quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

O AMOR

Vladimir Vladimirovitch Mayakovsky (1923)


Um dia, quem sabe,
Ela que também gostava de bichos,
apareça numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela, que por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo século ultrapassará o exame de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então, de todo amor não terminado
seremos pagos em enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo cotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravos de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o universo;
a mãe,
pelo menos a terra.

não consegui encontrar quem fez a versão.

quem sabe um dia, numa rara sintonia
tenhamos mais que zoos ou cidades,
e nelas as sublimes variedades
de cães humanos, vã soberania...

e possamos sentir que o quanto havia
perdido nos espaços que ora invades
expressa o que em verdade tu degrades
gerando a fome, a sede a hipocrisia...

quem sabe poderemos neste instante
ter a noção real do quanto é vida,
e toda humanidade em luz unida,

cerzindo a clara teia irradiante,
aonde herdeiros dessa tal riqueza
possamos desfrutar da mesma mesa...

Marcos Loures.

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