terça-feira, 8 de junho de 2010

35911 até 35920

1

Perdoe-me deveras pela vida
E se inda existo aqui, eu te garanto
Cevando a cada dia novo pranto
No quanto poderia ainda urdida
A dita noutra face onde surgida
A paz em pleno olhar, mas desencanto
Roubando cada cena dita o manto
E nele imagem torpe e já puída.
Perdoe-me por ser deveras isto,
E sendo tão venal inda persisto
Na luta inconsciente contra a morte.
Quem sabe noutra senda eu poderia,
Ao menos ter a sombra da alegria,
Porém esta esperança o tempo aborte.


2


Aonde não pudera acreditar
Nas velhas orações, inúteis crenças
Porquanto ainda mesmo te convenças
Da força em que podia navegar,
O mundo percebendo desabar
Entranha com terrores desavenças
E sei das mais diversas quanto extensas
Ausências do que fora algum lugar
Existo e sendo assim, ainda insisto
Por mais que minha vida gere um misto
De dor e de tormenta, nada mais,
Desiludido eu tento alguma luz,
Mas quando me percebo em fardo e cruz,
Os dias se repetem tão iguais...

3

Aprendo com palavras doloridas
A caminhar em meio às turbulências
Ainda que pudessem indulgências
As horas entre trevas pressentidas,
Os cortes mais atrozes e as feridas,
Do quanto ainda vivas inocências
As mortes são capazes de excrescências
E nelas soluções para tais vidas,
Eu vejo este cenário decomposto
E quanto mais adentro este desgosto
Meu rosto se tornando em tez sombria,
Das ilusões outrora um passageiro,
Agora neste rumo, verdadeiro,
Apenas busco a morte dia a dia...

4

Audaciosamente inda persiste
A face mais audaz de quem proponha
Vencer a realidade mais medonha,
E tendo a cada instante a voz mais triste,
Resumo no que tanto não desiste
Nem mesmo transitando em enfadonha
Estrada aonde a vida decomponha
E ao fim de certo tempo nada assiste,
Somente este vazio se vislumbra
Tomando com terror farta penumbra,
Negando alguma messe ou mesmo luz,
Desilusões diversas se entornando
Num ar terrivelmente mais nefando
Por onde à morte o passo me conduz.


5


Escravo de um tormento mais atroz
Não tendo senão mesmo tal senzala
A voz se esvai e o mundo nada fala
Cenário que percebo tão feroz,
O rio se perdendo, mera foz,
A lua se esgueirando desta sala,
Minha alma vã cativa, vil vassala
Num vândalo mergulho, torpe algoz,
Masmorras dentro em mim, nelas se vêm
Os dias em completo e vão desdém
As ilusões partiram noutra senda,
Sem ter o privilégio de sonhar,
Morrendo a cada dia, devagar,
Sem ter sequer a mão que a mim se estenda.

6

Bravios mares vejo no passado
Cenário tão constante em minha vida,
Apontam para a mesma despedida,
No quadro pelo vão sendo traçado,
A morte se apresenta e lado a lado
Caminho procurando outra saída
E vejo em teu olhar a dor que agrida
Viver é como fosse algum pecado.
Bebendo cada gota deste não,
Sabendo dos vazios que virão
Decerto novamente me esvaindo
E o templo que erigi aos meros sonhos
Em ritos mais terríveis e medonhos
O tempo amortalhado agora findo.


7


Ocasionando em mim tal sentimento
Percorro as velhas tramas, permaneço
Dos sonhos do passado um adereço
Marcado pelas garras do tormento
E quando noutro passo me apresento
Encontro um fim atroz, sei que mereço
A morte num momento de tropeço
O corte em desalento, sentimento.
Das fartas ilusões da mocidade,
No quanto o dia a dia já degrade
E a fonte se tomando em aridez,
Do quanto poderia acreditar
Num horizonte belo e já sem par,
A vida em realidade isto desfez.


8

O quarto abandonado, a leda cama,
O amor quando deveras não se vê
A vida vai perdendo o seu por que
Apenas o vazio ainda clama,
E quando nova vida o sonho trama,
Deveras neste fato não mais crê
Quem tanto quis viver e sem o quê
Morrera em fútil passo, tosca lama.
Desfaço cada sonho e quando vejo
O velho coração demais andejo
Jogado sobre o leito como um trapo,
Puída realidade dita a forma, e
O quanto do passado me deforma,
Apenas um entulho, um vão farrapo.

9

Arcando com meus erros mais banais
Eu sei que na verdade até pensara
Que um tempo novamente em luz mais clara
Pudesse penetrar meus vendavais,
Mas quando em brumas fartas, terminais
A vida em névoas tantas se declara,
O passo para o fim já se prepara
Os sonhos meros tolos serviçais,
Da castelã vontade em luz intensa,
A morte na verdade, já compensa
E o fim se prenuncia em redenção,
Aonde quis o brilho mais constante,
O quanto se apresenta degradante
Gerando a mais cruel desilusão.


10


Acaso se vieres e notares
Os olhos mais sombrios de quem tanto
Vivera no passado em ledo encanto
E nesta fantasia mergulhares
Rendido caminhar entre vulgares
Delírios se mostrando em raro espanto,
E quando noutro tom ainda canto,
Desilusões tomando os seus lugares,
Ocasos que carrego, noite inválida
A sorte se mostrando bem mais pálida
Crisálida abortando a borboleta
A vida noutra face não se vendo,
Apenas o vazio ora desvendo
Felicidade fora um vão cometa.

Nenhum comentário: