domingo, 14 de março de 2010

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Na pútrida manhã que sinto vir
Não vou deixar a bunda sempre exposta,
Tem gente que em verdade disto gosta,
Mas paga muito caro no porvir.

Cansei de tentar ser um menestrel,
Cantar as minhas mágoas, dores, sonhos,
Agora que percebo quão bisonhos
Os passos que sonegam claro céu,

Mergulho no ostracismo e me garanto
Bem mais tranqüilo; é bom pro coração,
Ainda bem jamais fiz profissão
Da pobre fantasia do meu canto.

Porém diviso ao longe, poucos trilhos
Num mar de incompetência, raros brilhos.

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Num mar de incompetência, raros brilhos
Assim já se perfaz a poesia,
Outrora tão sublime e hoje vadia
Enfrenta com certeza os empecilhos.

Mas quando se mostrasse mais audaz,
Talvez ainda houvesse alguma chance,
Distante do que ainda em vida alcance
Só quero é que ao morrer encontre a paz.

Vivi lutando muito pela dita
E bela liberdade de expressão,
Porém do que eu queria, tudo em vão,
Apenas percebendo esta desdita

Puindo com terror minha bandeira,
Matizes tão diversos, tanta asneira.


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Matizes tão diversos, tanta asneira
Já não consigo ver sem ter enjôos
Os pássaros dos sonhos, seus revôos
Jogados pelo chão, triste lixeira.

Apaziguando assim o velho peito
Que tanto imaginara ser melhor
O mundo e discursava até de cor
Fazendo com vigor supremo pleito

Ao ver a derrocada do seu sonho,
Bancando algum babaca ou mesmo chato,
A porra do escrever ora arremato
Com estes meus sonetos que componho

Berrando das janelas, meu umbrais
Literatura, amigo? Nunca mais!


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Literatura, amigo? Nunca mais!
Cansei de ficar dando milho aos pombos
Depois de tantas quedas, cortes, tombos,
Servindo de repastos pra chacais

Tomei vergonha nesta minha fuça,
Melhor ficar jogando carteado,
Aí quando não roubo, sou roubado
Malícia desta forma já se aguça.

Pacato cidadão, envelhecido,
Chegando nos cinqüenta. É bom parar,
Melhor do que ficar exposto ao ar
E ser legado mesmo ao nada, olvido.

Só posso lamentar por existir
Uma arte totalmente sem provir...


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Uma arte totalmente sem provir
A poesia morre e se desmancha,
Melhor surfar amigo, dê-me a prancha
Assim encontro um bálsamo, elixir

Que possa me manter bem mais ativo,
A bunda na cadeira deu escara,
Verdade mais venal já se escancara,
E nessa confusão não sobrevivo.

Espero que inda surja alguém no meio
Da imensa escuridão que agora vejo,
Sinceramente é todo o meu desejo,
Mas dessa luta, agora estou alheio.

Lunático cantor em fortes brilhos
Farol em negra noite traça trilhos.

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Farol em negra noite traça trilhos,
E espero que isto surja em algum dia,
Salvado a moribunda poesia,
Cansado destes mesmos estribilhos.

Encerro com um pouco de esperança
A minha desventura no soneto,
Enquanto no vazio me arremeto,
O olhar de algum lunático se lança

E trace desta merda que hoje, esterco
A flor que possa dar razão à vida,
Já não tenho saúde, pois perdida,
Então só de fantasmas eu me cerco

Deixando esta mensagem derradeira:
Uma alma libertária é garimpeira.

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