quarta-feira, 2 de junho de 2010

35071 até 35080

1
Não pretendo nem quero essa conversa,
Aonde nada ganho e nem tampouco
Por mais que me perceba quase um mouco
O tempo noutro tanto se dispersa
E quando a poesia dita o prumo
Da vida de quem sonha ou mesmo tenta,
Vencer esta ilusão que violenta
Bebendo da esperança todo o sumo,
Restando muito pouco ou quase nada
Do todo que pudesse ainda haver
A sorte me desdenha e passo a crer
Na fonte há tantos anos enganada
Meu verso não traduz sequer instinto,
Poeta, na verdade, omito ou minto.

2


Na fumaça percebo tua cara
Envolta pelas névoas da mentira
E quando noutro sonho já se atira
A sorte desenhada se declara
Diversa da que tanto merecia
Quem bebe da esperança e se entranhando
No vasto caminhar embora quando
Imaginara morto, volve o dia,
E sei do que te falo sem promessa
E quando nada resta nem mais isto,
Decerto com juízo já desisto
Ou nova história sempre recomeça,
Errar é sempre humano, mas não quero
Seguir em contrabando: sou sincero.

3


Cigarros vou fumando sem ter pressa,
Alimentando o câncer, meu infarto
Até que na verdade esteja farto
E parta para o nunca mais me estressa.
Bebendo cada gole da emoção
Porquanto farte mesmo quem se fez
Além do que pudera sensatez
Deixando vir à tona o coração,
Mortalhas vou tecendo a cada instante
E sei do quanto possa desvendar
Do todo que pensara e me entregar
Ao fato mais terrível, fascinante.
E quando fumo bebo esta certeza
Da vida noutra senda e correnteza.

4


As horas que disfarças sem querer
Não deixam qualquer sombra do que eu queira
A vida sem ter eira e nem ter beira
Não mostra a sua face e quero ver
O quanto poderia se o prazer
Do qual realidade já se esgueira
Acendendo com fúria tal fogueira
Tramando novo rumo aonde crer
Na sorte que virá em face mansa,
E nela toda a vida quer e avança
Vencendo as mais sombrias ilusões,
E vendo assim a morte bem mais perto,
Do imenso turbilhão já me desperto
Buscando novos ritos, dimensões...


5


Não quero nada sinto, nem prazer,
Nem mesmo resgatando o quanto pude
Ainda ter nas mãos em juventude
Noutra atitude bebo o bem querer,
Eu creio no futuro desde quando
Eu possa acreditar no ser humano,
Mas quanto mais eu tento mais me dano,
E o sonho neste intento desabando,
Em bandos aves vão para o amanhã
E nada deixam mesmo para trás
Assim neste voar imenso e audaz
Pudesse a minha vida noutro afã.
Restando muito pouco do que busco
O dia a dia explode amargo e brusco.

6


Cortando fortemente essas tenazes
Vontades entre tantas que pudesse
Gerando no vazio alguma messe
E nela muitas vezes me desfazes,
Resumo o meu caminho em tantas fases
E delas cada engano que se tece
Ao nada nem tampouco se oferece
Enquanto arruinaste minhas bases.
O pântano gestado pela vida
No quanto pode ver a despedida
Do sonho mais feliz em nova face,
Do todo que talvez inda resista
A sorte muitas vezes tão benquista
Caminho mais diverso agora grasse.

7


Nas portas, nas cadeiras, onde sentas
E vês nada chegando nem o brilho
Do quanto poderia em novo trilho
Vencer as noites frias, violentas
Ardis são costumeiros em quem busca
Singrar com plenitude imenso mar,
E quando noutra face decorar
A imagem que deveras sei mais fusca
Restando a quem pudesse mero sonho
E nele novo dia já se trama
Resiste inusitada e frágil flama
Enquanto outro momento em paz componho,
Aprendo a discernir o que pudera
No olhar cruel e duro desta fera.


8


As dores que me trazes são audazes;
E delas nada aprendo senão isto
Viver entre tormentas se inda insisto
Diverso do que tanto ainda trazes
Nos olhos mais mordazes, solidão
Explode sem saber sequer por que
E quando na verdade nada vê
O medo se tomando em explosão,
Retalhos do que fomos se espalhando
À mesa fartos pratos e talheres
E ainda se nos sonhos tu vieres
O quadro se mostrara mais nefando,
E nego qualquer luz a quem negara
Ao menos uma tarde ainda clara.


9


Na chama que te chama, não esquentas,
Nem mesmo poderias, pois sei bem
Do quanto na verdade não contém
Nem mesmo quando teimas ou inventas
O fato de sonhar não permitira
Vencer os meus medonhos sentimentos
E quando exposto assim aos frios ventos
Beijando a vera face da mentira.
Ocasos entre nuvens mais pesadas
Nublando o dia a dia noutro tanto,
E quando ainda tento e mesmo canto
Tu tramas noutras sendas e calçadas
Veredas pelas quais eu posso ver
A sombra do que tanto quis viver.

10



As asas assassinas são vorazes,
E bebem todo o sangue, rapineiras
Assim as minhas horas derradeiras
Traçando cada dia aonde fazes
Do pouco que pudesse novamente
O resto dessedenta quem se abrira
E bebo do vazio em torpe mira
Enquanto a realidade se desmente,
Negando algum provento sigo alhures
Enfastiado passo dita a sorte,
E sem nada que ainda me conforte,
Porquanto cada engodo tu depures
Eu risco o meu caminho com tal giz
Deixando no passado o quanto eu quis.

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