vencendo quaisquer lutas e deveras
Enfrentando sem medo tantas feras
Num ato mais leal e soberano.

110


Anfião


Filho de Zeus co’ Antíope que sobre Tebas
Reinava com humana e bela face,
E nisto com certeza já mostrasse
O quanto se traduz em várias glebas,

Irmão gêmeo de Zeto entre os pastores
Sem mesmo até saber de quem viera
E quando Apolo traz em rara esfera
A lira aonde molda seus pendores,

Um argonauta; trama este poder
Na lira de criar Tebas ao som
E tendo nesta face o raro dom
Traçando mavioso conceber

E quando executava em maestria
Cidade por si só assim se erguia.


111

Etálides

De Hermes, o guerreiro, fora filho
E assim tão poderoso caminhava
Entre vivos; mortos, tendo em clava
Presente mais constante em raro trilho

E assim quando decerto se mostrara
Um argonauta além de tal poder,
Trazendo dentro da alma; um renascer
A sorte desejada e sempre rara,

Em Argo se mostrando a qualidade
Gerando noutro passo a este clarão
E quando se traçara desde então
O quanto a cada dia nos agrade,

E assim vitoriosa senda eu vejo
Num ato mais sublime e tão sobejo.

112

Argos

Com a ajuda da deusa sábia e bela,
(Atena), Argos criando a embarcação
Que poderia além levar Jasão
Na sorte merecida onde se atrela

Futuro que pudesse e já revela
A justa e mais sublime sensação
Ousando nos momentos que verão
Fantástica e perfeita, rara tela,

O filho de Calcíope trazendo
Nas mãos este poder, este armador
Trazendo em suas mãos tanto pendor,

E nisto se criando em estupendo
Magnânimo caminho para o qual
Jasão descreve o rumo magistral.



113


Ascalafos

Um filho do deus Ares, ajudando
Nesta epopéia aonde se traria
O Tosão de ouro em rara maestria
O tempo noutro instante se formando,

Cerzindo este caminho aonde infando
Cenário tanto tempo se veria,
A sorte com sublime fantasia,
Outro cenário tece; já o moldando

Ascalafos trazendo em sua história
A senda que guardada na memória
Traduz em heroísmo o que revelo

Em versos sonhadores o momento
Aonde se desenha em raro alento
Esta aventura atrás do nobre Velo.

114


Atalanta

Uma das Abantíades, deveras
Abandonada pelo pai após nascer,
E no Monte Partênio até crescer
Por ursa alimentada; e em tais quimeras

Até que caçadores a levaram
E terminando assim a criação
Daquela descoberta por Jasão,
Enquanto outros caminhos se notaram

Da caçadora feita em indomável
Caminho sem temor nenhum sequer.
De Hipomene se fez então mulher
Até que num momento intolerável

Violando um templo a Zeus aonde expões
Agora transformados, dois leões.


115

Autólico

De Hermes um filho e avô deste Odisseu
Herói sublime em Tróia enaltecido,
Ladino, este ladrão nunca esquecido,
Que rara história traça onde verteu

Roubando o próprio Zeus, além da adaga
De Calisto de Xena e o Cinturão
De Héracles ajuda então Jasão
Na sua mais diversa e dura saga

Autólico traduz em esperteza
A face mais audaz já percebida
E assim transcende além da sua vida

Ousando muito mais e em tal surpresa
O mundo se anuncia para quem
Poder tão soberano em si retém.


116


Laerte

Filho de Arcésio traz em nobre herança
Odisseu e mostrando a força imensa
Agindo da maneira como pensa
E ao raro desafio enfim se lança

Dos Cefalenianos era o Rei
Calcomedusa, a mãe deste que traça
A sorte mais sobeja e traz na raça
A imagem que jamais esquecerei,

Ousado companheiro de Jasão
Este argonauta fica para a história
E traz em suas mãos farta vitória
E muda este cenário desde então.

Laerte tem na herança Ítaca, esta ilha
Aonde seu filho Odisseu rebrilha.

117

Butes

Butes de Atenas este apicultor
Herói que se lançara ao duro mar,
E neste tão diverso navegar
Trazendo o mais sublime e pleno honor

Lauréis diversos; mostra quem amor
Pudesse noutro ponto desenhar
Sublime maravilha onde tramar
O encanto sem igual, raro louvor,

Este argonauta junto com Jasão
Traçando no infinito a direção
Eternizando o nome em glórias feito,

E quando se anuncia o claro pleito
Vencendo as armadilhas desde então
Sua superna face outros verão.



118


Équion

Um filho do guerreiro deus adentra
Os mares na epopéia sem igual,
Équion se mostrando magistral
Toda a sua força se concentra

Na luta de argonautas por justiça
Vencendo as mais diversas peripécias
E as sagas mesmo quando aqui confesse-as
Desenham a mais rude e turva liça.

Herdeiro de Hermes traz também na guerra
O poderio além do costumeiro
E traça o seu caminho traiçoeiro

Nas tramas que a batalha em si encerra,
Buscar em Cólquida o Tosão,
Auxiliando ao justo e bom Jasão.

119

Eufemo

Um filho de Poseidon, deus dos mares,
Que possa flutuar por sobre as águas
E nisto outros cenários que deságuas
Nos mais sublimes gestos, seus altares,

E quando além de tudo tu notares
As sortes como fossem meras fráguas,
Vencendo dissabores, tantas mágoas
Diversas de expressões tão similares.

O timoneiro de Argo na aventura
Vagando pelos mares na procura
Do Velo por Jasão já prometido,

Um argonauta, herói em luta franca,
Aonde se anuncia e nada estanca
O tempo noutro instante sem olvido.

120

Héracles ( Hércules)

Em Hércules a força sobre-humana
Guerreiro que se fez um deus após
Vencer em doze tramas; traça os nós
Em vida magistral e soberana,

Um argonauta? Sim, pois ajudando
Jasão na sua dura caminhada
Na sorte violenta e assim fadada
Ao tempo mais atroz, audaz, infando.

Dos tantos que se vendo em tal cenário
Talvez seja o mais forte, e em tal potência
A vida se transforma e dá ciência
Da imensa provisão em ar tão vário,

Assim ao se moldar em rara liça,
Na sorte tão mordaz e movediça.

121

Castor e Pólux

Os gêmeos que de Leda foram filhos,
Um de Zeus, o deus, sendo imortal
Outro de Tíndaro, humano em desigual
Caminho entre diversos vários trilhos.

Dois argonautas entre mil venturas
Até que em luta, sendo assassinado
Castor; Pólux implora a Zeus um fado
Diverso desta morte em amarguras,

E assim, penalizado Zeus divide
Esta imortalidade dia a dia,
Enquanto um renascia outro morria,

Até que no final, o deus decide
Transformando-os em ato singular,
Em Gêmeos, o sobejo constelar.

122

Iolau

Filho de Íficles; traz na sua história
Até por ser sobrinho deste herói
(Hércules) luta aonde se constrói
O dia a dia feito em plena glória,

Ao ajudar seu tio na batalha
Contra Hidra, numa luta tão feroz,
Cauterizando as cérvices após
Matando-a com a força que não falha.

Estando em Argo junto com seu tio,
Quando se percebendo em Iolau
Coragem na verdade divinal,
Ao adentrar terrível desafio,

Assim se imaginando em rara senda
O quanto da magia se desvenda.


123

Hilas

Um amigo do hercúleo lutador,
Que quando se aportara além me Misia
Por uma ninfa adentra em tal magia,
E some numa trama amor/dor.

Assim Hércules larga a expedição
Na busca que infrutífera se fez
Aonde com total insensatez
A marca mais atroz de uma paixão,

Hilas pela Naiade enamorado
Seguindo sem saber qualquer defesa,
Tornando; o caçador, a mera presa,
E o tempo onde aos poucos dita o Fado,

Nos ermos mais sutis, irracionais
Perdido para sempre. Nunca mais...

124

Poias

A vida traz diversa sorte e trama
Nos ermos do caminho tão diverso
Momento aonde o tanto quanto verso
Expressa a solidão e mesmo a fama,

Poias sendo de Hércules amigo,
Adentra na temida expedição
Na busca onde se alia com Jasão
Vencendo a cada instante outro perigo,

A sorte é tão atroz, audaz e vaga,
O mundo não permite apenas sonho,
E quando a cada passo me proponho,
A dor na solidão temida plaga,

E o tempo se anuncia de tal forma
Que a sólida impressão já se deforma.


125


Filoctetes

Partícipe da guerra contra Tróia
Aonde se fizera em raro ardil,
No quanto a própria vida permitiu
Ousando na batalha, rara jóia,

Porém ao se ferir por ter quebrado
As juras que fizera ao sepultar
(Mostrando aos inimigos o lugar)
De Hércules, suas cinzas. Duro fado,

Um argonauta, mesmo um vencedor,
Do herói o mestre de armas, um amigo,
Depois se entrega injusto e no castigo
A vida se transforma; imensa dor.

Ao ser já resgato para a guerra
De Tróia seu caminho ali se encerra.

126

Idas

Na luta contra os Gêmeos, pelo amor
De Febe e de Hilaeira, Castor vê
A morte numa senda onde e por que
O sonho fora feito em tal louvor,

Lutando contra Apolo por Marpessa
Também desta batalha tendo a sorte
De ter com rara força este suporte
Ao qual a cada instante já se teça

Momento tão sublime, ele e Linceu,
O seu irmão também sendo argonauta
Na fúria e na esperança, mesa lauta,
O tanto quanto possa percebeu,

E assim se conta a história em bravos tons
De Idas este guerreiro em raros dons.

127

Oileu

De Lócrida este rei, um argonauta,
Pai de Ájax, um guerreiro majestoso,
O quanto poderia em pedregoso
Caminho transforma em sorte lauta,

A vida se transforma e se arrebata
O todo num momento ou pouco mais,
E vence os mais diversos temporais,
Arcando com a fúria, mesmo ingrata,

A sorte se anuncia de tal forma
E o cântico sutil se perde aquém
Do quanto na verdade sei que vem
Ou mesmo noutro infausto nos deforma,

Destarte caminheiros de além mar,
Na saga que nos faz já delirar...


128

Meléagro



Filho de Eneus, de Altéia, este guerreiro
Este herdeiro de Cálidon; argonauta
Quando ao nascer a sorte tão incauta
Moldando o seu futuro traiçoeiro

Mostrando à sua mãe, as duras parcas
Preconizando a morte quando uma acha
Que ali queimava em destino onde se acha
Chegasse ao seu final; terríveis marcas

A mãe se precavendo então a apaga
Conservando-a consigo desta forma;
Porém a vida trama e já deforma
Mudando com terror e em dura praga,

Matando o irmão de Altéia, este insensato
Meléagro; seu fim atroz; constato...

129

Orfeu

O músico e poeta que em liras traça
A mágica e divina sensação,
O filho de Calíope traz em mão
De Apolo, a maestria em nobre raça,

Por Eurídice se fez apaixonar;
Casando com a bela, mas após
Em Aristeu a sorte dita a foz
E em serpe violenta a se atacar,

Em busca deste amor, Orfeu invade
A terra aonde os mortos encontrasse,
E em melodia rara vence o impasse
E traz à sua amada a liberdade,

Porém antes do sol não mais revê-la,
Incauto, volta o olhar; louco a perdê-la.

130

Peleu

O pai de Aquiles com Tétis traça a vida
E nesta sorte trama em mil batalhas
Enquanto se aproximam ou espalhas
Histórias de vitórias; rara lida.

Um argonauta, na busca por tesouro
O companheiro heróico de Jasão
Tomando o mesmo barco e direção
Na busca por Tosão já feito em ouro,

Divino lutador, bravo guerreiro
Em suas mãos também sela a vitória
E nisto se desenha a rara glória
Fazendo do infinito o seu canteiro,

Peleu, ao se mostrar em ato nobre,
Nos mais vários triunfos; se recobre.

131

Télamon

Um rei de Salamina, este guerreiro
Sendo irmão de Peleu, de Ájax, o pai
A cada instante adentra e se vai
Na luta pelo bem mais verdadeiro,

Ousando em mar imenso o seu canteiro,
Aos poucos neste rumo ora se esvai
E quando a sorte mesmo amarga trai,
O sonho se desnuda por inteiro,

E Télamon um argonauta em lutas tantas
Aonde com certeza tu garantas
A maestria feita em rara luz,

Assim se encaminhando para a sorte
Que tanto com certeza ora o conforte
Cenário mais tranquilo se produz.


132

Palemon

Filho de Hefesto traz a habilidade
De repara diversas avarias,
E nisto se trazendo onde terias
De tal poder real necessidade,

A vida se transforma e quanto invade
As áreas mais diversas e sombrias,
Ao ter o firme apoio já verias
O quanto possa além da realidade,

Assim este argonauta, Palemon
Usando em perspicácia o raro dom,
Colaborando sempre com Jasão,

Da sorte mais airosa uma expressão
E ajuda no resgate em claro tom
Deste dourado e tétrico Tosão.

134


Poriclimeno

Trazendo em mimetismo o seu poder,
Transforma-se em diversa criatura
Marinha; o que deveras lhe assegura
O tanto desenhando onde faz ver

No todo mais audaz, podendo crer
No quanto cada instante configura
Metamorfoseando já procura
Com quem enfim lutasse o entorpecer.

Um dos argonautas, mas ao fim
Mesmo que em Poseidon, um protetor
Hércules vencendo-o traz enfim

A sorte mais atroz e nisto vejo,
O quanto se desenha em dissabor,
A luta em mais atroz, dorido ensejo...

135

Talau

Pai de Adastro, este rei que em Argos teve
O seu poder decerto em arte e guerra,
Enquanto um argonauta a sorte encerra
Num tempo logo após, o que o conteve

Na morte em seu diverso ritual,
Encontra o fim da história, sua saga
E o tempo se anuncia em dura plaga
Trazendo em sua frente Anfiarau.

Destarte a morte traça em triste ocaso
O quanto poderia ser diverso,
E quando para além, calado eu verso,
Apenas o que tente e não aprazo

Transcende ao que pudera imaginar,
E o fim se mostra rude a desenhar.

136

Tífis


Discípulo de Atena, pilotando
A nave aonde fora feito em glória
A sorte desenhada onde a vitória
Viria mesmo em tempo mais infando,

Durante a travessia, sendo morto
Não conseguira além o quanto quis,
E o tempo na verdade este infeliz
Negasse ao bom piloto o cais, o porto,

E de tal forma a vida se desenha
Em sorte variada e mesmo rude,
No quanto a força tanto nos ilude,
E gera a cada instante outra resenha,

Na luta o sacrifício se traduz,
Na treva, escuridão, no sol, na luz.


137

Anceu

Enquanto Tífis mesmo descansava
Anceu ao assumir rosa dos ventos
Traçando este caminho em seus momentos
Na sorte muitas vezes, dura e brava.

Uma alma que em tais mares navegava
Ousando nos temores, sofrimentos,
E tece nos mais nobres pensamentos
A vida feita em glória, em dor e em lava

Assim ao se mostrar realidade,
No quanto poderia e mesmo agrade
O tanto se transforma a cada instante,

Porém no privilégio de um combate
Aonde tão somente o fraco abate
O olhar se eleva além e se adiante.

138


Ergino

Após a morte amarga de quem antes
(Tífis) o timoneiro argonauta,
A vida se transforma e mesmo incauta
Expressa em tais momentos delirantes

Ergino, o substituto, lutara contra Tebas
E de Clímano o filho tantas vezes desejado,
Trazendo em suas mãos diverso fado,
Ousando nas diversas várias glebas,

Por Hércules vencido e sendo morto
Em guerra tão feroz, tebana senda
Destarte o seu caminho se desvenda,
A vida tendo ali o duro porto,

Vingando o próprio pai assassinado,
Ali o seu destino foi traçado...

139

Anfiarau

Um adivinho feito em luta e guerra,
Sabendo sua morte em Tebas, tenta
Do seu cunhado, aplacar tal tormenta,
Porém a história em si já tudo encerra,

E neste desvario, o que desterra
Marcando em tez dorida e assim sangrenta
A sorte muitas vezes desatenta
No caos se transformando sobre a Terra

Tragado por abismo ali aberto
Por Zeus, não tendo mais escapatória
Assim deste argonauta a dura história

E o tempo quando atroz tento e deserto,
Mas sei do sortilégio que este oráculo
Trouxera em mais terrível espetáculo.

140


Admeto

O rei que se fizera hospitaleiro,
Em Feras, na Tessália, seu reinado,
E nisto tendo o rumo desenhado
Dos argonautas nobre companheiro,

E o tempo se anuncia em verdadeiro
Cenário tantas vezes degradado,
E o quanto inutilmente mesmo brado,
Tentando a primavera em tal canteiro,

Assim a sorte molda o que viria
Casado com Alceste, sua prima,
O quanto a cada instante se redima

Da luta que deveras tão sombria
Na busca por tesouro sem igual,
De Jasão aliado até o final.

141

Teseu

Herói ateniense, vencedor
Da luta contra o duro Minotauro,
A cada instante tento e assim restauro
Aquele que se fez em tal valor,

Ousando neste templo, aonde Minos
Em Creta, labirintos, guerra e morte,
E tendo o que pudesse e mais conforte
Em Ariadne os prêmios cristalinos,

Diversas lutas; teve pela frente
E neste desenhar em dor e fausto
Em sortilégio e mesmo em holocausto
O tanto quanto possa e se apresente,

Tentando seqüestrar Jovem Helena
Este argonauta em vida audaz e plena.

A SAGA DOS ARGONAUTAS.


142

NA ILHA DE LEMNOS

Afrodite em irada sensação
Expulsara desta ilha então maridos
Daquelas que em atos presumidos
Tomaram a contrária direção,

A morte se espalhando pelo chão,
Os tempos noutros tempos envolvidos
E assim entre diversos ermos, lidos,
Um reino feminino desde então.

Guerreiras poderosas, em tal cena
O quanto se pudera e se envenena
Nas sortes muitas vezes mais atrozes,

Porém quando Argo chega e sua frota
A sorte se mudando enfim denota
Mais fortes, de argonautas, bravas vozes.

143


Ilha se Samotrácia

Seguindo o seu caminho além, no mar
Em Samotrácia trazem os mistérios
Dos Cambiros, que tendo os critérios
Ensinam como nunca naufragar,

Assim ao penetrarem no Helesponto,
Um mar bravio; vencem as procelas
Ousando muito além em suas velas,
O caminhar deveras segue e aponto

Um tempo onde se possa acreditar
Na força sem igual do navegar
Ao enfrentar diversos contratempos,

A vida se anuncia em novos tempos,
E o quanto se pudera muito além,
Aos poucos noutra face se detém...

144

Doliones

A embarcação que ancora em honrarias
E festas em Propôntida onde Cízico
Reinando em tal lugar paradisíaco
Trouxera com sobejas alegrias

E os doliones trazem no festejo
A sorte mais audaz que se pudera,
E assim ao conceber sem mais espera
Para Misia o barco quando o vejo,

Porém em tempestades açoitado
Voltando não serão reconhecidos
Em lutas tão sangrentas envolvidos
E Cízico num ato rude, assassinado,

Na lamentável guerra em duro engano
Dos deuses o temível, ledo plano.



145

Mísia

Em Mísia num cenário mais diverso
Hilas, o amigo de Hércules envolto
Por ninfa bela e rara, traz revolto
O coração e neste ponto imerso,

Enquanto noutro rumo já disperso,
O sentimento além seguindo solto,
O amor se demonstrando além e douto
Gerando o que pudesse em universo,

E tendo já perdido a direção,
Hércules abandona a expedição
Procurando o seu amigo mais fiel,

A vida sonegando melhor sorte,
Traduz deste somente a leda morte,
Em ato tão atroz, venal, cruel...

146

Também na busca insana Polifemo
Embrenha-se nas terras e procura
Sem ter sucesso algum, em amargura
Recolhe-se ao que resta e nisto temo,

O tempo se moldando; enquanto algemo
O sentimento em dose que perdura,
Marcando noutra face em tal brandura
Traçando o que pudera em novo extremo,

Estando ora envolvido em sorte tal,
Restando sobre Mísia onde fundara
E assim também além logo reinara

A Cio, uma cidade magistral,
Com menos três prossegue então a nau,
Na luta por seu mágico ideal.

147

Âmico, rei dos bébricios
Um gigante terrível dominando
Os bébricios; moldara em seus caminhos
Um hábito gerando tais daninhos
Cenários onde o mundo fora infando

Um mundo noutra face se moldando
Gerando invés de rosas, seus espinhos
E neste desenhar dias mesquinhos
A sorte noutro rumo desenhando,

Matando a soco em cada desafio
A quem chegasse às suas terras, Âmico
Trazendo a cada instante dor e pânico,

Porém em Pólux teve um fim sombrio,
E assim já derrotado, traz promessa
De ser hospitaleiro; e assim, professa.


148

Trácia

No reino onde Fineu, um rei cruel
Domina com vigor, um adivinho,
Que sendo castigado em tom daninho
Jamais voltara a ver; triste farnel,

Por harpias e monstros; perseguido
Ao encontrar enfim os argonautas,
Prometendo façanhas raras, lautas
Desde que seu problema, resolvido.

Calais e Zete, em asas atraíram
Para um banquete perversas criaturas,
E com espadas, lutas e torturas
Noutro caminho as levam, e retiram,

Ao ser agraciado o rei tão ledo
Das rochas flutuantes diz segredo.

149

Ciâneas

Rochedos azulados que deveras
Moviam-se esmagando quem passasse
E neste desenhar terrível face
Apresentando sortes duras, feras,

Usando no princípio uma ave leve
Enquanto este rochedo se fechara
Depois abrindo então se aproveitara
A nave penetrando o quanto em breve,

Porém leve avaria se fez ver,
Sem perda de qualquer dos tripulantes,
E das Ciâneas vejo por instantes
O quanto se pudera então vencer,

E ousados marinheiros no ato audaz
Deixando os vis rochedos para trás...

150

Mariandino

Nas terras mariandinas, argonautas
Tiveram duas baixas dolorosas,
E Tífis o piloto em desastrosas
Insânias, se perdendo, nas incautas

Loucuras de uma guerra em tom atroz,
Também Ídmon, que fora um adivinho,
Caçando um javali encontra o ninho
Da morte em dura face, amarga foz,

Porém ao prosseguir depois de tudo,
A embarcação do fim se aproximando,
E nisto entre vitória e passo infando
O mundo se anuncia audaz e mudo,

E assim se aproximando do final
A saga traça em dor, a glória e o sal.

151

Cólquida

Chegando, finalmente ao seu destino,
Ainda se veriam provações
Feitiços entre tantas direções
E nisto mais tormento e desatino,

E quando a cada instante eu me fascino
E vejo a raridade em emoções
Nos ermos que deveras tu me expões
O fato mais audaz, duro e ladino,

Jasão inda haveria de enfrentar
Diversa tempestade para poder
Traçar o seu caminho e com prazer

Vencer o que se fora desenhar
E assim no retomar do seu reinado,
A vida se mostrando um duro fado.

152

Medéia

De Eetes o rei de Cólquida Medéia
A filha feiticeira se enamora
E com Jasão deveras não demora
E nisto se adentrando em panacéia,

Gerando o que pudesse e assim sabendo
Da história deste infausto lutador,
Nos ermos mais sublimes de um amor,
Permite que o cenário se revendo

Levando o talismã já prometido,
Trazendo o Velocino para o rei,
Retoma o seu caminho e bem o sei,
Agora noutro rumo faz sentido,

Entrega a Poseidon a embarcação
Em agradecimento, enfim Jasão.




153

Ctónicos

Os deuses do submundo, em duras trevas
Telúricos, deveras noutra face
Enquanto que no Olimpo se mostrasse
Sublimes criadores. Almas sevas.

Em Hades, mesmo sendo um deus supremo
Percebia-se deveras o poder
E nele todo o traço a se fazer
Num turvo caminhar além no extremo,

E tendo esta diversa face, apenas
Reinando sobre a morte, dor e medo
Ao quanto poderia e me concedo
E noutro instante mesmo já condenas

A vida se mostrando em Céu e Inferno,
O tempo se anuncia atroz ou terno.

154

Hades

O deus que em seus domínios mostraria
A tétrica presença mais profunda
E nisto a face atroz e nauseabunda
Da vida em mais atroz, rude agonia,

Quando ao raptar Perséfone a fez
Rainha deste imenso caminhar
No subsolo sem ver a luz solar,
A sorte se propaga, insensatez.

Dos mortos, comandando o turvo mundo,
Simbolizando o fim, inevitável,
E neste ser venal, desagradável,
O tempo noutro rumo; em dor, me inundo

E assim se vislumbrando o fim comum,
Fugir deste destino? Não há um...

155

Géia

Deusa da Terra, Géia traz em si
Após o Caos original, a história além
O Amor, Tártaro, Nix, Érbero vêm
Traçando o quanto em todo conheci.

Gerando Urano e dele, o companheiro
E deste casamento tantos filhos
Ousando muito além em vastos trilhos
Florindo a cada dia este canteiro,

Titãs, Ciclopes tantas criaturas
Hecantôquiros, gigantes, mas deveras
Ao ver estas figuras duras feras,
Urano os retorna as mais escuras

Searas uterinas, Géia então,
Com Cronos traz atroz rebelião.

E Urano em queda, perde a direção...

156

Réia ou Cibelle

Uma Titã de Urano e Géia, filha
Irmã de Cronos dele se esposara
E a vida se tornando audaz e amara,
Gerando a cada instante a dura trilha,

A cada nascimento de algum deus,
Temendo a derrocada, Cronos trama
Num apagar de toda sorte em chama
Devora seus rebentos num adeus.

Até que quando Zeus se fez presente,
A deusa que enganosa em pedra traz
E nisto Cronos sendo tão voraz
Nem mesmo a diferença imensa sente.

E quando Zeus cresceu toma-o poder
E aos seus irmãos trazendo o renascer.

157

Deméter

Filha de Cronos e de Réia teve
Com Zeus o seu irmão, aquela que
Ao lado de deus Hades já se vê
E nisto se mostrara o que conteve

Perséfone, tal filha que reinava
Nos ermos mais profundos desta Terra
E quando na verdade ali se encerra
A sorte mais atroz em medo e lava.

Deméter tendo em mãos o nobre trigo
Das terras cultivadas e colheitas
As sendas de tal forma sendo aceitas
E nelas o que possa em raro abrigo,

A deusa poderosa em tal fartura,
A vida para os homens assegura.



158


Hespérides

Deusas primaveris trazendo em vida
A sorte que pudesse em claridade,
Gerando o quanto existe em liberdade
A vida a cada instante bem provida

Da luz e deste tom a concebida
Imagem que deveras firme brade,
E traz a quem colher; felicidade,
E desta magnitude percebida.

Hespérides traçando a cada instante
O quanto a própria sorte já garante
Mudando a direção do que se fez

Há tanto sem proveito em ledo rumo,
E quando me imagino acerto prumo
Deixando no passado a insensatez.

159


Casa de Atreu e Ciclo Tebano


Após tal epopéia onde Jasão
Trouxera heroicamente o de ouro velo,
Momento mais atroz ora revelo,
Num tempo sem sequer ter direção,

E neste desenhar o quanto é vão
Destino que em tormentas traz e selo,
O tanto quanto possa e não me atrelo,
Espero dias claros que virão.

Atreu que de Micenas fora rei,
Em crimes tão terríveis se imiscui
E a sorte de tal forma se polui

E nisto o que deveras inda sei
Atormentando em duras, rudes pestes
Ao aliar-se enfim, pois com Tiestes.

160

Tiestes

Tiestes com Atreu, o seu irmão
Crisipo, assassinando em tom atroz
Um meio-irmão decerto em mansa voz,
Gerando a mais diversa sensação

Assim ao se esconderem em Micenas
No reino de Euristeu, que noutro instante
Deixando-os soberanos quando avante
Lutando nas batalhas duras, plenas.

Porém quando morrera numa delas,
Os dois que do poder se apoderaram
E nisto outros tormentos, pois geraram,

Na luta pelo trono entre os irmãos
Os dias mais atrozes, duros vãos,
Em fome, guerra e mortes; já revelas.

161

Ciclo Tebano

Cadmo

Um filho de Agenor e irmão de Europa
Que ao ser, pois seqüestrada por deus Zeus
Em dias mais atrozes, duros breus,
O tempo noutro rumo dita a tropa

No périplo fundando outras cidades,
Cadmo entre vagos, vãos instantes
E nisto nos caminhos discrepantes
Cenários onde tanto além evades,

Na Fenícia, Cilícia e na Grécia,
Fênix, Cilis e Cadmo noutro rumo,
Traçando o mais diverso e vário prumo
A cada novo passo, peripécia.

E Cadmo, desistindo da procura,
A fundação de Tebas; assegura.

162



HELENA

Filha de Zeus e Leda, a magistral
Irmã de Clitemnestra de Micenas
E de Castor e Pólux, noites amenas
Ao lado do marido, Menelau.

Porém, Páris, troiano enamorado
Seqüestra-a e deveras propicia
A guerra numa insânia em agonia,
Num tempo mais atroz e desolado,

Assim ao se mostrar em tais momentos
A fúria se espalhando sobre a Terra
Até que após dez anos já se encerra
E nisto se aproximam os alentos,

Porém Polixo mostra em falsidade
Matando-a atocaiada e a sorte evade.


163

PÁRIS

De Príamo deveras rei de Tróia
Ainda adolescente se abordara
Por Afrodite Atena e Hera em rara
Em soberana escolha; qual a jóia

Mais bela que haveria além no Olimpo
E quando em Afrodite a garantia
De ter dentre as mulheres primazia
Da mais bela traçando em prato limpo

O quanto se desenha e desde então,
Ousando em seqüestrar sublime Helena,
E nisto em guerra atroz, tanto condena
Os povos na feroz rebelião,

Com Helena tivera quatro filhos,
Até que a morte muda os velhos trilhos...

164

MENELAU

Irmão de Agamenon tivera a sorte
Ao ser dentre diversos escolhido
E assim no seu caminho divido
Com Helena a mulher que em raro aporte

Trazia esta beleza incomparável,
E ali se houvera luz e perdição,
Em Páris desenhando a tentação
Num ato mais feroz e deplorável,

Seqüestro que gerando logo após
A guerra tão terrível que em dez anos
Marcando com mortalhas, desenganos
Regendo o que pudesse mais atroz,

Depois de tantos anos, tem de volta
Aquela que causara tal revolta.

165

ODISSEU

O rei que convocado para a guerra,
Um guerreiro exemplar, astucioso
No porte mais audaz e majestoso
Soberania imensa em si encerra,

Usando de total sabedoria
Depois de longos anos de batalha,
Ousando num cavalo, assim detalha
A sorte noutro porte se veria.

Troianos se julgando vencedores,
Ao adentrarem além das fortalezas,
Tornando-se deveras frágeis presas
Na mortandade imensa, tantas dores.

Porém dez anos mais em dura senda
Na Ilíada o temor já se desvenda...

166

ATLAS


Titã filho de Géia com Urano,
Da Atlântida o primeiro rei que houvera
E quando se desenha noutra esfera
Das Plêiades o pai, sem mais engano,

De força incomparável, violento,
Atacando o Olimpo e contra Zeus
A sorte se desenha em turvos breus
E neste caminhar o sofrimento

Gerado por derrota e por vingança
Assim se condenando a suportar
A Terra em suas costas, num vagar
Sem ter sequer a paz, que não alcança

Titânica mortalha assim tecida,
Marcando eternamente a dura vida.

167


Menoécio

Titã

Um dos filhos de Jápeto este Titã
Que em Clímene tivera a companheira
Na sorte tantas vezes corriqueira
Ou mesmo noutra face dura e vã.

E sendo pai de Pátroclo; em violência
Trazendo sua faca mais mordaz
E quando outro caminho a sorte traz
Da dor imensa passa a ter ciência,

Ousando da vanglória, traça em dor
Cenários discordantes, rudes quando
O tempo noutro passo demonstrando
A fúria sem sentido, num rancor,

Destarte se perdendo no final,
O tempo se mostrando desigual.

168


Prometeu

Filho de Jápeto trazendo atroz
Caminho, aonde poderia ver além
Ao defender a humanidade em raro bem,
Deixando Zeus deveras mais feroz,

Roubando o fogo sem ouvir a voz
Do quanto em coerência a vida tem,
E neste desenhar, raro desdém,
Em tal terror o todo logo após.

E preso num penedo eternamente,
A cada novo dia se apresente
Abutre a devorar algum pedaço

Do fígado, em correntes preso está
E nada nem o fim; libertará
Marcando com angústia passo a passo...

169


Belerofonte

Heróica criatura que no Corinto
E em Lídia se fizera quase um deus,
E nisto se mostrando em apogeus
O quanto na verdade em versos pinto,

Filho de Poseidon e adotado
Por Glauco que deveras sendo filho
De Sísifo e de Pégaso com brilho
Senhor tendo o cavalo dominado.

Matando em acidente seu irmão,
Belerofonte é posto em duro exílio
Injustamente no seu novo domicílio
Fora acusado então de traição,

Porém vencendo além dura Quimera,
Entre tantos percalços, sorte impera...

E quando perde Pégaso enlouquece
E o mundo se transforma em rude messe...

170

Édipo


Filho de Laio e de Jocasta traz
A sorte desairosa que em oráculo
Há tanto se previra em vão tentáculo
Num ato mais insano e tão mordaz.

A maldição ditada para Laio
De que seu filho um dia o mataria,
E nesta luta atroz em agonia,
O tempo noutro tempo; a sorte eu traio,

Abandonado e preso pelos pés
Em pregos, na esperança que a rapina
Levasse para sempre a dura, sina,
A vida se prevendo de viés,

Até que num momento mata o pai,
E com a mãe as núpcias; pois contrai.



171

Édipo 2

Após o casamento com Jocasta
De Antígona, de Ismênia, o pai e irmão
Marcando com terror a imensidão
Da vida que deveras já se afasta

Do senso onde pudera perceber
O quanto a vida possa em novo engodo
Traçar a cada dia o velho lodo,
E nisto pouco a pouco a se perder,

Ao descobrir a história verdadeira
Da mãe que desposara por acaso,
O mundo num cenário em puro ocaso
Marcando a sorte amarga e derradeira

Jocasta se matando, Édipo em cega
Loucura sem caminho ao vão se entrega.

172

Édipo e a Esfinge.

A Esfinge esta terrível criatura
A quem passasse perto e não soubesse
Decifrar seu enigma em dura messe
Matando e devorando se assegura

Um trágico momento que perdura,
E neste caminhar a vida esquece
E o tempo noutro rumo ora se tece,
Trazendo tão somente uma amargura.

Porém Édipo desfaz este segredo
E quando decifrando o tal enredo
Dominando esta Esfinge já a derrota

E o monstro silencia eternamente,
O tanto que pudera se apresente
Na sorte mais audaz, e mais remota...

173

Enéias

Na guerra contra os gregos um troiano
Supera em maestria outros guerreiros
E mostra em seus caminhos verdadeiros
Cenários onde reina sem engano,

Filho de Afrodite em raro plano,
Traçado pelos deuses traz inteiros
Os dias entre fogos corriqueiros
E nisto noutro passo é soberano,

Vagando até chegar Itália, bela
E ali ao dominar Lácio, Latino
O rei, tocando então pelo destino,

Enquanto o seu caminho ali se atrela
Rômulo e Remo herdeiros deste que
A história traça o quanto ora se vê.

174

Heitor

Um príncipe troiano e comparável
À Aquiles, sem deveras ter igual
Nas hordas de seu povo, magistral
E nisto um grande herói, já demonstrável,

Devastações causadas entre os gregos
Traçando em venturosa senda quando
O tempo noutro rumo desvendando
A vida sem sequer saber de apegos,

E tendo em seu caminho esta ventura
Do lutador decerto em rara audácia
E sem apresentar sequer falácia
Heróica face mesmo configura,

Heitor, ao se mostrar feito em coragem,
Tornando tão sanguínea a paisagem...

175


Herófila

De Marpesso se vendo esta sibila
Filha da ninfa Idea e Teodoro
Caminho aonde eu sei e assim decoro
Adivinhando a guerra onde desfila

A sorte desta Helena tão sublime,
E neste vão cenário em morte e sombra,
O quanto da palavra tanto assombra
E nisto o que pudesse ora se estime,

Herófila em rara profecia
Gerando qual oráculo o desfile
Dos rumos onde a sorte já perfile
E marque com ardor o que viria,

Em Delfos conservada em ar audaz
A sorte se transforma e volta, e traz...

176


Peleiades

Mulheres consagradas do deus Zeus
E de Dione a deusa mãe superna,
Enquanto a cada instante assim se externa
A vida sem saber de algum adeus,

Sibilas com poder de adivinhar
O quanto ainda houvera e já viria,
E assim as pombas traçam poesia
E neste raro instante a emoldurar

Sobeja maravilha aonde possa,
Desvendar o futuro num instante,
E o quanto deste passo se garante
Ao superar a dor, o medo e a fossa,

E em tom diverso a vida se compensa
Na sorte sem igual, enorme, imensa...

177

Dione

Deusa das ninfas, filha que de Urano
Em sêmen sobre o mar caindo um dia
A Tássala fecunda e em tal magia
O mundo se mostrando em novo plano,

E Zeus quando se viu enamorado
E nisto noutro passo se permite
Gerando a deusa bela, esta Afrodite
Caminho noutro rumo já traçado,

De Tântalo uma amante em um momento
Trazendo à vida Pélope, porém
Ao descobrir que o pai matara-a, vem
E nisto se transforma em desalento,

A deusa que brilhante e luminosa
Espalha a sua sorte majestosa.

178

Pitonisa

Esta sacerdotisa que no templo
De Apolo em profecias declinava
E nisto cada passo que mostrava
Ainda que distante hoje; contemplo.

Do oráculo de Delfos, a sibila
Que dita o quanto venha no futuro,
Embora seja claro ou mesmo escuro
Cenário tão perfeito ora desfila,

E assim durante séculos seguidos
Os dias entre tantos; preconiza
Oráculo que em tal sacerdotisa
Expressa estes caminhos presumidos.

E de tal sorte a vida se desenha,
Vidência se moldando em signo e senha.

179


Sibila de Cumas

Filha de Teodoro co’ uma ninfa
Tida como a mais suprema entre as sibilas
E quando uma verdade ora desfilas
A sorte se desenha paraninfa,

E tendo este segredo em suas mãos,
Trazendo sempre à tona uma verdade,
Poder que ultrapassando a humanidade
Expressa o mundo em sonhos, mesmo vãos,

Em mil anos, passando em vida além
Presume-se vital sabedoria
Guiara Enéias quando este viria
Buscar o próprio pai no Hades e tem

Poderes mais supernos e adivinha
O quanto poderia e mesmo vinha.


180

Centauromaquia tessaliana


A guerra entre os Lápitas, que outrora
Habitando Tessália num momento
Aonde se pudera enfrentamento
Com os centauros, trama e apavora

O mundo se transforma e sem ter hora
Apenas o cenário aonde eu tento
Rever o mais atroz vil sofrimento
No todo onde o caminho desancora,

Pois quando no himeneu do seu irmão
O rei que de Tessália, se mostrasse,
E num embriagar em dura face
Tentaram violentar a noiva então,

E assim já derrotados sendo expulsos
Os tempos se mostrando assim, convulsos.



181

Centauros

Num misto de cavalos com humanos,
Centauros demonstravam nestas formas
O quanto sem sentido fossem normas
Dos deuses neste Olimpo, os soberanos,

E quando se anunciam desenganos
Ou mesmo noutra face já conformas
E assim em desvario tanto informas
Erguendo para além diversos danos,

Irmãos de Píritoo que além reinava
Em Tessália; porém diversa face,
Enquanto cada cena se mostrasse

A vida em tal cenário, dura lava,
Os filhos de Ixião em tez bravia,
Na luta que deveras se desfia.

182

OS DOZE TRABALHOS DE HÉRCULES

Leão de Neméia


Quando em Peloponeso, atroz leão
Tomando já de assalto toda a senda
Na fúria sem igual, além desvenda
O quanto pôde em rara dimensão,

A fera de Neméia em tom atroz
Gerando tanto pânico entre todos,
E após algum instante, mesmo engodos,
Estrangulando-o; cala a sua voz,

E arrancando o pêlo do felino,
Arcando com searas do destino,
Da criatura vê-se além no céu,

A constelar imagem desde então
Nesta constelação, a de Leão
O término de um tempo mais cruel.

183


Hidra de Lerna

A monstruosa serpe que deveras
Apresentando corpo de dragão
Nove cabeças; mostra e sendo em vão
O decepar das cérvices tão feras,

Ao exalar odor nefasto e atroz,
Matando quem ousasse num instante
Traçando noutro passo o que adiante
Marcando com terror, imenso algoz,

Cabeça decepada renascendo
E nisto outro momento se perfila
E o quanto na verdade não vacila
Gerando sem pudor momento horrendo,

Porém Iolau em brasa impede a sorte,
Cauterizando até que venha a morte.

184

No instante em que matara a fera rude
Hera se irritando de tal forma
Envia um caranguejo que se forma
E nisto outro cenário já transmude,

Finalizando assim o seu trabalho,
Segundo dentre os doze, vejo então,
Hercúleo herói matando em precisão,
Crustáceo onde além cada retalho

Se unindo em pleno céu, formando em sorte
Constelação aonde se traduz
O quanto se moldando em farta luz
Tramando ao navegante assim um norte,

E quando neste instante agora eu vejo
A constelar imagem: caranguejo.

185

Terceiro trabalho

A Corça de Cerínia


A corça que deveras não cansava
Correndo em veloz passo rumo ao nada,
E tendo esta galhada, onde dourada
E os pés em bronze puro e sem ter trava

A ninfa transformada quando em fuga
Por Ártemis, enquanto a quis, pois Zeus,
O mundo anunciando sem adeus
O tempo noutro instante a sorte enruga,

Depois de um ano em caça sem descanso,
Consegue finalmente aprisioná-la
E sem feri-la além se desenhava
O quanto poderia e assim alcanço,

À liberdade após ter Euristeu
Olhado para o quanto ali se deu.

186

Quarto Trabalho

Javali de Erimanto

A fera que deveras devastava
As regiões em volta, finalmente
Após tanta caçada, se apresente
Nas mãos do raro herói onde se trava

A luta mais feroz, e quando brava
A sorte se moldando imensamente
No quanto a própria senda já atormente
E assim em tanta fúria, imensa lava.

Euristeu ao ver o javali
Esconde-se deveras e dali
Arrancando-lhe as presas este herói

Levando como fosse algum troféu
No templo aonde Apolo traz seu véu
E a fera num instante se destrói.

187

Quinto trabalho


Limpar os currais do Rei Aúgias.



Durante trinta longos, duros anos,
Três mil bois num curral jamais tocado,
E assim um gás terrível degradado
Matando quem tentasse novos planos,

E assim do Rei Aúgias, seus currais
Demonstrando este incrível ar sombrio,
E tendo como enorme desafio
O herói se desejando muito mais,

Desviando então rios sobre a cena
E quando o que se vê traduz limpeza,
Num dia tão somente esta certeza
Da face mais suave e até serena,

Cumprindo nova etapa, o tempo traz
A sorte que se mostra mais audaz.

188



Sexto Trabalho


Matar os monstros alados do Lago Estínfalo

Os monstros que de férrea forma vêm
Tomando já de assalto inteiro o lago,
E neste caminhar quando divago
Percebo a vida amarga em tal desdém,

Em asas não deixando nada além
Da turva escuridão em tanto estrago,
Porém envenenada seta em mago
Momento Hércules dita o raro bem,

E assim espanta os monstros que restassem
E nisto outros momentos se sabendo
Aonde fora outrora mais horrendo
Agora sem sequer outros que tracem,

Cumprindo nova etapa, heróico feito,
Ousando noutro instante novo pleito.

189



Sétimo Trabalho

Levar vivo o Touro de Creta a Euristeu.

Um touro que decerto em fúria plena,
Cedido em sacrifício para Minos
Por Poseidon, mas vendo em tais destinos
Beleza incomparável, rara cena.

Enquanto em tal loucura se condena,
Os dias em completos desatinos,
Os tempos mais diversos e divinos,
A luta a cada instante se envenena.

Mas Hércules levando sobre os ombros
O Touro, penetrando por escombros
O traz para Euristeu, depois para Hera

E assim já terminando outro trabalho,
O quanto poderia e além espalho
Que esta incomensurável força gera.



190

Oitavo trabalho

Castigar Diomedes, Rei da Trácia

Diomedes tinha em mãos, cavalos rudes
Que em fogo e fumo mostrem virulência
E nesta mais atroz incoerência
Em rústicas mortalhas e atitudes,

Enquanto num naufrágio desiludes,
Ao encontra a costa onde em ciência
Pudera ter a paz, sobrevivência
Apenas em banquetes já transmudes

Na face mais cruel de cada eqüino,
O tempo se marcando em vão destino,
Até que num momento aonde enredes

Hercúleo herói vencendo Diomedes
Entrega-o decerto em sacrifício
Às feras que assim cumprem seu ofício.

191

Nono trabalho

Vencer as Amazonas apossando-se do Cinturão de Hipólita

As Amazonas sendo estas guerreiras
E delas um poder em raro tom,
Marcando com vigor, o mago dom
Aonde este cenário tu não queiras,

Hipólita, a rainha e o Cinturão
Que simbolizaria tal poder,
Até que num instante possa ver
A sorte noutro rumo e direção,

Vencidas pelo herói as Amazonas
E neste raro fausto se cumprindo
O quanto se deseja neste infindo
Palco aonde a sorte agora adonas,

E assim mais uma etapa se completa
Na força mais audaz, rara e dileta.

192

Décimo trabalho

Matar Gerion e levar os seus bois

Um monstro de três corpos e seis braços
Além das asas; seis, ao ser exato,
E neste desenhar o que constato
Moldando com ardor diversos traços,

E após esta batalha tão sangrenta
A morte se anuncia ao tal gigante,
Porém ao se sentir no mesmo instante
A fúria que deveras atormenta,

Guardados por bicéfalo canino
Além deste dragão em sete faces,
Ousando muito além destes impasses
O herói deveras traz em cristalino

Momento o que pudesse desvendar,
E vencedor se mostra em tal lugar.


193

Undécimo Trabalho

Trazer o Cão Cérbero do mundo dos mortos.

Quando Hades descobriu o seu intento
O permitiu levar à Terra o Cão
Desde que sem armas, só na mão
Vencesse com firmeza tal tormento,

E assim hercúlea força num alento
Trazendo a mais completa dimensão,
Mostrando com real satisfação,
E nisto se expressando enquanto atento,

Ao ver Cérbero então, já dominado
Eristeu se mostrando apavorado
Determinando a volta para além

Em Hades deposita sem feri-lo
E mostra com denodo em raro estilo,
O quanto na verdade assim convém.

194

Duodécimo trabalho

Colher os pomos de ouro do jardim das Hespérides, matando o dragão que os protegia.

Derradeira tarefa aonde o herói
Tramasse em árduo fardo o seu caminho,
E neste tempo vejo e me avizinho
Do quanto tal poder, trama e constrói.

Sabendo do dragão com cem cabeças
Atlas o vencera a seu pedido
De Hespérides traz resolvido
O todo quando além decerto teças.

Ao sustentar a Terra em suas costas
Por um momento em força já titânica
Vencendo o quanto pode da tirânica
Versão aonde em forças ora postas

Permite liberando Atlas da saga
Que o mesmo então matasse a horrenda praga.


195


TITANOMAQUIA


Cronos, revoltando-se com Zeus
Seu filho e ao mesmo tempo quem tomando
O seu poder destrona-o desde quando
O mundo se prepara em novo deus,

A partir do momento quando Urano
Devorava seus filhos, mas o acaso
Fazendo com que Cronos noutro prazo
Vencesse com furor pai soberano

Castrando-o neste instante, e ao assumir
Inteiro este universo em suas mãos,
Reinando sobre terras, mares, chãos
E nisto dominando algum porvir,

Mas quando se repete a mesma história
Com Zeus; Cronos em senda merencória...