quarta-feira, 2 de junho de 2010

35051 até 35060

1

Tentasse arrebentar esta corrente
Que atando o meu presente ao meu passado
Não deixa qualquer sonho desenhado
Aonde um novo dia se apresente
Ao menos se viesse o quanto alente
Um tempo mais feliz sendo ansiado
E vendo noutro rumo já traçado
Momento aonde possa e plenamente.
Mas quando me recolho no meu quarto
E vejo a solidão, embora farto
Procuro algum instante mais suave,
Meu pensamento alçando muito além,
Porém se na verdade nada vem,
Inútil ilusão, tão fútil nave...

2

Verdade se mostrando mais translúcida
Enquanto se percebe o tão vazio
Do mundo que ora em verso desafio
Usando da palavra atroz e lúcida
A sorte tantas vezes vaga e estúpida
O quanto se perdera intenso frio,
O medo do sonhar, o olhar esguio
Na face que pensara bem mais cúpida
Ciprestes do passado agora são
Apenas o retrato sem vazão
De um dia feito em turva luz embora
O quanto se desfaz e quando posso
Resumo cada fato num destroço
E a solidão, ainda em vão demora.

3

O quanto ainda vem do coração
E possa transformar o dia a dia,
Apenas com vigor da fantasia
Mudando deste tanto a direção
Aonde se pensara num verão,
A noite transcorrendo bem mais fria,
O sonho novamente o tempo adia
E volto aos meus terrores, solidão.
Enfrento estes penhascos na procela,
E a sorte neste instante desatrela
Deixando-me sozinho em ermo ao léu.
O mundo aonde tento algum sorriso
Mostrando-se deveras impreciso
Distante do que fora ainda um céu.

4

Esparso pelos antros do vazio
Encontro as velhas horas, súcias, medos
E sigo sem pensar tolos enredos
E quando me entranhando vão sombrio
Aos poucos desencanto toma o fio
E leva por caminhos bem mais ledos,
Quisera conceber alguns segredos
Resisto o quanto eu posso, mas me esguio.
Adentro os temporais e furacões
Olhares para alhures, tentações
E versos quase fúteis; nada resta
Do tanto que pudera haver ainda
A sorte com a morte teima e brinda
O mundo a cada instante mais se empesta.

5

Sonhar com outras faces mais felizes
E crer ser tão possível ter a sorte
Aonde na verdade sem meu norte
Encontro os mais terríveis vãos deslizes,
Coleto a cada engano cicatrizes
E sinto este vazio que me corte,
E nele a sensação da própria morte
Enredos desenhados pelas crises.
Assim eu me entregara mais que pude
E morta dentro em mim a juventude,
Amortalhada sombra do passado,
Vagando sem destino pela vida,
No quanto cada ausência é mais sentida
O fim se aproximando vejo-o ao lado.

6

Uma oração ao menos poderia
Amenizar a dor que agora sinto,
No amor há tanto tempo morto e extinto
A imagem dolorosa e mais sombria
De quem não se conforma e da agonia
Vivendo tão somente por instinto
O tanto que pudera e não pressinto
Negando algum raiar de claro dia.
Esqueço cada passo e sigo em vão,
Resumo de um momento e desde então
Apenas coletando os restos meus,
Os olhos entranhados pelos medos,
Os dias não perfazem seus enredos,
Restando a quem amara um ledo adeus.


7


Depois que sinto vir desta emoção
A voz aonde tudo se aplacasse
A vida noutro passo em vago impasse
Não sabe mais sequer a direção
Do todo que pensara e bebo o não,
Mostrando na verdade a minha face
Porquanto novo tempo não se trace
Ainda vendo viva a traição
Esgarço os meus poemas, rasgo os versos
E quando noutros sonhos vão dispersos
Buscando pelo menos quem se dê
O nada continua ainda em mim
E o todo se aproxima em triste fim,
A história se mostrando sem por que.

8

Os versos sendo assim amargos, rudes,
Transcendem ao que possa a poesia
Mostrar ainda viva a fantasia
Ou mesmo transformar tais atitudes
E quando noutro tanto nada mudes
Erguendo o teu olhar em ironia
Eu bebo o vinho amargo em que se cria
Dos tantos malquereres vis açudes.
Esbarro no passado e nada vem
Senão a mesma imagem deste alguém
Marcada em cicatriz dentro de uma alma
Que ainda poderia estar mais viva
E quando de fantasmas já se criva
Nem mesmo a própria morte inda me acalma.


9

As rimas entre sonhos e mentiras
Não servem para quem busca a verdade
E quanto mais a vida se degrade
Maiores os recortes, tantas tiras,
E quando no vazio tu me atiras
Não tendo mais sequer tranqüilidade
O que restara apenas diz saudade
Por vezes nestes falsos interfiras,
Moldando com terríveis ironias
As sombras do que foram mansos dias
Trazendo o desalento a quem sonhara,
A vida não seria desta forma
Do jeito que a verdade ora deforma
Na falsa sensação suave e clara.

10


O quanto na verdade sempre minto
Ao tentar demonstrar suavidade
Enquanto o verso amargo já me invade
E vejo qualquer sonho agora extinto,
Raiando dentro em mim não mais me pinto
Nesta aquarela feita em falsidade
Pudesse adivinhar felicidade,
Negando na verdade o que ora sinto.
Restando nalgum canto do meu ser
Apenas o vazio, eu passo a crer
Na inútil sensação de um verso em vão
Cevar com mansidão novo momento
Bebendo da alegria este provento,
Porém eu sei que é mera distração.

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