Noturno (Antero de Quental)
Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...
Como um canto longínquo - triste e lento-
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!
ANTERO DE QUENTAL...
Imerso em noite imensa, vai brumosa
uma alma de quem tenta e em vão batalha,
o vento uivando a nuvem que se espalha
tornando a lua plena, melindrosa,
espinhos aflorando em cada rosa
o passo audaz e trôpego então falha
e resta a imensidão, sobeja malha
criada pela noite majestosa.
somente a solidão entende a voz
de quem se fez calado e, sei, feroz,
brindando com a luz bruxuleante,
o mocho que procura sua caça,
a vida turbilhões, silente passa
restando prosseguir, seguir adiante...
Marcos Loures.
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