1
Um monstro tão disforme
A face decomposta
O tempo diz resposta
Enquanto se conforme
Com toda força enorme
E nela outra proposta
Além do que se gosta
Ou mesmo não informe
Resolvo a cada instante
Um fardo degradante
Ou mesmo uma heresia
Viver a tempestade
Atroz enquanto invade
Destroça todo o dia.
2
Um ser tão horroroso
Ditame de um espelho
E quanto me aconselho
Bebendo o pavoroso
Caminho em que andrajoso
Ainda me ajoelho
Olhar torpe e vermelho
Do corpo sulfuroso.
Resolvo meus demônios
E gero em pandemônios
Caminhos mais dispersos
E quando entranha em mim
A força já sem fim
Marcando podres versos.
3
Pudesse ingenuamente
Sorver o quanto ainda
A sorte teima e brinda
Enquanto mais se ausente,
O tempo mais premente
A vida agora finda
E o quanto se deslinda
Decerto sempre mente,
O ser que tanto quis
Gestara a cicatriz
Gerindo o sofrimento
E quando outro caminho
Invado e tão mesquinho
Em fúrias alimento.
4
Mirando em teu olhar
A incúria, a fúria e a troça
A vida se destroça
E toma devagar
O quanto navegar
Além do que inda possa
A vida não remoça
Quem tenta mergulhar
Nos antros da promessa
E quando ali tropeça
Mergulha sem defesas,
Seguindo cada passo
Aonde me desfaço
Nos dramas e incertezas.
5
Abrindo a velha porta
Aonde nada havia
A sede do outro dia
O tempo não comporta,
E sendo alerta e morta
A senda que podia
Ainda em fantasia
Decerto não me importa
E resolutamente
O tempo também mente
E omite cada fato,
Esboço reações
E sei dos meus senões
No quanto eu me retrato.
6
Alçando este infinito
Caminho aonde eu tenha
Além da simples senha
Acesso mais aflito
E quando assim eu grito
Acende em mim a lenha
E quanto me convenha
O resto adentra o mito,
Fitando dentro em mim
O templo que sem fim
Ainda posso crer
Nas ânsias mais vulgares
E nelas ao sonhares
Desfazes meu prazer.
7
Jamais reconhecia
A sorte noutra senda
E quando se desvenda
Aporta-se outro dia
Em face mais sombria
E nela não se entenda
Tampouco ainda estenda
A mão que serviria
Redimo-me do engodo
Adentro lama e lodo
Invado a charqueada
Do todo que pudera
Alimentando a fera
Há tanto degradada.
8
No encanto de Satã
Na voz deste infernal
Caminho virtual
Na busca da manhã
A sorte que sei vã
A morte sem igual
O corte terminal
A fúria noutro afã
O peso da esperança
Ao nada inda se lança
E vejo este retrato
Aonde poderia
Singrar um novo dia,
Porém somente ingrato.
9
Dos olhos do meu Deus
As lágrimas escorrem
Os dias não socorrem
Preparam novo adeus,
Adentro em trevas, breus
E os tempos já não forrem
Enquanto os sonhos morrem
Em farsas, vis ateus.
Resumo cada espaço
No verso que ora faço
Na farsa de uma igreja
Aonde nada tendo
Nem mesmo algum adendo
Que ainda se preveja.
10
O quanto nada importa
Do todo que se esquece
A fonte ora se tece
Na sensação já morta
Do vento que se aborta
Do tempo que obedece
A fúria em reza e prece
Palavra sempre torta,
Resisto e na verdade
O quanto desagrade
Ainda me permite
Viver na plenitude
Sem nada que me ilude
Além deste limite.
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