1
Percebo já chegado
O tempo em que deveras
Além do quanto esperas
O dia disfarçado
Em sombras, dominado
Então pelas quimeras
E quando degeneras
Em eras, renovado,
A morte perpetua
Uma alma quando nua
Liberta-se da capa
E alçando liberdade
No corpo que degrade
Ao longe, enfim, escapa.
2
Adentro o meu outono
Com todas as tormentas
E sei quando apresentas
Na face do abandono
O olhar pleno de sono,
As tardes mais sangrentas
As horas mais sedentas
Das quais já não sou dono
E tento renovar
Folhagem feita em cobre
O tempo que a recobre
Impede-se notar
Magia da estação
Em clara mansidão.
3
Manter vivas idéias
E crer nos ideais
Porquanto os quero mais
Ausente de platéias
Dos sonhos, assembléias
Das almas, os jograis
Os tempos mais iguais
As sombras, alcatéias.
Mas mesmo assim adentro
E tendo como centro
Um passo mais audaz,
Embora o corpo ausente
Uma alma persistente
Ainda quer e faz.
4
O quanto é mais preciso
O passo rumo ao tanto
Embora morto o encanto
No rosto este granizo,
A vida traz o aviso
E nele me agiganto
Do passo rumo ao quanto
Encontre em novo piso.
O fardo dividido
Meu canto nunca ouvido
O tempo já perdoa,
Minha alma se entregando
Em ar suave e brando,
Vagando quase à toa.
5
Empregar novo sonho
E ter nas mãos o fato
Aonde me retrato
E sei ser mais bisonho,
Meu canto se enfadonho
Prepara-se ao maltrato
E tento enquanto eu ato
Além do quanto ponho
Em folhas de papel
O tempo mais cruel
E o vento mais atroz,
Por vezes inda rio,
Disfarço o desvario,
Porém sei minha foz.
6
De todos os rastilhos
Que a vida preparava
Em onda, fúria e lava
Pisando velhos trilhos,
Assim os andarilhos
Enquanto a sorte trava
A dita nunca escrava
Cevando novos brilhos,
No outono vejo a lua
Desnuda que flutua
Reinando em noite mansa,
Aos poucos sigo além
E sei o que contem
A sorte à qual se lança.
7
Acomodando assim
Esta bagagem farta
Enquanto não se parta
O tempo chega ao fim,
E sinto dentro em mim
O quanto não reparta
Da sorte que descarta
E tudo segue enfim
Sem medo nem trapaça
A vida que se traça
Da vida original
Mutante companheira
Aonde já se esgueira
Renasce desigual.
8
Do novo não me assusto
Nem mesmo o recrimino,
Ao ver velho menino,
Teimoso e tão vetusto
Por vezes tem seu custo
E nisto não domino
Se fútil descrimino
Invejo e sou injusto.
O tempo se renova
E quando a lua é nova
Ausente plenitude,
Mas tem nela a fornalha
Engrandecida espalha
Resume a juventude.
9
Vagando pelas terras
Distantes do meu sonho,
Renovo e até componho
Além do que descerras
Vivendo sobre serras
Em ar quase bisonho,
Mas quando me proponho
Os passos; tu desterras.
E sinto quanto possa
Haver renovação
Se um dia fora nossa
A justa sensação
Que agora enfim se apossa
Da nova geração.
10
Por vezes inundado
De sonhos eu me entrego
E sinto no meu ego
O quanto é renovado
O tempo anunciado
Outrora quase cego
Agora que o navego
Percebo um claro prado,
A vida não perdoa
E quando sobrevoa
Observando os sinais
Percebe sutilmente
O quanto se apresente
Não volta nunca mais.
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