34901
Pensando com cuidado às vezes cansa,
Porém pode evitar a queda imensa
Quem tanto se demora quando pensa
Gerido pela velha temperança
Porquanto noutro lado com pujança
Mergulha num instante em forma intensa
Deveras desta forma já compensa
Gerando qualquer luz, nova esperança.
Por vezes a mudança se faz breve
E quanto mais audaz a vida atreve
A neve poderá traçar futuro,
No amor mais vale enfim a consistência
Do que qualquer loucura e imprevidência
Um passo com certeza mais seguro.
34902
Às vezes duvidando eu mais acerto
Do que na intempestiva crença expondo
O quanto na verdade decompondo
Aos poucos no futuro enfim deserto,
Mantendo o pensamento sempre aberto,
Mas julgo antes de ter assim compondo
Um mundo mais audaz porquanto rondo
E quando numa dúvida eu me alerto
Defendo-me das ânsias da ilusão,
No amor e na incerteza a direção
Permite se prevendo um descaminho
E tendo com firmeza cada passo,
Ocupo plenamente todo o espaço,
Ou ando bem melhor se for sozinho.
34903
Saber dos teus prazeres e amargores
Vivendo sem medida cada instante
No quanto a voz mais alto se levante
Espinhos justificam belas flores,
E sigo desta forma aonde fores
No quanto possa ver um deslumbrante
Caminho aonde às vezes degradante
Permeiam-se alegrias entre as dores.
E quanto se percebe desta forma
A vida noutra face se transforma
Reformas traçam rumos diferentes,
E quando teus espinhos; vejo e sinto
Às vezes me defendo por instinto,
Mas sei que quando feres também sentes.
34904
Não bastam neste amor palavras vãs
Apenas consistência no que dizes,
Senão serão inúteis cicatrizes
Negando qualquer luz noutras manhãs
Se às vezes são desditas tão malsãs
Gerando novamente duras crises
Melhor ficar calado, dos matizes
Diversos se proclamam tais afãs.
Pensar antes de agir é necessário
E sinto que o argumento me convença
Traçando com vigor a recompensa
Maior que algum alento temporário.
Eu quero estar contigo sem temores
Na nitidez perfeita destas cores.
34905
Tanta agressividade mostra apenas
A falta de razão no que me dizes,
E assim talvez sejamos infelizes
No quanto sem porquês tu me envenenas
Domina em placidez quando serenas
Ultrapassando em paz tolos deslizes
No solo com firmeza quando pises
Deveras demonstrando mais amenas
As horas que vivamos neste encanto
Do amor quando se quer e quero tanto,
Aonde se apascente tomando a alma,
Assim ao me entregar já tão cansado,
Encontro no teu colo o manso prado
E nele esta ternura que me acalma.
34906
A causa dos meus danos eu bem sei
São erros cometidos vida afora
E quando a solidão inda decora
Tomando este cenário, turva grei
Nos ermos do passado eu mergulhei
Enquanto a realidade assim se aflora
Cenário feito engodo me devora
E tanto nesta vida, sempre errei...
Amar e ter apenas quem pudesse
Gerar esta emoção suprema messe
E crer noutro momento mais feliz,
É tudo o que buscara em minha vida,
Agora é tarde e sinto a despedida
Ausente do que tanto bem mais quis...
34907
Não tente argumentar com tais enganos,
Se na verdade eu sei que tanto erraste,
E quando a vida trama tal contraste
Causando com certeza fartos danos,
Eu sei do desvario de teus planos
E nele cada senda que negaste,
Matando o que pudera ser uma haste
Cobrindo com teus rotos, velhos panos.
São frágeis as palavras e tu sabes
O quanto a cada instante já desabes
E sinto terminando o nosso caso,
Reinando sobre nós a desventura
A vida se mostrara em tal tortura
Tomando o nosso céu, terror e ocaso.
34908
Eu sei dos velhos erros que tiveste
Em tua vida farta em gozos, dores,
E tantos os delírios e pendores
Nos quais o nosso amor tanto reveste,
O solo mesmo assim porquanto agreste
Permite que se tentem belas flores
E sigo sem pensar aonde fores
No quanto tanta luz já nos investe
O amor ao semear farta nobreza
Tomando com ternura e com beleza
Cenário outrora espúrio em aridez,
O quanto fora amargo agora é doce
E nisto se permite o que já fosse
E agora noutra face o tempo fez.
34909
Não creio ser um tolo por sentir
A dor que também sentes, minha amada,
A sorte muitas vezes depredada
Impede que se creia no porvir,
Mas nada neste mundo há de impedir
Que eu siga sem temor a mesma estrada,
E vendo ao fim de tudo esta alvorada
Aonde um sol enorme irá luzir
Dourando uma existência tão penosa,
No quanto deste amor a vida goza
E transformando tudo de repente,
Permita-me entregar sem ter defesa
Seguindo a vigorosa correnteza
Do amor que a cada dia se apresente.
34910
As dores vêm em bando, mas prazeres
São poucos e deveras raros, mas
O quanto se procura ser audaz
Tomando com ternura nossos seres,
Ainda quando ausente tanto queres
E beijas o delírio onde se faz
O dia mais feliz nunca mordaz,
Por isto és tão bendita entre as mulheres,
E quero a cada instante estar contigo,
E sendo do teu lado já prossigo
Vencendo os descaminhos tão constantes,
Porquanto mesmo rara alguma sorte
Na intensidade plena que conforte
Se nela simplesmente me agigantes.
34911
Além do que pensasse em cordilheiras
Alçando sem limites pensamento
No quanto quero e mesmo estando atento
Buscando as minhas sendas derradeiras,
Vencendo estas tormentas corriqueiras
Bebendo sem temor o intenso vento,
E quando noutra face busco e tento
As sortes deste amor, raras bandeiras,
Encontro-te deveras já desnuda
A voz se embarga e o medo se transmuda
Gerando dentro em mim esta ansiedade
E todo o sortilégio do passado
Deixado para trás e inebriado
A eternidade adentra e tudo invade...
34912
Na profunda e delicada rara grei
Gestada por uma alma enamorada,
A sorte há tanto tempo desejada
Traduz este caminho em que entranhei
E cada novo passo eu desenhei
Alçando a fonte rara e iluminada,
Vibrando com furor esta alvorada
E nela sem desculpas mergulhei,
Concebo o paraíso dentro em nós
E o mundo desenhando rara foz
Na qual se percebendo a imensidão
Do amor sem ter limites, nada além
Do todo que decerto agora vem
Sorvendo outros momentos que virão.
34913
Além das altas torres, penedias,
O pensamento elevo e busco o tanto
E nele com certeza já me encanto
Sorvendo as mais bonitas melodias,
E quanto mais a voz decerto erguias
E nela também quero e também canto
Riscando do meu mundo algum quebranto
Vibrando nas mais raras fantasias,
Servindo-me decerto ao paladar
Daquela que aprendi a tanto amar,
Sem medo nem sequer algum temor,
Vivendo plenamente este momento
De todos os desejos me alimento
Singrando sem pensar o imenso amor.
34914
Atravessando séculos a fio
O amor que tanto quero e em ti percebo
Além do quanto busco e já concebo
Vivendo a plenitude eu desafio
E tomo em minhas mãos o desvario
E quando desta luz sobeja eu bebo
Tocado pela glória em que recebo
O mundo mais suave onde desfio
Com versos o prazer que tu me dás,
Traçando o meu destino agora em paz,
Vibrando na emoção bem mais feliz,
Singrando este oceano feito em luz
Mudando a minha história aonde eu pus
O quanto mais quisera e sempre quis.
34915
Nos altos arvoredos, nas montanhas,
Nas ânsias mais vorazes, a alegria
A cada amanhecer já se desfia
E nela se percebem sacras sanhas,
E quando com ternura tu me arranhas
Tocando dentro em mim a fantasia
E dela toda a sorte poderia
Mudar os meus delírios, tu me assanhas
Gerando esta ternura que sem par
É tudo o quanto pude desejar
Vibrando em consonância amor, paixão.
Singrando este oceano em plenitude
Ainda quando o tempo atroz transmude,
Contigo viverei sempre o verão.
34916
A luz tornando plena esta colina
Da lua se deitando sobre a terra
E quanta maravilha já se encerra
Na cena que deveras me fascina,
Ao longe esta beleza descortina
E nela toda a sorte o tempo cerra
Bebendo a fantasia a dor desterra
E o medo vaga alheio e se extermina.
Emana-se dos sonhos a paixão
E nela tantos dias moldarão
O todo que procuro e te asseguro
Domando o coração deste andarilho
E quando neste espaço sigo e trilho,
Encontro tudo aquilo que procuro...
34917
Além do que pudesse em alegria
Grassar por tantas luzes, farto espaço
Vivendo cada instante assim eu traço
Do amor em mais sublime sintonia,
Vibrando em consonante fantasia
E tanto quanto posso quero e faço
Vagando sem limites cada abraço
Traduz esta beleza e rege o dia,
No tanto enamorado coração
Momentos mais sublimes mostrarão
O todo completando o pensamento,
E quando me percebo junto a ti,
Fartando deste sonho onde bebi
O amor que tanto busco meu provento.
34918
Em plena sincronia na alvorada
Os pássaros louvando o deus solar,
Meu pensamento adentra devagar
E bebe cada gota desejada
Do gozo desta noite em orvalhada
Manhã por onde posso caminhar,
Tocado pelo sonho e mergulhar
Na fonte tantas vezes ansiada.
Vestindo a fantasia mais sublime,
No quanto tanto gozo quero e estime
Ardentes profusões em ventanias,
E sei do quanto queres também isto,
E assim ao te tocar eu não resisto
Por entre tantas cores tu me guias.
34919
Além da linha clara do horizonte
Cenário mavioso dita a lua
Expressa esta beleza e reina nua
No quanto o coração amor aponte,
Vivendo cada instante em rara fonte
E nela toda a sorte se cultua
Minha alma se moldando junto à tua
Também como esta lua já desponte,
Raiando numa etérea maravilha
Aonde também sei o quanto brilha
Nos raios de um amor incandescente,
E assim nesta divina claridade
O tanto ser feliz que agora invade
Traz esta imensidade que se sente.
34920
Aonde imperariam torpes feras
Distando dos meus olhos, não se vê
A vida sem saber sequer por que
E nela tantas luzes tu me deras,
Vencendo com ternura tais quimeras
No amor quando se tanto nele crê
Sabendo desde sempre e se revê
Caminho pelo qual tu já me esperas
Sorvendo cada gota deste sonho
Aonde novo verso ora componho
Fazendo outro soneto em homenagem
A quem se fez a diva, deusa e musa
No quanto a vida fora tão confusa
Agora apascentando esta paisagem...
34921
A doce juventude que se esvai
Nos olhos sonhadores desta a quem
O amor ao dominar traçando o bem
Enquanto o entardecer ao longe cai,
Pudesse ainda ver o quanto trai
O gozo mais sobejo quando vem
Tomando esta presença um novo alguém
E nele a fantasia se retrai,
Vestindo de nudez sua esperança
E quando noutra cena ela se lança
Bebendo da aguardente dita amor,
Inebriada sente cada instante
Aonde a vida siga e se levante
Moldando céu em clara e mansa cor.
34922
Pudesse assegurar algum momento
Em rara maravilha, feito em luz,
Porém amor além do que supus
Promete tanta dor e desalento
E quando alguma sorte ainda invento
Tentando à poesia fazer jus,
Reparo tão somente a velha cruz,
E nela cada verso em provimento,
Pavimentando o sonho na ilusão
Os dias com certeza não terão
O brilho que eu buscara inutilmente,
Porquanto a vida trama nova face
E quando se mostrando assim se trace
O todo que decerto sempre mente.
34923
Um pássaro liberto, o coração
Vagando pelo espaço sem destino,
No quanto em luzes fartas me fascino
Bebendo cada gota do verão
Adentro a todo instante a solução
E dela faço o canto, doce trino
Porquanto mesmo em sonho um libertino
Envolto pelas tramas da paixão.
As asas alçam tantos pensamentos
Dos céus e das angústias sentimentos
Diversos neste encanto em tal magia,
Uma alma voa e leva para além
O quanto deste encanto ela contém
Raiando como um sol o imenso dia.
34924
Por mais que seja só vago momento
Aguardo nem que seja simples tarde
No todo quanto posso e mais resguarde
O passo sem sentido bebe o vento,
O tanto quanto posso eu me alimento
E mesmo quando a vida já retarde
Enquanto o farto encanto assim se aguarde
Explode dentro em mim o sentimento.
Vibrando de emoção não mais comporto
Anseio incomparável de poder
Tocar a tua pele e em tal prazer
Sentir como pudesse em manso porto
Chegar ao mais supremo e mais profundo
Nem que seja somente num segundo.
34925
O que fazer se já nem mais consolo
O todo quando anseio e não consigo,
Vivendo a cada instante outro perigo,
Arando com as lágrimas o solo,
Do amor quando se faz em medo e dolo,
O quanto se pudesse e desabrigo
O desafeto traça e assim contigo
Apenas o vazio em que me assolo,
Mas tanto poderia ser diverso
E ter a claridade em cada verso
Tocando plenamente o que mais quero,
A vida não seria desta forma
Imagem onde tudo se deforma,
Gerada pelo medo em tom mais fero.
34926
Depois de tanto tempo em agonia
Os meses, dias, horas e segundos
Momentos em terror, duros profundos
E a morte a cada instante me queria
Vivendo o que restara em fantasia,
Vagando por diversos versos, mundos,
Olhares muitas vezes moribundos
Tentando desvendar uma alegria
Aonde nada mais pudesse haver
Somente os dissabores, desprazer
E as dores lancinantes, tal tortura,
A vida se esvaindo devagar,
Vontade de tentar e de lutar,
Porém minha alma em tétrica amargura...
34927
De tantos lados ouço a mesma voz
Negando algum momento em que pudesse
Ainda mesmo quando em reza e prece
Cessar este tormento tão feroz,
O mundo se mostrando um duro algoz,
Vontade na verdade já se esquece
Tristeza a todo instante assim se tece
E o todo se mostrara em tom atroz,
Percorro os meus desníveis, meu anseio
E quando na esperança ainda crio
Percebo ser em vão, e nada resta
Apenas a longínqua melodia
Tocada nesta noite amarga e fria,
Imagem tão sombria quão funesta...
34928
Partindo do que fora ainda vida
Durante tanto tempo em vil batalha,
A dor aos poucos toma e já se espalha
Uma ilusão ausenta-se perdida,
No quanto poderia ser urdida
A sorte que deveras rota e falha
Estende ao meu olhar faca e navalha,
Aumenta dentro em mim rara ferida,
E o tempo se perdendo sem consolo,
Um velho coração mordaz e tolo
Sonhando com amores mais perfeitos,
Apenas solidão adentra o quarto
E encontra este cadáver já tão farto
Dos sonhos e delírios, turvos leitos...
34929
Sentindo o se esvair a cada instante
O coração audaz agora quieto,
No pouco que me resta me completo
E tento prosseguir ainda avante,
A cena se apresenta degradante
O corpo nesta cama aborto em feto,
O peso do viver hoje concreto
Decerto sem limites se agigante.
Mortalhas de ilusões, restos sombrios,
São tênues os meus últimos pavios
E o tempo não adia o que se faz
Quem dera se pudesse pelo menos
Ao ter no meu final dias amenos,
Reinando finalmente alguma paz.
34930
Lutando contra a morte num litígio
O todo que pudesse ainda tento
E quando se percebe o sofrimento,
Qualquer sorriso é mesmo algum prodígio,
Extingo-me deveras e inda vejo
Ao longe no horizonte a imensa lua,
Minha alma neste instante até flutua
E bebe o que me resta de um desejo,
Pudesse um simples beijo de mulher,
Um canto de alegria, invés da dor
Sentindo finalmente algum calor,
Que seja pelo menos se vier
A redenção da vida em sofrimento
Jogada sem defesa em forte vento...
34931
Procuro qualquer rima que inda possa
Trazer algum alento a quem se gosta
Ou mesmo ainda seja uma proposta
Diversa da que trama a queda e a fossa,
Procuro uma palavra tua e nossa
Aonde seja feita uma resposta
E nela a minha face sendo exposta
Permita o caminhar aonde endossa
Amor com plenitude ou mesmo um pouco,
E quando de gritar ficando rouco
Um mouco não escuta esta promessa,
Procura uma palavra, pois qualquer
Que fale apenas disto, da mulher
Aonde toda a história recomeça...
34932
Aonde houvesse outono, eu primavera
Pudesse acreditar no recomeço,
Mas sei que novamente outro tropeço
É tudo o quanto posso e até se espera.
Só sei quando não devo ser a fera
E tento noutra face um adereço,
Embora ao meu desejo se me esqueço
O amor com outro amor não mais tempera,
Tapera ou palacete tanto faz,
Eu quero quem se mostre mais audaz
E trace novo rumo em velho peito,
Assim talvez não creia num milagre,
Mas quanto mais a vida não me sagre
Sozinho novamente enfim me deito.
34933
Qualquer caminho mesmo me convém
Depois das tempestades costumeiras,
Ou mesmo nas garoas mais ligeiras
Mineiro que se preza sabe o trem.
E o vento me trouxesse para alguém
Enquanto cultivasse tais roseiras
E nelas as verdades aonde queiras
Saber do que deveras já contém
O peito de quem ama e quer o tanto
E quando solitário ainda canto
Teimando contra a força das marés
Eu sei e até pressinto novo dia
No todo que a verdade ainda adia
Sabendo meu amor por que tu és.
34934
Não quero mais saber destas amarras
Aonde colocaste tais correntes,
Porquanto na verdade ainda tentes
Mostrar com mais firmeza tuas garras
Enquanto os pés decerto tu agarras
Libertam-se meus olhos, vejo em mentes
Deveras o que tanto negas, mentes
E assim na liberdade ainda esbarras.
Eu sei que ninguém pode ser o dono
Do quanto já deixara em abandono
E agora se pretende muito além,
Eu canto o que me der sempre na telha
Do mel somente sei ferrão e abelha
Sobrevoando à toa ainda vem...
34935
No quanto se dissolvem estas frases
E nelas nada resta senão isto
O todo quanto posso mais persisto
Disperso do vazio aonde fazes
Os dias entre luas, ritos, fases
E beijo cada boca e não desisto
Do quanto poderia e se resisto
Jamais me importaria quanto atrases.
Apenas vou levando assim meu barco,
E quanto mais os sonhos quero e abarco
Embarco noutras tramas mais diversas,
E tola tu caminhas, paralelo
Rompendo há muito tempo qualquer elo
Fugindo deste tanto em que ora versas.
34936
Se eu tento neste céu algum desenho
Em nuvens ou talvez em pensamento,
No quanto ainda penso ou mesmo invento
Falar do quanto posso e não contenho,
Deveras se pudesse e não convenho
Deixar se liberar o sentimento
No todo onde bem sei que me atormento
Por quanto seja farto o meu empenho.
Eu tive procurando pelas ruas
Bebendo estas calçadas, tantas nuas
E nada de encontrar quem me queria,
Agora ao fim da noite te aproximas,
E assim que já se danem minhas rimas,
Eu quero é me entranhar nesta alegria.
34937
Indevassáveis fases, luas, ritos.
Os dias se sucedem, mas no fundo
Do quanto ainda posso e não me inundo
Traria para mim os infinitos,
Amor quando em diversos tons aflitos
Redunda no possa mais profundo,
E giro como um tolo vagabundo
Bebendo das paixões, etéreos mitos.
Ouvindo alguma música, pensando
No tempo mais tranqüilo, mas em bando
As emoções partiram para o nada.
Quem sabe possa haver nova partida
Remoçando afinal a minha vida
Tramando no final outra jornada...
34938
De tantas pedras, riscos ou espinhos
Cansado de seguir a mesma estrada
Buscando vez em quando alguma estada
Porém os dias sempre mais sozinhos
E neles os meus sonhos são mesquinhos,
Deveras o que possa até calada
A voz já não faria anunciada
A morte dentre goles, cortes, vinhos.
Mas amo e nada disto tem valor,
Somente vejo em frente o quanto amor
Mudasse a minha sorte noutra esfera,
Porém sei do vazio que se faz
E nele mesmo quando mais audaz
A mesma solidão me destempera.
34939
Já não me importa mais sequer o rastro
De quem partiu há tanto e nada quis,
Se eu tento ou se pretendo ser feliz,
Deixando para trás o rumo e o lastro,
Nas sendas mais sublimes eu me alastro,
No olhar da mais bonita meretriz
O gozo desejado não desdiz
Da vida esta certeza dita em mastro.
Resumo o dia a dia no trabalho
Gravata, paletó e se batalho
Mereço algum descanso nalgum colo,
E quando nos lençóis deste motel
Encontro finalmente qualquer céu,
Enrosco-me e decerto em paz me embolo.
34940
Roubando dos poetas alguma luz
Aonde eu possa mesmo mergulhar
Sem medo de partir ou de voltar
No quanto a poesia inda reluz
E tanto na verdade reproduz
Distante, mas em mim farto luar
Persisto sem destino e vou vagar
Aonde meu desejo me conduz.
Promessas entre copos de cerveja
A vida se servindo de bandeja
Que seja desta forma, tanto faz.
Importa na verdade o meu prazer,
E isso quero intenso e posso ter
Deixando qualquer traço para trás...
34941
Vagando sem destino por cidades
Diversas, pensamento sempre igual
Tateio enquanto busco amor e o sal
Do qual a cada instante mais invades
Deixando para além felicidades
Ou mesmo noutro intento mais banal,
O corte se apresenta e no final
Os dias morrem todos noutras grades,
Embora libertário este andarilho
Enquanto por caminhos vãos palmilho
Procuro o que não vejo mais em mim,
O amor não se desvenda nem atende
E quando noutra face já se estende
Percebo a caminhada ora sem fim...
34942
Se todo o meu esforço sendo em vão
Não deixa perceber uma saída
Apenas resta então a despedida
Deixando para além qualquer verão,
Fadado em mais completa solidão
Já dando minha sorte por vencida,
Apenas adivinho esta guarida
E perco neste instante a direção.
Pretendo ser feliz? Ah quem me dera,
O todo na verdade dita a fera
Que brada a cada curva do caminho,
E sei quando não posso solitário
Embora cada sonho é necessário
Cansei de colher pedra, medo e espinho.
34943
Ainda num velório o coração
Aguarda pelo vil sepultamento
E sei que da mentira me alimento
Sabendo desde sempre a divisão
Da vida entre tormenta e diversão
Que agora se fazendo em vão provento
Deixando o caminheiro mais sedento
Tombando qualquer tola embarcação.
Mergulho no passado como quem
Tentando procurar o que não tem
Nem mais terei sequer, e nada vejo
Das sobras me alimento e quando eu posso,
Do farto delirar, mero destroço,
Alhures segue embalde o meu desejo.
34944
Cansado deste mesmo vão marasmo
Aonde se pudesse qualquer dia
Traçar outro caminho ou melodia,
Negando a cada curva algum espasmo,
Seguindo sem saber do teu sarcasmo
A morte noutro fardo me seguia
E bebo a mais perfeita fantasia
Na solitária noite sem orgasmo.
Ensimesmado eu teimo em ver ainda
A imagem mais perfeita, nobre e linda
Da sílfide que o sonho presenteia,
Mas quando neste espelho vejo a face
Já decomposta e nela sempre grasse
Realidade amarga, dura e feia.
34945
Por onde quer que eu siga vejo apenas
Ruínas de um passado mais feliz,
Os olhos se fechando, a sorte diz
Das horas mais tranqüilas e serenas,
Eu sei que representam falsas cenas,
Restando tão somente em cicatriz
O vago caminhar em tom mais gris
Enquanto ao longe ris e me envenenas.
Os tantos delirares de um poeta
Na vida mais dorida ou incompleta
Resumem a tristeza que carrego,
Prenunciando o fim da tola história
A sorte em descaminho, merencória
Sem ter como lutar, enfim me entrego...
34946
Carrego dentro em mim tantas cidades
E luas, ruas, bares botequins
Ainda revivendo tais jardins
E neles beijo a boca das saudades,
De vez em quando em sonhos tu me invades
Num misto de demônios, querubins
Os tantos caminhares em cupins
E a cada destroçada, ora degrades.
Tramando contra os dias do porvir
O todo que deveras há de vir
Voltando à velha casa, este sobrado
Que sei já destruído pelos anos
Acumulando assim diversos danos,
Bebendo a gota amarga do passado.
34947
Envelhecido passo rumo ao parto
É como se buscasse o renascer
Depois de tantos anos posso ver
O quanto na verdade não reparto,
E a cada novo tempo mais me aparto,
Porém já não consigo mais viver
Além do que pudesse e teimo em ter
Embora deste tanto esteja farto.
Revivo cada instante como fosse
Criança em busca louca por um doce,
Aonde saciasse o meu desejo,
Somente mera sombra deste tudo
Olhando devagar até me iludo
E o corpo ressurreto enfim eu vejo.
34948
Assim como se fosse algum destroço
Do todo se perdendo pela vida,
A mesma imagem vejo revivida
Nas ânsias muito além do que inda posso,
E penso falsamente que remoço
Olhando mais de perto a despedida,
Seara da esperança enfim perdida,
Porém nos seus amargos eu me adoço.
Percebo esta criança no arvoredo
A queda, o machucado, em meu degredo
Fugindo deste velho que no espelho
Reflete cada ruga, cada marca
Da vida sempre atroz, difícil, parca
Em nada do que eu fora me assemelho.
34949
Buscasse algum caminho, mas não há,
O risco de sonhar maltrata tanto,
E quando ainda ao longe tento e canto
O todo desabando desde já,
O sol jamais de novo brilhará
E o quanto se mostrando em desencanto
Apenas a mortalha, ledo manto
O corpo com prazer enrolará.
Bebera cada gole de um passado
Aonde fui feliz e hoje cansado
Revolvo estas gavetas, tudo inútil,
O quanto inda pareça assim mais fútil
Ao procurar em mim o que morrera
Do todo não restou pavio ou cera.
34950
Por mais que eu tente escape, alguma fuga
Retornarei ao todo que deixara,
A noite não será jamais tão clara
A vida desnudada em cada ruga,
O tempo na verdade nos aluga
Ao sonho e depois tudo desampara,
Abrindo no caminho nova escara
A força a cada instante mais se suga.
Não tenho senão isto: uma saudade
E quando o vendaval de outrora invade
Não deixa ficar pedra sobre pedra,
E o coração audaz da juventude
Agora noutra face já se mude
E ao ver a realidade, quieto, medra.
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