terça-feira, 1 de junho de 2010

34851 até 34900

34851


Brancas nuvens em brancos corpos nus
As ânsias matinais se buscando
Sob o azulejo intenso em céu mais brando
O mundo em tão intenso gozo, em jus.
O barco neste mar imenso eu pus
E quando mais me via navegando
Do porto mais longínquo me afastando
Ao largo dos morteiros e de obus.
O tempo em redenção sem barricadas
Delírios entre fontes, nas estradas
Chegando ao mais completo dos caminhos,
Cenário em perfeição para a batalha
Aonde nada ataca nem retalha
Cevando estes licores, raros vinhos.

34852

Numa atitude intensa entrega e gozo,
O todo se transforma plenamente
E a cada novo instante mais se sente
Diverso caminhar maravilhoso,
Assim nesse cenário majestoso
Em tréguas léguas ando calmamente
E quando uma explosão já se apresente
Instante sem igual e prazeroso.
Nos ermos de dois corpos enlaçados
Nas ânsias mais perfeitas dos pecados
Entrincheiradas noites delicadas,
As mãos se procurando na nudez
Aonde esta batalha em paz se fez
Adentrando suaves barricadas.

34853

Nossos corpos selvagem sedução
Numa ânsia delicada e tão bravia,
Vontade desfilando desafia
Momentos delicados de verão,
E assim ao perceber quando virão
Na entrega desta noite mais vadia
O gozo incomparável não se adia,
Instantes de fantástica explosão,
E quando nossos corpos guerrilheiros
Entranham nos caminhos corriqueiros
Divinos vilarejos, portos, cais,
Um campesino sonho lavra a terra
E o todo neste farto já se encerra
Apascentando intensos vendavais.


34854

Saltando desde o fundo deste solo
Sementes eclodindo em novas vidas,
E quando se pensaram já perdidas
Num átimo o delírio adentro e assolo,
Deitado mansamente no teu colo
As ânsias e vontades divididas
Sem hora de chegadas nem partidas
Inusitadamente assim decolo,
E parto para além deste horizonte
Das nuvens onde o sonho enfim aponte
Gestando dentro em nós esta esperança
Sem fúria, sem pudor temor ou pejo
O todo neste instante em paz prevejo,
E a vida desta forma nos alcança.

34855

Fluindo dos meus olhos novos cantos
E deles os mais belos pensamentos,
Deixando quase ao lado os meus tormentos
Tomados por delícias, por encantos,
Sem ter sequer a sombra dos quebrantos,
Entregue à profusão de fortes ventos,
Além do que pudessem sentimentos
Sem medos nem torpores nem espantos
Vibrando com ternura em guerra e paz.
Do quanto na verdade sou capaz
Ou mesmo poderia se quisesses
Gerando neste instante quase ateu
Um mundo sem limites, teu e meu
Os mais sublimes sonhos, raras preces...


34856

Uma invasão adentra a madrugada
Ultrapassando assim esta trincheira
Desnuda em minha cama a guerrilheira
A fome sendo aos poucos saciada,
O quanto desejara cada estada
E nela esta vontade já se inteira
Entrega tantas vezes costumeira
Na fonte descoberta e delicada.
Resumo de loucura onde porfia
E vence na verdade, dia a dia,
Grassando sobre a cama, nos lençóis
A lua se prateia em lua mansa
E quando nosso leito enfim alcança
Encontra ali desnudos claros sóis.

34857

Sobremaneira vejo esta batalha
Em dedicadas ânsias, lutas, sonho...
E quanto mais desejo e te proponho
A fonte dessedenta e nunca falha,
Beleza sem igual a noite espalha
Num átimo em momento mais risonho
O todo se traduz quando componho
Um fogaréu invade e toma a palha,
Fuzis, delírios, armas, ânsias, gozos,
Cenários desta forma prazerosos
Em meio aos mais diversos caminhares.
Nas tréguas sem defesas invadindo
Aos poucos a trincheira possuindo
Gerando nos quartéis raros altares.

34858

Qual fosse uma artimanha, uma armadilha
As táticas sutis, vontades fartas
Enquanto neste jogo ditas cartas
Adentrando macia, esta guerrilha,
Meu corpo sobre o teu quer busca e trilha
Até que saciada tu me apartas,
Depois no alvorecer de novo partas
Mal surge o sol que ao longe reina e brilha.
Na corriqueira noite em ânsias feita
Comandas e dominas, satisfeita
Soldado extasiado eu te obedeço
E sinto novo anseio me tomando,
E quando isto eu percebo, delirando
Delicado cenário em sonho eu teço.

34859

Vingando-te das ânsias incompletas
Durante tantos anos, vens e toma
Enquanto na verdade a fera doma
As lutas entre tantas prediletas,
No todo em que deveras te completas
Deixando-me em torpor, num leve coma,
Assim ao se fazer intensa soma
Atingimos e juntos nossas metas.
De tanto labutarmos pela vida
Campônios de outro solo mais agreste
A cada nova luta tu vieste
Sem medo, sem pudor e decidida
Vencendo qualquer forma de defesa,
Encurralando em gozos tua presa.


34860

Em mel e sangue, luta mais bravia
Deitando sobre mim, imobilizas
Tocando nossos corpos, doces brisas
Enquanto neste instante se porfia,
Das invasões diversas desafia
E em minha pele nua te matizas
Vontades saciadas e precisas,
De todos os delírios se apropria
Este delírio em forma de batalha,
Guerrilha em loucas ânsias já se espalha
E atocaiado e entregue, me dominas
No leite em explosão, êxtases, rios
Completos e insensatos desvarios
Rocios eclodindo em raras minas.


34861

Os olhos ausentes, horizonte além,
O tanto que desejo, e bem a quero,
No fundo se talvez o vento fero
Tocando a minha pele agora vem
Dizendo deste sonho e sigo aquém
Podendo muitas vezes ser austero
Enquanto poderia mais sincero
Abrir e não deixar mais este bem
Distante neste olhar sem ter por onde
Seguir e na verdade mal responde
Buscando o que deveras logo ali
Encontra-se calado e tanto quer,
Mas nada nem sinal algum, qualquer
Traduzindo este amor que em vão perdi.

34862

Cevando os roseirais aonde eu possa
Viver com plenitude esta jornada
Durante tanto tempo desejada
Numa ânsia bem mais minha do que nossa,
A sorte de outra forma não endossa
E refletindo sempre o mesmo nada,
Jamais adentra a dura barricada
Escassa realidade não adoça
O sonho de quem tenta há tanto e sabe
Que o amor mais ansiado já não cabe
E tudo se perdera com os anos,
Roseiras abortadas no jardim,
Ausente do que tanto tenho em mim,
Colhendo espinhos, pedras, medos, danos.

34863


Persisto na procura desta graça
Que sei tão mais ausente a cada instante,
O todo inda pensara fascinante,
Mas quando se percebe e nada grassa
Reinando sobre o vago, o tempo passa
E quando se percebe ou se adiante
Resumo no vazio degradante
Amores se transformam em fumaça.
Arando o solo em doce cortesia
Apenas aridez se percebia
Na agreste fantasia que ora abortas,
Ainda que deixasse sempre alerta
O coração alheio assim deserta
Fechando atrás de si todas as portas.

34864

Ansiosamente busco sem destino
Apenas uma fonte, uma nascente
Porquanto novo mundo ainda invente
O coração decerto pequenino
E nele com certeza não domino
Vontade mais fiel e tão premente
Do gozo onde nada mais se sente
E aos poucos sem defesas, desatino.
Rescindo com meus sonhos a promessa
E o sonho na verdade já tropeça
Deixando-me jogado pelos chãos,
Assim ao perceber e enfim não pude
Amortalhando agora a juventude
Em ermos tão dispersos, mortos, vãos...

34865

Dessedentando a vida num momento
Apenas, poderia crer num fato
Aonde a cada engano me retrato
E o tempo não traria o sofrimento.
Batalhas já perdidas, desalento,
E quando eu me percebo e assim maltrato
Num canto ali jogado, eu me desato,
Ou pelo menos teimo, busco e tento.
Mas tudo sendo em vão em falsa idéia
Uma alma persistindo quase atéia
Das teias nada resta e me esvazio,
Amar-te além do quanto fosse crível
Um sonho cada vez mais impossível,
Traçando no final tal desvario.

34866

A luz tocando mansa a tua pele
Envolve-te qual manto em claridade
E quando no meu quarto a lua invade
Beleza tão sublime já revele,
E quanto mais em ti meu sonho atrele
Vivendo com ternura esta vontade
Gerando a cada instante em liberdade
Delírio onde o mundo enfim os sele,
Percebo-me em deidade, um soberano,
Galgando sobre espaços sem engano
Vibrando em consonância com o eterno,
E tanto extasiado me completo
Na prata sobre o bronze e eu indiscreto
Neste cenário intenso ora me interno.

34867

Entregue em devaneios ao teu sonho,
Não posso penetrar teu pensamento
E quando adivinhar ainda, eu tento
Compondo um quadro belo ou mais tristonho,
Do todo onde deveras me proponho
Bebendo a profusão do intenso vento
Enquanto se demonstra em manso alento
O olhar em ressonância; eu não me oponho.
Seguindo-te e por isto me comprazo
A vida não tem tempo, incerto prazo,
E o vento se entrelaça em teus cabelos,
Quando instintivamente nos meus dedos,
Alheio aos teus propósitos, segredos,
Procuro simplesmente revolvê-los...

34868

Crepusculares luzes no horizonte,
E a bruma ainda viva dentro em mim
Do todo que buscara e quando vim
Distante pensamento aonde aponte
O raio onde meu sonho já desponte
E trace com ternura até o fim
Caminho em ânsias feito belo e clean
Gerando entre os quereres rara ponte.
Abrindo esta janela, a lua bege
Acima das montanhas, bela rege
A noite em vaga-lumes estelares,
E ao ver-te desnudada em tal cenário
Navego muito além do imaginário
E as nuvens se dissipam aos luares.

34869

Girando qual imenso carrossel
O tempo não sossega e quando o vejo
Além do que tecesse o meu desejo,
Vagando sem destino em claro céu,
O todo se expandindo em fogaréu
Deixando no passado o medo e o pejo,
Alheio ao que não fosse um azulejo
Contemplo a claridade feita em véu.
E sei do quanto a quero, simplesmente,
Sem dúvidas, perguntas, sem que tente
Saber dos seus segredos, do seu mar,
Amando sem perguntas só respostas
Em ânsias e nudez estando expostas
Amando tão somente por amar.

34870

Ao vê-la quase muda do meu lado,
Sem nada perguntar, nada a dizer,
Talvez extasiada ou sem saber
O quanto poderia ser negado,
Encontro-me também aqui calado,
O tempo simplesmente a percorrer
Sonhando ou mesmo sem poder dizer
Além do que tivesse imaginado.
O dia se ultrapassa desta forma,
Uma ânsia delicada se transforma
E tendo este silêncio martirizo
Do fogaréu intenso, frágua e fúria,
Aos poucos com terror e até penúria
Percebo a gelidez de algum granizo.


34871

A Terra em ti traduz rara certeza
De rios, mares, sais, delírio e sonho,
No quanto mais audaz quero e proponho
Vibrando insaciado, farta mesa,
O tempo noutro tanto em correnteza
Adentro cada ponto e me proponho
A ter no meu olhar brilho risonho
Envolto por ternura e em tal beleza,
As matas e os anseios, seios, montes
Porquanto em doces mundos, horizontes
Desvendo mansamente até poder
Qual fora um bandeirante, um andarilho
Nas sendas delicadas eu palmilho
Rendido ao raro encanto do prazer.

34872

Na imagem solitária em noite clara,
A lua deita em nós seu farto brilho
E quando em tantas gotas, um polvilho
Tocando tua pele tanto aclara
E desta cena bela, doce e rara
Melífero caminho em paz palmilho
E o coração disperso este andarilho
No mais sobejo cais ora se ampara.
Navego sem descanso mar imenso
E quando intensidade enfim convenço
Deitando-me nas teias em que tramas
Desejos saciados noite afora,
E toda a divindade me decora
Enquanto com ternura tu me chamas.

34873

Minha alma se fundindo com tua alma
Nuas presenças ditam este terno
Caminho aonde amor desejo e externo
E toda a ansiedade já se acalma,
Conheço este delírio palma a palma
E quando me entregando a ti aderno
Deixando para trás qualquer inverno,
Seguindo o meu caminho em paz e calma,
Ascendo ao que pudesse ser maior
Estrada conhecida eu sei de cor,
E entranho pelas furnas, grutas, grotas
E bebo desta fonte incandescente
No quanto tanto gozo se apresente
E assim qual verdejante senda brotas.

34874


Por onde tu desejas e bem queres
Seguir as trilhas tantas dos anseios,
Tocando com ternura belos seios
No quanto de prazeres sempre geres,
Nos passos mais audazes interferes
E sabes dos prazeres rotas, veios,
Embora muitas vezes os receios
Que sedam os delírios de mulheres
Afloram, os negando com veemência
Tocando cada ponto na fluência
Que possa permitir mansa viagem,
O sol irradiado em tua pele
Ao todo neste instante me compele
Dourando com ternura tal paisagem.

34875

Tua esperança marca cada passo
Aonde eu poderia acreditar
No todo e muito além e me entregar
Tomando com ternura farto espaço,
E quando nestas sendas teimo e grasso
Ousando com perícia e devagar
Delícias que insistira em desvendar
Atando bem mais firme todo o laço,
Estreitando estes nós, assim se anela
A vida noutra vida em cena bela
Fartando-se deveras sem fastio,
E o todo perfilando em raridade
No gozo que te invade e já me invade
Unidos por um só sublime fio.

34876

Amando e atentamente percebendo
Anseios e vontades de quem quero
E sendo desta forma mais sincero
Da mesma bela fonte me embebendo,
No todo ou numa parte concebendo
Além do que pudesse amargo ou fero,
Gerando dentro em nós o quanto espero
Num ato tanto audaz quanto estupendo,
Recebo de teu corpo esta vontade
Aonde se traduz saciedade
Transcendendo ao caminho onde a ternura
Declina-se no gozo mais atroz
Que tanto quanto pode ser feroz,
Ao mesmo tempo explode e me tortura.

34877

Zelando pelo amor sem ter limites
Deixando qualquer dor que ainda venha
Diversa do caminho aonde empenha
A sorte pela qual inda acredites
Dos gozos extremados quando emites
Mantendo acesa a frágua, cada lenha
Expressa a realidade onde contenha
No quanto num silêncio tu me excites.
Toando em nós a plena e terna luz
O farto amanhecer onde reluz
O sol de uma paixão incontrolável,
Galgando este infinito em que nós dois
Sabendo desde agora do depois
Num ato tanto insano e renovável.

34878


Não quero me encantar com outra senda
Nem mesmo mergulhar em vão no abismo
E quando nos teus passos teimo e cismo,
Procuro cada passo onde se estenda
Desejo que desejo mais atenda
Com toda a plenitude do otimismo
Explícita loucura, um cataclismo
Aonde cada cena se desvenda.
Realço com teu gozo o meu caminho
E vejo quantos ermos, vãos, sozinho
Não poderia nunca imaginar,
Partilhas multiplicam soluções
E quando novas rotas tu me expões
Exploro-as mansamente, devagar...

34879

Tomando sem perguntas, pensamento,
O quanto deste anseio se completa
Seara descoberta, predileta
E nela com certeza me alimento,
E tendo neste amor raro provento
O gozo além de ser a mera meta
Explode no meu peito de poeta
Traçando a cada toque imenso vento,
Gerando em turbilhões, redemoinhos
E como se bebesse raros vinhos
E deles me fartasse até o fim,
Apaixonadamente em ti mergulho,
E cada ponto então busco e vasculho
Redescobrindo em ti o que há em mim.

34880

Espalhando meu canto pelas ruas
Galgando paraísos sobre a terra,
No quanto tanto gozo amor encerra
Enquanto do meu lado ainda atuas,
Beijando tais estâncias belas, nuas,
O amor quando incessante nos soterra
E trama a cada instante paz e guerra
E assim quando num vértice flutuas
Ascendo junto ao ti além do cais
Atingindo momentos magistrais
E neles desvendando seus segredos,
Percebo quanto posso ser feliz,
Vivendo tanto amor quanto o mais quis
Angústias, sofrimentos morrem ledos...


34881

Espalho pelas ruas o meu sonho
Vagando sem saber de algum destino,
E quanto mais te vejo e me fascino
Um novo amanhecer; teimo e proponho
No tanto te adorar, eu me componho
E a cada passo em gozos alucino
Errático cometa tão ladino
Agora do teu lado recomponho
A rota que pensara inexistente
E mesmo quando além ainda vente
Ou haja tempestade, estando aqui
Apascentando a fúria de quem busca
Em meio à tempestade amarga e brusca
Singrando este oceano que há em ti.

34882


Jamais me expondo além à dor e ao pranto
Viceja dentro em mim em florescência
Sublime dominando esta existência
E dela se transforma medo em canto,
E quando após a queda eu me levanto
E bebo desta vida a pura essência
Percebo tanto amor em evidencia
Sem medo, sem terror, sem desencanto
E sei quanto é possível navegar
Por mais que o vento venha se mostrar
Procelas e borrascas? Sigo alheio.
E tanta vez eu tive em desalento
E agora neste instante eu me apresento
Seguindo esta esperança em devaneio...

34883

Não quero mais na vida este pesar
Nem mesmo o sofrimento de quem ama
E sabe tão distante o sonho e a trama,
Vagando sem destino e sem parar,
Olhando para as ânsias do luar
Tentando manter viva qualquer chama,
O quanto do meu mundo diz da lama
Aonde tantas vezes mergulhar,
E agora nos teus braços, redenção,
Encontro o que eu buscara, embarcação
No raro ancoradouro mais sutil,
E em noites refletidas gozo e festa,
Vivendo o pouco ou muito que me resta
Além do que decerto o amor previu.

34884


Não quero mais saber se cedo ou tarde
A morte enfim virá calar a voz
E o sonho de um poeta tanto atroz,
Porquanto neste amor eu me resguarde,
Ainda que deveras já se aguarde
O fim sendo decerto mais veloz
Do que eu mais desejara, pois em nós
O amor sem ter limite isto retarde,
Apenas vejo a sombra do que eu fora
Rondando a minha face sonhadora
Deixara cicatrizes mais profundas,
Mas quando em tais prazeres me sacio
Do tempo mais dorido, e até vazio,
Agora com delírios tu me inundas.

34885

A solidão se perde em noite mansa
E quando nos amamos posso ver
Nas ânsias delicadas do querer
A intensa maravilha onde se lança
E quando cada passo assim alcança
A sorte mais audaz eu posso crer
No tanto que aprendera a perceber
Matando qualquer dor, cruel lembrança,
Resido no futuro e no presente
No quanto tanta glória se apresente
Mostrando ser possível novo dia,
Esboço com palavras o que eu sinto,
O temporal há tanto morto e extinto
Dando lugar enfim à poesia.


34886

Distante dos teus olhos, o que faço?
A vida não teria mais sentido,
O mundo noutro espaço, já perdido,
O tempo com terror negando o traço
Aonde com firmeza ora me enlaço
E busco o que pensara em ledo olvido,
Resumo o meu caminho presumido
No todo feito em glória aonde grasso,
Restando dentro em mim a solidão,
E dela nada além, sem direção
Seguindo pelas ruas vagamente,
O todo se desfaz e num instante
O quanto poderia mais constante
E a vida na inconstância nega e mente.

34887

Patéticos momentos solitários
Aonde a vida morre sem um cais,
O quanto poderia muito mais
E os dias se mostraram tolos, vários,
Nos descaminhos vãos desnecessários
Exposto aos mais terríveis vendavais
As dores entre fúrias ancestrais
Os sonhos destes vãos celibatários.
À parte um caminheiro em noite escusa
A sorte destempera e quando acusa
O tempo tão nefasto pelo nada,
Assisto à derrocada deste sonho
E tento desvendar em ar medonho
O resto de uma vida ensolarada.

34888


Viver a desventura de quem tenta
Saber do grande amor que inda não veio,
Seguindo cada passo mais alheio,
Bebendo a noite amarga e violenta,
No tanto que pudesse esta sangrenta
E dura caminhada em vago anseio,
Se cada passo errático receio
A morte perseguindo segue atenta,
Amar e ter apenas o vazio
E quando noutro tanto sinto o frio
Soturna imagem doma o pensamento,
E tanto poderia ser diverso
Ainda houvesse em mim este universo
Imerso em luz distando o sofrimento.

34889

Pudesse o pensamento enfim matar
Deixando para trás o descaminho
E quando me percebo mais sozinho
Sem ter sequer a sorte de tentar
Ao menos onde eu possa; algum lugar,
Gerar o que talvez já fosse um ninho,
Porém um solitário passarinho
Não tendo nem sequer onde pousar,
Vestindo a negritude da ilusão
Ainda busca leda solução
E segue seu destino em turbulência
Ao longe a lua deita raios vivos,
Porém nesta aridez de meus cultivos
Jamais verei enfim a florescência...

34890

O quanto do desejo se amargura
E nega alguma chance a quem buscara
Ao menos uma vida mansa e clara
E dela cada gota de ternura,
O tanto que se quer e se procura,
A sorte noutra face se escancara
E deixa-se antever imagem rara
Diversa da que tanto me tortura,
Assim num sonho imenso ainda vejo
A força incomparável do desejo
Tomando sem limite a embarcação,
Mas quando o sol adentra esta janela
E toda a solidão já se revela,
Percebo ser somente uma ilusão...


34891

Pudesse novamente ver a estrela
Que tanto se desnuda e já não vem
O quanto procurara por alguém
E nada de talvez inda revê-la
A vida quando muito eu quis contê-la
Vestida de ilusão já não convém
Do todo que pudesse muito aquém
Restando tão somente percebê-la.
Vagando pelos céus em tantas brumas,
No quanto não percebes e costumas
Beber este vazio dentro em ti,
Eu tento em desairosa negação
Riscar outro cometa, mas virão
Somente os versos tolos que teci.

34892


Luzindo neste céu em tom sobejo
Imensidade feita em claridade,
No quanto esta beleza doma e invade
Além do que decerto inda prevejo,
Alheio aos meus caminhos, meu desejo
Ouvindo tão distante quem mais brade,
Buscara inutilmente a liberdade
E nela cada passo em azulejo.
Aprendo pouco ou muito, mas insisto
E quando se percebe já revisto
O tempo de existir nada querendo
Senão esta ternura mesmo falsa,
Minha alma no teu passo enfim se calça
Enquanto outro caminho em paz desvendo.

34893

Vagando no crepúsculo, no outono,
Em meio às flores secas do quintal
Procuro ainda em tom residual
Um rumo mais distinto do abandono
E quando do vazio enfim me adono,
O tempo se mostrara sempre igual
Às vésperas do trágico invernal
Cenário aonde o frio se faz dono
De tudo o que quisesse e não mais tenho,
Porquanto fora inválido este empenho
Na busca de uma fonte onde se creia
Na eterna juventude ou que retarde
O que virá deveras cedo ou tarde
Tecendo com terror última teia.

34894

Sem ter sequer o aceno que inda possa
Trazer algum alento em noite vã,
Ausente dos meus olhos a manhã
A solidão decerto vem e acossa
Enquanto esta presença em sonhos roça
A pele numa senda tão malsã
A sorte desejada e temporã
Abrindo dentro em mim cratera e fossa,
Mergulho neste pélago e me perco,
A vida fecha aos poucos duro cerco
E quando me percebo eu nada sou,
Apenas o vazio gesta o sonho
Porquanto num cenário tão medonho,
Coleto cada escombro que sobrou.

34895


Na rua tão deserta, madrugada,
Apenas um mendigo um pária sou
E bebo cada gole que restou
Desta aguardente há tanto abandonada,
Seara que sonhara, destroçada,
Um pensamento além ainda alçou
Cenário que este tempo degradou
Do tanto transformado em quase nada.
Resisto ainda mesmo sendo vago
E quando nestes ermos inda eu trago
Um brilho em lusco fusco neste olhar
A solidão decora este cenário
E encanto embriaguez é temporário,
Também decerto irá me abandonar...


34896

Jamais se impediria ver além
Por mais que se levante a cordilheira
O sol vencendo assim qualquer barreira
No todo ou numa parte em si contém
Esta grandiosidade, imenso bem
Aonde a realidade já se inteira
E quando desfraldando esta bandeira
O amor além do todo sempre vem.
Portanto não renegue o sentimento
Olhar estando assim bem mais atento
Percebe mesmo quando em tais montanhas
Um simples refletir pode mostrar
A intensa maravilha do solar
Caminho aonde amor descreve as sanhas.

34897


Ao ver dificuldades se desnuda
Quem tanto se ocultara noutra face,
Porquanto a vida mesmo já desgrace
E nela se encontrando a própria ajuda,
Uma alma tão mesquinha, vã, miúda
Ao perceber qualquer dúvida, impasse
No quanto na verdade ainda grasse
Em outro sentimento ora se escuda.
Mas quando amor penetra e nos domina,
Por mais que se tentar negar a mina
Nascente em explosão será sentida,
Quem vence seus temores poderá
Desfrutar os prazeres desde já
Moldando com ternura a sua vida.

34898

A força que se gera na intempérie
Permite este caminho rumo ao sol,
O amor servindo além como um farol,
Impede que prossiga a amarga série
De dores e terrores vida afora,
E tanto quanto posso ser assim
Galgando espaço além e sei sem fim
Nesta beleza intensa que decora
Uma alma sonhadora e não me importa
Sentir qualquer tormento ou mesmo a dor,
No quanto possa ser um sonhador
Abrindo com ternura qualquer porta,
Nas tramas deste encanto, amor imenso,
Da minha plenitude eu me convenço.

34899

Acreditar na imensa desventura
E ver a solução em cada queda,
Porquanto a vida pague em tal moeda
Gerando muitas vezes a amargura
E nela se percebe enfim a cura,
No quanto este caminho já se veda
Abrindo-se decerto aonde enreda
A sorte que se quer e se procura.
No amor se refazendo esta vereda
E nele cada passo se conceda
Vagando sem ter medo do que venha,
Dos inimigos sei ensinamentos
Assim como das dores os proventos
Desta fogueira imensa, brasa e lenha.

34900

Tentar permanecer em juvenil
Caminho mesmo quando em vago inverno,
Se assim eu sou capaz e nisto externo
O quanto cada sonho não previu,
Deixando o que deveras é senil,
No todo mais sincero, um gozo eterno
E nele sendo manso, etéreo e terno
O amor sem ter idade o tempo viu.
Não temo o meu futuro nem o sei,
Tampouco obedecendo regra ou lei,
Apenas por viver e nada mais,
Adentro os meus anseios, peito aberto,
E os trâmites vulgares já deserto
Bebendo sem temor os temporais.

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