quinta-feira, 3 de junho de 2010

35261 até 35270

1


Os rastros se demonstram mais seguros
Em meio aos mais diversos vendavais
Aonde se buscara, nunca mais,
Os olhos atravessam tais apuros,
Resisto o quanto posso e desenhando
Um tempo aonde eu possa crer diverso
Daquele para o qual ainda verso
E sei das emoções terrível bando,
Restara do que fora costumeiro
Cenário discrepante, vida e morte,
Sem ter sequer o canto que conforte
No escuro vou buscando este luzeiro
Que possa me trazer uma alegria,
Porém a noite segue vã, vazia...

2

Quem fora tempestade já não manda
E teima em temporais, mas se perdeu,
O todo que pensara fosse seu
Agora vai pesando noutra banda,
Restando dos meus passos pelas sendas
Outrora mais sombrias, a lembrança
Aonde no meu verso não se cansa
E espero que deveras tu me estendas
As mãos e me permita ainda crer
No todo ora desfeito ou num caminho
Diverso deste quando mais sozinho
Matara qualquer forma de prazer,
E assim ao mergulhar dentro de mim,
Vagando sem destino chego ao fim.

3


Já surge na manhã tão esperada
O sol que tanto eu quis e nunca vinha
A sorte nunca fora outrora minha,
A paz há muito desejada
Amordaçada e quieta não sabia
Do rumo aonde posso em novo brilho
Traçar cada momento aonde trilho
E gere dentro em mim um claro dia,
Assisto ao derradeiro e mais venal
Acorde desta noite revoltosa,
O tempo se mostrara em polvorosa
Agora noutro novo ritual
Estende-se solar por sobre a terra
E toda esta beleza em si se encerra.

4

Aurora que vivia envergonhada
Escondida nas nuvens, na neblina
Agora quando vem toma e domina
Não deixa do passado quase nada,
Refaço cada passo neste tanto
E bebo esta alegria inconfundível,
O mundo que pensara ser plausível
Realça sutilmente enquanto canto
E beijo a boca rara da manhã
Ensolarada e farta em plenitude
Ainda que esta cena o tempo mude,
Valeu espera amarga e tão malsã
Redime qualquer medo esta clareza
Deitando a luz solar por sobre a mesa.

5


É força que nos guia e nos seduz
O tempo em soberana maravilha,
Aonde a vida trama esta armadilha
Na qual o meu caminho reproduz
Cenários mais dispersos do passado
Deidade soberana, amor supremo,
E quando nos teus braços nada temo
O corte se mostrou cicatrizado,
Restando dentro em mim a luz que possa
Trazer esta manhã que nos redima,
Mudando com certeza todo o clima
Porquanto cada instante nos apossa
E bebe toda a sorte gole a gole,
Enquanto a realidade amarga engole.

6

Estrela avermelhada sem limite
O sol no anoitecer deitando além
Assim nesta emoção que nos contém
O todo num instante se acredite
Esqueço qualquer medo e sofrimento
Raiando em mim a lua em claros tons
Promessas de outros dias, fartos, bons
Trazendo cada sonho em que alimento
Meu mundo noutro tanto e reproduza
O brilho de uma estrela soberana
Aonde cada instante a vida ufana
Depois de tanto tempo mais confusa,
Revive dentro em mim a imensa glória
Gerando com certeza esta vitória.


7

Não há mais coração que não palpite
Ao ver a plenitude deste amor,
E assim ao se mostrar em rara cor
Além do que deveras se permite
O passo realçado em claros dias
E neles outros tantos prometidos,
Assim tocando todos os sentidos
Também ao mais supremo tu me guias
Rendido e sem defesa, sendo teu
O amor quando se entranha e doma a cena
No todo que pudesse me serena
Enquanto te encontrando se perdeu
O medo que inda tinha desta vida,
Agora noutra estrada sendo ungida.

8

O medo reunindo meros restos
Aonde no passado dominara,
Ao ver a poesia bem mais clara
Os tempos não seriam indigestos,
E tento vislumbrar com mais certeza
Relevos entre dores e ternuras,
E quando noutra face me emolduras
Eu sigo sem temor tal correnteza
Vestindo esta ilusão, pois quem me dera
Saber do quanto custa ter alguém
E sei que na verdade se contém
No amor que tanto quero a primavera,
Depois de estar entrando em pleno inverno,
Nos sonhos juventude ainda interno.

9

Que se senta na beira da calçada
A sombra de uma tétrica incerteza
Deixando no legado sobre a mesa
Uma alma há tanto tempo destroçada,
O quanto poderia acreditar
Na força inusitada da esperança,
Mas quando se percebe e assim se avança
A noite sem beber claro luar,
Rasgando o céu apenas o vazio
E nesta sombra amarga eu me perdendo,
O quanto desejara nada vendo
O tempo a cada ausência desafio,
Resumos de uma vida torpe e vã,
Na ausência mais completa de amanhã.


10



A mão desta criança esfomeada,
Há tanto retratando o meu país
E nele o tempo tudo contradiz
Imagem pela vida constatada,
Resume no que fora o que virá,
E sei desta injustiça que não cessa
Invalidando assim qualquer promessa
Calando uma esperança desde já.
Restando dentro em nós apenas crer
Na sorte após a vida e nada mais,
Exposto aos mais temidos vendavais
Apenas decorado em desprazer,
Eu sigo contra tudo e contra todos,
Embora saiba em mim também tais lodos.

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