quarta-feira, 9 de junho de 2010

35951 até 35960

1

Os poemas que imagino sendo meus
Adentram por caminhos onde eu tento
Ou mesmo libertando o pensamento
Deixando para trás algum adeus,
Mergulho entre diversos apogeus
E sinto a cada frase que ora invento
Palavra em cujo senso me acrescento
Entranho luzes plenas, bebo breus.
Restando então calado onde pudera
Gerar ou denegrir qualquer quimera
A fera que apascento me devora,
Assim ao ser poeta, a vida nega
Enquanto outro momento me carrega
No instante derradeiro, vai embora.


2

A minha terra é feita em frases, ditos
E tento caminhar por onde o tanto
Pudesse renovar enquanto canto
Em dias mais terríveis ou benditos,
Os versos sendo assim quase infinitos
Olhando de soslaio em cada canto,
O corte se refaz e o velho manto
Traçado em dias turvos ou bonitos.
Fazendo da palavra uma vassala
Ao mesmo tempo domo e ela me cala
Restando com destreza em tom sutil
A imagem que pretendo ou me desvio,
Adentrando meandros deste rio
Aonde o que se espera não se viu.

3

Cotidiano quando assim retrato
No verso ou na palavra, pensamento,
Do quanto existe ou não tento e alimento
E sei quando disperso sonho e fato,
Do mar incomparável ao regato
Bebendo com certeza o mesmo vento
E dele se deveras sei provento
O corte se aprofunda e não desato
Mesquinho ou mais vulgar, resumo em paz
O tanto quanto pude e não sei mais,
Vencidos caminheiros desiguais
E neles não se vendo mais a paz,
E farto de mentiras e delírios
Não quero viver luzes nem martírios.

4


A vida se repete em qualquer praça
Nos bancos do jardim, casas, quintais
E quando se imagina muito mais
Apenas o vazio vem e abraça
O quanto se pensara ser a caça
Espanto os meus diversos e venais
Caminhos entre tantos desiguais
E vejo a solidão envolta em traça;
Mas como rotineiro viandante
Por quanto a vida às vezes se adiante
Ou negue cada passo, mesmo assim,
Eu sei do quanto posso ou não teria
Sequer esta visão em poesia
Traçando do princípio, o meio e o fim.


5

Procuro qualquer luz, nova lanterna
Aonde eu possa mesmo discernir
As cruzes do passado e as do porvir
No quanto a realidade não se externa,
A voz sutil e turva mesmo terna
Não deixa mais o quanto pressentir,
Nem mesmo bebo em ti o que impedir
Caminho para a redenção eterna.
O vandalismo esgota a realidade
No tento mais temível que se agrade
A fútil e fantástica ilusão
Do tanto que pensara em solo firme
Sem nada que deveras me confirme
Guardados nestas sombras, no porão.


6

Procuro qualquer porto, uma estalagem
Aonde possa ter algum suporte,
Depois de perceber quem não conforte
Deixando para trás qualquer miragem,
O vento se mostrando em nova aragem
Apenas sem sentindo, rumo ou norte,
Jogando o meu caminho à própria sorte
Não deixo de tentar nova viagem.
Expulso os meus demônios e me entrego
Ao quanto poderia e não sonego
Vivenciar a face verdadeira
Da vida noutra escora ou noutro tempo,
E quando mergulhando em contratempo
A morte da esperança é mensageira.

7

Procuro algum caminho se inda os há
E tento desvendar outra promessa
Enquanto o dia a dia se endereça
Marcando o que pudera desde já,
Olhando para além encontro cá
O corte que deveras recomeça
E toma esta fatia e já sem pressa
Jamais a minha sorte negará.
O caos se dissemina em cada verso
E os sonhos mais audazes desconverso
Tentando novamente o que não vejo,
O fardo se pesando incrivelmente,
Aos poucos o vazio enfim se aumente
Tomando todo espaço do desejo.

8

De todos os meus mortos, eu sei bem
Os vários e terríveis temporais
Ou mesmo numa ausência em luz e cais
Apenas a lembrança e quando vem,
Desisto desta vida com alguém
E sei que solitário ganho mais,
O olhar que disse sempre hoje é jamais
O fardo é meu e sei quanto contém
Dos tantos desvarios de uma vida
Nas ânsias de um delírio sendo urdida
Arisca madrugada morre alheia
Ao quanto poderia ainda haver
Em raro e tão sublime anoitecer
Na lua em plenitude, sempre cheia.

9

O passo doentio da paixão
Transforma qualquer vento em temporal,
Assim neste diverso e desigual
Caminho se perdera a direção
E sei do quanto posso ou mesmo não,
E sigo sem destino o ritual
Aonde poderia haver a nau
E sinto tão somente o furacão
Nefasta madrugada, luz sombria
A porta na verdade não se abria
Desertos que habitara sobrevivem
E os olhos mais ativos no horizonte
Aonde falsa luz inda desponte
Com fantasias tolas já convivem.

10

O ser ou não assim mais explosivo
Depende dos momentos e se eu tento
Sorver com alegria o sofrimento
E desta forma insana sobrevivo,
Jamais me imaginei do amor cativo
E quando novo passo eu alimento
Alheio ao que comande o pensamento
Das ânsias mais espúrias já me crivo
E resolutamente sigo em frente
Sem nada que inda possa ou mesmo atente
Invento uma desculpa e me esgueirando
Adentro as velhas tramas e trapaças
E quando além dos olhos teimas, passas
Mergulho neste mundo em contrabando.

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