terça-feira, 8 de junho de 2010

35801 até 35810

Porquanto incrivelmente me desfiz
Das velhas roupas, marcas que entranhara
E quando a fantasia se fez clara
A dita deste estúpido aprendiz
Vivera tão distante do que eu quis
E apenas turva senda desvendara
Aonde a realidade desampara
Proposta de outras eras, infeliz.
Expulso este demônios sigo além
Do quanto ainda resta e não convém
Na amputação dos ermos mais audazes,
E ao ver a gelidez de um ledo outono,
As vestes mais espúrias abandono
Enquanto muito aquém tu te desfazes.


Não pude e nem talvez mesmo inda possa
Vibrar com velhas toscas emoções
Ao ver neste horizonte as dispersões
Fadado ao nada ter, revivo em troça
O quanto imaginara e se destroça
Marcando com revolta, ebulições
E aprendo a cada tempo tais lições
Na escassa realidade que se apossa
Do verso e da senzala onde alimento
E libertando assim o sentimento
Eu vejo este gradil dilacerado,
Aporto no futuro e me desnudo
Decerto e com razão não mais me iludo
Vivendo tolas marcas de um passado.

Ouvir a minha voz e perceber
O quanto se perdera dia a dia,
No olhar que se entornou melancolia
Agora o nada além eu posso ver
A sorte desabriga o velho ser
No quanto ainda houvera, alegoria
E o canto noutra face se faria
Trazendo até que enfim o envelhecer.
Resulto destas frágeis sensações
Por onde tantas vezes me compões
Em faces discordantes e venais,
O porto se deixando mais distante
O mundo noutra face se adiante
E o que inda acalentara, nunca mais.

4

Ocasionaste a queda deste império
E sinto enfim em ti a utilidade
Porquanto ao desnudar esta verdade
Desvenda-se o que fora algum mistério.
A vida refazendo algum critério
No quanto a própria história se degrade
Não tendo do que fora mais saudade,
Liberto coração já sem mistério,
No ministério frágil da ilusão
Ouvira tão somente a negação
Alegações de tempos mais remotos,
O fardo se alivia e posso enfim,
Cevar o derradeiro e bom jardim
Alheio aos mais espúrios terremotos.

5

Incauto viajante da promessa
Aonde se fizera alguma luz
A face desdenhosa reproduz
O passo onde o caminho não começa
Além do que pudera e já sem pressa,
Cenário aonde o torpe reproduz
Na face mais bisonha se me pus
O norte noutro tanto não tropeça;
Vagasse infindamente em turbulência
Talvez o que restasse, uma excrescência
E o carma não seria assim cumprido,
Ao fim da tarde vejo ausente lua
E enquanto a realidade em mim atua
Os restos decompostos, neste olvido.

6

Adentro os meus anseios e percebo
O quanto não se deve prosseguir
Buscando desta vida um elixir
Que sei ser muito menos que um placebo,
E quando algum sorriso inda recebo,
Irônica presença a se sentir
Matando o que pudesse ainda vir
E deste amargo fato não mais bebo.
Cadenciando o passo neste outono,
As sensações dispersas abandono
E sigo sem pensar no olhar pra trás,
Não tendo à minha frente um horizonte
A cada passo a vida não remonte
Ao quanto imaginara outrora audaz.

7

O ledo passo dado em noite escusa
Jamais reproduzira qualquer fato
E quando deste passo além desato
Num átimo uma sombra, mera, cruza
O espaço aonde a vida é mais confusa
E sei quanto no fundo me maltrato,
Refém da mera imagem de um regato,
Defesa que alma em vão decerto acusa.
As farpas que trocamos vida afora,
A lua de outros tempos não decora
Nem deixa que se veja em plenitude
O pacto descumprido da esperança
E quando ao nada ter a alma se lança
Já não suporto mais quem tente e ajude.

8

Pacatos dias morrem sem sentido,
O quarto se negando à própria luz,
No vandalismo exposto em pedra e cruz
Meu erro novamente presumido,
No pantanal em mim ao ser erguido
Refeito em vaga imagem, farto pus,
O peso da esperança reproduz
O quanto já não pode ser cumprido.
Restando ao menos sombras do que um dia
Vestira em luzes frágeis, mas teria
Ao fim de certo tempo a negação,
Esgoto os meus caminhos nestes ledos
Olhares disfarçando tantos medos
Marcando os dias grises que virão.

9

Serpentes entre os vagos Edens; vejo
E delas as maiores inclemências
No quanto; mortas, vejo as inocências
No olhar ambíguo e torpe de um desejo,
Ainda muito além busco e prevejo
Envolto pelos ermos das clemências
E os dias não seriam coincidências
Ao menos dirimindo qualquer pejo.
Resulto do que um dia bem pudesse
E sinto o caminhar quando se esquece
Das tramas inauditas e vorazes,
Servis olhares morrem dentro em mim
Especular caminho trama o fim,
No inenarrável mundo em tolas fases.

10

Arranco o que pudesse haver ainda
De um turvo caminheiro em desatino,
E quando noutro passo me domino,
O fado na verdade se deslinda,
Resulto do que a vida não mais brinda,
E tendo meu olhar mais cristalino
Nas ânsias mais vorazes do destino
Sorvendo cada gota enquanto finda
A história em turbilhões espúrios quando
O dia novamente se nublando
Já não mais verá sol, talvez a lua.
Assim no anoitecer ausente traço
Do amanhecer sobejo e me desfaço
Do sonho mais espúrio que inda atua.

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