quinta-feira, 3 de junho de 2010

35291 até 35300

1

Aonde poderia haver somente
A sorte desejada e desejosa
Espinhos recobrindo toda a rosa
A vida se desnuda plenamente
Sem nada que a proteja teima e sente
A dor por vezes fria e tenebrosa
E quando outro caminho em polvorosa
O tempo nos sonega enquanto mente,
Resumo a minha vida desta forma
A cada nova ausência se deforma
E tento desviar o que não posso,
Mesquinharia eu sinto tão vulgar
E quando novo sonho desejar,
Apenas sob os olhos tal destroço.

2

Ainda quando houvesse as emoções
E delas se pudesse acreditar
Na força desta lua a nos guiar
Tramando em plena noite as direções,
E quando novamente tu me expões
Aos frágeis, ledos sonhos a vagar
Tentando tão somente algum lugar
Diverso das doridas ilusões
Sorvendo cada gota da esperança
Aonde o meu caminho não avança
Nem mesmo possa crer felicidade,
Eu tento inutilmente, mas não canso
E quanto mais distante de um remanso
Mais alto o coração decerto brade.

3

Os dias entre tantos solitários
Vagando sem destino noite afora,
A lua tão somente me decora
E os ritos são sutis, desnecessários,
Apenas olhos fixos temerários
A dor a cada passo se demora,
O medo revivendo o quanto outrora
Os dias foram leves, solidários.
E agora nada tendo do passado
Mergulho em mesquinhez e desolado
Resido no que fosse alguma luz,
Tentando tenazmente rara fonte
Que outro cenário enfim avance e aponte,
Porém em treva imensa levo a cruz.

4


Diversas sensações adentram peito
E tento resguardar-me e não resisto,
O quanto ainda sei e assim persisto
No fardo caminhar não me deleito,
E quando as armadilhas; vejo e aceito,
O tempo se afastando depois disto
Regido pelo vento aonde insisto
E tento novo rumo, contrafeito.
Amasse e talvez fosse diferente,
No quanto deste sonho já se ausente
Meu passo se perdendo em descaminho.
Do todo que pudesse imaginar,
Apenas o vazio a se entornar
Num tempo mais atroz duro e mesquinho.


5

Nos vários brilhos vejo e me reflito
No olhar perdido ao longe, no horizonte
Aonde cada dia mais aponte
Um tempo dentre tantos, mais bonito,
E sigo mesmo embora saiba aflito
O vendaval deveras vira a fonte
E nele me entregando ao longe a ponte
Transcende ao que pudesse ser finito.
Gestando inverno e frio dentro em mim,
Agonizando chego ao ledo fim
E teimo persistindo em tolo sonho,
Sabendo da completa discrepância
A vida ceva então com relevância
O quadro que ora vejo mais medonho.

6

A lua derramando em prata imensa
O brilho sobre nós, belo horizonte
Aonde toda a sorte já desponte
Por onde coração quer e convença
Da enorme e tão rara recompensa
Gerada no caminho em mina e fonte,
No quanto este luar agora aponte
O rumo em noite clara bela, intensa.
Eu sinto o teu perfume e bebo enquanto
Ao menos na esperança ainda canto
Restando mansamente esta ilusão
Embora seja mera fantasia
O amor quando demais toma e inebria
Moldando novos tempos que virão.

7

A luz a refulgir tomando o céu
E o gozo incomparável deste sonho,
No verso em que deveras eu me ponho
O mundo gira, velho carrossel,
E teimo contra a fúria mais cruel
Do quanto cada dia mais tristonho
Realço esta ventura e me proponho
Galgando este infinito, ser corcel.
E bebo cada gota desta lua
E vejo a deusa rara inteira e nua
A sílfide suprema da Natura,
Esboço novos versos e tentando
Viver este momento aonde em bando
As sortes ditam regras e amor cura.

8

Teus seios sob a lua refulgindo
Desnudas maravilhas; vejo em paz,
E o passo mais suave e tanto audaz
Desvenda este caminho aonde eu brindo
Cenário cada vez mais claro e lindo
Aonde a plenitude já se faz,
Inesquecível templo satisfaz
Ao coração sofrido em sonho findo.
Renasço plenamente no teu braço
E beijo cada instante em que refaço
O mundo que perdera noutra senda,
E assim a imensidão do amor percebo
Além da sutileza em que recebo
A sorte mais airosa já se estenda.

9

As lânguidas imagens deste tanto
Aonde num instante me fiz rei,
Do quanto no passado desejei
O instante que adentrando sem espanto
E assim enquanto teimo, sonho e canto
Dourando em esperanças, mergulhei
Nos braços de quem tanto um dia amei
E deles renasci, suave encanto.
Percorro cada parte deste todo
E vivo sem pensar sequer no engodo
Que a sorte em sortilégio me aprontara,
A vida se refaz e neste instante
O quando possa ser mais fascinante
A noite imensa e pura, bela e rara...

10

Teu corpo entregue à lua num momento
Deitando prata sobre o bronze intenso
E quando desta cena eu me convenço
Bebendo cada passo em que fomento
O amor deveras raro e o pensamento
Volvendo a cada instante neste imenso
Cenário aonde tanto me compenso
Da vida em temor e sofrimento.
Assisto a tal fantástico espetáculo
A vida renegando enfim o obstáculo
Gerado pelo medo de te amar,
E quando me entranhando no teu porto,
O corpo noutro corpo em tal conforto
Rendidos à beleza do luar.

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