quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Desalento

Quando o meu pensamento se transporta
A’s praias de além-mar,
Sinto no peito uma tristeza imensa
Que manda-me chorar.

É que vejo morrerem, uma a uma,
Santas aspirações,
E voarem com os pássaros saudosos
As minhas ilusões...

Nunca julguei que a terra fosse um túmulo
De sonhos juvenis,
Sorrindo acreditei que aqui, no mundo,
Podia ser feliz...

Enganei-me: - a tristeza, que me oprime
O coração sem luz...
Como o Sol o derradeiro raio
Nos braços de uma cruz...

A trêmula saudade que entristece
E faz desfalecer;
Essa agonia lenta que me inspira
Desejos de morrer... –

Tudo me diz que a vida é o desengano,
A morte da Ilusão,
E o mundo um grande manto de tristezas
Que enluta o coração.
- Auta de Souza [Jardim, 1893], in “Horto”, 1900.

Meu mundo desabando a cada engodo
presume o que teria se assim fora
a vida mais audaz e sonhadora,
porém restando apenas sombra e lodo.

em cada instante sinto que no todo
a sombra tão brumosa e tentadora
fascina e me dardeja, encantadora,
até que sem saída ao fim me explodo

e gero entre meus erros, o maior,
caminho que percorro e sei de cor,
a imagem tantas vezes repetida.

reflito e sem temor algum repito,
Foi ter nalgum momento o dom aflito
que trago e me corrói. A PRÓPRIA VIDA...

Marcos Loures.

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