Porquanto fosse exótico o caminho
Ainda mesmo assim eu não teria
Lembranças do que outrora em agonia
Vencera sem demora pedra e espinho.
Arcar com meus enganos de poder
Sentir o doce alento da manhã,
Realidade é tosca, torpe e vã
Por mais que a fantasia diz prazer.
Mediocridade grassa sobre a Terra
Matando o que já fora uma arte nobre
Agonizando aos poucos se descobre
A podre realidade em que se encerra.
Dos píncaros às fossas abissais
Literatura, amigo? Nunca mais!
2
Literatura, amigo; nunca mais
Sobreviveu durante tempestades
Durante a Idade Média, duras grades
Tornando-se a refém de vãos boçais.
Usando da palavra sem pensar
Inexistente; eu vejo, algum talento,
Jogada sem destino em raro vento,
A morte se percebe, devagar.
Espúrias criaturas dizem versos
Tentando com seus vômitos dizer
O que jamais conseguem entender
Descaminhos deveras tão diversos
Na pútrida manhã que sinto vir,
Uma arte totalmente sem provir...
3
Uma arte totalmente sem provir
Aonde brados, liras, trovadores
Agora se expressando em novas cores,
As bênçãos de uma Musa vêm pedir.
Porém a divindade se perdeu,
Nos bailes, besteiróis, asnices tantas
Estúpido fantasma tu levantas
Morrendo neste imenso e tosco breu.
Apedrejada; vejo a poesia.
Fatídica expressão tomando a cena.
Causando a quem se deu; imensa pena
O encanto no final putrefazia.
Num mar de incompetência, raros brilhos
Farol em negra noite traça trilhos.
4
Farol em negra noite traça trilhos,
Os quais sem ter ninguém que inda os perceba,
Por mais que a fantasia inda se beba,
Desconhecendo as armas e os gatilhos.
Não creio necessário ter cadência,
Tampouco a rima é base para tal,
Já não suporto a fala sempre igual
De quem não tem noção e competência.
A morte do poema se percebe
Nas vastas redes livres da internet
Aonde um energúmeno se mete,
Universalizando a mente plebe.
Matizes tão diversos, tanta asneira
Uma alma libertária é garimpeira.
5
Uma alma libertária é garimpeira
E traça seu destino com vigor,
Mas vendo a poesia decompor,
Aos poucos, se em juízo, já se esgueira.
A face desdenhosa da mentira
Ardendo nos meus olhos, vil quimera,
Aonde se encontrar a primavera
Se ao abissal caminho enfim se atira.
Verdugos de nós mesmo, imbecis,
Bebendo como fosse mel o esgoto
Percebo o paletó agora roto
E o que fosse banquete se desdiz.
Prazer se renovasse a alegoria?
Ainda mesmo assim eu não teria.
6
Ainda mesmo assim eu não teria
Uma esperança. O tempo não retorna,
E quando a realidade se faz morna,
Jamais se percebendo uma ardentia.
O verso se perdeu no nada ser,
Envergonhando a Musa e transformando
Em ar mais furioso o bardo brando,
No túmulo, decerto a revolver.
Espreita de tocaia, uma ignorância
Sagacidade é coisa de panaca,
E quando nesta merda, já se atraca
Lirismo se transforma em arrogância
Matando quem vencendo “liberdades”
Sobreviveu durante tempestades
7
Sobreviveu durante tempestades
A velha poesia em força tanta,
Mas quando um tumular vento agiganta
Deveras tu percebas que degrades
A sacrossanta e bela maravilha
Exposta aos mais terríveis vendavais
Servindo de repastos pra chacais,
Já não superaria esta armadilha.
A face em podridão se apresentando,
Desnuda-se o cadáver deste sonho
Reforma salvadora inda proponho,
Mas rapineiras voam, ledo bando
Agora proliferam estupores
Aonde brados, liras, trovadores...
8
Aonde brados, liras, trovadores
Cantavam e traziam seu talento,
Perdendo a direção do manso vento,
Agora do vazio, adoradores.
Palavras; expressões que vêm de uma alma
Traduzem realidade e fantasia,
Mas quando o simples nada já se cria
É necessário ter alguma calma.
Boçalidade avança soberana,
A farsa se fazendo mais freqüente,
E enquanto uma cultura já se ausente
Qualquer torpe canalha tenta e engana
Venenos tão sutis ora se beba,
Os quais sem ter ninguém que inda os perceba.
9
Os quais sem ter ninguém que inda os perceba
Navios destroçados pela vida,
A podre sensação enaltecida,
É tudo o que deveras se conceba.
Esgarçam-se os sonetos, morrem trovas
Qualquer boçalidade vira verso,
E assim ao percorrer este universo
Da imensa hipocrisia tenho as provas.
A par do quanto inútil prosseguir,
Matando este poeta que existiu
Agora uma alma insólita e sutil
Bebendo solitária, este elixir.
Reluto e tento vivas; na alma fria,
Lembranças do que outrora em agonia.
10
Lembranças do que outrora em agonia
E agora falecidos os poemas,
Antigamente vivas as algemas,
Agora por venal melancolia
A farsa se transforma no sucesso,
Medíocres imbecis matam sem dó,
Reduzem o talento ao simples pó
Em nome do que fora algum progresso.
Não posso mais lutar contra a maré,
Desisto e me isolando, sou feliz,
Fazer da poesia a meretriz
Dizendo estar rompendo uma galé
Refazem ao dizerem “liberdades”,
Durante a Idade Média, duras grades.
11
Durante a Idade Média, duras grades
Atando com correntes a verdade,
Negando totalmente a liberdade
Reflete o que deveras já degrades.
O fato de ser livre não permite
Qualquer besteira em nome da beleza,
Se poluída vejo a correnteza,
Ultrapassou há tanto meu limite.
Versar sobre o vazio e a estupidez
Negando ao próprio estilo uma existência
Traduz a mais completa incompetência
E nela a maravilha se desfez.
Aonde houvera brilhos em fulgores
Agora se expressando em novas cores.
12
Agora se expressando em novas cores
A poesia morta não tem jeito.
A falta de caráter e o despeito
Impede que se nasçam belas flores.
Mentecaptos vestidos de poetas,
Inúteis versos soltos sem sentido.
Condenam-se ao terror do ledo olvido,
Pior é que envenenam suas setas.
Cansado desta imensa babaquice,
Quem sabe faz agora ou dá no pé,
Prefiro me calar seguir na fé,
Não posso conviver com tal tolice
Ainda que eu procure e não perceba
Por mais que a fantasia inda se beba.
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Por mais que a fantasia inda se beba
Cansado de um pileque vagabundo,
Procuro inutilmente pelo mundo,
Quem tente adivinhar e até perceba
O quão se fez herética esta história,
Em nome de um provável modernismo,
Criaram no poema um cataclismo
E ainda vêm com ares de vanglória.
Boçalidade em nome, mas de que?
Da fúria desregrada dos boçais?
Não piso neste solo nunca mais.
É tanta idiotice o que se lê.
Quem sabe caminhar, mesmo sozinho,
Vencera sem demora pedra e espinho.
14
Vencera sem demora pedra e espinho
Quem tenta descobrir toda a verdade,
Enquanto a idiotice já degrade,
Ainda restará, quem sabe um ninho.
Por mais que enfim tentasse paciência,
Ultrapassei deveras meus limites,
Não quero de imbecis torpes palpites
Já não terei deveras mais clemência.
Retiro-me dos grupos onde vejo
Somente os assassinos do poema,
E quando se versando sobre o tema,
Com mãos mais afiadas apedrejo.
A pobre poesia? Nunca mais...
Tornando-se a refém de vãos boçais.
15
Tornando-se a refém de vãos boçais
Cultura se tornou quase piada,
Caminha pela rua apedrejada
Mordida por terríveis animais.
Qualquer estúpido promete um verso
E faz desta ignomínia uma verdade,
Já não comento mais nem qualidade
Não quero ser deveras mais perverso.
Fadando-se a morrer de inanição,
Espúrias carpideiras mentirosas,
Espinhos no lugar de belas rosas,
Secando desde sempre a plantação,
Deixando a poesia sem porvir
As bênçãos de uma Musa vêm pedir?
16
As bênçãos de uma Musa vêm pedir
Quem mal conhece as tramas do poema,
Gargalha-se a infeliz ao ter na algema
Do verme que pretende algum porvir.
A liberdade existe e não condeno,
E dela faço o verso que eu quiser,
Mas quando me proponho ao que vier
Já sei que enfrentarei qualquer veneno.
E sendo melancólica esta sanha,
Não deixará sequer que ainda possa
Além da imensa e turva, podre fossa,
Poder se vislumbrar uma montanha
Caminhas entre falsos risos, brilhos
Desconhecendo as armas e os gatilhos.
17
Desconhecendo as armas e os gatilhos
Percorrem a sombria madrugada,
Nas mãos não cabem sequer enxada
Ainda vão buscar nas letras, brilhos.
Já não escapam desta vilania
Milhões e mais milhões de tolos cantos,
Vestindo os mais puídos, rotos mantos
Preparam em velório, a poesia.
Abortos de uma tal inteligência,
Esboços de figuras tão abjetas,
Se auto denominando então poetas
Não têm da maestria uma ciência
Eu pago muito caro por saber
Arcar com meus enganos de poder.
18
Arcar com meus enganos de poder
Tentar ainda ver se ela respira
Envolta por falácias, na mentira
A pobre não irá sobreviver.
Facínoras e estúpidos se vestem
E sonham com os bardos que não são,
Propagam a total escuridão
E nelas, pobres seres, sempre investem.
Non sense, liberdade, modernismo...
É tudo uma mentira deslavada,
Em nome desta imagem depravada
Gerando na cultura um cataclismo
A corja se propaga sem parar,
Usando da palavra sem pensar.
19
Usando da palavra sem pensar
Não vejo poesia em nada disso,
Se às vezes piso em solo movediço,
Pretendo vez em quando flutuar;
Barbárie se espalhando na cultura,
Nefastos caminheiros do vazio.
Secando toda fonte, matam rio,
Assim perto do fim, literatura.
Os erros cometidos tão absurdos,
E ainda vejo esta horda a proferir
Qual fosse uma verdade, um elixir,
Besteiras que nos tornam quase surdos.
Talvez o que ande errado aqui sou eu
Porém a divindade se perdeu.
20
Porém a divindade se perdeu
Deixando no lugar o primitivo,
Pior é quando vejo em ar altivo
Boçal querer entrar num Ateneu.
O joio destruindo todo o trigo,
Contagiosa eu sei tanta burrice,
O quanto de poesia se desdisse,
Eu tento compreender, mas não consigo.
Ao vento se jogando qualquer merda,
Cobrança com certeza o tempo traz.
Confundem heresia com audaz
E arrancam da pantera toda cerda.
Ainda tenho enfim uma clemência:
Não creio necessário ter cadência.
21
Não creio necessário ter cadência,
Porém algum talento: imprescindível
Mantendo pelo menos qualquer nível
Diverso da terrível decadência.
Somando o que não é com o jamais
Assim se faz qualquer vaga besteira,
Depois vou desfraldar uma bandeira
Em defesa dos lobos e chacais.
O resto do que resto já se fez
Mergulha nos grupelhos mais audazes,
E neles percebendo mesmas fazes,
Em fezes se propaga estupidez
A poesia permite em manso afã
Sentir o doce alento da manhã.
22
Sentir o doce alento da manhã
E crer ser tão sensível que inda possa,
Usando um linguajar que cheira à fossa
Declamar “poesia” é coisa vã.
As editoras gostam dos palhaços,
E vivem nestas tais antologias
Vendendo quaisquer merdas, porcarias
Abrindo ao imbecil enormes braços.
E o tolo endinheirado, vendo as cenas
Empolga-se com tal facilidade,
Querendo com soberba eternidade
Seu bolso com certeza é seu mecenas
Por mais que na vida eu siga atento
Inexistente; eu vejo algum talento.
23
Inexistente; eu vejo algum talento
Apenas a total hipocrisia
Anunciada em cada livraria,
Para um público estúpido e sedento.
Os erros se acumulam no presente,
Quem faz sucesso é mago ou prostituta,
Indústria da leitura é muito astuta
Sabendo que a beleza estando ausente
Só pensa no dinheiro arrecadado,
No meio desta amarga realidade
Eu sei, repito sempre esta verdade
Sou eu, e não duvido, este culpado
As putas poesias bancam santas
Nos bailes, besteiróis, asnices tantas.
24
Nos bailes, besteiróis, asnices tantas
Repetem cataclismos do passado,
Ao fogo deveria ser lançado
A turba de terríveis sacripantas.
Macabra realidade ora se expõe
No quadro desairoso da cultura,
Lanterna de Diógenes procura,
Os olhos no vazio; ainda põe.
Brincando de poeta, qualquer ser
Parece um arremedo de palhaço.
E quanto mais buscando, o meu cansaço
Traduz esta verdade em desprazer.
Não falo do escrever tradicional
Tampouco a rima é base para tal.
25
Tampouco a rima é base para tal,
Apenas qualidade e nada mais,
No meio destes textos infernais,
Ao menos um talvez me traga o sal.
Insossa poesia se agoniza
A culpa é de quem acha que é poeta,
Não sabe sem sequer nem alfa ou beta
E do vazio ou nada nos avisa.
Não quero rimas ricas nem tampouco
Escrevo com a verve de um maestro,
Sem ter sequer à vista um amanhã
Porém se pouco a pouco assim me adestro,
Não vou ficar aqui berrando louco
Realidade é tosca, torpe e vã.
26
Realidade é tosca, torpe e vã,
Mas quando a fantasia se empobrece
Nem mesmo que se faça alguma prece,
Imagem que se forma, então, malsã.
Cadáver do que fora poesia
Esboça-se nos sites, nas conversas,
E quando mais estúpido tu versas
Maior o teu sucesso, uma alegria.
Eu tenho mesmo é pena dos antigos
Que tanto em vão lutaram por beleza,
Após o cataclismo uma incerteza
Aos sonhadores restam desabrigos
E a pobre poesia sem alento
Jogada sem destino em raro vento.
27
Jogada sem destino em raro vento
Nem brisa movimenta este marasmo,
Não falo com temor nem com sarcasmo,
Apenas libertando o pensamento.
Às traças versos morrem exauridos
Cansados de lutar contra a maré,
No cérebro de muitos o chulé
Qual fosse bons franceses bem urdidos
Bastando saber mal e porcamente
Ler e juntar palavras em anelos
Mesmo que díspares e nunca belos
Poesia nasceu “naturalmente”
Tirando da beleza suas mantas
Estúpido fantasma tu levantas.
28
Estúpido fantasma tu levantas
Em nome de ser livre, o passarinho,
Cantando igual pardal, segue sozinho
Ou mesmo não seduzes; só me espantas.
Bacana a liberdade do escrever,
Julgar com parcimônia este momento,
Às vezes entender eu juto, tento,
Tem hora que é melhor nem saber ler.
Vicissitudes são tão corriqueiras,
Engodos qualquer um, eu sei comete,
Mas quando a mesma asneira se repete
É hora de baixar minhas bandeiras.
Perdoe se não sou tosco e boçal:
Já não suporto a fala sempre igual.
29
Já não suporto a fala sempre igual.
Por mais que a fantasia diz prazer
Percebo com terror o apodrecer
Gerado pela incúria que é geral.
Sombria realidade me apavora,
Não falo do soneto, nem da trova.
O verso quando livre se comprova
Beleza que também já nos decora.
Eu falo é da total boçalidade
Sem nexo, sem vigor, merdice pura.
Não tendo quem tal joça ainda atura
Depois elogiar! Isso é maldade...
“Percebo com terror o apodrecer
Por mais que a fantasia diz prazer.”
30
Por mais que a fantasia diz prazer
Não vale quando uma alma se apequena,
A falta de talento que envenena
Permite tão somente o nada ser.
E vem depois alguém falar de versos?
Defunto que fedendo não merece,
Sequer pra quem restou alguma prece,
Se em merda tão somente vão imersos.
Lavando com terrível creolina
A mente de um menino, de um petiz,
Depois que bela cena se prediz,
“Quem sabe faz, se não: somente ensina”;
E nesta procissão já tumular
A morte se percebe, devagar.
31
A morte se percebe, devagar
Uma arte moribunda e mesmo chata,
Qualquer palhaço agora se arrebata
E tenta a poesia violentar.
Escuto a mesma velha ladainha:
É tudo permitido, sim senhor.
Então, meu companheiro, faz favor
E vê se noutra cova já se aninha.
Num beco sem saída, é fim de papo,
Não tendo palacete nem castelo,
Qualquer mancebo torto fica belo,
Palácio sendo feito de sopapo.
E a pobre poesia se escondeu
Morrendo neste imenso e tosco breu.
32
Morrendo neste imenso e tosco breu
A verve com vergonha veste luto
Sujeito sem juízo ou mesmo astuto,
Vendendo o que deveras já comeu.
Assim num ciclo parco, o mundo segue,
Regando o seu jardim com água suja,
Desenha com “talento” a garatuja
Gravando algum disquinho, voz de jegue.
Cansado de jogar jóia a suíno,
Eu tiro o time inteiro deste campo,
E noutra freguesia então me acampo,
Se for preciso calo e me domino.
Só não vou suportar a convivência
De quem não tem noção e competência.
33
De quem não tem noção e competência
Porém com uma cara assim de pau,
O verso se fazendo tão banal,
Não merece sequer nem mais clemência.
A porta da esperança está trancada
A chave? Capetão já escondeu
Se até o Belzebu não era ateu
Melhor caminho, amigo, a debandada.
Quem fala desta bosta e ainda goza
Prazer de se dizer um menestrel,
A conta pra ser paga é lá no Céu
Mentira com soberba é perigosa.
Enquanto uma cultura já se enterra
Mediocridade grassa sobre a Terra.
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Mediocridade grassa sobre a Terra
Jamais eu poderia imaginar,
Quem tanto se perdeu com o luar
Beber do besteirol que a vida encerra.
Eu sinto pelos bardos, podres seres,
Que antanho imaginaram belos dias,
E agora em funerais, as poesias
Perderam seus encantos e poderes.
Jogada pelos cantos, sem descanso,
O rumo da infeliz, uma sarjeta,
E sei que talvez haja algum comenta,
Porém, eis a verdade: não alcanço.
Pululam tantos vermes, mas diversos,
Espúrias criaturas dizem versos
35
Espúrias criaturas dizem versos
Qualquer analfabeto sem talento
Soltando alguma merda pelo vento
Tentando poluir os universos.
Mesquinharia pura ou arrogância,
No fundo sem saber o que inda dizem,
Nas ondas e nos grupos já deslizem
Causando pra quem sabe uma forte ânsia.
O vômito bem sei já não demora,
Comida requentada não faz bem,
Se ainda algum tempero ela contém,
Uma alma tão sedenta inda devora
Pior do que uma Bíblica Maria.
Apedrejada; vejo a poesia.
36
Apedrejada; vejo a poesia
Qual fora uma vadia pelas ruas,
E quando em desvario tu flutuas
Provocas com palavras heresia.
Na fúnebre paisagem que ora vejo,
Um fato me chamou toda a atenção
Qualquer ser se venal ou brincalhão
Matando com vontade o seu desejo,
Entrando num grupelho de outros tantos
Iguais formando até academias
E nelas tais tolices que ora urdias
Derramam nos boçais “doces encantos”.
Enquanto do vazio ele se embebe
A morte do poema se percebe.
37
A morte do poema se percebe
Enquanto tão vorazes rapineiras
Estendem suas garras mais certeiras
E invadem destruindo qualquer sebe.
Outrora havia ao menos o pudor
De crer que nada vale sem talento,
Agora a qualquer verso me atormento,
E vejo repetido este estupor.
Estupram uma Musa em virulência
E matam a suprema inspiração,
Depois se não houver mais floração,
Só restará então a flatulência.
Enquanto uma editora venda e cobre
Matando o que já fora uma arte nobre
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Matando o que já fora uma arte nobre
Canalha se disfarça em gente boa,
E quando a poesia em vão arpoa
Destroça só pra ver se inda descobre
As tramas pelas quais ele se enreda,
E mesmo quando expondo sua tripa,
A corja não sossega e tudo estripa
Fumaça se demais, o olhar já veda.
Cadenciando a vida desse jeito,
Pensara ser possível um convívio
Morrer vai prometendo algum alívio
Melhor do que lutar, inútil pleito,
Não vou ficar aqui para entender
Tentando com seus vômitos dizer.
39
Tentando com seus vômitos dizer
Alguma coisa mesmo inteligível,
A letra com certeza intraduzível,
Em tanto descaminho se perder...
Jogando esta palavra sempre ao vento,
Alguém escuta e pensa ser bacana
A cara do babaca que te engana
Explode num total contentamento.
Camões ressuscitando nestes dias,
Jamais faria aqui qualquer sucesso,
Segredo para ter algum progresso
É descrever sem fé mil porcarias.
Invés da lua bela, rara e plena
Fatídica expressão tomando a cena.
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Fatídica expressão tomando a cena
Não deixa qualquer sombra da verdade,
Enquanto o dia a dia nos degrade,
Rasgando este papel, a bruta pena.
Vivemos num momento mesmo incrível
Tecnologia dita o dia a dia,
E assim também destroça a poesia
Gerando cada monstro mais terrível.
Comprou computador, além do Orkut
Fuçando noutros sites o imbecil,
Depressa sem demora logo viu
Local onde o medíocre já se embute
E o débil a poeta então se mete
Nas vastas redes livres da internet.
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Nas vastas redes livres da internet.
Qualquer bobagem ganha outro sentido,
Defesa do imbecil é “ter sentido”
Aquilo que rabisca e que comete.
Jargões tão costumeiros. Preconceito?
Não posso me furtar aos comentários
Se vejo tão somente estes corsários
Achando que o tesouro é seu direito.
Bancando algum santinho, vez em quando
Eu elogio até papel imundo,
Mas quando na verdade me aprofundo,
Eu creio fielmente, estou pecando.
Agora o que se fez deveras pobre
Agonizando aos poucos se descobre.
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Agonizando aos poucos se descobre
A face caricata do farsante,
Por mais que venda como um diamante
A poesia é feita em merda ou cobre.
Chacota de quem sabe ou mesmo entende,
A sórdida figura se apresenta,
E tendo em suas mãos tosca pimenta
Qual fora um raro doce logo vende.
Bebendo esta cachaça de terceira,
Uísque paraguaio, com certeza,
Assim ao se mostrar em tal grandeza
Disseminando sempre uma besteira.
Última vez que tento enfim dizer
O que jamais conseguem entender.
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O que jamais conseguem entender
Não vou ficar aqui me repetindo,
Por mais que o saco seja sempre infindo,
Deveras começando ora a se encher.
Falando em causa própria? Nada disso.
Não sou poeta e nunca hoje seria,
É como entrar deveras numa fria,
Uma coisa que sei e não cobiço.
Nem vou bancar o crítico tampouco,
Somente sou leitor e o que me dói
É ver que cada traça mais corrói
O que já percebi ser muito pouco
A dita poesia se envenena
Causando a quem se deu; imensa pena
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Causando a quem se deu; imensa pena
A Poesia, uma arte milenar
Percebe o seu castelo se acabar
Enquanto uma ignorância vem e acena.
Um bico na canela é o que merece
Quem tem cara de pau para escrever
Em nome desta deusa que ao morrer
Ao Zeus fez derradeira e triste prece.
Do Olimpo mergulhou num ledo inferno,
Capeta sacudindo a sua ossada,
Da bela já não sobra quase nada,
Entrando num eterno e duro inverno
História no final já se complete:
Aonde um energúmeno se mete.
45
Aonde um energúmeno se mete
Não pode nascer coisa diferente,
Não tendo mais quem isso, amigo agüente
Não enfrento fuzil com canivete.
A porta escancarada qual boceta
Da pobre da Pandora no Passado,
Nem mesmo uma esperança dita o Fado,
Quebrando com “ternura” uma caneta.
Parece que um mamute anda escrevendo
São tantas heresias que ora leio,
O saco na verdade estando cheio,
Não acrescento mais sequer adendo.
E assim do abismo ao ver distante a serra
A podre realidade em que se encerra.
46
A podre realidade em que se encerra
Cultura mundial em fim de Império,
Ao ver que sem juízo e nem critério
Poema moribundo já se enterra.
O quadro se aproxima em tempestade,
E aonde encontrarei qualquer abrigo
Se eu mesmo me livrar nunca consigo
De boçalidade que me invade.
Outrora com soberba e tanta gala,
A poesia em festas e saraus,
Subia mais enfática os degraus
Tomando com beleza toda sala,
Agora na privada vejo os versos:
Descaminhos deveras tão diversos.
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Descaminhos deveras tão diversos
Levando ao triste fim de uma arte bela
E quando esta verdade se revela,
Culpados pelo mundo estão dispersos.
Aqui ou lá surgia algum panaca
Que sem saber pegar uvas maduras,
Amadurecem verdes e as procuras
Encerra e desta forma o mundo empaca.
Visceralmente contra a idiotice
Metida a sabichona, velha grife
Trazendo à poesia algum esquife
Patifaria é tudo o que se disse.
Bebendo esta impossível fantasia
O encanto no final putrefazia.
48
O encanto no final putrefazia
Deixando na carcaça a fedentina,
A Musa se transforma em cafetina
E a pobre poesia em putaria.
Jogada pelos cantos do bordel,
Vendida pra qualquer sujeito otário
Com paladar escroto e mesmo vário,
Aluga um pedacinho lá no céu.
Depois vem com a cara de imbecil,
Dizendo babaquices como fosse
Momento especial, sonoro e doce,
Na Academia é tudo o que se viu.
Diploma de escritor, besta recebe
Universalizando a mente plebe.
49
Universalizando a mente plebe
Depois de ter um auge esplendoroso,
Motivo de piada este jocoso
Caminho que a verdade hoje concebe.
Se sabe ou mal conhece uma palavra,
Na enxada feita em tinta ou no teclado,
Um imbecil urbano um aloprado,
Na roça sem saber de nada, lavra.
Colheita? Com certeza é maravilha,
Pensando numa pérola marinha,
São poucas Coralinas gente minha,
O resto por buracos toscos trilha.
E a leda poesia neste cais
Dos píncaros às fossas abissais.
50
Dos píncaros às fossas abissais
História do que fora outrora belo,
Sem ter sequer palhoça quer castelo
As trovas entre trevas? É demais...
Meu cérebro não é assim miúdo
Se eu falo não defendo alguma métrica,
Porém a coisa andando assim tão tétrica,
O que falta deveras: conteúdo...
Juntando tudo nesta mesma cesta,
A fedentina é sempre de amargar,
Por isso, meu amigo vou parar,
Não vou ficar aqui bancando o besta
Não bebo desta bosta de elixir
Na pútrida manhã que sinto vir.
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Na pútrida manhã que sinto vir
Não vou deixar a bunda sempre exposta,
Tem gente que em verdade disto gosta,
Mas paga muito caro no porvir.
Cansei de tentar ser um menestrel,
Cantar as minhas mágoas, dores, sonhos,
Agora que percebo quão bisonhos
Os passos que sonegam claro céu,
Mergulho no ostracismo e me garanto
Bem mais tranqüilo; é bom pro coração,
Ainda bem jamais fiz profissão
Da pobre fantasia do meu canto.
Porém diviso ao longe, poucos trilhos
Num mar de incompetência, raros brilhos.
52
Num mar de incompetência, raros brilhos
Assim já se perfaz a poesia,
Outrora tão sublime e hoje vadia
Enfrenta com certeza os empecilhos.
Mas quando se mostrasse mais audaz,
Talvez ainda houvesse alguma chance,
Distante do que ainda em vida alcance
Só quero é que ao morrer encontre a paz.
Vivi lutando muito pela dita
E bela liberdade de expressão,
Porém do que eu queria, tudo em vão,
Apenas percebendo esta desdita
Puindo com terror minha bandeira,
Matizes tão diversos, tanta asneira.
53
Matizes tão diversos, tanta asneira
Já não consigo ver sem ter enjôos
Os pássaros dos sonhos, seus revôos
Jogados pelo chão, triste lixeira.
Apaziguando assim o velho peito
Que tanto imaginara ser melhor
O mundo e discursava até de cor
Fazendo com vigor supremo pleito
Ao ver a derrocada do seu sonho,
Bancando algum babaca ou mesmo chato,
A porra do escrever ora arremato
Com estes meus sonetos que componho
Berrando das janelas, meu umbrais
Literatura, amigo? Nunca mais!
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Literatura, amigo? Nunca mais!
Cansei de ficar dando milho aos pombos
Depois de tantas quedas, cortes, tombos,
Servindo de repastos pra chacais
Tomei vergonha nesta minha fuça,
Melhor ficar jogando carteado,
Aí quando não roubo, sou roubado
Malícia desta forma já se aguça.
Pacato cidadão, envelhecido,
Chegando nos cinqüenta. É bom parar,
Melhor do que ficar exposto ao ar
E ser legado mesmo ao nada, olvido.
Só posso lamentar por existir
Uma arte totalmente sem provir...
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Uma arte totalmente sem provir
A poesia morre e se desmancha,
Melhor surfar amigo, dê-me a prancha
Assim encontro um bálsamo, elixir
Que possa me manter bem mais ativo,
A bunda na cadeira deu escara,
Verdade mais venal já se escancara,
E nessa confusão não sobrevivo.
Espero que inda surja alguém no meio
Da imensa escuridão que agora vejo,
Sinceramente é todo o meu desejo,
Mas dessa luta, agora estou alheio.
Lunático cantor em fortes brilhos
Farol em negra noite traça trilhos.
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Farol em negra noite traça trilhos,
E espero que isto surja em algum dia,
Salvado a moribunda poesia,
Cansado destes mesmos estribilhos.
Encerro com um pouco de esperança
A minha desventura no soneto,
Enquanto no vazio me arremeto,
O olhar de algum lunático se lança
E trace desta merda que hoje, esterco
A flor que possa dar razão à vida,
Já não tenho saúde, pois perdida,
Então só de fantasmas eu me cerco
Deixando esta mensagem derradeira:
Uma alma libertária é garimpeira.
ES
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