domingo, 14 de março de 2010

26905/06/07/08/09

26905

A podre realidade em que se encerra
Cultura mundial em fim de Império,
Ao ver que sem juízo e nem critério
Poema moribundo já se enterra.

O quadro se aproxima em tempestade,
E aonde encontrarei qualquer abrigo
Se eu mesmo me livrar nunca consigo
De boçalidade que me invade.

Outrora com soberba e tanta gala,
A poesia em festas e saraus,
Subia mais enfática os degraus
Tomando com beleza toda sala,

Agora na privada vejo os versos:
Descaminhos deveras tão diversos.

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Descaminhos deveras tão diversos
Levando ao triste fim de uma arte bela
E quando esta verdade se revela,
Culpados pelo mundo estão dispersos.

Aqui ou lá surgia algum panaca
Que sem saber pegar uvas maduras,
Amadurecem verdes e as procuras
Encerra e desta forma o mundo empaca.

Visceralmente contra a idiotice
Metida a sabichona, velha grife
Trazendo à poesia algum esquife
Patifaria é tudo o que se disse.

Bebendo esta impossível fantasia
O encanto no final putrefazia.

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O encanto no final putrefazia
Deixando na carcaça a fedentina,
A Musa se transforma em cafetina
E a pobre poesia em putaria.

Jogada pelos cantos do bordel,
Vendida pra qualquer sujeito otário
Com paladar escroto e mesmo vário,
Aluga um pedacinho lá no céu.

Depois vem com a cara de imbecil,
Dizendo babaquices como fosse
Momento especial, sonoro e doce,
Na Academia é tudo o que se viu.

Diploma de escritor, besta recebe
Universalizando a mente plebe.

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Universalizando a mente plebe
Depois de ter um auge esplendoroso,
Motivo de piada este jocoso
Caminho que a verdade hoje concebe.

Se sabe ou mal conhece uma palavra,
Na enxada feita em tinta ou no teclado,
Um imbecil urbano um aloprado,
Na roça sem saber de nada, lavra.

Colheita? Com certeza é maravilha,
Pensando numa pérola marinha,
São poucas Coralinas gente minha,
O resto por buracos toscos trilha.

E a leda poesia neste cais
Dos píncaros às fossas abissais.


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Dos píncaros às fossas abissais
História do que fora outrora belo,
Sem ter sequer palhoça quer castelo
As trovas entre trevas? É demais...

Meu cérebro não é assim miúdo
Se eu falo não defendo alguma métrica,
Porém a coisa andando assim tão tétrica,
O que falta deveras: conteúdo...

Juntando tudo nesta mesma cesta,
A fedentina é sempre de amargar,
Por isso, meu amigo vou parar,
Não vou ficar aqui bancando o besta

Não bebo desta bosta de elixir
Na pútrida manhã que sinto vir.

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