1
O tempo com seu raro e magistral
Caminho desenhado em plenitude
Permite que este passo se transmude
E trama com delírio um ritual
Diverso do passado, sempre igual
E quando se mudando esta atitude
O tempo se promete e não ilude
Bebendo deste sonho, hoje real.
Desvendo no teu corpo tais fronteiras
E sei quando escalando cordilheiras
Ou penetrando furnas delicadas
Das ânsias entre tantas realizadas
E os dias se tornando fascinantes
No quanto neste amor tu me agigantes.
2
Guardando na memória cada passo
Em rumo ao mais sublime caminhar,
E quando vejo a vida a derramar
O quanto do meu mundo em ti eu traço,
Risonha madrugada dita o laço
E nela vejo intenso este luar
Tocando tua pele devagar,
No quarto penetrando em cada espaço,
Assim em liberdade mais completa
Minha alma se mostrando a de um poeta
Imagem tão fantástica eu carrego
E alimentando assim o corpo e o ego
A sorte se espalhando em toda grei
Sem ter sequer defesas me entreguei.
3
Olhando para trás eu vejo a vida
Em cenas mais distantes e felizes,
Do quanto se passaram tantas crises
A imagem desbotada e já perdida,
O quanto poderia ser cumprida
A dita noutras cores e matizes,
Ouvindo cada frase aonde dizes
Dos sonhos da luz, clara saída
Eu penso nos detalhes desta história
E viva esta lembrança na memória
Percebo quantas vezes me perdi
E tendo alguma luz ainda viva
Uma esperança adentra e agora criva
Meu corpo se embebendo, amor, de ti.
4
Essencialmente a vida se promete
Em raios mais diversos, sendo assim
O tanto quanto posso bebo enfim
Enquanto o meu caminho se remete
Aos sonhos onde tanto me compete
Falar das flores vivas no jardim
E as cores deste sonho que há em mim
No novo amanhecer o amor reflete
Traçando com ternura cada dia
E dele com certeza eu poderia
Viver além de meras ilusões,
Risonho amanhecer, mero lampejo?
Ou mesmo realidade que antevejo
Mudando dos meus passos, direções?
5
Não quero ser hostil comigo e tento
Vencer os meus complexos; busco um norte
Aonde em cada passo se suporte
O dia noutra fase sem tormento,
Deixando para trás o sofrimento
Procuro quem decerto me conforte,
Ou mesmo ainda trame em braço forte
Da vida um mais completo sortimento.
Reajo às mais comuns vicissitudes
E quando noutro passo tudo mudes
Adentro as mais incríveis fantasias,
E nelas dessedento esta vontade
E sinto a mais completa liberdade
Na luz em que deveras me irradias.
6
Essencialmente a vida traz promessas
E delas eu procuro a redenção
De um passo que não seja sempre em vão
E nem sequer num erro onde tropeças
Mergulho noutros rumos e sem pressas
Buscando as novas sendas que verão
Meu dia em mais completa sensação
Porquanto noutro tanto recomeças
Vagando por espaços tantos, belos,
Tramando em ilusões raros castelos
E deles com ternura bebo à farta,
Assim eu adentrando magistrais
Caminhos sem temores, desiguais
Do qual minha esperança não se aparta.
7
Do mundo tão somente uma lembrança
De um tempo mais feliz onde eu pudera
Vencer a solidão, temida fera
E neste amanhecer vida se lança
E bebe as meras sobras da esperança
Aonde o meu futuro se tempera
E a solidão deveras inda gera
Tentando resistir nesta aliança
E tendo a confiança de um momento
E nele cada passo que alimento
Ousando ser feliz onde não posso,
Mergulho nos engodos da existência
E sem buscar nem mesmo a coerência
Das tramas mais absurdas eu me aposso.
8
Faltasse ainda assim um sentimento
Aonde eu poderia ser feliz
A vida se transcorre e por um triz
Ainda tenho em vivo em pensamento
Momento aonde em paz eu já me alento
E tento procurar o que mais quis
Singrando novo mar sem cicatriz
Bebendo a mansidão nego o tormento
E tento mergulhar noutro caminho
E quando deste engodo me avizinho,
Cevando com ternura o que pudera,
Ainda mesmo quando não tivesse
Das flores o perfume em tal benesse
Jamais eu mataria a primavera.
9
Vergando sob a fúria da tempesta
A vida se mostrando em plenitude,
O quanto da verdade já se ilude
Do todo do passado em mim só resta
O que deveras fora além da festa
E tendo com firmeza uma atitude
Impede quando o passo a vida mude
Abrindo no futuro alguma fresta.
Assim ao adentrar com liberdade
Certeza sem igual agora invade
Deixando para trás o desalento,
O quanto em farto amor a vida traça
Jamais se perderá vaga fumaça
Esparsa e se esvaindo com o vento.
10
O quanto do finito nos transforma
E deixa que se faça eternidade
Da vida noutra vida quando agrade
Mudando novamente rosto e forma
Assim ao perceber sublime norma
Moldando em cada ser esta verdade
Demonstra com total sinceridade
O quanto a própria vida se deforma,
No todo se esvaindo em pouco tempo,
Refeito noutra imagem. Contratempo?
Não mesmo, sei que a morte é redenção,
Pois dela se ressurge intensamente
A vida sem que assim dela se ausente
Traçando novos mundos que virão.
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