1
Pelo tanto que te quero
E bem sei que não me queres
A mais bela das mulheres
Coração, porém tão fero
Quando falo, eu sou sincero
E se em paz inda vieres
Muito além do que ora esperes
Ou decerto até que espero
Tu terás em mim reflexo
Deste encanto onde sem nexo
O meu rio se perdia,
Mas imerso nos teus braços
Os meus dias vãos e escassos
Novo tempo em alegria.
2
Versos quando em abandono
Dias trágicos; temidos,
Hoje em todos os sentidos
Desta sorte enfim me adono,
E se tanto imerso em sono
Novos tempos pressentidos
Mundos belos percebidos
Farta glória em raro abono,
O meu mar em teus caminhos
O teu mar em meus carinhos
Vão beijando a mansa areia,
O luar se enamorando
Cada vez iluminando
Até que nos incendeia.
3
Não cerceies esta estrada
Onde o sonho se adentrara
E permita a bela e rara
Noite etérea e iluminada
Noutra senda desvendada
O que tanto nos ampara
Neste amor que se declara
Outra noite abençoada.
Riscos corro, mas bem sei
Da beleza desta grei
E do quanto em mim se trama
Com raríssima doçura
Todo amor, farta ternura,
Refletindo em nós tal chama.
4
Serenando em madrugada
O granizo dentro em mim,
Do que tanto busco enfim,
Não terei decerto nada,
O meu tempo noutra alçada
Mero e escasso este jardim,
Resumindo o que há em mim
Nesta noite tão gelada,
O sertão que agora entranho
Um cenário turvo e estranho,
Na memória tão somente
O que outrora procurara
E por certo não traçara
Sol intenso, mas ausente.
5
A medonha face exposta
De quem tanto me iludira,
Nas entranhas da mentira
Esta cena decomposta
Do caminho em que se gosta
Do calor em rara pira,
Ao sentir quanto impedira
Na ferida em dor proposta,
Gero em mim tal desengano
E se tanto inda me dano
Não me engano nunca mais,
O caminho predileto
Hoje sei ser incompleto
Restam ritos funerais.
6
A tristeza que me deste
De presente dia a dia,
Morta ainda a fantasia
No caminho mais agreste
O tormento que se empreste
Deixa além a melodia
E se tanto se queria,
Nesta cena se deteste.
Ouço apenas o distante
Murmurar onde adiante
Esta noite em turbilhões,
Na senzala em dura cela
O terror que se revela
Neste não que tu me expões.
7
Solidão adentrando a alma
De quem sonha e se poeta
Noutra luz não se completa
Nem a sombra mais acalma,
O terror invade e doma
Nada resta do que outrora
A esperança desarvora
E o caminho nega a soma,
Resta apenas o vagar
Sem destino sem paragem,
Quando busco uma hospedagem
Nos teus braços sem notar
Teu olhar ausente e alheio,
Fantasias vãs rodeio.
8
Ouço ainda a voz sombria
De quem tanto pude amar,
E se ainda posso andar
Nesta noite em agonia,
O que tanto poderia
Não consigo desvendar,
Cada farsa a se mostrar
Numa tétrica utopia
Resto aquém do que pudera,
E se teimo nesta espera
Nada vem, somente o frio,
E o meu verso em tom mesquinho
Sem saber de colo ou ninho,
Num soneto em vão desfio.
9
Arvoredos no passado
Hoje em cinzas o meu céu,
Este mundo em carrossel
Já mandando o seu recado
No caminho destroçado
No cenário mais cruel
Onde houvera um claro véu
Hoje sinto mais nublado,
O risonho amanhecer
Nele tanto bem querer,
Minha infância, meu quintal.
Nada resta senão isto
A lembrança em que persisto
Neste instante até venal.
10
O meu barco naufragado
O meu rumo se perdendo,
Outro tanto se esquecendo
Novo tempo? Antigo prado...
Olho em volta e abandonado
Nada sei e nada sendo,
Só tal cardo em dividendo
Vida manda o seu recado
Nas entranhas e nos ermos,
A verdade dita os termos
E sem paz já não prossigo,
Morto em vida, muito embora
Respirando, nada aflora
Tão somente este castigo.
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