sexta-feira, 4 de junho de 2010

35311 até 35320

1

O quanto desta morte inda desejo
Vibrando dentro em mim tal tempestade
E quando a cada espaço mais degrade
O passo rumo ao quanto inda não vejo
E sinto aproximar-se num lampejo
Na fúria desta insânia e se me invade
Entranha-me decerto e rompe a grade
Aonde incoerente eu me protejo.
Restando muito pouco ainda tento
Vencer com mais ternura o desalento
E sinto ainda o resto da esperança
Enquanto se denigre dia a dia
O quanto me restara em fantasia
E o passo para o nada, mais avança.

2

Relembro velhas cenas num sobrado
Aonde a minha infância se perdera,
No quanto em vão apenas percebera
O vento noutra face desenhado,
O sonho tantas vezes alentado
A morte me entranhando concebera
O resto da lembrança e se embebera
Do vinho há tanto tempo avinagrado.
Resumos de uma pálida e vazia
Manhã gerando a tarde em agonia
E agora anoitecendo vejo enfim
A redenção sonhada e prometida
Levando para o etéreo a torpe vida
Trazendo algum alento para mim.

3

Os olhos entre as pedras, vãos e opacos
E neles se perdendo alguma luz,
Apenas ao vazio reconduz
Enquanto os pés cansados, ledos, fracos
Palmilham entre quedas e buracos
Cenário que esta vida reproduz
No quanto do passado inda reluz
E toma minha vida em parcos nacos.
Percorro tais estranhas sendas, vendo
O mundo noutra face se tecendo
Gestando finalmente algum suporte
E dele me percebo em liberdade
No quanto a cada instante mais me invade
Certeza redentora desta morte!

4

Apenas mera ossada e nada além
Do quanto se fizera em tanto orgulho,
Ao ver o quanto sobra enfim mergulho
Nos antros que a verdade em si contém,
Realço com meus versos este desdém
E dele vejo apenas mero entulho
Enquanto cada passo em que borbulho
Traçando este vazio que ora vem.
Erguendo o meu olhar vejo horizontes
Opacos entre nuvens tão somente,
O quando do não ser já se presente
Embora noutros rumo tu me apontes
Momentos discordantes, mas deveras
A morte finalmente é o que inda esperas.

5

Banquete para os vermes, eu sou isto;
Resíduo do que um dia fora humano,
A cada novo tempo mais um dano,
Porém feito um insano inda persisto
E teimo contra a fúria, não desisto
Realço sem sentido e até me ufano
Do quanto ainda eu tenho; ledo engano
Minha alma se entregando ao vão Mefisto.
Resumo da fatal monstruosidade
Gerada em tal torpeza que degrade
Deixando para trás um resto de alma
Vagando sem sentido e sem noção
Do todo sem destino e direção
Certeza da mortalha, o que me acalma...

6

O risco de sonhar já não persiste
No quanto ainda resta deste ser
Profana realidade eu posso ver
No olhar apaixonado, ledo e triste,
Do fato de saber que inda resiste
Uma alma sem valor me faz saber
Do fardo desumano e posso crer
Somente nesta incúria que ora insiste,
Sem rumo caminheiro em noite vã,
Ausência de esperanças, de amanhã
E o vento do passado me destroça,
Viver além do quanto poderia
Bebendo sem saber desta ironia,
A morte a solução que ainda eu possa.

7

Sementes do vazio se lançando
Num solo tanto agreste quanto vago,
E quando de ironias eu me alago
Raiando dentro em mim um sol infando,
Às vezes noutra senda mergulhando
Bebendo da ilusão ainda afago
As plagas mais distantes que ora trago
Num ar nauseabundo resultando.
Arranho com palavras o meu ego,
E sei o quanto posso e não navego
Nas ânsias mais profanas do desejo,
Apenas resultado desta escória
Aonde se pensara um dia em glória,
Somente este final torpe eu prevejo.

8

Minha alma envilecida se embebendo
Do amargo caminhar inutilmente
E quando novo tempo ainda sente
Do velho belo e raro se perdendo,
O todo gera um fato sem adendo
Da morte quando inútil mar ausente
Dos olhos sem futuro de um demente
Aos poucos na mortalha se tecendo.
Resisto o quanto posso, mas bem sei
O quanto inexorável esta lei
E destes vãos ditames tão reais,
Assim eu me preparo pouco a pouco,
Embora te pareça quase um louco,
Para os meus ansiados funerais.

9

A vida em tanta dor e desventura
Somente poderia resultar
Na estranha realidade a me tomar
E o quanto a todo instante me tortura
Saber do quanto pode esta amargura
Tomando cada espaço devagar,
E tendo tão distante o meu olhar
O fardo do viver buscando a cura.
Entranha-me decerto esta vontade
E quando se tornar realidade
Ao redimir meus erros, meus engodos,
Terei concretizado o velho sonho
E tendo finalmente o que proponho,
Entranho-me deveras nestes lodos.

10


Apenas ao que estou já reduzido,
Um verme tão somente e nada mais,
Bebendo destes ritos funerais
A vida finalmente faz sentido.
O quanto poderia ter ouvido
A voz dos mais distantes vendavais
Tragado esta fumaça, ledo cais,
E ver o meu caminho decidido,
Resumo noutro fato esta certeza
De estar neste banquete em plena mesa,
Enfastiando insetos mais bisonhos,
O quadro se resume neste fato
E quando desta forma me retrato
Realizando enfim todos os sonhos.

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