quarta-feira, 2 de junho de 2010

35061 até 35071

1

Não podes reclamar se aqui ficaste
Depois dos vendavais que a vida trama
E quando acende assim a imensa chama
Deixando para trás qualquer desgaste
A vida se mostrando num contraste
Deveras silencia dor e drama
E quando tudo invade e nos reclama
Do quando poderia e não notaste,
Escassas as venturas onde eu tento
Vencer o que pudesse desalento
Residualmente trago esta lembrança
Aonde o meu caminho já persiste
Embora em tal cenário ledo e triste
O passo dia a dia mais avança

2

Na porta das lembranças são sangrentas
As horas em que ainda poderia
Viver felicidade e a hipocrisia
Descreve tão somente tais tormentas
E quando noutro intento te apresentas
A noite a cada ausência mais se esfria,
E o tempo preconiza a ventania
Que em toda solidão experimentas.
Resisto aos meus instintos aplacando
A fera num momento mais infando
E sinto ser infâmia o que inda posso
Singrar após a imensa tempestade
E quando no meu peito diz saudade
Do todo que já fomos, só destroço.

3

As noites que sequer enluaraste
Com sonhos mais felizes ou ao menos
Momentos que pudessem ser serenos
Deixando para trás o quanto uma haste
Vivesse dentro em nós e nos trouxesse
A sorte desejada e mais querida
Aonde se prepara uma saída
Ausente dos meus olhos tal benesse,
Resisto o quanto posso, mas no fim
Encontro-me sozinho e muito aquém
Do quanto poderia, mas não vem
Nem mesmo a velha sombra, é sempre assim.
O fardo de viver pesando tanto,
Resido na seara do quebranto.

4


Essa batalha torpe que me inventas
Na qual sou derrotado e sem defesa
Apenas tão somente mera presa
Envolta pelas ânsias das tormentas,
No todo que pudesse e nunca veio,
O olhar seguindo além de qualquer rumo,
Nem mesmo na esperança enfim me aprumo
E assumo toda a dor no olhar alheio,
Exímios sonhadores, os poetas
Não sabem discernir razão e sonho,
Mas quando cada verso em vão componho
Distante do que fossem minhas metas,
Eu tento acreditar neste impossível
Caminho feito em dor, queda e desnível.

5

Perdeste tanto tempo, mas ganhaste
A luta contra o sonho que eu traria
Na noite mais atroz, porquanto fria
O vento que decerto anunciaste
Traçando com terror esta verdade
E dela vou sorvendo cada gota
Minha alma destroçada e semi-rota
No quanto a cada ausência bem mais brade
Intensas noites? Ledos vendavais
E neles outros dias não veriam,
Sequer as ilusões que poderiam
Traçar nestes caminhos muito mais
Do quanto se perdera em podridão
Gerando dentro em mim pura aversão.

6

A mão que te servia vai servil
Na ausência de esperança ou de emoções
E quando novos tempos tu me expões
O fardo que deveras se sentiu
Aumenta a cada instante e nada tendo
Nem mesmo uma alegria aonde eu possa
Revigorar o passo, nada endossa
Somente outro vazio estou contendo,
E peço alguma luz, embora a morte
Não deixe qualquer sombra de ilusão
O amor que tanto quis em negação
Não tendo mais sequer quem o suporte
Desaba em noite frágil, torpe senda,
Sem ter nenhuma mão que enfim se estenda.

7

A noite que não tarda, não te viu,
Vestida de ilusões, portanto bela,
E quando o meu caminho ao teu se atrela
O todo que pudera ser gentil
Inerte em dores fartas se apresenta
E o corte se mostrando imenso e raro,
Por vezes outro tanto inda declaro,
Mas sei que ao fim do dia outra tormenta
Virá e destroçando qualquer marca
Do quanto pude crer em soberana
Manhã que na verdade desengana
E apenas no vazio ora se embarca.
Retalhos do que fora alguma vida
Jogados em sinal de despedida.


8

A boca que me cospe se escancara,
E traz neste sorriso de ironia
A sombra de uma enorme fantasia
Aonde a noite seja bem mais clara,
O porte da mentira me assustando
A cor se mostra em grises tons, nefasto
Caminho pelo qual do sonho afasto
As esperanças fogem vão em bando,
O todo que restara no meu peito
Apenas deixa ver o que não quero,
E sendo a cada dia mais austero
Em plenos espinheiros eu me deito,
E arrasto-me por noites entre trevas
Enquanto ainda vens e cospes, nevas...

9

Sentimento profundo, vil. Ora essa!
A vida não se faz desta maneira
O quanto se mostrara derradeira
Aos poucos noutra face recomeça
E gera do vazio outro vazio
E nesta imensidão apenas sei
Do inútil caminhar em turva grei
Bebendo tão somente medo e frio,
Resumo esta canção noutra e tento
Seguir o que pudesse mais profundo,
Do nada aonde tanto me aprofundo
Já não recebo mais qualquer provento,
E peco por saber do quanto trago
Ainda da mortalha algum afago.


10


A maldita cachaça me enganara
A face desdenhosa da verdade
Agora noutro tanto quando invade
Tornando a realidade bem mais clara,
O tempo noutro tempo desafia
Os erros do passado e do presente,
No quanto deste nada se apresente
A vida não se mostra em alegria,
Arisco pensamento ganha o nada
E tento novo enredo, porém vejo
Distante dos meus olhos o desejo
A morte ronda a cada madrugada,
E sei desta aguardente em falsa luz
Por onde errôneo fado me conduz.

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