domingo, 20 de dezembro de 2015

O Que Diz A Morte

Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...

Em mim, os Sofrimentos que não saram,
Paixão, Dúvida e Mal, se desvanecem.
As torrentes da Dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem. -

Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das cousas invisíveis, muda e fria,

É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.

ANTERO DE QUENTAL

A morte, sorridente companheira,
num brinde onde se vê tal comilança
ao nada que me trouxe ora me lança
e traz esta rotina rapineira.

vagando qual cometa, a verdadeira
palavra penetrando feito lança
deixando sem valia uma balança
espera a farsa tosca e carpideira.

a terra devorando o quanto resta,
percebe no final o que ora empresta
ao vil e sem proveito ser inerme,

ao menos um banquete se prevendo
na vida pouco a pouco corroendo
no Deus que me ensinaste, o Sacro Verme...

Marcos Loures.

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