Livre
Livre! Ser livre da matéria escrava,
arrancar os grilhões que nos flagelam
e livre penetrar nos Dons que selam
a alma e lhe emprestam toda a etérea lava.
Livre da humana, da terrestre bava
dos corações daninhos que regelam,
quando os nossos sentidos se rebelam
contra a Infâmia bifronte que deprava.
Livre! bem livre para andar mais puro,
mais junto à Natureza e mais seguro
do seu Amor, de todas as justiças.
Livre! para sentir a Natureza,
para gozar, na universal Grandeza,
Fecundas e arcangélicas preguiças.
- Cruz e Sousa, do livro Últimos Sonetos, 1905.
Romper com os grilhões da hipocrisia,
algema que nos ata, humanidade,
o passo quando enfim da grade evade
encontra a paz que tanto almejaria,
do néctar soberano e da ambrosia
fartar-se e com certeza em liberdade
vivenciar a imensa claridade
da etérea noite imersa em tal magia,
não ser sequer machado, faca ou sândalo,
fugir da sociedade e deste vândalo
grilhão atado ao cérebro burguês
beijar na boca podre do leproso
e crer neste momento em raro gozo,
Naquele que proclamas e não crês...
Marcos Loures.
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