domingo, 20 de dezembro de 2015

Mal Secreto

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Raimundo Correia.


Quantas vezes pareço-te tranquilo
suave como um remanso em calmaria,
sorriso que estampando uma alegria
reluz na falsa ideia que desfilo,

a fúria que em minha alma ora destilo
nesta aguardente tosca que traria
a náusea a quem dela beberia
renega a mansidão que agora instilo.

sou pútrido e percebo disfarçando,
apenas como e sendo o justo quando
olhando meu espelho vejo essa alma

há tanto envilecida pelas dores,
perfumo e mal oculto meus odores,
ao menos tal disfarce ainda acalma...

Marcos Loures.

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